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sábado, 8 de julho de 2017

A POMBAL DA DÉCADA DE 1960 A RUA DO COMÉRCIO - RUA "CORONEL" JOÃO LEITE (*) TEXTO DE JERDIVAN NÓBREGA DE ARAÚJO E VERNECK ABRANTES DE SOUSA.


Quero de volta a Rua do Comércio: lugar de muitas histórias, acontecimentos diários e de myutas saudades que veem e vão em nossas memórias...

Nos finais de tarde as pessoas debulhavam feijão nas calçadas. A bodega de Maria Noca, Severino Pedro, Josafá e de Toinho de Alice. Rua que lembra os pastéis da velha Petronila, os sequilhos e cavalinhos de goma de Ana Benigno, Nanzinha e dona Lourdes. A calçada de tio Cândido e dona Chiquinha, onde à noite o velho Manssonilo vinha se juntar ás demais pessoas para contar histórias antigas e fantasiosas da sua vida.


Os frondosos pés de fícus-benjamim, onde sob suas sombras os meninos jogavam peão e futebol com bola de meia, ao som gostoso dos cantos dos canários amarelos que procuravam migalhas nas soleiras das janelas entre abertas.

No meio da rua, sob à luz vigilante do luar, as vozes das meninas suavizavam a penumbra. De mãos dadas elas cantavam cantigas de rodas enquanto que os meninos, brincavam de “Pega Ladrão” a vista dos mais velhos, que em suas cadeiras preguiçosas trocavam ideias e cumprimentavam os que passavam vindo da lida para o repouso do lar.

E quanta gente boa para cumprimentar:

– Boa noite, dona Ana!

– Boa noite, Seu João Lindolfo!

Seu Mizim a se balançar em sua cadeira de ferro, mestre Álvaro ouvindo rádio, Ciço de Nini, Pindó Gouveia, Joana Teresa na lorota e o Cego Rosendo que passa vendendo pão de ló, alfenim e broa preta. Otarcilio de dona Guiomar, Deoclécio Maniçoba, Dr. Lourival, Zulima, Pirrita, Licô, Jovem Formiga, Bernadino Bandeira, Odílio, Tambaqui e Cora de Onofre, dona Benigna na risada gostosa e Maria Antonieta vigiando suas filhas.

Posto de Puericultura, cuja função social é impossível de determinar, fechado de forma absurda quando do regime militar.. Maria de Lourdes Araújo Cardoso, mãe de José Romero Araújo Cardoso, trabalhou anos a fio nessa importante unidade de assistência à infância em Pombal/PB, localizada na Rua do Comércio.

Era Adamastor ensaiando seu trombone para a apresentação da Banda Municipal, Maria de Deca sempre com uma história nova pra contar e Leó Formiga entregando uma chapa fotográfica que fizera na tarde anterior.

– Quantos ainda circulam pelas ruas de Pombal, quantos já se foram?

Nas chuvas de inverno, as águas rolam formando riacho no meio da rua descalçada e vão desembocar na enlameada Rua de Baixo, para finalmente desaguar no Rio Piancó.

R. Cel. João Leite, Pombal - PB, 58840-000

Ali os moleques espertos, viviam cada momento das suas vidas, gritando em meio aos clarões de relâmpagos e o som estridente dos trovões, procurando uma e outra biqueira para tomar banho na chuva. As meninas adolescentes com seus vestidos colados ao corpo: quantas fantasias a despertar em nossas mentes inocentes.

Rua do Comércio! Das casas antigas e de muitas botijas de ouro enterrada e desenterradas por Cicero de Bembem e Filemon, dois bons contadores de lorotas. Era a rua por onde as mulheres passavam com suas “recas” de filhos para receber o leite redentor no Posto de Puericultura.

Velho casarão localizado na Rua do Comércio, o qual pertenceu o casal Arão Cardoso -  Facunda Cardoso de Alencar

O passado sendo desmemoriado pelo novo. As imagens que distanciam e se apagam no tempo, mudando o antigo e dando lugar ao moderno. Resta-nos recompor estas lembranças, trazer à luz o nome de saudosas pessoas à quem muito devemos as lições de vidas do que hoje somos.

A modernidade é cruel e não respeita as mais elementares lembranças e segue fazendo o seu papel. São as transformações que vão demolindo o nosso passado, transformando-o num imenso quebra-cabeça, o qual nos cabe remontá-lo, nem que seja faltando partes, pois há estilhaços que se negam a se juntar: são os remendos irremediáveis: o nome das ruas, por exemplo, que era dado pelo povo e não por leis como hoje acontece.
- Quem há de saber quem primeiro denominou aquela artéria, uma das mais antigas da cidade de Pombal, de Rua dos Prazeres depois Rua do Comércio e hoje João Leite?

Mas, se essa rua centenária é, por força de lei municipal, denominada de Cel João Leite, por força da memória indemolivel do povo de Pombal é a eterna Rua do Comércio; do feijão debulhado as calçadas; das lorotas e vantagens contadas pelos nossos avós, aonde seus fantasmas ainda hão de circular por muitas gerações.

E quanta gente boa para cumprimentar:

– Boa noite, Seu Lelé!

– Boa noite. seu Onofre!

Eu ainda escuto os ecos da rua do Comércio!

(*) A Rua do Comércio ou Rua "Coronel" João Leite é artéria urbana pombalense onde nasceu, foi criado e viveu fases da infância e da adolescência José Romero Araújo Cardoso, em consonância com o convívio no município potiguar de Governador Dix-sept Rosado, viabilizado pelo deslocamento, com os pais, através da extinta Estrada de Ferro Mossoró - Sousa.

Posto de Puericultura, cuja função social é impossível de determinar, fechado de forma absurda quando do regime militar.. Maria de Lourdes Araújo Cardoso, mãe de José Romero Araújo Cardoso, trabalhou anos a fio nessa importante unidade de assistência à infância em Pombal/PB, localizada na Rua do Comércio.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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