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quinta-feira, 22 de junho de 2017

Livro "Lampião a Raposa das Caatingas"


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MEUS SENTIMENTOS PELO FALECIMENTO DE SEVERINO DOS RAMOS REGO (MELÃO).

Por José Romero Araújo Cardoso

Minha infância em Pombal/PB teve presença marcante na casa de Ramos e de Lourdes, na rua do comércio. Fui criado com os filhos deles, meus amigos de infância, meus irmãos de criação, na mais pura e cristalina tradição sertaneja. 

Nessa fotografia encontram-se Melão, minha irmãzinha Sandrely e Lourdes

Fiquei muito sentido quando soube do falecimento de Melão, ocorrido ontem, dia 20 de junho de 2017, em João Pessoa/PB. Deus o acolha no Reino dos Céus. Valeu privar de sua amizade, meu querido Severino dos Ramos Rego (Melão)!

José Romero Araújo Cardoso

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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A HISTÓRIA COMPLETA DO NAVEGADOR JOÃO DE CALAIS ATRAVÉS DA PRODUÇÃO CORDELÍSTICA DE ARIEVALDO VIANA

(*) José Romero Araújo Cardoso

Entre as muitas estórias europeias difundidas no Novo Mundo uma das que mais profundamente marcaram o imaginário popular refere-se às aventuras do humanitário navegador João de Calais.

No sertão nordestino, quando não havia jornais, rádios, televisão ou qualquer outro veículo de comunicação, foram diversos agentes os responsáveis pela disseminação e encantamentos do povo da hinterlândia pela fantástica estória, a qual teve sua origem registrada provavelmente pela desditada francesa Madalena Angélica Poisson, a Madame Gómez.

Câmara Cascudo, em célebre e importante opúsculo intitulado Cinco Livros do Povo, enfatiza que a maior informação portuguesa sobre João de Calais devemos a Teófilo Braga, referendando-se em trabalho de autoria desse intelectual lusitano, publicado em Lisboa, no ano de 1885, o qual traz o título de O Povo Português nos Seus Costumes, Crenças e Tradições (II).

Cascudo não deixou ainda de fomentar dúvidas a respeito da real autoria das aventuras e desventuras de João de Calais, baseando-se em informações colhidas por Mme. Monique Cazeaux-Varagnac, alicerçadas em pesquisas do estudioso francês Antoine Barbier, as quais apontam para um certo Jean Castillon, provavelmente um pseudônimo de autor anônimo, como o verdadeiro autor da história que cativa há séculos boa parte da raça humana, sobretudo no denominado ocidente, cuja conceituação tem fortes vínculos europocêntricos.

Contadores de estórias, repentistas, violeiros e cordelistas, os quais desfrutavam de imenso prestígio em fazendas, vilarejos e povoados espalhados pela imensidão das caatingas nordestinas, são os responsáveis pela popularidade que a fábula européia granjeou, a qual ainda se reflete extraordinariamente, pois gerações sucessivas que aqui habitaram a tornaram imortal, espelhando importante fomento à cultura popular regional.

Câmara Cascudo, em razão da extrema seriedade de suas importantes notas sobre a História de João de Calais, destaca que a versão original trazia sua ambientação no reino português, modificando-se quando da tradução, visto que houve alteração da feição da redação de Madame de Gómez, substituindo o porto de Lisboa e o reino de Portugal pelo porto de Palermo no reino da Sicília.

O cerne que norteia a História de João de Calais está na valorização de valores humanos, efetivados de forma proeminente pelo protagonista. O herói, cansado de incursões de piratas argelinos, conforme ainda Câmara Cascudo, decidiu combatê-los e expulsá-los, terminando por se perder em terras estranhas, cujos valores considerados negativos foram combatidos pelo navegador.

Filho único de um rico comerciante, João de Calais se compadece da triste sina destinada a um cadáver de homem cheio de dívidas, resgatando ainda moças raptadas por piratas. 

Constanza e Isabel são libertadas pelo navegador, sendo a primeira desposada por João de Calais, embora omitindo sua linhagem nobre, visto se tratarem de princesas. Retornando a Calais, João amargou humilhações do genitor, o qual pensava ser a nora reles plebéia. Na tentativa de separar o filho da amada, o rico mercador contribuiu para que a verdade viesse à tona, quando o navegador João de Calais ruma para Palermo, a fim de implementar os negócios da família.

A história do amor de João de Calais e da princesa Constanza tem a primazia de dar ênfase à complexidade da natureza humana, fundindo amor verdadeiro, ódios, intrigas, traições e desencontros. O final feliz da história, fomentado na maioria das vezes, em razão de que, para agradar o povo, fazia-se necessário buscar a vitória do bem dentro da essência maniqueísta que permeia boa parte dos contos de época, invoca o sobrenatural, quando João, depois de anos perdido em uma ilha deserta no mediterrâneo, após ter sido atirado de um barco por um primo de sua esposa, de nome Florimundo, quando atravessavam violenta tempestade, é ajudado pela alma do morto que lhe deixou compadecido, impedindo-se dessa forma o casamento de Constanza com o perigoso parente.

Em cento de vinte e sete estrofes, Arievaldo Viana Lima segue perfeita sincronia entre rima e métrica a fim de contar a história completa do navegador João de Calais, em folheto que traz o número sessenta e dois da Coleção de Cordel publicada pela Editora Queima-Bucha. O trabalho traz xilogravura de capa do próprio autor, cuja publicação se concretizou em dezembro de 2005.

Aproveitando inspiração singular em um dos mais importantes livros do povo, cuja divulgação tem um profundo vínculo histórico com a cultura popular, Arievaldo Viana proporciona momento antológico à autêntica Literatura Nordestina, cujos parâmetros gerais se encontram na estreita relação com o processo de identidade que fomenta o reconhecimento regional de forma extraordinária.

