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terça-feira, 27 de março de 2018

CANGALHA: USOS E COSTUMES DO SERTÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de março de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.866E

Neste início de Semana Santa, permanece o uso e costume do sertão nordestino no que se refere às bestas ou éguas. Uso de séculos da chamada cangalha usada nas cavalgaduras. Trata-se de uma armação de madeira com dois cabeçotes, acoplada num acolchoado de capim especial, revestido de pano. Além de uma cilha, tira de couro que prende a cangalha à barriga do animal, para o equilíbrio, ainda existe a rabichola. Esta é uma peça de couro ou de sola que saindo da cangalha, apoia-se sob o rabo da cavalgadura para evitar que a carga deslize pelo pescoço do animal. A égua, a burra, a jumenta e mesmo cavalos, burros e jegues, também fazem uso da cangalha.

CANGALHA EM JUMENTO. FOTO: (AFONSO LOUREIRO).

As mercadorias são transportadas em objetos artesanais sobre a cangalha. Os caçuás, feitos de cipós, são pendurados por alças nos cabeçotes. Ancoretas e caçambas de madeira, também são penduradas nos cabeçotes. A cana-de-açúcar e o capim são transportados através de cambitos que são Nde pau para levar o produto horizontalmente. Daí o tangedor ser chamado de cambiteiro. Os transportadores de rapadura e queijo, por exemplo, costumam usar a caçamba, peça de madeira segura nos cabeçotes por alças de corda de caroá. Esse tipo de mercadoria atraia cangaceiros que não gostavam de perambular sem rapadura nos embornais. Mesmo tendo sido reduzido o costume, ainda se vê bastante esse vai e vem.
  Há um ditado no Sertão que diz: “Quem nasce para a cangalha não serve para a sela”. Esse provérbio era muito utilizado principalmente sobre pessoas que não davam para o estudo e sim para o trabalho braçal. Os transportes de mercadorias pesadas ficavam a cargo do carro de boi que também transportavam famílias completas para feiras, sítios e municípios contíguos. Entretanto, continua o uso secular da cangalha. E, diga-se de prontidão, apesar da rudeza desse equipamento, a cangalha é uma obra feita por artesão especializado, cujo esmero é motivo de rasgados elogios. Entre as suas qualidades, além de não maltratar o animal, estão à beleza do artefato e a qualidade de longa vida.


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RELEMBRANDO A MANHÃ DE OUTONO DE GRIMSHAW

