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domingo, 7 de maio de 2017

O MENINO QUE CONSERTOU O MUNDO

Por Medeiros Braga

Para quem alguma dúvida
Venha a ter sobre o saber,
Esses versos vão mostrar,
Infalível, seu poder...
Gérmen no solo fecundo,
A mudança desse mundo
Vai um dia acontecer.

Provará como uma tocha
Clareando a escuridão
Que o caos do universo
Só tem uma solução:
O saber!... só o saber
Poderá corresponder
Aos anseios de nação.

Vou narrar uma história
Cujas interpretações
Tão sensatas, assentadas
Em verdades e razões
Deixam margem ao leitor
Por clareza, com primor,
A grandes reflexões.

Em um país bem distante
Havia um povo sofrendo,
Os problemas mais horríveis
Vinham já acontecendo,
Desemprego, fome, assalto,
Violência, assassinato,
Tudo que era de horrendo.

Economistas faziam
Seus projetos colossais,
Parlamentares mexiam
Em lei de códigos penais,
Militares se armavam
E governos apressavam
Seus programas sociais.

Mas, nada correspondia
Com respostas positivas,
As ajudas já não eram
Vistas como alternativas,
Nada tinha eficiência,
Bem menos a truculência
Das medidas punitivas.

Um moderno cientista
Despertou para o problema,
Tendo seu laboratório
Estudava o seu sistema.
Integrou-se, na verdade,
Com a sensibilidade
Do poeta em seu poema.

Mesmo audaz e persistente
Em um mundo de ninguém,
Tentando compreender
As razões desse desdém,
Olhava para o passado,
E ao presente voltado
Via o Mal vencendo o Bem.

Enquanto ele estudava
Todo problema ao redor,
A saúde, a segurança,
A miséria, o pranto, a dor,
Muita gente que sofria,
Inocente, se sentia
Em um mundo encantador.

É como se as pessoas
Com sua alienação
Estivessem encerradas
Na Caverna de Platão
Vivendo na ignorância
Sem enxergar a importância
Do direito e da razão.

Ao contrário do que houve
Nas visões de Dom Quixote
Em que monstro aparecia
Provocando-lhe em magote
A mídia hoje nas trilhas
Mostra só as maravilhas
E esconde a cobra e o bote.

A mídia globalizada
Encobrindo seu horror,
A divisão desigual
Sempre aos ricos a favor
Apostava na proeza
Do cenário de beleza
Do seu mundo encantador.

Utopista, o cientista
Não se deixava abater,
Confiante se integrava
À tarefa com prazer,
Tinha por missão, a fundo,
O conserto desse mundo
Condenado a perecer.

Residia o cientista
Em uma casa modesta,
Uma sala de pesquisa,
Vivendo uma vida honesta,
Dava apoio à família,
Porém, sempre em vigília
Ante a questão indigesta.

Da casa o laboratório
Era em uma dependência
Pelo livre e fácil acesso
Direto da residência,
Para colher seus teores
Vinham muitos seguidores
Visitá-lo com frequência.

Certa feita foi a vez
Do neto de poucos anos,
Que quebrou o seu silencio
E pensamentos ufanos.
Ao avô perguntaria
Como ajudar poderia
Na feitura dos seus planos.

O avô com atenção
Lhe respondeu em segundo:
Uma ajuda sua eu quero
Para o conserto do mundo.
O planeta está quebrado,
Precisa ser consertado,
No seu rachão tão profundo.

Em seguida apoderou-se
Da folha de uma revista,
Nela havia uma gravura,
Tendo um mapa como pista,
E cortando em pedacinhos
Mandou, com os seus carinhos,
Consertar o mundo em vista.

Feito foi quebra-cabeça
Esse mapa do universo
Com todos seus continentes
E país o mais disperso;
As potencialidades
E as adversidades
Desse mundo controverso.

E usando o mapa-mundi
E o termo “consertar”
Ao neto se dirigia
Sem querer desenganar:
“Vai meu neto, abre a mente,
Quebra do mundo a corrente,
Faça tudo pra mudar.”

Quando sequer se esperava
Que ele fosse conseguir
Montar o quebra-cabeça
Em pouco tempo, a seguir,
Após como quem não blefa,
Anunciava a tarefa
Que terminou de cumprir.