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor Adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial e em Organização de Arquivos. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. 

História Completa do Navegador João de Calais

Peço às musas que povoam
As regiões siderais
Que derramem sobre mim
Os seus raios divinais
Para eu falar novamente
Do Herói João de Calais

Porque diversos poetas
Já exploraram esse tema;
(Versou Severino Borges
Damásio fez um poema...),
Sendo o tema universal
Escrevo aqui sem dilema.

E Manoel Baraúna
Foi outro que aproveitou
O belo conto europeu
Que de França nos chegou
Sendo Angélica Poisson
Que em prosa o publicou

ARIEVALDO VIANA, poeta popular, radialista, ilustrador e publicitário, nasceu em Fazenda Ouro Preto, Quixeramobim-CE, aos 18 de setembro de 1967. Desde criança exercita sua verve poética, mas só começou a publicar seus folhetos em 1989, quando lançou, juntamente com o poeta Pedro Paulo Paulino, uma caixa com 10 títulos chamada Coleção Cancão de Fogo. É o criador do Projeto CORDA CORDEL na Sala de Aula, que utiliza a poesia popular na alfabetização de jovens e adultos. Em 2000, foi eleito membro da ACADEMIA BRASILEIRA DE LITERATURA DE CORDEL, na qual ocupa a cadeira de nº 40, patronímica de João Melchíades Ferreira. Tem cerca de 50 folhetos publicados e é autor de três livros: O Baú da Gaiatice, São Francisco de Canindé na Literatura de Cordel e Mala da Cobra - Almanaque Matuto.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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LAMPIÃO: AS FACES E AS VERSÕES

*Rangel Alves da Costa

O texto abaixo, anteriormente intitulado “Existiram quantos Lampião?”, foi reescrito com o título acima e publicado em jornal impresso. Poucas modificações foram introduzidas, mas a modificação no título se deu para que não fossem ventilados erros gramaticais, pois este autor bem poderia tê-lo intitulado de “Existiram quantos Lampiões?”, porém preferiu não pluralizar tão importante nome da história brasileira, apelido único e que assim de deverá ser respeitado. Mas vamos ao texto em si.

O cangaço, enquanto fenômeno social dos sertões nordestinos, ainda hoje é construído e reconstruído segundo as muitas versões surgidas. Atrás de seu conceito sempre persistem indagações que vão sendo preenchidas segundo as vertentes abraçadas pelos historiadores.

É como se tivessem existido vários mundos dentro do próprio mundo cangaço. Tanto assim que os fatos vão sendo sempre recontados de forma diferenciada, como se negando verdades nascidas desde outros tempos. E quando se trata sobre Virgulino Ferreira da Silva, o Capitão Lampião, então tudo se desanda mesmo.

Existiram quantos Lampiões dentro de um só Lampião? Sim, aquele mesmo nascido Virgulino Ferreira da Silva, quantos existiram? Quantos homens couberam num só corpo e numa só feição daquele nordestino arretado que um dia se insurgiu contra o mundo dos poderosos (ao menos em parte)?

Ora, ante o emaranhado que se tornou a história do cangaço, perante os labirintos que a todo dia colocam a saga dos homens das caatingas, há de se perguntar quantos Lampiões existiram naquele único e famoso Lampião. Assim há de ser sob pena até se duvidar sobre a sua real existência. Ora, por vezes chega a parecer que nem se fala de homem, mas de um ser mítico, imaginado na crendice popular.

Diante das histórias e mais histórias, ante as lendas e os mitos que se propagam a seu respeito, diante das inúmeras versões para os mesmos fatos, não há como não perguntar quantos Lampiões existiram naquele rei cangaceiro, naquele Lampião desgarrado de seu Pernambuco, de sua Vila Bela, e tomando o mundo nordestino de assalto.


As datas sobre alguns eventos de sua vida são tão discordantes que até parecem se tratar de pessoas diferentes. Igualmente com relação à sua infância, ao seu batismo, à sua criação. Para muitos até Lampião já nasceu cangaceiro. Até mesmo filmes enveredam num imaginário difícil de acreditar.

Vários, muitas pessoas, num só ser humano. Assim com Virgulino Ferreira da Silva, mas principalmente com Lampião. O herói, o bandido, o religioso, o facínora, o covarde, o estrategista, o líder, o dominado, o carrasco, o comedido, tudo isso numa só pessoa.

Tudo isso numa só pessoa, num só Lampião, por que é assim que sua imagem é propagada, segundo a intuição da pessoa que de um modo ou outro o concebe. O mais espantoso é que dificilmente Lampião é visto a partir dele mesmo.

Comumente, a história trata o homem pela sua saga e não pela sua sina. Desse modo, Lampião é quase sempre estudado e definido como o cangaceiro. Apenas. Lampião cangaceiro, líder de bando, carrasco, a frieza peçonhenta das matas.

Mas também como o injustiçado, como o ferido desde o seio familiar, como o odioso levado pela vingança. Ainda neste sentido, o homem já gestado em meio à violência e, portanto, o cabra marcado a se eximir de si mesmo para conviver com outra realidade.

Daí uma indagação: Quantos pesquisadores, estudiosos do cangaço e pesquisadores, já se voltaram mais para Virgulino, o homem, e não priorizaram tanto Lampião, o cangaceiro? A verdade é que a história do mito de vez em quando se esquece da origem.

E assim por que além do Lampião em si, o cangaceiro das caatingas, existia um homem chamado Virgulino Ferreira da Silva. E somente se conhecendo a história do homem é que se pode chegar ao desvendamento daquilo que o destino lhe reservou.