Por Rangel Alves da Costa

Relendo escritos de tempos outros, eis que encontro este texto que escrevi sobre uma pintura famosa: Manhã de Outono, de Grimshaw. Naquela ocasião, indaguei se se tratava de uma pintura ou de uma poesia, ante a beleza da obra. Recordo, então, o que descrevi.
Não duvido que Grimshaw tenha permanecido dolorosamente triste durante todo o tempo que lançou na tela pinceladas outonais na sua magistral pintura Manhã de Outono. E não um outono qualquer, em tons sombrios e folhas secas, mas a própria representatividade do ar nebuloso, enevoado, solitário e melancólico dessa estação.
Logo se vê que Manhã de Outono (Autumn Morning) não é uma produção artística qualquer. Jamais passaria despercebida ao olhar mais atento. E isto porque é incerto saber se o que pintor inglês John Atkinson Grimshaw (06 de setembro de 1836 - 13 de Outubro 1893) nos oferece é pintura ou poesia. Creio que se pode consensualizar afirmando ser um poema pintado em cores fortes.
Grimshaw viveu na era vitoriana, famoso no seu tempo e posteriormente por suas paisagens de cores firmes, fortes ou suavemente meditativas, cuidadosamente iluminadas e com ricos detalhes. Contudo, buscando sempre representar cenários sublimes, nevoentos, como se estivesse jogando um véu de melancolia em cima de cada tela.
Especializou-se em pinturas de docas, paisagens representando estações, ruas solitárias de subúrbios, cores enluaradas descendo sobre cenários quase desertos. Em cada pincelada a solidão, o abandono, a realidade melancolicamente existente. Daí utilizar ambientes com pouca presença humana para falar da solidão cotidiana, da poesia angustiante da vida.
Em Autumn Morning, ou Manhã de Outono, Grimshaw ultrapassa sua estética, sua força de paisagista, para oferecer um cenário instigante e encantador, ao mesmo tempo misterioso e triste. Poesia da alma, poesia do espírito, poesia do olhar. Indubitavelmente uma poesia com força suficiente para transportar o olhar para o seu interior. Contudo, o que nos espera além do portão?
Como bem sintetiza o nome consignado à obra, a pintura cuida de uma paisagem outonal. Diz ser manhã de outono, porém com nuances que mais parecem um entardecer. E um fim de tarde daqueles entristecidos, com o sol se pondo melancólico e avermelhado sobre o contorno em que está situado um casarão, apenas avistado em réstia no interior do jardim.
E surge mais uma indagação instigante: Ao redor não há pessoa alguma, não há ninguém, mas estaria o casarão abandonado ou algum ser solitário se esconde por trás de alguma vidraça mirando as cores afogueadas? A tela é enevoada demais para buscar uma resposta em alguma porta ou janela, nos lados ou na entrada do casarão.
Mas alguém poderia dizer que a pintura nada mais representa que uma paisagem de outono, com suas cores mortas, folhas caindo, um aspecto solenemente triste em todo o cenário. E não estaria errado não, pois é isto mesmo, só com a sutil diferença de que tudo ali pintado possui simbolização única. Quer dizer, os motivos dispostos na tela dizem qual outono quer mostrar: o da alma, do espírito, da solidão humana.
Assim, num cenário envelhecido, tem-se um portão entreaberto, ladeado por muros, tendo à frente um caminho cimentado em meio ao chão de terra batida; ao fundo, avista-se o velho casarão envolto em névoa, com galhos de árvores secos e desnudos tanto na parte interna como externa. E folhas secas, mortas, caindo dos galhos e espalhadas fartamente pelo chão.
Mas isso ainda não é tudo, vez que a maestria de Grimshaw reside precisamente nas cores escolhidas para representar seu outono. O fundo amarelado ouro vai tomando outra cor quando encontra o velho casarão e o muro. E então se observa a nebulosidade de um verniz esbranquiçado que envolve o casarão e o quase vermelho fogo, misturado ao ocre e o marrom das folhagens.
Todas as cores de outono, logicamente, mas guardando no todo uma visão onde tudo se mistura num matiz único: a perplexidade do vazio e da tristeza diante de um jardim abandono de outono. E é como se precisássemos estar ali para refazer a vida há muito inexistente.
E tomado de inspiração na pintura de Grimshaw, o poeta Derek Soares Castro escreveu um belíssimo poema intitulado “Nódoa d’Outono”, que merece transcrição:

“— Como a nódoa d'azeite que s'espalma,
A tristeza manchou tôda a minh'alma! (Guerra-Duval)

Nos cinamomos d'ambárico outono,
Já s'envergou o amarelo d'ardência
Em uma flébil, letal decadência,
Tombando as árvores cheias de sono.

Nessa pintura d'extremo abandono,
Vejo a ramagem fanar em dolência;
E junto dessa augustal ambiência
Fico a morgar num profundo ressono...

Ó tardes d'áurea — mortal soledade!
Vem m'envolver com a tua mortalha
Feita das folhas dum morto jardim!

Toda essa mágoa, toda essa saudade,
Toda a tristeza que tanto s'espalha,
— Maculou tudo por dentro de mim!”


Escritor
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QUE VENHA O CARIRI CANGAÇO POÇO REDONDO 2018 POR:RANGEL ALVES DA COSTA


Não se fala noutra coisa em Poço Redondo e até no sertão sergipano inteiro: Cariri Cangaço Poço Redondo 2018, de 14 a 17 de junho. Contudo, muitas dúvidas ainda persistem perante grande parte da população. Muitos imaginam ser apenas uma festa de shows, outros pensam serem eventos que serão realizados no Memorial Alcino Alves Costa, e ainda outros idealizam como um misto de shows e visitas a locais históricos, principalmente com relação à Estrada Histórica Antônio Conselheiro (Estrada de Curralinho).