Tendo o garoto os pedaços
De papel, pôs-se a montar,
E o avô pôde tranquilo
Os estudos retomar.
Por uma sina dos dois
Procuravam já depois
Cada mundo consertar.

Um montava no papel
O seu mapa avariado,
Já o avô prosseguia
No projeto tão sonhado.
E cada um a seu modo
Buscava o fim do incômodo
No mundo desmoronado.

Tirava papel daqui
E botava ali bem perto,
Depois trocava de lado
O mar, a serra, o deserto.
Já estava ali suando
Com tanto papel trocando,
Porém, nunca dava certo.

Já tomado de surpresa
Se dispôs a conferir.
Indagando após o neto
Como veio a conseguir
Já que ele não sabia
De nada de geografia
Que levasse a concluir.

Com tamanha segurança
O neto lhe respondeu:
“Meu avô, está lembrado
Do mapa que então me deu?...
Havia do outro lado
Um grande homem estampado
Foi o que me pareceu.

Eu já ia desistir
Desse mundo consertar,
Mas, me lembrando do homem
No papel a se estampar,
Eu, superando essa estréia,
E já mudando de ideia
Comecei a imaginar.

Por que consertar o mundo
Se nada dele eu entendo?...
Eu vou consertar o homem
Com quem venho convivendo,
Tendo em sociedade
Terei mais facilidade
De montar todo remendo.

Consertando, então, o homem
Como havia imaginado
Virei com cuidado a folha,
Cada pedaço cortado.
E descobri consertando
Esse homem, que é quando
Tem-se o mundo consertado.”

Porém, se eu não tivesse
Consertado o homem então,
Do mundo jamais teria
Encontrado a solução,
Ficaria recortado,
Sem conserto, destroçado,
Em pedaços, sobre o chão.”

Ele tem que se prover
De exemplar sabedoria,
Conhecer melhor os gênios
Ditos da filosofia;
Que pregavam a virtude,
A ética e, amiúde,
A moral com tal valia.

Alguém que não tem caráter
Pode um povo governar?...
Por isso, precisam todos
Ter saber pra bem pensar,
Pois, quem não tem perde, então,
A própria indignação
E a razão de protestar.

E pensava o cientista
Nos fatos e refletia:
Temos nós que consertar
O homem em primeira via,
Dar-lhe toda educação
Para ser um cidadão
Da maior sabedoria.

Sem isso, tudo é ruim,
Só incerteza haveria
Ninguém sabe de direito,
Nem dever, sua valia,
Não conhece, na verdade,
O que é a liberdade,
O que é democracia.

Eis, pois, uma grande história:
Lição e filosofia,
Lição de que o conserto
Do mundo só se daria
Quando fosse com cuidado
Nosso homem consertado
Á melhor sabedoria.

Consertar o mundo implica
Além de dar o saber
Contrariar interesses
Dos que pensam bem mais ter;
Suprimir o prepotente
Pra mexer, radicalmente,
Na riqueza e no poder.

Não existe outra saída
Para consertar o mundo,
Ou se conscientiza o homem
Com um saber mais profundo,
Ou se verá, na verdade,
Marchar a sociedade
Composta por moribundo.

O saber, só o saber
Tem poder, eis a questão,
Ele não leva somente
Dos problemas solução;
O saber leva à verdade,
Ao direito, à liberdade,
À justiça e à razão.

Não existe outra maneira
Mais segura e consistente,
Ou o povo se educa
Por um método consciente
Ou cede com seu impulso
Na entrega do seu pulso
Ao grilhão e à corrente.

O poder que hoje existe
Sobre o mundo dominado
Quem lhe dá sustentação
É o povo alienado;
Um mundo injusto e cruel
Porque o povo, fiel,
Foi para ele educado.

Porém, o livro, a leitura,
O processo cultural
Que vão gerando saber
Para um ciclo especial
Nos leva a crer, mesmo além,
Numa vitória do bem
Que vai se dar sobre o mal.

Basta que todos partilhem
Tendo como munição
O saber que sempre brota
Do pensamento em lição
Para que sólido, altivo,
Tenha, enfim, o coletivo
Seu mundo sonhado, então.



Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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