A construção da história do homem através da história do mito, invariavelmente provoca a construção de identidades diferentes, contraditórias, até que se negam a si mesmas. Uma hora Lampião é o devoto e temeroso dos castigos de Deus, outra hora é o que observa passivamente crianças sendo lançadas ao alto para serem apanhadas pela ponta do punhal.

Nada de exagero. É assim que dizem, seja mentiroso ou não. O Lampião devoto de Padre Cícero e de Nossa Senhora, mas ao mesmo tempo aquele que consentiu com as maldades de Zé Baiano, o carrasco ferrador.

Então, quantos Lampiões dentro de Lampião existiram? Há o Lampião que foi morto na chacina do Angico, há o Lampião que foi envenenado, há o Lampião que sequer estava no coito sangrento naquele alvorecer sertanejo, há o Lampião que fugiu, há o Lampião que morreu já centenário lá pelas Minas Gerais. Então: quantos cangaceiros existiram num só homem?

Dizem até que Lampião foi comunista. Dizem e tentam provar. E também aquele Lampião “amulezado”, segundo a insanidade de alguns. Contudo, o mais difícil mesmo parece mesmo é conhecer aquele Virgulino antes de se tornar Lampião.

Afirmar simplesmente de seu banditismo é prova maior do total desconhecimento de sua história, principalmente familiar. Afirmar de seu heroísmo é igualmente desconhecer das maldades consentidas e pactuadas enquanto líder maior de seu bando.

Então, quantos Lampiões na face de Lampião existiram? Tal resposta certamente jamais será obtida. Prova maior é que todo dia surge um novo livro contando a história de um Lampião diferente.

Escritor
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MORTE E VIDA SEVERINA: UM POEMA À ESPERANÇA

Por José Gonçalves do Nascimento*

Na história da poesia, poucas obras obtiveram tanto sucesso quanto “Morte e vida Severina”. Escrito há mais de sessenta anos, o belo poema de João Cabral de Melo Neto é um marco da cultura brasileira, capaz de arrancar aplausos dos mais diferentes públicos.

O autor, diplomata de carreira, mas sem se desvencilhar da realidade sertaneja, em especial do seu estado, Pernambuco, busca no retirante nordestino a inspiração para a sua obra maior. A figura do retirante, já presente em Raquel de Queiroz, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Cândido Portinari, dentre outros, atende aqui pelo nome de Severino. Severino que, aliás, “é santo de romaria”, venerado em grande parte do nordeste.

Como tantos brasileiros, Severino larga seu torrão natal e vai para a cidade grande. Vai não por “cobiça”, mas com o propósito de “defender a vida”. Não por acaso, a trilha escolhida é a do rio Capibaribe (o “fio” da “vida”), que após serpentear entre sertão, agreste e zona da mata, desemboca preguiçoso no mar do grande Recife.

Tão logo principia sua caminhada, o esperançoso retirante começa a deparar-se com a triste realidade da morte. Morte que o acompanhará até o fim da longa jornada. O próprio Capibaribe, “o caminho mais certo” e “o melhor guia”, está seco, morto, pois como “ os rios lá de cima”, na seca ele também “corta”.

No primeiro momento, encontra Severino dois homens que carregam um defunto, aos gritos de “irmãos das almas”. O "finado", que também se chama Severino, morreu de “morte matada”, “numa emboscada”. Tinha ele “somente dez quadras” de terra, “todas nos ombros da serra, nenhuma várzea”. “Queria mais espalhar-se”, “voar livre”, num mundo dominado pela força do latifundiário. Queria “ter uns hectares de terra”, “de pedra e areia lavada”. Por isso o mataram de “bala” de “espingarda”.

Andando mais adiante, depara-se o retirante com um velório onde se cantam “excelências” ao morto, que, de novo, se chama Severino. Por último, assiste ao enterro de um lavrador de eito, sem exagero a cena mais dramática da peça. A passagem, magistralmente musicada por Chico Buarque, narra a descida do morto à sua “cova”; “cova” que nem é “larga” nem “funda”, é apenas a parte que lhe “cabe” nesse imenso “latifúndio”. “Não é cova grande, é cova medida, é a terra que (ele) queria ver dividida”.

Trata-se de mais uma vítima do “latifúndio”; “Latifúndio” que nunca foi “dividido”, privando o nordestino (da “caatinga” ao “agreste”, do “agreste” à “zona da mata”) do direito sagrado da terra – seu único meio de subsistência. Latifúndio que tirou do camponês o direito ao “brim”, à “camisa”, ao “sapato”, ao “chapéu”, ao “xale ou véu”, à “roupa melhor”, à “fazenda”. Latifúndio que é responsável por tanto “sangue” de “pouca tinta”; por tantas “mortes e vidas severinas”.

Cansado da árdua viagem, e tomado pelo espectro terrível da morte, resolve o anti-herói buscar “um trabalho" de que possa "viver”. Mas como “a morte é tanta” por aquelas paragens, “só os roçados da morte” “compensam” “cultivar”. Os únicos ofícios que lhe são oferecidos são aqueles relacionados à morte: “benditos”, “rezas” “excelências”, “ladainhas”, “enterros”. Ou seja, como “a morte é tanta” por “lá”, “só é possível trabalhar nessas profissões que fazem da morte ofício ou bazar”.

Ao longo do caminho, Severino encontrará outros Severinos. Assim, o retirante funde sua saga à saga dos demais retirantes que, como ele, resolvem partir em busca de melhores condições de “vida”. Nessa realidade social marcada pela fome, pela pobreza e pela morte, todos são Severinos, “iguais em tudo e na sina”.

