Seguidores

sábado, 11 de fevereiro de 2017

A REVOLUÇÃO PRAIEIRA

Por Medeiros Braga

“As nações se estremecem
Quando rugem os canhões,
Quando ecoa pelas ruas
O rumor das repressões,
Ou quando o povo oprimido,
Revoltado, é coagido
A fazer revoluções.”



Mais uma grande história política do Brasil nos acordes do cordel.
Conheçam a situação do povo em Pernambuco antes da Revolução Praieira:

Fora já de Pernambuco
Sua herança dividida,
A terra pra três famílias
Que viviam bem de vida,
Comércio dos portugueses
E dos seus filhos burgueses
Com pobreza preterida.


Os pequenos artesãos
Que produziam seu bem,
Viram forte a concorrência
Com produtos do além,
E os pobres camponeses
Sentiam todos os meses
Que já nada estava bem.


À época por Pernambuco
Só havia dois partidos
Conservador, “guabiru”,
Era um dos apelidos,
Sendo o outro, quase igual,
O Partido Liberal
Por seus planos parecidos.


Mesmo sendo liberal
Não havia diferença,
Quando chegava ao poder
Só mudava de presença,
Nada surgia de novo,
E o povo, sempre o povo,
Cumpria a mesma sentença.


A família Cavalcanti
Que era a mais abastada
Detinha um terço das terras,
Deixando o povo sem nada,
Nos seus engenhos, por vez,
Trabalhava o camponês
A pegar da madrugada.


Da família Cavalcanti
Já havia um bom gracejo
Que em verso era cantado:
“Quem viver em Pernambuco
Não há de estar enganado:
Ou há de ser Calvacanti
Ou há de ser cavalgado.”


Outros dois terços de terra
Eram, pois, distribuídos
Com o resto dos ricaços
Filiados aos partidos.
Não havia oposição,
Eram ambos “beija-mão”
Dos “reais” instituídos.


Além desses Cavalcantis
Que eram muito influentes,
Havia outras famílias
Ricas e independentes
Como as de Souza Leão,
Barros, Barreto, Leitão,
Sendo por sangue parentes.


Daí formavam partidos
E neles se dividiam
Se bem que ao imperador
Em sua volta se uniam.
Sem questiúncula, mistério,
Defendiam o império
Daqueles que agrediam.


Eles brigavam entre si,
Comum era isso se dar,
Mas, ofensas ao império
Nem em sonos se sonhar,
Para eles, bem pensado,
O patrimônio é sagrado
Jamais se deve arriscar.


Dos partidos em disputa
Um que viesse a vencer
Recebia os aplausos
E parabéns a valer.
Porque suas camarilhas
Rezavam pelas cartilhas
Das orações do poder.


Governava então Chichorro
Do Partido Liberal
Trocou todos delegados
E juízes, em geral,
Perdendo seu campanário,
Já o seu adversário
Fez, exatamente, igual.


Foi daí que uma imprensa
De real oposição,
Denunciava o império
Que rapinava a nação,
Denotando as armadilhas
Preparava todas trilhas
Para uma revolução.


Quatro mestres dessa luta
Que se destacaram tanto
Foram: Borges da Fonseca
Pedro Ivo, com seu pranto,
O bravo Nunes Machado
E Abreu e Lima, um soldado
Cuja história é um encanto.


Atuaram pela imprensa
E tornaram incendiária
Pedro Ivo, Abreu e Lima
Na denúncia necessária,
Porém, Borges da Fonseca
Tornava a folha mais seca
E mais revolucionária.


Foi mais revolucionário
Borges da Fonseca, então,
Tinha a pólvora na caneta
Que causava uma explosão,
Mostrando o terrível estorvo,
Convocava todo povo
À maior subversão.


Antonio Borges da Fonseca
Era um paraibano,
Sendo filho duma índia
Com um pai pernambucano,
Militar com ideário,
Foi um revolucionário
Na guerra contra o tirano.


Pedro Ivo, também outro
Militar, foi capitão,
Combateu a cabanagem
No Pará, com grande ação.
Ao voltar, prestigiado,
Jamais via de bom grado
Do Império sua ação.


