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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

O DESTINO

*Rangel Alves da Costa

Não sei bem por que eu estava ali. Não sei bem por que ela estava ali. Mas de repente, os dois no mesmo local. Sequer eu a conhecia. Sequer ela me conhecia.

Dia 13 de novembro. Eu havia esquecido a data, mas hoje ela me recordou. Aliás, ela não esquece nada desde essa data em diante. Nem eu, que fico agradecendo ao destino por me guiar àquele encontro.

Era uma noite de seresta em espaço fechado, no Coqueiral. Nenhuma valsa sequer eu sei dançar, quanto mais música do cancioneiro mais antigo. Também não bebo mais, de modo a justificar a minha presença numa daquelas mesas. Mas de repente eu estava lá.

Cheguei, entrei, cumprimentei alguns bons amigos e, sempre como faço, fui me afastando para um canto de pouca gente e sem aglomeração de dançantes. Costumo ficar em pé somente observando o que se passa ao redor. Sou curioso demais ante o que está ao redor.

Assim, em pé, de vez em quando fumando um cigarro, observava a festança sem me ater a qualquer mesa ou pessoa específica. Até que meu olho avistou ao longe, do outro lado da pista, uma moça sentada ao lado de uma amiga.

Não sei se pelo fato de o meu olho ter avistado assim, mas a verdade é que ela se sobressaía perante todas as mulheres que estavam ali. Não estava bebendo, não dançava, apenas observava os dançarinos adiante, e de vez em quando conversava algo com a amiga.

E fiquei pensando e me indagando: quem será aquela jovem tão bonita ali sentada? Quantos anos terá, será que é solteira? Mas também me recaia em realidade: Qual a bela flor que vai olhar para um jardineiro assim como eu, talvez alguém que apenas esteja sonhando o impossível?


Mas olhava, olhava, olhava. E a cada olhar era em mim despertado um interesse cada vez maior. Já não enxergava apenas a moça sentada, mas uma jovem bela e delicada, porém de beleza indefinida pela distância. Então tive vontade de me aproximar um pouco mais. E tomei coragem para seguir até lá.

Lentamente, cortei a pista de dança e cheguei ao outro lado, próximo onde ela estava sentada com a amiga. A cada passo dado tudo ia se confirmando. Tive vontade de olhá-la fixamente, mas não o fiz. Eu estava envergonhado, juro. Minha timidez posicionou-me ao lado para, de vez em quando, olhar de lado.

E a cada vez que olhava sentia uma sensação diferente. Será Rangel, será que é amor à primeira vista, eu me perguntava. Para depois intimamente responder: Desejar, querer, todo mundo pode, o problema é que os jovens vivem para os jovens, namoram os mais jovens, e o seu tempo já é outro.

Que aflição danada! Então resolvi oferecer uma cerveja, um refrigerante, qualquer coisa. A negativa das duas foi como se um fosso se abrisse a meus pés. Entristeci por dentro e por fora, perdi todo o gosto de estar ali. Mas foi a primeira vez que olhei de perto seu olhar, que senti a beleza de sua face, que me encantei pelos seus cabelos. Vi sua beleza, enfim.

Triste, cabisbaixo, retornei ao mesmo lugar, ao outro lado. Olhei-a novamente, mas dessa vez somente para me despedir. Deixei a seresta mais cedo do que o esperado e levando comigo um ser solitário e entristecido. Naquele momento, junto a ela, nem uma palavra, nem um olhar mais profundo, nenhuma esperança.

Cheguei sozinho e sozinho retornei. Algum tempo depois, já deitado na minha rede de dormir e de solidão, eis que me chega uma mensagem via celular. Era ela. Ela constava como minha amiga no facebook e eu sequer atentara para tal fato. Mas era ela.

“Lembra-se de mim?”. Jamais esquecerei tal pergunta. E agora confesso, já passados quase três meses de amoroso convívio, que só tenho uma resposta: Jamais te esquecerei. E, como disse o poeta, que o nosso amor não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com


blogdomendesemendes.blogspot.com.br

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