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terça-feira, 25 de abril de 2017

ABRIL É O MÊS DO TÉRMINO DA QUADRA CHUVOSA NAS REGIÕES DO ALTO E MÉDIO SÃO FRANCISCO

Por João Suassuna


Meus Prezados,

Abril é o mês do término da quadra chuvosa nas regiões do Alto e Médio São Francisco. As chuvas até o final do mês estão caindo abaixo da média, o que tem resultado em um cenário preocupante ao longo de toda bacia do Rio São Francisco.  Nesse cenário, os bombeamentos do projeto da transposição têm agravado, ainda mais, o quadro de penúria hídrica existente nas referidas regiões.

A Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco encontra-se no final do período das águas, com as chuvas caindo bem abaixo da média histórica nas regiões do Alto e Médio São Francisco. A represa de três Marias começou a depreciar sua capacidade acumulatória. Está com uma afluência de 79 m³/s e uma defluência de 218 m³/s. O rio continua não encontrando forças suficientes para promoção de mudanças em seu quadro hidrológico, fato esse que irá se tornar mais grave ainda até o final do mês. O projeto da transposição continua interferido, nesse processo, de forma negativa, com as retiradas volumétricas para o atendimento das demandas hídricas da região Setentrional nordestina.A exploração descontrolada das águas subterrâneas nos aquíferos (Urucuia e outros), também faz com que a vazão do Velho Chico caia para valores inferiores a montante do município de São Romão, mesmo recebendo as águas de um afluente importante como o rio Urucuia. Esse fato que está acontecendo possivelmente ao longo de toda bacia do rio São Francisco (vide gráficos de Pereira Bode Velho, abaixo). Não havendo mais a probabilidade da ocorrência de chuvas de maior intensidade na região, isso tornará difícil à recuperação, tanto da represa de Três Marias, como de Sobradinho. Preocupado com isso, o Ministério de Minas e Energia (MME) emitiu nota estabelecendo critérios de gestão volumétrica do rio, principalmente no tocante às defluências de Sobradinho.  As fracas ou mesmo inexistentes precipitações, nessa semana, resultaram em um cenário hidrológico preocupante, com as vazões nos postos de observação da Chesf despencando de forma significativa: no de São Romão, que na semana anterior estava com 540 m³/s, passou, nessa semana, para 414 m³/s. Nos demais postos, a situação não é diferente: no de São Francisco, que na semana anterior estava com 706 m³/s, passou para 375 m³/s; no de Bom Jesus da Lapa que estava com 944 m³/s, passou para 520 m³/s e no de Morpará, que na semana anterior estava com 898 m³/s, agora encontra-se com 664 m³/s, respectivamente. A afluência volumétrica na represa de Sobradinho caiu de 930 m³/s, na semana passada, para 720 m³/s nessa semana. A defluência da represa permaneceu estável, passando de 767 m³/s, da semana anterior, para 766 m³/s nessa semana. O percentual volumétrico de Sobradinho ficou praticamente estável. Na semana anterior havia sido registrado 15,94% de seu volume útil. Na atual está com 16,11%. A barragem continua com o seu percentual volumétrico cerca da metade do que aquele verificado em igual período do ano anterior (atualmente 16,11% - ano anterior 32,20%).

Uma curiosidade: em 2015, ano no qual a represa de Sobradinho chegou a 1% de seu volume morto, no dia 24/04, daquele ano, a represa apresentava percentual volumétrico de 21,30%. No dia 24/04 de 2017, Sobradinho está com 16,11%, apenas, um fato preocupante tendo em vista o atual cenário de desidratação existente na bacia do rio. Portanto, o alcance do volume morto de Sobradinho, em 2017, é um fato concreto.

Na semana (24/04), devido ao início do período de redução das precipitações nas regiões do Alto e Médio São Francisco, somada à retirada volumétrica do projeto da transposição, é muito provável que no mês de novembro, a represa de Sobradinho alcance o volume morto. O quadro atual de penúria hídrica já vem trazendo reflexos negativos ao projeto da transposição. As águas do Velho Chico estão chegando na represa de Boqueirão, em volumes muito reduzidos (certa de 1,5 m³/s, apenas), o que obrigou as autoridadesdivulgarem nota esclarecendo o atraso no encerramento do racionamento de água, na cidade de Campina Grande. Houve, também, incertezas da chegada da água nas torneiras dos municípios atendidos pelo projeto, motivando a população de Monteiro, na Paraíba, aprotestar pela falta d´água na localidade, exigindo providências junto ao governo estadual, para as soluções cabíveis.É importante observar, também, que a continuidade das baixas defluências de Sobradinho (766 m³/s) vem agravando o quadro da progressão da cunha salina na foz do rio (ver a excelente análise de José do Patrocínio Tomaz Albuquerque, abaixo). Existem relatos de pescadores que estão capturando peixes de hábito marinho na região do Baixo São Francisco. A cunha salina tem trazido, também, certos transtornos no abastecimento do município alagoano de Piaçabuçu, que tem servido à população uma água de péssima qualidade, com elevados teores de sais (água salobra). Em igual situação vivem 70% da população de Aracaju, que são abastecidos com as águas do Rio São Francisco, por intermédio de uma adutora, em Propriá, município sergipano localizado em sua margem direita, a cerca de 60 km da foz.

Com a proximidade do período de estiagem na região, é ficar na torcida para que as medidas sugeridas pelo MME sejam efetivadas e que surtam os efeitos esperados, a fim de que os volumes do Velho Chico voltem a se utilizados dentro da normalidade esperada. Para tanto, continuaremos atentos para as questões das defluências de Sobradinho (766 m³/s) e, agora, de Três Marias (218 m³/s), pois houve determinação das autoridades do setor, para que essas defluências ficassem estabelecidas em patamares da ordem de 700 m³/s e 160 m³/s, respectivamente, conformedivulgadas na mídia e atualmente praticadas.


João Suassuna 

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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