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quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

MORTES NA FAZENDA FAVELA


Naquele tempo, vários proprietários de terras tinham uma complicação a mais. Eram as ‘visitas’ quase que constantes das volantes e dos grupos de cangaceiros. Aquele dono de terras que tinha ‘jogo de cintura’ sabia agradar as duas partes. Mesmo assim era muito incômodo, pois estando um grupo, poderia, de uma hora para outra, aparecer outro e a bagaceira estava completa.

Muitos dos agricultores, fazendeiros e catingueiros não ajudavam de livre e espontânea vontade tanto um como o outro lado. Sempre era um prejuízo alimentar vários homens sem receber retorno algum de volta. Nesse sentido, os cangaceiros até que pagavam por sua ‘estadia’ e alimentação, porém, as volantes não andavam com dinheiro para isso, e aí, era só prejuízo mesmo.

Após a informação passada de que através dos coiteiros chegariam aos cangaceiros, muitos sertanejos viveram debaixo da chibata para ‘entregar’, principalmente Lampião. Alguns sabiam e aguentavam o quanto podiam sem abrirem o ‘bico’. Outros apanhavam e foram até mortos sem dizerem nada, por nada saberem... Mas, as torturas em alguns fazia muito efeito e eles além de entregarem, muitas vezes levavam a tropa até onde estava o bando de cangaceiros, isso de livre vontade ou debaixo de cacete.

No município de Floresta, PE, havia um cidadão chamado Antônio Novaes, casado com a senhora Antônia Teodora de Novaes e moravam com seus filhos, que além de possuir terras era comerciante, além de ter o título de tenente da Guarda Nacional. Essa ‘patente’ era adquirida por uma espécie de vaidade, já que era comprada. Sua propriedade rural era denominada fazenda Favela, onde morava com sua família, e nela, tanto se arranchavam cangaceiros como volantes.

As sombras da noite  já havia coberto o vasto sertão pernambucano, na noite do dia 10 de novembro de 1926, quando na sede da fazenda Favela chega Lampião com cerca de 90 homens. O “Rei Vesgo” queria falar com o Patriarca, porém este estava na sede do município e teve que falar com a Matriarca, dona Antônia, conhecida por “Dona Aninha”. Avisa o chefe cangaceiro que necessita de alimentos para sua cabroeira de uma quantia em dinheiro.

PS// a foto da 'cara' de Lampião foi colorizada, digitalmente, pelo amigo professor rubens antonio.

Para Dona Aninha aquela visita, de Lampião e seus homens, não era novidade nem a causava medo. Rapidamente ordena que se faça comida para todos. Os homens enchem a barriga e aqueles que não foram postos de sentinela, vão procurar algum lugar em uma das várias casas da fazenda para dormirem. Lampião depois que assumiu o bando não ficava a noite com todos, sempre ficava junto ao seu Estado Maior. Naquela noite, na fazenda Favela, estavam junto ao “Rei dos Cangaceiros”, a nata dos famosos cangaceiros como Esperança, Corisco, Sabino, Luiz Pedro, Jararaca... E por aí vai.

Luiz Pedro Cordeiro - ou Luiz Pedro de Siqueira ( José Bezerra Lima Irmão)

Após receber a patente de terceiro sargento, Zé Saturnino inverte as coisas e em vez de ser caça, vira caçador. Pega seus homens e sai pelas quebradas do sertão no rastro de Lampião. Nessa ocasião, estavam juntas as volantes do Anspeçada Manoel Neto e do primeiro inimigo de Virgolino, que chegavam a oitenta ou noventa homens, e seguiam exatamente os rastros do bando que estava na fazenda do tenente da Guarda Nacional.

Seguindo os sinais deixados, em determinado caminho, a volante encontra um já conhecido ‘colaborador’ de Lampião chamado Emiliano Novaes. Conversa pra’ quí. arrocho pra’colá, Emiliano se desvencilha das perguntas e nada diz sobre o paradeiro do chefe mor do cangaço.

O sargento Saturnino convence seu superior a liberar Emiliano. Assim acontece. ‘Raposa Velha’, Mané Fumaça sabe que Lampião saberá em breve de quem estava em seu encalço. Previne a tropa de que em toda moita pode estar uma emboscada preparada por Virgolino.

Não podendo mais seguir seu caminho. Emiliano Novaes retorna para sua casa e manda um recado para seu protegido de que se prevenisse que uma poderosa volante estava indo em sua direção. Lampião, como grande estrategista que era, reuniu seus homens e passou para eles o que tinha planejado.

Nessa altura dos acontecimentos, os militares já sabiam de onde esteva acampado Virgolino e sua cabroeira. No romper da aurora do dia 11, já em terras da fazenda Favela, os comandantes dividem sua tropa e começam a avançarem em direção a sede. Estando Zé Saturnino e seus homens em cima do paredão do açude, notam que uma pessoa estava dentro do curral do gado tirando leite. Não esperaram por mais nada, abriram fogo. A pessoa largou o que estava fazendo e correu no rumo da casa mais próximo em busca de salvar-se. Quem estava no curral era um filho do dono da fazenda chamado Totonho Novaes.

O rapaz, na carreira que ia, notou uma janela aberta e partiu para pulá-la. Nesse momento Lampião diz:

“-Entra menino, pra dentro de casa, que nós tamo cercado pelos macacos! ("AS CRUZES DO CANGAÇO – Os fatos e personagens de Floresta – PE” – SÁ, (Marcos De Carmelita Carmelita) Marcos Antônio de. E FERRAZ, (Cristiano Ferraz) Cristiano Luiz Feitosa. 1ª Edição. Floresta, PE. 2016)

A partir daí o mundo se fechou para aquelas bandas. Os soldados atacavam e os cangaceiros se defendiam. Mesmo estando preocupado com a luta, Lampião lembra-se da Matriarca, e dar-lhe o seguinte conselho:

“- Dona Aninha, bote as banheira na cabeça pra num furar a cabeça da senhora, que macaco num tem o prazer de encostar aqui não.” (Ob. Ct.)
Havia várias casas em volta da casa sede, inclusive uma nova. Mané Neto achando que Lampião encontrava-se dentro dela chega e bate na porta. De dentro da casa uma voz masculina pergunta quem bate e ele se identifica. Nesse momento uma saraivada de balas parte de dentro da casa em direção a porta e janelas. Nessa hora tombam dois bravos guerreiros, inclusive um que tinha apenas 17 anos de idade. Além dessas mortes, outros foram baleados.

De uma outra casa, os cangaceiros estão em fogo cerrado contra os homens de Zé Saturnino.

Lampião tinha ordenado ao cangaceiro Sabino Gomes que fosse para dentro do mato com parte da cabroeira e nada fizessem no início. Deixa-se a volante atacar e chegar o mais próximo possível de onde estavam. Esses entram no combate e caem em cima dos homens comandados pelo sargento Saturnino. De cara tombam quatro militares e outros ficam feridos.

O cangaceiro “Esperança”, Antônio Ferreira irmão de Virgolino, vendo a tropa de Mané Fumaça atacar a casa ‘nova’, chama alguns  cabras para saírem de onde estavam e irem combater de peito aberto. Nenhum dos cangaceiros que lá estavam tiveram coragem de sair. "Esperança" saltou para o terreiro, começou a entoar uma canção e começa a atirar em direção a Manoel Neto.

(...)Totonho Novaes viu quando o bandido, colocou o chapéu no braço, à altura do cotovelo, e pulou para fora com o fuzil, indo na direção de Manoel Neto. Antônio atirava e cantava a oração de Santa Madalena(...).” ( Ob. Ct.)

Com várias horas de combate, os militares se veem em uma situação difícil. Eram muitos os pontos que tinham que cobrir, várias casas e os homens de Sabino, e resolveram retirarem-se para evitar maiores baixas desnecessárias.

Esse combate tem um saldo de muitas mortes. Da parte dos militares foram seis mortos e dos cangaceiros, de imediatos três, sendo que outro corpo é encontrado já em putrefação, dias depois, dentro da mata. Dentre os primeiros três tombados da parte dos cangaceiros, encontra-se o cangaceiro “Sabonete”, que na verdade era Pedro Celestino, por alguns, conhecido por Pedro de Ramiro... Nas quebradas do Pajeú das Flores.

Fonte "AS CRUZES DO CANGAÇO – Os fatos e personagens de Floresta – PE” – SÁ, (Marcos De Carmelita Carmelita) Antônio de. E FERRAZ, (Cristiano Ferraz) Cristiano Luiz Feitosa. 1ª Edição. Floresta, PE. 2016
Foto Ob. Ct.
Benjamin Abrahão
"O Canto do Acauã"

Segunda fonte: facebook
Página: Sálvio Siqueira
Grupo: Ofício das Espingardas
Link: https://www.facebook.com/groups/545584095605711/?fref=ts

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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