Da Revolução Praieira
Teve verso em arremedo
Do poeta Castro Alves
E de Álvaro de Azevedo,
Com inspirações extremas
Dedicaram bons poemas
E publicaram sem medo.


Abreu e Lima foi mais
Um revolucionário,
Viu seu pai ser fuzilado
Por um poder arbitrário,
Foi do Brasil com a dor
E de Simon se tornou
Um general libertário.


Mesmo sendo visto já
Como “General das Massas”,
Na Revolução Praieira
Não esteve ele nas praças,
Tendo andado em muita terra
Não era a favor de guerra,
Com sangue de muitas raças.


Também grande atuação
Desfechou Nunes Machado,
De militante ativista
E de bravo deputado,
Tanto lá no parlamento
Quanto cá no movimento
Seu nome ficou marcado.

Porém, somando a bravura
Com o poder da razão,
O povo fazia história,
Deixava exemplo e lição
De que, justo o interesse,
Não deve ninguém render-se
À baioneta ou canhão.


E os sonhos de república
Com um pacto social
Avançavam pela mente
Sobrepunham ao liberal;
Aos que queriam, decente,
Um país bem diferente
Do regime imperial.


A campanha teve início
Com muito dos liberais,
Depois foi se reforçando
Com os intelectuais,
Padres, líderes ativistas,
Professores, jornalistas,
Avançando em ideais.


Um caráter social
Veio com as adesões
De funcionários públicos,
Comerciários, garçons,
Alfaiates, funileiros,
Pescadores, sapateiros,
Entre outras profissões.


Daí que por Água Preta,
Goiana, Recife, Olinda,
Por Pau D’Alho, Igaraçu,
Ipojuca e Una, ainda,
Eis o povo com ação
Fazendo revolução
Em cada batalha infinda.


Os efeitos dessa luta
 Se estendiam ao interior,
Chegavam por Limoeiro,
Serinhaém, com furor,
Afogados, Gravatá,
Flores, Itamaracá
E Floresta, com fervor.


Nomeara o imperador
Para Pernambuco, urgente,
O Senhor Ferreira Pena
Para ser seu presidente.
Com a Praieira avançando
Ele foi logo mudando
Por achar incompetente.


Então, pôs Vieira Tosta
Em substituição,
Este foi fortalecido
Com armas e munição,
E com seu poder de fogo
Conseguiu mudar o jogo
Com bastante repressão.

Ele na revolução
Foi um soldado arrojado,
Penetrou nos ideais
Chegou maior d’outro lado,
Deu exemplo de bravura
De que estava à altura
De cumprir o planejado.


Todos eles foram exemplo
De honra de uma história
Mesmo com a revolução
Sem a merecida vitória.
O povo volvendo o entulho
Além de ter seu orgulho
Encheu seu peito de glória.


As derrotas não arranham
Os lustros de uma luta,
Ao contrário, ela só torna
Muito mais bela a labuta,
A causa quando é honrosa
Se faz mais maravilhosa,
Se torna mais impoluta.


A vitória é quase incerta
Para qualquer lutador,
Quem luta do lado certo
Pode ou não ser vencedor,
Mas, pra qualquer resultado
Quem está do lado errado
Será, sempre, um perdedor.


Não foi Praieira uma guerra,
Nem simples insurreição,
Fez o povo que sofria
Da injusta divisão;
Da falta de liberdade
Que lhe deu força e vontade
De fazer revolução.


Quando um dia o sol raiar
Sobre um país bem melhor
Vai ver a Revolução
Praieira logo ao redor,
Porque ela no seu curso
Tornou maior o impulso
Por seu sangue e seu suor.


Já dissera Amaro Quintas
De maneira mais notória:
A Revolução Praieira
Foi um evento de glória;
Foi uma das mais briosas
“Explosões impetuosas
De massas da nossa história.


Nenhuma revolução,
Guerra, revolta, motim,
Tiveram seus ideais
De grandeza iguais, assim;
A Revolução Praieira
Foi a mais bela bandeira
Com o seu mais nobre fim.


João Pessoa, 10 de Fevereiro de 2017-02-10
Trabalho inédito, não foi ainda publicado

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário