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quinta-feira, 1 de junho de 2017

ESCREVER: PARA QUE E PARA QUEM?

*Rangel Alves da Costa


A arte da escrita é uma das mais belas que possa existir. Contudo, até que o livro saia da editora ou da gráfica para ser levado ao público, um imenso percurso é suportado pelo escritor, até mesmo aqueles de nomes já conhecidos. A inventividade em si é uma das mais sacrificantes, pois a criação da trama ou do texto coloca o escrevinhador numa camisa-de-força. Não é fácil dar sentido aos fatos e aos entrelaçamentos. E não é qualquer história que surja com o poder de agradar.
De qualquer sorte, os sacrifícios se tornam em recompensas quando o livro é publicado, para ter boa aceitação ou não, vez que o próprio escritor sempre valoriza mais sua obra do que qualquer outra pessoa ou crítica. Mas e os livros, aqueles mesmos que poderiam ter alcançado sucesso e permaneceram em gavetas, entregues à voracidade do tempo, por que seus autores não puderam sequer publicar uns poucos exemplares? É uma situação deveras desanimadora, senão impeditiva do prazer da escrita.
No mesmo sentido, e quando escritores permanecem ocultos, nas incógnitas de seus quartos e escrivaninhas, pelo simples fato de não poderem dar visibilidade aos seus escritos? Até nos dias atuais, a publicação de qualquer livro exige vultosos recursos, e nem sempre é possível encontrar apoio que financie ao menos parte do sonho. Buscar apoio numa lei é o mesmo que novamente colocar seu livro em gaveta. Enviar projetos de captação de recursos é o mesmo que esperar a resposta de sempre: não há recursos.
E depois disso, acaso o livro chegue às livrarias, ter sua obra colocada num canto dos esquecidos enquanto as vitrines anunciam os livros escolhidos pelas grandes editoras e seus autores fabricados. Sim, pois há uma verdadeira fábrica de autores, de pessoas cujos nomes passarão a ser sinônimos de grandes sucessos literários. Embora forjadamente. Os fatos constatam isso. De repente e um artista ou pessoa famosa é alçada ao topo da arte literária por cria e obra das grandes editoras. E não é de espantar se muitos sequer tenham escrito uma linha.
No Brasil, foi o jornal que praticamente lançou o renome de grandes escritores. Numa época em que não haviam editoras especializadas em literatura, apenas os periódicos publicavam em capítulos o que atualmente se tem como marcos da literatura brasileira. Assim ocorreu com escritores renomados como José de Alencar, Machado de Assis, Raul Pompéia, Lima Barreto e tantos outros.
Todos estes, tendo como os exemplos vindos da literatura francesa desde os Dumas, tanto o pai como o filho, publicavam seus romances em folhetins, nas páginas dos jornais que circulavam nos principais centos urbanos. Mas o interesse do público era tamanho pelo desfecho dos episódios que mais tarde, ao final, inevitavelmente que tais enredos e tramas eram transformados em livros, como o publicado ou com ligeiras modificações.
Como observado, eram escassos os meios e as publicações eram bastante reduzidas. Por consequência, os autores saídos das páginas dos jornais alcançavam fama rapidamente, vez que com escritos já conhecidos e acessíveis aos leitores dos periódicos. E a situação não mudou quando começaram a surgir editoras especializadas em literatura nacional. Publicava-se mais pela fama do autor que pelo conteúdo da obra, abrindo pouco espaço para novos autores. E tal situação teve continuidade e possui a mesma feição nos dias atuais.
Certamente que muitos escritos de qualidade sequer ganharam espaços nos jornais. As gavetas antigas como as de hoje amargam a certeza que somente as traças serão assíduas leitoras e devoradoras. E assim acontece porque mais de oitenta por cento dos escritos têm de amargar a triste sina do esquecimento das gavetas. Somente uma pequena parcela das criações literárias ganha sobrevida através das editoras. E é neste aspecto que exsurgem algumas considerações importantes.
Como dito, nem sempre o que é publicado possui melhor qualidade do que foi rejeitado pelas editoras, não obteve recursos suficientes para publicação ou simplesmente ficou esquecido nas gavetas. Autores existem que precisariam apenas de uma oportunidade e seus nomes logo seriam reconhecidos. Outros, mesmo cientes que produzem escritos de qualidade, acabam desistindo diante da falta de apoio cultural, de incentivos para publicação e dos infindáveis meandros burocráticos. Já outros fazem pequenas tiragens por conta própria na esperança que seu achado caia nas graças de algum editor.
Por mais que seja difícil de aceitar, mas a verdade é que as editoras praticamente criam autores. Para elas, tanto faz que um autor nordestino ou nortista seja verdadeiramente bom, que seja de grande criatividade literária, se não querem tê-lo no seu catálogo nem em qualquer lista dos mais vendidos. Mas diferentemente ocorre quando desejam fabricar celebridades literárias. Por mais que os escritos sejam medíocres, ainda assim o trabalho de marketing será tão intenso que a crítica passará a reconhecer alguma qualidade na obra.
Por consequência, se a qualidade da produção literária do Brasil não é das melhores, a culpa deve recair exclusivamente nas editoras, pois são estas que não dão oportunidade aos autores novos, privilegiam alguns nomes socialmente famosos e procuram a todo custo proporcionar reconhecimento ao que realmente não tem. Objetivando grande vendagem pelo nome influente do autor, acabam maculando a imagem e a qualidade da verdadeira literatura nacional.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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