Antes de relatar o que será o evento, como será e o que nele estará envolvido, necessário que se afirme um pouco sobre o que é o Cariri Cangaço enquanto seminário permanente de estudo da história, da cultura, dos movimentos sociais e religiosos e das tradições nordestinas. Logo se depreende que o Cariri Cangaço não é apenas um evento de shows nem de palestras ou de visitações a locais históricos, mas isso tudo.
 

O Cariri Cangaço é um evento de cunho turístico-cultural e histórico-científico que reúne os mais destacados pesquisadores e historiadores das temáticas cangaço, coronelismo, misticismo, messianismo e correlatos ao sertão e ao Nordeste do Brasil, configurando-se como o maior e mais respeitado evento do gênero no país. Reúne, a partir de uma programação plural, dinâmica e universal, personalidades locais, regionais e nacionais, do universo da pesquisa e do estudo das temáticas propostas. E se materializa através de palestras, debates, visitas técnicas, apresentação de documentários, exposições de arte, lançamentos e feiras literárias.

Isso mesmo, o Cariri Cangaço é uma grande festa da cultura e da história, da religiosidade e das tradições de um povo, contextualizando a cada realização não só o estudo e aprofundamento do tema proposto (no caso de Poço Redondo, “Celebrando o Chão Sagrado de Alcino”) como o desenvolvimento de atividades interligadas à temática principal. Daí que para Celebrar o Chão Sagrado de Alcino implica em conhecer aspectos históricos e culturais de Poço Redondo e do sertão, suas manifestações artísticas, suas tradicionalidades, seus pontos de referência histórica, principalmente no que diz respeito ao cangaço, pois este um dos temas principais da obra de Alcino.

 Visita do Cariri Cangaço ao Memorial Alcino Alves Costa
 Cariri Cangaço visita Curralinho ao lado do prefeito Junior Chagas

Desse modo, Celebrar o Chão Sagrado de Alcino é festejar o sertão como um todo, pois em Alcino toda a amplitude da terra sertaneja com suas facetas e façanhas desde os tempos mais antigos. E não se pode celebrar o sertão de Alcino sem conhecer locais históricos da saga cangaceira, da passagem de missionários, dos primórdios do desbravamento da região. Não se pode celebrar a terra sertaneja sem conhecer a cultura de seu povo, seus dotes artísticos, suas raízes culturais, suas manifestações festivas tradicionais. Não se pode conhecer o sertão sagrado de Alcino sem que se conheça a grandiosidade de Poço Redondo.

Então, como será celebrado o chão sagrado de Alcino? Durante quatro dias, de 14 a 17 de junho, trilhando uma programação que está sendo elaborada para que cada evento espelhe a real identidade sertaneja. Para uma ideia do que está sendo programado, nenhum show artístico terá outro som senão o da raiz nordestina e sertaneja. No pífano, na sanfona, no xaxado, no rodar do pastoril, no samba de coco, tudo se revelará no mais autêntico contexto do mundo amado, vivenciado e difundido por Alcino.

 Manoel Severo e Rangel Alves da Costa: Alcino Patrono do Cariri Cangaço

Durante quatro dias, desde a abertura na noite do dia 14 de junho, na Praça de Eventos de Poço Redondo, até o seu final na manhã do dia 17 (data de nascimento de Alcino, que estaria comemorando 78 anos), com a missa celebrada pelo Padre Mário defronte ao Memorial Alcino Alves Costa, tudo será uma festa só: festa do conhecimento, do saber, da participação popular, da comemoração festiva e dançante. Festa da história, da cultura, da tradição. 

Uma festa que percorrerá a Estrada de Curralinho - a mesma estrada no passado aberta por Antônio Conselheiro e seus fiéis - e a cada passo fincará para a posteridade, através de marcos alusivos, os feitos históricos ali presentes, como o local da morte de Canário e as Cruzes dos Soldados. E mais adiante as visitas aos locais históricos da povoação ribeirinha, bem como palestras defronte a Igreja de Nossa Senhora da Conceição (construída com a participação dos fiéis do Conselheiro) e nas beiradas do Velho Chico.

Caravana Cariri Cangaço em Curralinho

Também visita e palestras na Fazenda Maranduba, local da segunda maior refrega entre cangaceiros e volantes, com apresentação de teatro e muito mais. Considerando a importância da participação do coronelismo baiano no sertão sergipano, também uma visita a Pedro Alexandre (antiga Serra Negra) e a inserção ao mundo do Coronel João Maria de Carvalho, seu irmão Liberato de Carvalho, bem como de Zé Rufino, o implacável caçador de cangaceiros. Na cidade de Poço Redondo, inaugurações importantes na Avenida Alcino Alves Costa e na Praça Lampião, dentre outras.

Mas haverá muitos mais (e muitas e belas surpresas). Durante os quatro dias, mais de duzentos pesquisadores, escritores, estudiosos e turistas tomarão as ruas e as estradas de Poço Redondo. Durante quatro dias uma infinidade de pessoas estrão presentes nas palestras, nos debates, nos locais de visitação, nos lançamentos literários, nos shows. Todos os dias haverá festança na Praça de Eventos. E todos os dias Poço Redondo se transformará numa festa só. AVANTE, POÇO REDONDO!

Rangel Alves da Costa, pesquisador, escritor, poeta
Conselheiro Cariri Cangaço
Poço Redondo, Sergipe

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CINE TEATRO SÃO LUIZ E O CARIRI CANGAÇO FORTALEZA...

Por Manoel Severo

Cariri Cangaço Fortaleza 2018... A Noite do sábado, dia 28 de abril de 2018, o especular e imponente Cine Teatro São Luiz, estará recebendo o Cariri Cangaço em mais um momento eletrizante de sua programação. A partir das 19h30min o Cariri Cangaço Fortaleza apresenta em grande estilo, "Onde Nascem os Bravos" película do grande diretor Daniell Abrew, com a participação dentre outros, de Camilo Vidal e Aldanisio Paiva; antes da apresentação da noite, grande debate sobre cinema, cultura e cangaço com Régis Frota, Jonasluis da Silva, de Icapuí, Aderbal Nogueira e o próprio diretor Daniell Abrew. Avante, que venha o 

Cariri Cangaço Fortaleza 2018 !!!

Onde Nascem os Bravos
Cariri Cangaço Fortaleza
28 de Abril de 2018, 19h30min...
Cine Teatro São Luiz, Fortaleza


https://cariricangaco.blogspot.com.br/2018/03/cine-teatro-sao-luiz-e-o-cariri-cangaco.html

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O ATO DE SANGRAR O INIMIGO..!


Por Voltaseca Volta
https://www.youtube.com/watch?v=Je4YWp7PuXk

Lampião utilizava com maestria a técnica de "sangrar" seus inimigos, bem como, os coiteiros que o traíssem.


O ato consistia em pegar um imenso punhal e, a vítima geralmente ficava de joelhos e, a lâmina era inserida na fossa supraclavicular esquerda (saboneteira, popularmente falada). 

O punhal ao ser inserido com violência no corpo da vítima, de cima para baixo, ia dilacerando veias, artérias, perfurando o coração , pulmão e outros órgão, causando intensa hemorragia interna. 

Finalmente, o cangaceiro sanguinário, retirava o punhal e, o sangue jorrava aos borbotões, conforme se visualiza em ato semelhante praticado no filme, O BAILE PERFUMADO (Vide, cenas fortes, abaixo). 

https://www.facebook.com/groups/lampiaocangacoenordeste/?multi_permalinks=793551264187153&comment_id=793986834143596&notif_id=1522183207505539&notif_t=feedback_reaction_generic

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ESCREVEU SEBASTIÃO ALVES DE QUEIROZ


O colega Sebastião Aires de Queiroz (escritor, historiador, poeta e médico) da Academia Paraibana de Poesia, assim escreveu:

"AOS CARO FRANCISCO AGUIAR E FAMILIARES DE DONA SEVERINA BEZERRA DA SILVA MELO AGUIAR.

