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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

CARAÚBAS MÃE

Por José Ribamar

Na terra que viu nascer
Manoel do violão,
Na fazenda Solidão
Nasceu esse humilde ser...
Um sábio por não saber
Semear desarmonia
E gostar da melodia
Da voz que a cascata tem.
Na minha terra também
Se respira poesia.
01
Lá o galo de campina
Afina as cordas vocais
E ouvindo os sabiás
Canta depois que afina.
Molhado pela neblina
Da nuvem que se desfia
Nas garras da ventania
Que não diz de onde vem
Na minha terra também
Se respira poesia.
02
Tem poesia entocada
Nas coivaras de cipó
Lá não se respira só
Cheiro de pólvora queimada.
Passe lá dê uma olhada
Na vaca que lambe a cria...
No pinto novo que pia
Catando grãos de xerém.
Na minha terra também
Se respira poesia.
03
Um rangido de cancela
Retrata um gemido triste,
Um pouco de mim existe
Em todo pedaço dela.
A terra que nasci nela
Acorda cedo do dia
Pra ouvir a voz macia
Do pescoço do vem-vem.
Na minha terra também
Se respira poesia.
05
Lá, no terreiro dum rancho
Parecendo uma criança
Um beija-flor se balança
Num fiapo de garrancho.
Um Soim dorme num gancho
De pau, numa sombra fria,
No pé do pote uma Jia
Canta pra Deus no além.
Na minha terra também
Se respira poesia.
06
Terra que há de citar
Sentindo um orgulho puro
Nos eventos do futuro
O nome de Ribamar.
Na minha terra o luar
Despeja tanta magia
Que cheio de alegria,
Penso que virei neném.
Na minha terra também
Se respira poesia.
O7

31-01-2017

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

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NOTA DE FALECIMENTO – 30/01/2017


ERONDINA NUNES DANTAS - "SANTINHA" (IRMÃ DE Pe. SÁTIRO CAVALCANTI DANTAS)

Pe. SÁTIRO CAVALCANTI DANTAS (Presidente da FUNSERN) e demais familiares de ERONDINA NUNES DANTAS - "SANTINHA" - comunicam o seu falecimento e ao mesmo tempo convidam parentes e amigos para o seu sepultamento, que será realizado às 18:00h, desta segunda-feira (30 de janeiro), no Cemitério Morada da Paz – Em Emaús - (Natal/RN); onde o seu corpo será velado, a partir das 09h30m da manhã de hoje.

Desde já, agradecem a todos que se fizerem presentes a este Ato de Fé e Solidariedade Cristã.


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UM ABRAÇO (E BEM APERTADO) EM SÔNIA GODOY

*Rangel Alves da Costa

Sônia, ontem eu lhe dei um abraço e um carinhoso beijo na testa, mas hoje, em palavras, quero parabenizá-la por mais este natalício em sua vida. Na verdade, em você parece que o tempo apenas passa e a idade é coisa que tanto faz. A mesma Sônia, de sempre e sempre.

Confesso, então, o imenso orgulho que sinto e o prazer sempre revigorado em ter Sônia Godoy como amiga, confidente, uma mão sempre estendida, uma voz sempre apta a se expressar em lições e conhecimentos. E cuja presença sempre vem acompanhada de força e determinação.

Alagoana de nascimento, mas filha de Poço Redondo por devoção e amor, Sônia Godoy no sertão sergipano aportou como se o destino lhe reservasse as terras de Zé de Julião como seu novo lar. E em lar Poço Redondo se transformou desde aqueles idos e para o sempre na sua vida.

Ora, Sônia é de família de extensas e profundas raízes não só em Alagoas como em Pernambuco. Os Godoy e os Honorato são troncos familiares de reconhecida pujança nos sertões nordestinos. Mas Sônia deixou sua Pão de Açúcar para viver e frutificar no sertão sergipano, em Poço Redondo.

Em Poço Redondo levantou parede, formou família, caminhou em passos firmes perante os seus objetivos. Depois de sua chegada, nada na vida do município passou sem a sua ativa presença. Já avó e ainda continua afoita, politiqueira, irrequieta, buscando sempre novas transformações.

Por longos anos foi apenas professora, por muito tempo foi apenas política, chegando à vereança municipal, mas durante todo o tempo, ao lado da cordial e bondosa amiga, foi também a voz que nunca calou diante das mazelas e dos absurdos.

A verdade é que Sônia Godoy se tornou não só útil como de fundamental importância na vida de Poço Redondo e sertões adentro. Pela sua luta e sua voz, pelo seu destemor e inteligência, sempre foi reconhecida e valorizada pela classe política e lideranças de Sergipe.


Sônia é daquelas pessoas que chamam o outro num canto e confessa, sem meias palavras, sua ira ou seu contentamento. Basta chamar que ela vai, que ela atende, mas não espere que ela simplesmente vá dizer o que ao outro agrada. É mulher da verdade.

Talvez tivesse sido por isso que meu pai Alcino sempre teve profunda amizade por Sônia. De Alcino ela foi amiga e conselheira, jamais dele se afastou ou deixou de estar ao seu lado nos momentos mais difíceis. Foi como uma enfermeira e uma mão carinhosa.

Eu sempre fui amigo de Sônia não por que ela era e continua amiga de meu pai, mas pelo reconhecimento que sempre tive de seu posicionamento diante das diversas situações da vida. Ela sempre me incentivou nos meus pleitos, sempre garantiu presença ao meu lado naquilo que eu precisasse. E de vez em quando nos encontramos para colocar em dia os novos e velhos assuntos.