Depois de penosa via crucis, “saltando de conta em conta” o “rosário” da “morte”, finalmente, aporta em Recife, “onde o rio some” e a “viagem se fina” O retirante, que antes só pensava em “defender a vida” encontra-se de todo desiludido. Ele, que almejava “aumentar” a “água pouca” “dentro da cuia”, “a farinha, o algodãozinho da camisa”, agora se dá conta de que desde que partira do “sertão”, “seguia” seu “próprio enterro”. E, numa espécie de crise existencial, chega a cogitar a possibilidade de “saltar” “fora” da "vida”.

É quando, num jogo de antítese extraordinário, uma mulher noticia a “explosão” da “vida”. Uma criança acabara de nascer, “saltara” “para dentro da vida”. O nascimento que ora se anuncia opõe-se à desesperança de Severino, que, a partir daí, assiste a tudo em silêncio, como que inebriado com a “beleza” da vida que “brota”.

A afinidade com o evento natalino não é casual, haja vista que a peça é um “auto de natal” (pernambucano). O pequeno Severino que acaba de nascer é comumente associado ao menino Jesus, que surge dos manguezais recifenses, e que tem como pai um carpinteiro (Seu José Mestre Carpina), filho de Nazaré (Nazaré das Matas), nordeste do Brasil.

As últimas palavras (proferidas pelo velho Carpina) “celebram” a “explosão” da “vida”, que vence a morte e a desesperança: “não há melhor resposta/que o espetáculo da vida:/vê-la desfiar seu fio/que também se chama vida/vê-la brotar como há pouco/em nova vida explodida/mesmo quando é a explosão/de uma vida Severina”.

Deste modo, a morte, que pareceu sempre "ativa", acaba vencida pela "vida" "com sua presença viva". E é isso que confere maior sentido a "Morte e vida Severina", transformando o poema num belo hino à esperança.


*Poeta e cronista

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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UM ANDARILHO LUTA POR MOSSORÓ

Por Geraldo Maia do Nascimento

Em 11 de março de 1927 chega a Mossoró o andarilho gaúcho Álvaro da Costa Lopes, procedendo da Bahia, num 'raid' pedestre com destino a América do Norte. Encontra, porém, a cidade agitada. Boatos davam conta de que a cidade seria atacada por um bando de cangaceiros, liderados pelo famigerado Virgolino Ferreira da Silva - o Lampião, - e a população preparava a sua defesa. 


No dia posterior a sua chegada compareceu a redação do jornal ”O Nordeste”, que era publicado pelo jornalista J. Martins de Vasconcelos, a quem se apresentou, mostrando a documentação dos lugares percorridos. Definia o 'raid' como “uma excursão a pé, ao longo de muitos caminhos e muitas surpresas, do Brasil aos Estados Unidos”.

O jornalista José Martins de Vasconcelos era da cidade de Apodi-RN

O percurso, por ele calculado em 14.250 quilômetros, estava programado para ser coberto em 475 dias, acrescido de mais 125 dias para descanso, o que totalizava 600 dias de viagem a pé, ou seja, um ano e oito meses.  Pela iminência do ataque, resolveu permanecer na cidade, juntando-se aos voluntários que organizavam a defesa, capitaneados pelo Prefeito Rodolfo Fernandes.  

Era prefeito de Mossoró quando da tentativa de assalto pelo capitão Lampião

Apresentou-se às autoridades e depois de devidamente identificado e comprovado a confiança que passou a merecer, foi imediatamente incorporado ao exército de defensores. Tomou parte em todos os preparativos de defesa, e ocupou lugar na trincheira do Telégrafo, de arma na mão. O gesto de Álvaro não passou despercebido. Foi recompensado pelo Prefeito do Município, que reconheceu nele a espontaneidade e o espírito cooperativo. O Sr. Mirabeau Mello, que chefiava a defesa do Telégrafo Nacional, ofereceu ao jovem andarilho uma comenda com dizeres: “Ao raidman Álvaro da Costa Lopes, o Telégrapho Nacional – Mossoró, 13-6-1927 – Homenagem”. Embriagado pela emoção dos momentos vividos em Mossoró, Álvaro deixa fluir a veia poética de que é dotado. E recolhendo-se ao quarto de hotel onde estava hospedado, passou a descrever em versos a epopeia de que fora testemunha. Foi a sua homenagem a Mossoró pela vitória alcançada sobre o bando de Lampião no ataque de 13 de junho de 1927. “Amor Omnia Vincit” é o nome do poema por ele composto. Esse poema passou a ser cantado em todo o Nordeste, como uma paródia da “Ave Maria”, a imortal canção de Erothides de Campos. Eis os versos: Mossoró era um ninho florido -Paraíso num festim de amores Onde tudo era sonho e candura Trescalando o aroma das flores. Veio um dia o terrível bandido, O assombro de todo o Nordeste, Esmagar a calma santa e pura Deste Éden grácil e celeste.   Jesus, lá do céu, ouvindo os clamores, Quais hinos febris e cheios de dores, Enviou a sua bênção piedosa A esta terra fértil e formosa. E o bando sinistro, furioso a correr, Fugiu disperso, covarde e a tremer, Com medo das balas certeiras Saídas das nossas trincheiras.   Mossoró, varonil, denodado. Ó Titã dos combates renhidos! Celebraste pelo mundo inteiro O valor dos teus filhos queridos. E assim venceste o celerado, Dando exemplo de grande civismo, Rechaçando o vil bandoleiro, No mais alto grau de heroísmo.   Acalmados os ânimos e depois de uma temporada de descanso na cidade, Álvaro da Costa resolve retomar a viagem, seguindo o rumo traçado em seus planos. E assim, na manhã de 06 de julho de 1927, parte de Mossoró a caminho do seu sonho, levando lembranças de umas gentes destemidas, deixando saudades na terra que ajudou a defender, e que ainda hoje canta os seus feitos.   