NA JUVENTUDE DOS SEUS CINQUENTA ANOS,
ACALENTANDO NA ALMA  RETOS PLANOS,
FOI  PRA DEUS SEVERINA DE AGUIAR.
O CONVITE DO CÉU FOI DE SURPRESA,
E COBRIU A FAMÍLIA DE TRISTEZA,
DIFICIL E ACEITAR E SUPORTAR.

SÓ NA FÉ, SE SUJERA UM RUDE GOLPE
DESSA GRANDEZA, DESSE IMENSO PORTE,
NO SEU IMPACTO AVASSALADOR.
MAS, JESUS NOS ASSISTE NESTA HORA,
ENXUGANDO AS LÁGRIMAS QUEM CHORA,
AO JUGO EMOCIONAL DA CRUEL DOR.

ESSA AMADA E QUERIDA CRIATURA,
PARA O SENHOR, ESTAVA BEM MADURA,
NA SUA PLENA ESPIRITUALIDADE.
VENCEU,  DA VIDA, AS VICISSITUDES,
TERÇANDO AS ARMAS DAS NOBRES VIRTUDES,
 DA FÉ, DA ESPERANÇA E DA CARIDADE.

NA GRAÇA DE SER MÃE E SER ESPOSA,
A ALMA DE SEVERINA JÁ REPOUSA,
DESDE QUE SE FINDOU SUA VIAGEM.
GENITORA QUE É DA HUMANIDADE,
TEM SEMPRE, A MULHER, PRIORIDADE,
NO MÉRITO, SOBRE HOMENS TEM VANTAGEM.

QUE A FAMÍLIA, NA DOR, TÃO CONSTERNADA,
MANTENHA-SE, EM JESUS, RECONFORTADA,
PELO CHAMADO DO SENHOR DA VIDA.
SEVERINA, EM DEUS, É ALMA ELEITA,
E, NO CÉU, COMO JUSTA,FOI ACEITA,
PELOS MÉRITOS DE UMA FÉ VIVIDA.

                             SEBASTIÃO AIRES DE QUEIROZ
CONFRADE DA “APP”


E assim agradeci ao referido escritor, poeta e médico:

AGRADECIMENTO AO MÉDICO E POETA SEBASTIÃO AIRES DE QUEIROZ

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Cadeira 7 – Academia Paraibana de Poesia



Ao nobre escritor e poeta
Irmão da poesia e da caminhada na vida
O chamado de Deus tem hora certa
A tristeza é grande diante da partida.

Acreditar na ressurreição
É o que nos resta em pranto
Páscoa precoce, salvação
Destino mortal, sacrossanto.

A areia do mar...
É menor que a dor da partida
A construção do verbo amar
Desfaz o corpo e refaz a vida.

VÍDEO DOCUMENTÁRIO - LAMPIÃO E O FOGO NA SERRA GRANDE


https://www.youtube.com/watch?v=CztMvro-1nI&t=94s

VÍDEO - DOCUMENTÁRIO...: Lampião e o Fogo na Serra Grande.

Um filme de Anildomá Willans de Souza. Direção de fotografia: Camilo Melo e Alvaro Severo. Fundação Cultural Cabras de Lampião. 

Publicado em 27 de ago de 2017

Um filme de Anildomá Willans de Souza. Direção de fotografia: Camilo Melo e Alvaro Severo. Fundação Cultural Cabras de Lampião.
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 Página do pesquisador Voltaseca Volta

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PESCARIA NO RIO ARACATIAÇU.

