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quarta-feira, 5 de abril de 2017

UM MENINO DO SERTÃO

*Rangel Alves da Costa

Avisto um menino. Não é um menino qualquer, pois menino do sertão. Por ser menino do sertão já nascido entre luas e sóis, já pisando em terra seca e tendo perante o olhar o mandacaru e o xiquexique, o facheiro e a macambira, o velame e o fedegoso. Mas qual destino está reservado ao menino?

Um menino do sertão
e uma estrada de sonho
num caminho de chão
naquele menino eu
de lua e sol no coração

um menino que partiu
no menino que ficou
aquele mesmo menino
que tanto no mato brincou
e teve por asfalto destino

Aquele menino sertanejo canta seu verso na vida. Sem a poesia na escrita, mas com poesia no seu dia e dia, na sua lide matuta e no seu amor ao rincão. Uma vontade danada de espantar a seca, de espantar sofrimento e dor, de mandar para bem longe a pobreza e a miséria que tanto afligem seus irmãos. Mas acaba compreendendo que ali apenas sertão, uma terra abençoada, porém de angústia e desolação.



Um menino do sertão
e seu embornal de esperanças
com menos suor e mais pão
com mais flores nas andanças
com menos espinhos e desolação

um menino e seu caminho
pela aridez de seu chão
na terra seu refúgio e seu ninho
mundo chamado sertão
mesmo que só lhe caiba tiquinho

Aquele menino que um dia brincou de ponta de vaca, correu atrás de calango, jogou pedra em catingueira, comeu quixaba e araçá, mas que caminhou adiante para reconhecer outro mundo dentro de seu próprio mundo. E avistou um sertão já sem a pujança de outros tempos, sem a grandeza da mata nem o bicho em correria, mas apenas uma terra definhando pelo sol e descamisada pelo próprio homem na sanha de devastação.

Um menino do sertão
aquele menino que chorou
ao reencontrar o seu chão
como um braseiro que queimou
e deixou tudo em clarão

um menino entristecido
que quis todo o sertão mudar
trazer de volta o desaparecido
e tudo poder transformar
naquele livro tanto lido

aquele menino e sua luta
como formiga em trabalho
no dia a dia a labuta
de recolher cada retalho
da memória tão matuta.

Aquele menino sou eu e o sertão é o meu. Sou menino sertanejo sem pressa de envelhecer. Jamais haverá tempo ou idade que afaste do menino o sonho de o sertão não se perder pelo próprio esquecimento dos seus. Um menino envelhecido, mas ainda com forças para buscar o passado e colocá-lo no presente como única história de um só sertão.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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