Geraldo maia do Nascimento

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O PALACETE DE ANTÔNIO FLORÊNCIO

Por Geraldo Maia do Nascimento

O prédio onde funciona atualmente a Secretaria Municipal de Finanças, na esquina da Av. Alberto Maranhão com a Av. Augusto Severo, no centro de Mossoró, foi construído em 1930 para servir de residência ao seu proprietário, o 


industrial Antônio Florêncio de Almeida, e tem uma particularidade: foi o primeiro prédio construído em Mossoró usando-se em suas estruturas, vigas de cimento armado, assinalando assim o começo de uma nova era no setor de construção, haja vista que até então todos os sobrados da cidade tinham vigas de madeira, principalmente de carnaúba, madeira abundante na região. 


O seu construtor foi o mestre de obras Joãozinho de Zuza, que ao lado de outros grandes construtores, como Francisco Paulino, João Dias, o velho Darico e de outros da mesma estirpe, tanto contribuíram para o embelezamento da cidade, à época em que viveram. Os salões do palacete abrigaram, por várias vezes, a sociedade mossoroense em suntuosos bailes e luxuosos banquetes, numa prática muito usada na época, não somente ali, mas em outras mansões. A professora Ozelita Cascudo, em um depoimento sobre como era a vida social de Mossoró no passado, diz: “Li, certa vez, que as cidades também têm alma. Acho que Mossoró, naquela época, tinha mais vida, tinha alma, era mais alegre, sentia-se nela a alegria de viver. (...) A vida social do meu tempo era mais intensiva, havia mais entusiasmo, mais cultura. Lembro-me de que as festas se realizavam nas residências, como a de Antônio Florêncio de Almeida, onde haviam bailes carnavalescos, saraus dançantes, etc.” Esse mesmo palacete, em épocas passadas, serviu de sede à Prefeitura Municipal durante as gestões do prefeito Antônio Rodrigues e Raimundo Soares de Souza, bem como a Câmara Municipal, segundo nos informa o historiador Raimundo Soares de Brito, em seu livro “Casarões e Monumentos Contam a História (Coleção Mossoroense – Série B – Nº 1085 – 1991). Dos velhos casarões da cidade, o palacete de Antônio Florêncio é um dos mais bem preservados, haja vista que muito pouco dos seus traços originais foram modificados. A fachada foi preservada original, tendo apenas as suas cores modificadas. No interior, poucas modificações para se adequar ao uso atual, mantendo as portas e o piso originais. É interessante lembrar de como se construía casas naquela época. Não havia loja de material de construção que vendesse tijolos, telhas, fornecesse areia, barro, cal ou qualquer outro material primário para a construção. Escolhia-se, portanto um local onde existisse material argiloso, dali tiravam o barro para moldar os tijolos e telhas. No mesmo local esse material era queimado para se tornar resistente, como ainda hoje vemos em locais próximo ao município de Assu, que mantem essa prática de confecção de tijolos artesanais. A areia era trazida da beira do rio, principalmente na época de seca, pois no inverso o rio alagava todas as margens, tornando-as lamacentas; e a cal sempre houve em abundância aqui na região, mas tinha-se que queimar a pedra para extrai-la. Não existindo cimento, a argamassa usada nas construções era feita de areia, barro e cal, que servia para juntar os tijolos e também para o reboco e acabamento final. E como ainda não se conhecia a técnica de construção de pilares de ferro, as paredes tinham que ser dobradas, ou seja, com tijolos duplos, para que a estrutura suportasse o peso de telhado. Toda a estrutura de madeira era feita, principalmente de tronco de carnaúba, tanto pela abundância dessa madeira na região, como por ser bastante resistente e difícil de ser atacada por cupim. O palacete de Antônio Florêncio, como já citamos, foi um marco para a construção em Mossoró, pois nela, pela primeira vez se usou estrutura de concreto, o que era uma novidade para a região. Quase noventa anos se passaram e o palacete de Antônio Florêncio continua forte e belo. Um exemplo para os demais que continuam sendo demolidos sem nenhum respeito pela história que eles encerram.
20/05/2017

Geraldo Maia

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VEREMUNDO SOARES COM ZÉ DANTAS E LUIZ GONZAGA


Veremundo Soares é natural de Salgueiro no Estado de  Pernambuco, Coronel da Guarda Nacional, filho do padre A. Joaquim Soares, que, saindo de Minas Gerais, subiu pelo São Francisco e acabou por se fixar em Salgueiro. O padre Soares emigrou em busca dos currais sanfranciscanos de gado.


Fonte: “Coronel. Coronéis – Apogeu e declínio do coronelismo no Nordeste”, Marcos Vinícios Vilaça e Roberto Cavalcanti de Albuquerque, Bertrand Brasil, 2003.

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LAMPIÃO E A CARTA ENDEREÇADA AO CORONEL VEREMUNDO SOARES


Lampião escreveu uma carta para o Coronel Veremundo Soares, a fim de alertar sobre sua passagem pela região e, na mesma carta, acentua sua vontade de querer virar santo.

Abaixo transcrevemos a "correspondência" do Rei do Cangaço, capitão Virgulino Ferreira, endereçada ao Coronel Veremundo Soares, de Salgueiro.