Por Benedito Vasconcelos Mendes
Susana Goretti e esposo Benedito Vasconcelos Mendes

O Rio Aracatiaçu passava na Fazenda Aracati, de propriedade do meu avô paterno. É um rio totalmente cearense, intermitente, que desemboca no Oceano Atlântico, no litoral semiárido do Ceará, nas proximidades do distrito  de Moitas, no município de Amontada, e que, na fazenda do meu avô, corria entre enormes blocos de rochas graníticas. Era a única fonte de água para a referida fazenda. No estio anual ( verão ), a água para beber e para o gasto da casa era tirada de uma cacimba cavada na areia do leito seco deste rio e era trazida em ancoretas de pau-branco, sobre cangalha, em lombo de jumento. Quando o rio parava de correr, no final do período chuvoso, deixava, ao longo de seu curso, extensos e  profundos poços de água parada,  que serviam para dessedentar os animais, lavar roupa, pescaria e banho da pequena população ribeirinha. Tomar banho e pescar no rio eram as minhas diversões preferidas. Pescar piabas,  em garrafa de litro transparente, com isca de farinha de mandioca era meu passatempo diário. A pesca com anzol, utilizando isca de minhoca, e a pesca com landuá, nas locas das rochas submersas,  também faziam parte do meu lazer. Os peixes mais pescados eram curimatã, piau, cangati, beiru, cascudo e traíra. Para a pesca da traíra, usava-se na região um tipo singular de armadilha, conhecida como choque. É um cercado circular, em forma de cone, feito  de finas varas de marmeleiro, amarradas, uma na outra, por embira  de entrecasca de sabiá, medindo, aproximadamente, 60 centímetros de diâmetro por 40 centímetros de altura, com uma estreita boca redonda na parte de cima, com cerca de 20 centímetros de diâmetro. A medida que a água ia baixando  na margem da  Lagoa do Osso (lagoa que existia na Fazenda Aracati) e na beira dos lagos formados no verão no leito do rio, as traíras iam se enterrando na lama, ocasião em que se cercava (prendia) os peixes com o choque e, depois,  retirava-os com a mão, pela boca de cima. Minha avó extraía a banha de  traíra, para ser usada como remédio caseiro. Por solicitação de minha avó, eu pegava também cágado e gia (rã grande e preta), para ela retirar a banha, que servia  de remédio na medicina caseira regional. A carne de cágado e a de gia não eram consumidas, pois somente  a banha destes animais era usada como meizinha. O casco do cágado era muito utilizado como recipiente, especialmente nas bodegas, para manusear grãos (milho, feijão e arroz ).      
                                                               
                                                                                 
No período chuvoso (inverno), quando o rio tomava água, ficava cheio, dando nado de barreira a barreira, os peixes nativos realizavam  a piracema, subindo o rio para se reproduzir. Quando as curimatãs ficavam ovadas, elas se tornavam os peixes preferidos nas pescarias, pois a ova  de curimatã é  uma iguaria saborosa e muito consumida pelos sertanejos. Nas furnas de pedras submersas, com fundo de lama, tinha grande quantidade de muçuns (peixe preto,  em forma de cobra, sem nadadeiras e sem escamas, que se tornava muito liso quando se pegava, devido  ele secretar uma gosma). Na região, não se tinha o costume de pescá-lo.                                                                                                                                                                                                            Durante o banho de rio, eu e meus amigos, filhos do vaqueiro Sales, competíamos nos “pulos de ponta”, de cima dos grandes blocos de pedra, e quem demorava mais tempo com a cabeça submersa na água. Praticávamos muitas outras brincadeiras, como a de esconder uma pedra no fundo do rio, quem nadava mais rápido, quem melhor pulava de ponta de cima da barreia e outras competições.                                                                                
Em casa, eu tratava (retirava  as vísceras e as  escamas) e salgava os peixes. As piabas eram fritadas, em banha de porco, com as vísceras e escamas e depois consumidas, de mistura com farinha de mandioca.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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HIGIENE NO CANGAÇO

Por Joel Reis 

A água é um elemento vital para o ser humano. Um recurso escasso na caatinga, demasiadamente preciosa, e em primeiro lugar urgia matar a sede. Os cangaceiros passavam vários dias sem tomar banho, não podiam tomar banho juntos, pois se estivessem despidos (não estivessem equipados) poderiam ser pegos desprevenidos e seria chacina para o grupo.


