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quarta-feira, 3 de maio de 2017

RUAS ANTIGAS DE POMBAL “RUA ESTREITA”, “RUA DO GIRO” E “RUA JOÃO CAPUXU”.

 Por Jerdivan Nóbrega de Araújo

Os três nomes citados acima referem-se a uma única rua de Pombal, que ao longo dos últimos 200 anos teve três batismos: falo da Rua Estreita.

Encontrei documentos no Cartório, no caso o testamento do meu tetra avô paterno, José Tavares de Araújo, escrito no ano de 1894, que se refere à rua Estreita da seguinte forma: “rua do Giro, antiga rua Estreita desta cidade”. Vejam que para se referir rua Estreita, em 1894 já se voltava ao seu antigo nome, o que nos traz a informação que o primeiro nome da artéria foi mesmo “rua Estreita”, e por algum motivo passaram a se referir a essa como “rua do Giro”.


Na década de 1950 a “rua Estreita” passou a ser denominada rua João Capuxu, em homenagem ao um dos seus mais prósperos comerciantes, Capucho(meu tetra avô materno). Mesmo assim a rua continuou a ser referenciada o com o seu primeiro nome, passando a ser a “rua João Capuxu, antiga rua Estreita”, inclusive em documentos importantes.

O prédio onde funcionou o comercio de José Tavares de Araújo, 150 anos depois ainda continua do mesmo jeito, inclusive com as iniciais “JTA”, escritas em alto relevo, no seu frontispício. Já o armazém de Joao Capuxu, ainda existe com algumas modificações. La funcionou na década de 1970 a Marcenaria e Vidraçaria de seu Zuca.


O que tem me intrigado é a mudança da denominação de “rua Estreita” para “Rua do Giro”, que provavelmente ocorreu meados do século XIX. Cheguei a imaginar que a palavra “Giro” se referisse ao comércio que ali existia, mas, as construções da rua Estreita não nos levam a deduzir que ali fosse uma rua exclusivamente comercial.


As construções, e a própria rua muito estreita, nos leva a crer que aquela artéria era muito mais voltada a residências do que ao comercio, mesmo nos séculos XVIII e XIX. 

A rua Estreita, do seu início ao final é uma reta com apenas uma entrada à esquerda de quem segue em direção ao “Castelo”. Não existe nada que nos faça lembrar um “giro” ou uma “curva “para que esse nome “pegasse”


Até o final do século XIX a cidade de Pombal concentrava seu centro urbano, com casas bem construídas, em umas poucas ruas centrais, como Rua dos Prazeres (atual Rua do Comércio, onde estava inclusive situado o mercado ) rua do Rio, o centro formado pelas duas igrejas e mais a sul a rua do Giro. A construção mais afastada do centro era o Cemitério Nossa Senhora do Carmo.


A rua Estreita terminava em um riacho que desaguava, no tempo de inverno, no leito do rio Piancó que a época era temporária. Depois desse riacho as casas eram simples, talvez em taipa e espaçadas entre elas. É o que se deduz das descrições do processo do crime de Donária dos Anjos, fato ocorrido em 1877.


Então, o que levou a mudança do nome rua Estreita para rua do Giro? Ora, o batismo popular de uma localidade acontece por uma referência: alguma coisa que lembre o local passou a e chamar de rua Estreita por que de fato a rua é muito estreita, Mas, e o porquê de rua do Giro?

Busquei me aprofundar nas pesquisas e encontrei referências a palavra “Giro” em edições do “Jornal do Commércio”, Rio de Janeiro edição de 27 de março 1830 (foto anexa). Passei a entender que no período Imperial a palavra “Giro” era a referência a “Circulação”. 


Encontrei no referido Jornal o discurso de um deputado do Rio de Janeiro, que falava da dificuldade de se falsificar as novas moedas emitidas pelo império.

Dizia:

“Se o giro de facto das notas do Banco, que eram muito mais fáceis de se imitar, não ocasionou uma introdução de notas falsas nessas províncias, como a admissão, e giro legal das novas notas, que são mais difíceis de imitação, possa ocasionar essa introdução? ”


Continua:

“...apesar de não existe lei que autorize o Giro de notas nas províncias, a necessidade de preencher as transações, tem introduzido em todas as províncias limítrofes centos de conto de nota do Banco, apesar de não haver tope para conferencia ou não tenha havido queixume algum de notas falsas...”


Isso nos levar a deduzir que a denominação de “rua do Giro” deu-se por haver ali, algum fato ou evento que dizia respeito a “circulação” de moedas.

Talvez fosse o local onde mais se faziam transações comercias, e onde o dinheiro “girava” ou “circulava”, com mais abundância e, divagando um pouco mais, até fosse aquela rua um local de troca de moedas estrangeiras por moedas locais.


Aceito outras teses, e alerto que isto não é uma afirmação conclusiva: apenas um ponto de partida para se chagar ao motivo da mudança do nome da “ruas Estreita”” para “rua do Giro”, que certamente documentos da época ainda por serem estudados nos darão tal repostas.

Agradeço ao Raphael Camilo pelas fotos atuais da ruas Estreita, ao tempo que lamento uma rua central encontra-se em tal situação de abandono como revelado nas fotografias.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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