“O fim desta somente para saber, qual seu plano. Que após em minha passagem o senhor mandou uma força atrás de mim e mesmo pilheriou bastante de mim. Em outrora nós já fomos inimigos, porém para o presente eu pensava que nós éramos amigos, para mim eu era, mas para si me parece que o senhor era inimigo. Portanto eu lhe faço esta, para saber qual é o seu destino. Já mandei avisar ao Padre Cícero, que nesta minha diligência quem se alterou contra mim foi o município de Salgueiro, tenha muita cautela, eu não volte para o mesmo que eu era outrora. Eu bem que quero virar santo e fazer a felicidade para vocês mesma. Sem mais assunto. Capitão Virgulino Ferreira.”

Coronel Veremundo Soares - http://www.onordeste.com/portal/veremundo-soares/

O Coronel Veremundo Soares, o grande coronel de Salgueiro, realmente viria a se tornar um ferrenho inimigo de Lampião. Quando necessitava ir ao Recife, o já citado, fazia um percurso que tinha duas alternativas: Salgueiro, “via Juazeiro da Bahia e Salvador”, ou então, “descendo pelo São Francisco, via Penedo, ou via Salvador”, até chegar ao Recife. Esse tortuoso, complicado e custoso percurso tinha um único objetivo para o Coronel: “escapar do perigo de um encontro com Lampião, tornado o seu inimigo rancoroso”. Confirma-se, então, o cuidado de Veremundo em não encontrar o Rei do Cangaço.

Na época da grande perseguição ao Rei do Cangaço, movida pelo o governo de Estácio Coimbra, em 1926, o Coronel foi um dos expoentes e não pensou duas vezes em arregimentar seus homens junto às forças do governo contra Lampião.

http://www.sitewilsonmonteiro.com/2014/12/minha-cidade-e-linda/

Lampião pretendia invadir Salgueiro, a exemplo do que fizera com outras cidades sertanejas que ensaiaram resistência aos seus cangaceiros. Veremundo Soares resistiu. Não pela força, mas pela diplomacia e habilidade. Nas campanhas eleitorais, homens famosos vieram a Salgueiro na busca dos votos locais e na benquerença do Coronel. Agamenon Magalhães e Juscelino Kubitscheck foram dois deles. À pergunta de Juscelino, se votaria nele, o Coronel respondeu “se o PSD o escolher como candidato, pode contar com meu voto”. Foi esse homem, que morreu aos 94 anos, deixando uma cidade inteira, sua obra e sua vida e a dor de uma saudade. Foi assim, Veremundo Soares, um exemplo de liderança.

Fonte: PORTAL SG10

Material adquiro na página do José João Souza e conferido no site abaixo:
 http://sg10.com.br/noticia/colunasespeciais/2016/12/lampiao-e-o-coronel-veremundo-soares.html 

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ASCRIM/PRESIDÊNCIA –SOLENIDADE AFLAM ELOGIO A PATRONA MARINÊS CADEIRA 35 DA ACADÊMICA GORETTI ALVES – OFÍCIO Nº 080/2017.


MOSSORÓ(RN), 22 DE JUNHO DE 2017

REF. EXPEDIENTE ASCRIM/PRESIDÊNCIA – CONVITE AGENDA ACADÊMICA GORETTI ALVES-CANTORA DA TERRA DO SAL- OFÍCIO Nº 076/2017, DE 07 DE JUNHO DE 2017.      

É DA PRAXE DESTA PRESIDÊNCIA, QUANDO OFICIALMENTE CONVIDADO, DIGNAR-SE RESPONDER AOS ECLÉTICOS CONVITES DOS PRESIDENTES DE SUAS CO-IRMÃS. EXEMPLO QUE NOTABILIZA O VIÉS DE UM PRESIDENTE CORRESPONDER A ESSE ECLETISMO, PORQUE SABE A DIFERENÇA ENTRE O LIAME DA PARTILHA E DO PRESTÍGIO QUE ASCENDE E CRESCE NO INTERCÂMBIO ENTRE SEUS PARES.

   
NESTA SINTONIA, UM CONVITE PARA PARTICIPAÇÃO EM EVENTOS CULTURAIS E A CONFIRMAÇÃO, INTERCAMBIADOS ENTRE ENTIDADES CULTURAIS, MERECE E FUNCIONA COMO UM “FEEDER”, EVIDENTE, REPASSADO A TODOS OS ACADÊMICOS DE SEUS CORPOS SOCIAIS, PELO SEU PRÓPRIO PRESIDENTE, CUJO ESSE FEEDBACK ALIMENTA, NATURALMENTE O FERVOR E A CONSIDERAÇÃO EM QUE SINGRAM OS INTELECTUAIS DESSAS PLÊIADES.
  
DESTA FORMA, AGRADECENDO A PRESIDENTE DA AFLAM, DRA.  JOANA  D’ARC FERNANDES COELHO, PELO CONVITE, RESERVO-ME ATRIBUIR MESMO VALOR DE PARTILHA, DIZENDO QUE É UMA HONRA CONFIRMAR MINHA PRESENÇA A SESSÃO MAGNA NO DIA 24.06.2017(SÁBADO) AS 18:30HS NO HUST CAFÉ, NO CORREDOR CULTURAL(ANTIGO CAFEZAL), AO TEMPO EM QUE REPASSO O ASSUNTO DO ALVO CONVITE DE IGUAL MODO, POR CÓPIA,  AS EXCELENTÍSSIMAS AUTORIDADES GOVERNAMENTAIS,  ACADÊMICOS DA ASCRIM E POTENCIAIS CANDIDATOS A ACADÊMICOS DA ASCRIM, ILUSTRES PRESIDENTES DE ENTIDADES CULTURAIS E DIRIGENTES DE INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS, POR SER DO INTERESSE, CLARO, DOS MESMOS, TOMAREM CONHECIMENTO E DIGNAREM-SE, DO SEU MISTER, CONFIRMAR SUAS PRESENÇAS, JUNTAMENTE COM AS EXCELENTÍSSIMAS FAMÍLIAS CONSORTES.