Figura 01: Royal Briar, Fleur d’Amour, Chanel e Sabonete Eucalol Fonte: Colagem de diversas imagens do Google.

Cada um possuía sua caneca, prato, colher e uma cabaça para tomar água. O asseio quase não existia no cangaço, para tirar o limo que se acumulava nos dentes usavam retalhos enrolados nos dedos e folhas de juá. As cascas do juá serviam também para lavagem de roupas. Usavam três ou quatro calças, uma por cima das outras, nos tiroteios quando rolavam no chão e as roupas ficavam sujas, então tiravam a primeira vestimenta suja, ficando a segunda limpa e, assim, sucessivamente, até a última. Nessa altura tratavam de fazer outras. Frenquentemente costuravam roupas e bornais. Antes de ficarem sujas ou que ficassem dilaceradas pelos espinhos. (OLIVEIRA, 1970).

Os cangaceiros usavam todo tipo de brilhantina no cabelo, óleo e sabonete ‘Eucalol’, tomavam banho de loção ‘Royal Briar’ e perfume francês, ‘Fleur d’Amour’, da maison Roger & Gallet; o favorito de Lampião, alguns pesquisadores relatam que também usavam o perfume ‘Chanel’, e na falta dessas marcas, “espalhavam no corpo e nas roupas uma marca mais popular, o ‘Madeira do Oriente’. O suor intenso, a falta de banho e o excesso de uso de perfumes davam aos cangaceiros um cheiro corporal forte, bastante característico”. (PERICÁS, 2010, p. 173). Dessa forma, quando desarmavam as barracas e abandonavam “os coitos” deixavam um “odor” de ciganos devido à mistura de perfume com o suor do corpo empoeirado.

No século XX, a elite brasileira usava perfumes importados, uma grande parte franceses, “os produtos locais começavam a ser desenvolvidos através de empreendedores europeus que se alojavam no Rio de Janeiro e São Paulo e estavam atentos ao mercado”. (GONÇALVES, 2012). Isso explica o porquê do uso desses produtos importados por parte dos cangaceiros.

REFERÊNCIAS

GONÇALVES, Cristiane. Um olhar sobre a história da perfumaria brasileira.São Paulo: Revista Osmoz, 10 set. 2012. Disponível em: . Acesso em: 06 ago. 2017.
OLIVEIRA. Aglae Lima de. Lampião, cangaço e Nordeste. Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro, 1970.
PERICÁS, Luiz Bernardo. Os cangaceiros: ensaio de interpretação histórica. São Paulo: Boitempo, 2010, p. 173.
IMAGEM - Colagem de diversas imagens do google.

https://viacognitiva.blogspot.com.br/2017/11/higiene-no-cangaco.html

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QUERIDO PRIMO CHICO DE SALETE DE BENIGNO DE CÂNDIDO.

Por José Romero Araújo Cardoso

Francisco Benigno de Sousa era um pouco mais velho do que eu, sendo filho de Salete de tia Nedina e de Benigno de tio Cândido, denotando caso de união entre primos, fato corriqueiro em um passado não muito distante na Família Benigno Cardoso, pois o enlace matrimonial dos seus pais revelou a permanência endogâmica enquanto herança dos velhos troncos sefaraditas, caracterizando tradição judaica o casamento entre membros da família.

Residimos cerca de dois anos na antiga e tradicional rua Benigno Ignácio Cardoso D’ Arão – ou rua de baixo - entre 1974 e 1976, época em que consolidou-se nossa amizade, a qual conservou-se forte e altiva até o trágico acontecimento que resultou em seu desencarne.

Obrigatoriamente, sigo para a casa de Salete, toda vez que estou em Pombal, para matar saudades e rever queridos familiares. Na rua de Baixo encontram-se fincadas minhas mais profundas raízes.



Chico era apaixonado pelas coisas do sertão, tendo auxiliado de forma estratosférica na ênfase à minha identidade sertaneja, no fomento à idéia de pertencimento ao semiárido, à civilização do couro e da seca.

A rua de baixo é anexa à área rural pombalense, localizada a poucos metros do curso do rio Piancó, verdadeiro tesouro para quem reverencia o sertão em suas belezas e manifestações culturais típicas da terra do sol.

Benigno e Salete dispunham de pequeno rebanho bovino, o qual constituía em inspiração para sentir-me verdadeiramente sertanejo, integrado às tradições da pecuária nordestina. Fazia questão de acompanhá-lo quando do recolhimento do gado na vazante de tio Cândido, nas tarefas árduas de buscar rês desgarrada que adentrava o capinzal de Delmiro Ignácio. O curral ficava na casa dos pais, onde se realizava a tiragem do leite das vacas.

Tenho fascínio incontrolável pelo leite e seus derivados, razão pela qual ficava atento a Chico, com habilidade ímpar, manipular as tetas das vacas. Copo imenso que Salete selecionou para eu beber leite enchia-se e esvaziava-se com uma rapidez impressionante.

Fazia questão de participar de todas as etapas do processo que assinala a prática criatória no semiárido, incluindo a alimentação dos animais de grande porte, geralmente à base de resíduo, não obstante os percalços das secas enfrentadas.

O rio Piancó era a principal diversão. Banhos e pescarias faziam parte do cotidiano feliz na rua de Baixo. Sobrinho-neto e filho de exímio pecador de nome Biró de Onofre, não havia mistério no que diz respeito à forma de melhor aproveitar as pescarias, divertindo-se e pecando peixes de várias espécies. Certa vez pescamos tantos peixes que tivemos que pedir para que tio Álvaro, que vinha da Outra Banda, entregasse-os a Salete, para que fritasse enquanto estávamos no rio Piancó. Quando chegávamos, estava àquela peixada frita pronta, a qual saciava nossa fome.

Incontáveis vezes descemos de câmara de ar até a Outra Banda, propriedade de nossa Bisavó Ana Benigno de Sousa, aproveitando para visitar parentes e amigos que residiam por lá, bem como nas redondezas.

As noites na rua de Baixo eram marcadas por verdadeiras manifestações da nossa riquíssima cultura popular, com dezenas de crianças e adultos brincando, divertindo-se da melhor forma possível, seja através de garrafões, esconde-esconde e outras artes lúdicas inventadas pelo incrível poder criativo dos moradores da rua de Baixo.

Eu, Chico e Aldinho não dispensávamos esses momentos sublimes que marcam indelevelmente a história de vida de qualquer pessoa com bom senso. Imitar trechos de novelas assistidas na extinta TV Tupi, também fazia parte dos programas noturnos verificados na rua de Baixo. Tenho gravado em minha memória Tana, primo legítimo, tio de Chico, irmão de Salete e demais filhos e filhas de tia Enedina e de tio Godofredo Bispo, imitando cena de novela exibida em horário nobre em que o autor Carlos Alberto Riccelli faia o papel do índio Aritana. Como ele é conhecido por Tana, havia identificação com o personagem.

Chico era parte integrante e indissociável da geografia humana de Pombal, e, em especial, da rua de Baixo, da rua Benigno Ignácio Cardoso D’ Arão, homenagem ao velho ourives de origem judaica que é o patriarca de inúmeros seres humanos pombalenses, bem como espalhados pelo País e pelo Mundo.

Chico se foi, deixando saudades infinitas, mas vamos nos lembrar dele sempre com muito carinho e amor, pois foi como uma pessoa boníssima que sua passagem neste plano se efetivou de forma proeminente.

Siga em paz, meu querido e inesquecível primo. Siga na Glória do Senhor!

José Romero Araújo Cardoso. Pombalense. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto IV do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, Campus Central, Mossoró/RN.

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