SAUDAÇÕES ASCRIMIANAS,
FRANCISCO JOSÉ DA SILVA NETO
-PRESIDENTE DA ASCRIM-

C/CÓPIA PARA OS PRESIDENTES E DIRIGENTES DE ENTIDADES GOVERNAMENTAIS.
C/CÓPIA PARA OS PRESIDENTES DE ENTIDADES E INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS
C/CÓPIA PARA OS PRESIDENTES DE ENTIDADES CULTURAIS.
C/CÓPIA PARA JORNALISTAS E COMUNICADORES,
C/CÓPIA PARA OS ACADÊMICOS DA ASCRIM,
C/CÓPIA PARA OS POTENCIAIS CANDIDATOS A ACADÊMICOS DA ASCRIM.

P.S.: NA SOLENIDADE, A ACADÊMICA DA AFLAM CANTORA DA TERRA DO SAL GORETTI ALVES, FARÁ O ELOGIO À PATRONA DA CADEIRA 35 MARINÊS, ACOMPANHAMENTO: MÚSICO CLÁUDIO HENRIQUE, MUSICISTA GISELE LIMA E CONTRABAIXO JOHN. HAVERÁ SHOW “TRIBUTO A MARINÊS”.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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LAR DA CRIANÇA POBRE DE MOSSORÓ


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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INVASÃO E RESISTÊNCIA - OS 90 ANOS DA DERROTA DE LAMPIÃO NO CONFRONTO COM O POVO DE MOSSORÓ – PRIMEIRA RESISTÊNCIA AOS CANGACEIROS - PARTE IV

Por José de Paiva Rebouças

Até àquela altura, tudo estava dando certo para Lampião no Rio Grande do Norte, bem como discutido com o coronel Isaías Arruda. 

Coronel Isaías Arruda - Fonte da imagem: https://www.google.com.br

Mas, desde a fazenda Caiçara, ele tinha informações de um possível levante no povoado Vila de Vitória, hoje município de Marcelino Vieira. Aproximadamente 60 homens armados, tinha alertado o refém Antônio Dias de Aquino.

Antônio Dias de Aquino - Fonte da imagem: http://jotamaria-fogodacaicara.blogspot.com.br/

O coronel José Marcelino de Oliveira líder local, organizou o piquete contando com voluntários. O tenente Napoleão de Carvalho Agra, representante da Polícia Militar do Estado, foi incumbido de organizar força armada para enfrentar os cangaceiros.

Para percorrer os 18km até a fazenda Aroeiras, de José Lopes, contaram com o empréstimo dos automóveis do boticário Álvaro Andrade, de Pau dos Ferros, e de Emiliano Arnaud e Antônio Caetano de Alexandria.

CONFRONTO NA ANTIGO MARCELINO VIEIRA

Cangaceiro Sabino Gomes - Fonte da imagem: https://coisasdecajazeiras.com.br

Sabino comandava a tropa quando teve a impressão de ouvir barulho de motor à explosão. Levantou o braço em sinal de comando. O grupo parou atento. Numa curva do caminho, apontaram os veículos perfilados de soldados.

A resistência também viu os cangaceiros, mas foi obrigada a parar os veículos em declives desfavoráveis. Sabino deu comando e a bateria de tiros começou. Soldados entrincheirados. As balas resvalavam nas baterias dos automóveis, fazia menos barulho que a algazarra dos bandidos.

Sem saída, o tenente ordenou o revide. O guia Antônio Dias de Aquino aproveitou o confronto  para empreender fuga. Foi baleado, mas mesmo assim, conseguiu escapar.

Mais experientes, os cangaceiros dominaram a batalha, praticamente cercando a tropa comandada por Agra. Sabino aproveitou-se do fumacê provocado pelas armas e mandou que cinco homens, sob comando de Moreno, forçassem  um fogo por um dos flancos.

Moreno antes e depois do cangaço - Fonte da imagem: https://www.youtube.com/watch?v=biQEQTcGWMs

Inexperientes e com armas inferiores, os soldados se precipitam. Os cangaceiros ouviram quando o corneteiro Francisco Sales gritou que a munição estava acabando, motivo para os bandidos ampliarem o fogo.

Capitão Lampião - Fonte da foto: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lampi%C3%A3o

A chegada da tropa de Lampião encerrou o confronto. A ofensiva forçou o recuo do regimento comandado por Agra. Ferido, o soldado José Monteiro de Matos dava cobertura para seus colegas fugirem. Tinha dito em Vila que morreria, mas não recuava. Assim fez. A resistência sumia na curva da estrada.

Fim do confronto, os cangaceiros encontraram morto o bandido Patrício de Souza, conhecido como Azulão. O cabra conhecido como Cordeiro também foi ferido com bastante gravidade. Pouco diante, o soldado Monteiro agonizava.

Coqueiro lhe tomou o fuzil, atirou contra ele várias vezes e terminou a atrocidade desferindo diversas cutiladas de punhal no homem já morto.

Recolheram o que se aproveitava de armas e munição e atearam fogo nos automóveis. Enterraram Azulão em cova rasa.

A RETOMADA RUMO À MOSSORÓ

Depois do confronto, os cangaceiros decidiram passar longe de Vila de Vitória. Lampião estava contrariado com a resistência e se dirigia a Massilon.

Retomaram com os assaltos na fazenda Lajes, onde fizeram reféns o rendeiro João Bevenuto e seu irmão Emídio. Conquistaram o sítio São Bento e Poço de Pedras, de propriedade de Francisco Germano da Silveira, preso por dez contos de réis.

Francisco Germano da Silveira  - Fonte: http://blogdomendesemendes.blogspot.com.br

Atacaram a fazenda Caricé, do capitão Marcelino Vieira, que tinha se evadido com a família. Na fazenda Morada Nova, surpreenderam o proprietário Antônio Januário de Aquino. Preocupado com as filhas adolescentes Raimunda, Arcanja e Maria, expressou aflição. Foi atendido, mas teve que disponibilizar dinheiro e comida para a cabroeira.

Em terras do município de Martins, saquearam o sítio Ponta da Serra. O agricultor Francisco Dias foi pego de guia e obrigado a conduzir a tropa até a fazenda Morcego de Manoel Raulino de Queiroz, que foi espancado junto com esposa. Um filho conseguiu fugir e foi baleado, mas escapou por sorte.

Em seguida, invadiram os sítios Ribeiro, Pintada, Garrota Morta e Corredor. O agricultor Manoel Barreto leite cruzou o caminhos dos cangaceiros e foi pego de refém por 50 contos de réis.

No sítio Buraco, espancaram e fizeram refém o fazendeiro Sebastião Ferreira de Freitas, o Sebastião de Marcolino. No sítio Carnaubinha tomaram o cavalo de Manoel Ricarte e assaltaram Olinto Martins e Francisco Ferreira. De lá, cruzaram o sítio Cajueiro, maltratando os moradores, e, mais à frente, prenderam como guia o tangedor de rebanhos João de Doca e um companheiro.

INVASÃO NA ANTIGA ANTÔNIO MARTINS

Justino Ferreira de Souza - Fonte da imagem: http://oestenews-etcetera.blogspot.com.br

Era festa de Santo Antônio no pequeno povoado de Boa Esperança, hoje cidade de Antônio Martins. Justino Ferreira de Souza, fundador do lugar, foi avisado da presença de Lampião pelas redondezas, mas não deu ouvidos. Acreditava que poderia recebê-lo como convidado em sua casa.
Os homens cercaram o lugar e proibiram as pessoas saírem de casa ou das novenas. Lampião, Ezequiel Ferreira, Virgínio e Luiz Pedro invadiram a residência de José Silvestre. O comerciante entregou o pouco que tinha e saiu ileso.

Lampião e seu bando - Fonte da imagem: http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Vicente Lira foi preso como guia. Obrigado a correr na frente dos cavalos, tropeçou  e se apoiou nos arreios do cavalo de Lampião. Por pouco não derrubou o cangaceiro. Furioso, o bandido apunhalou Vicente pelas costas. Botou uma bala na agulha do fuzil e mandou que o sertanejo corresse, mesmo sangrando.

No pátio da igreja, os cangaceiros ainda obrigaram o homem a tomar cachaça. Um copo atrás do outro. O infeliz vomitou grossa mistura de álcool e sangue. Quando não aguentou mais, foi abandonado como morto, mas escapou milagrosamente.

Os cangaceiros ainda atacaram o estabelecimento de Justino Ferreira de Souza, mas, devido a seu tom de respeito e disponibilidade em colaborar, conquistou atenção de Lampião e foi poupado, assim como seu comércio.

Augusto Nunes de Aquino também teve seu comércio e casa saqueados. Espancaram o homem na frente da família. Decidiram fazer sua esposa, Rosinha Novaes, de refém, mas ela resistiu. “Como é que posso viajar com uma criança nos braços? Que terra sem proteção é essa? Parece que não tem homem! Na minha terra ninguém se atrevia a fazer isso!”, esbravejou.

Sabino se aborreceu e quis saber de onde ela era. Disse ser de Floresta do Navio/PE. A informação pegou Lampião de surpresa. Descobriu que a mulher era parente de Elias e Emiliano Novaes, amigos do cangaceiro. “É, eu não sabia desse parentesco não. Que coisa medonha. Mas o que tá feito, tá feito, não tem mais remédio”, teria dito o Lampião, segundo conta Sérgio Dantas.

Desculpou-se e saiu apaziguando as coisas pelo povoado. Soltou os reféns com aval de Augusto e recusou o dinheiro do resgate cobrado na prisão do comerciante.

FRUTUOSO GOMES, LUCRÉCIA E ALMINO AFONSO

Por volta das oito e meia da noite, o grupo chegou ao sítio Mumbaça, atual cidade de Frutuoso Gomes. O saque teve início na casa de José Gomes, irmão de Frutuoso Gomes, chefe do lugar. O agricultor Raimundo Inácio foi preso como guia.

Saquearam o sítio Cachoeirinha e Cacimba da Vaca, próximo à Lucrécia, um lugarejo na época. No sítio Castelo, balearam Raimundo Alves, que também sobreviveu.

Chegaram ao sítio Serrote quase meia noite. Por lá só encontraram Egídio Dias da Cunha, filho de Joaquim Dias, dono do sítio Cacimba da Vaca. O levaram de refém por 10 contos de réis.

Fazenda sítio Serrote - Fonte da imagem: Fonte: facebook - Página: Geziel Moura‎ - Grupo: OFÍCIO DAS ESPINGARDAS

Seguiram para Gavião, assaltado por Massilon havia um mês. No caminho, passaram no casebre de José Alavanca. Exigiram silêncio sobre a presença deles e foram descansar no sítio Caboré, já próximo do destino.

Continuaremos amanhã com o título:
"A CHACINA DE CABORÉ"

Fonte: Jornal De Fato
Revista: Contexto Especial
Nº: 8
Páginas: 17,18 e 19
Ano: 6
Cidade: Mossoró-RN
Editor: José de Paiva Rebouças
E-mail: josedepaivareboucas@gmail.com
Ilustrado por: José Mendes Pereira

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