No mesmo passo de Sônia, muitos de seus familiares passaram a ter Poço Redondo como moradia e construção de vidas. Zé Honorato e Joãozinho, seus irmãos, hoje são tão poço-redondenses como os nascidos na terra. Solange também morou e ensinou em Poço Redondo. Sua irmã Socorro adorava reencontrar seus velhos amigos sertanejos.

Suas filhas Viviane e Taysa são pessoas maravilhas. Seus netos Arthur e Heitor são umas lindezinhas sertanejas. Sua inseparável Lurdinha representa a feição da mais fiel amizade. Mazé, outra grande amiga, já não está aqui para abraçá-la com o mesmo afeto de filha. E Cícero, seu esposo, a paciência oposta à agitação da guerreira.

Qual a nova idade de Sônia? Não importa. Sônia ainda é menina, é traquina, é de eterna juventude. E que assim continue, Sônia. Poço Redondo necessita demais de sua presença, de seu olhar, de sua voz. E eu - e todos nós - de sua confortante amizade. Parabéns!

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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TRAGO ABAIXO, PARA CONHECIMENTO E DELEITE, A MATÉRIA DO JORNAL “O GLOBO”, DE 04/04/1927

Por Antnonio Corrêa Sobrinho

Trago abaixo, para conhecimento e deleite, a matéria do jornal “O GLOBO”, de 04/04/1927, que, permitam-me dizer, como outras, infelizmente, foi lida apenas por alguns leitores, os desta edição, que já vai pra quase 90 anos; dentre estes, poucos, para não dizer pouquíssimos, leitores nordestinos. Matéria que é completamente estranha à contemporaneidade, conhecida hoje tão somente por pesquisadores ou alguns interessados no tema, frequentadores de acervos de velhas gazetas, assim como eu. Esta, não mais.

Um artigo formulado no calor dos acontecimentos, este, ou seja, no pleno exercício do cangaço, onze anos antes do seu fim simbólico – a morte de Lampião. Que o vejo como um alerta à sociedade brasileira, de que o Cangaço não vinha sendo combatido corretamente e que não era prioridade dos detentores do poder exterminá-lo; ocasionando, como consequência, graves sofrimentos e inestimáveis prejuízos a milhares e milhares de civis nordestinos.

Hoje, com a profundidade que nos cabe analisar o passado, vejo que nenhum dos atos criminosos e anti-sociais praticados pelos que fizeram parte integrante do cangaço, seja por cangaceiros ou por alguns praças volantes, nas suas lutas, nos seus afazeres, nordestinos que foram estes, filhos da da mesma terra, da mesma aldeia, da mesma pobreza, do injustiçado e sofrido torrão sertanejo, pois, nenhum mal praticado por estes personagens, figuras tão criticadas, tão avaliadas, tão condenadas, ultrapassa, em peso e dimensão, a vilania e o maquiavelismo dos detentores do poder político e econômico da nação brasileira daqueles idos, os quais, veladamente, preferiram, egoística e desrespeitosamente, fomentar a seca, a violência, o extermínio, a indústria do banditismo; tudo isso em detrimento de uma solução pelas vias do progresso e da presença institucional do Estado na região, especialmente e sobretudo das responsáveis pelo controle social, a Polícia e a Justiça estruturalmente preparadas. Leiam Canudos (milhares e milhares de jagunços e soldados mortos), Caldeirão de José Lourenço (onde a até a força aérea brasileira despejou bombas sobre seu próprio povo), Pau de Colher (onde centenas de pobres brasileiros, armados com foices e pedaços de pau, foram simplesmente dizimados pelas mãos fortemente armadas de militares que, por estas suas façanhas, foram condecorados e até governantes foram, ainda hoje são festejados), Flagelo da Seca (estimam que mais de 3 milhões de sertanejos morreram durante as secas), Cangaço (milhares de bandoleiros versus milhares de volantes é igual a milhares de indivíduos e famílias destruídas), entre outras maldades, barbaridades e monstruosidades praticadas pelos oligarcas de plantão, sob a alegação do resguardo da ordem pública, proteção dos mandatários, funcionamento das instituições e mantença da governabilidade.

O BANDITISMO NOS SERTÕES DO NORDESTE

PARA AS POPULAÇÕES DO INTERIOR É PREFERÍVEL A VISITA DE “LAMPIÃO” A DE CERTAS FORÇAS POLICIAIS QUE O PERSEGUEM.
INTERESSANTE CORRESPONDÊNCIA DE UM REPRESENTANTE DO GLOBO, QUE PERCORREU TODA A ZONA NORDESTINA

Como representante do GLOBO, o Sr. Miguel Amaro Ribeiro percorreu várias localidades do interior nordestino, onde assistiu a cenas as mais covardes, e ouviu falar dos crimes mais hediondos, praticados, não só por Lampião e sua gente, mas também pelas forças policiais dos vários Estados que perseguem o terrível bandoleiro.

Ao regressar a Fortaleza, após uma longa viagem pelo interior, o nosso representante escreveu as notas que se seguem e que retratam, com muita fidelidade, a horrível situação do interior do Nordeste, vítima imolada à perversidade de uns e à inconsciência criminosa de outros.

FORTALEZA, 26 (Especial para o GLOBO) – o Ataque a Guaribas foi no dia 1º do corrente. Cerca de 8 horas da manhã, mais ou menos, pessoas vindas da serra do Araripe e de Porteiras para o Jardim, onde eu me achava, diziam estar sendo travado um tiroteio para os lados dos sítios Guaribas e Boa Vista.

A primeira notícia foi que a luta se empenhara no primeiro local, isto é, no sítio do Sr. Chico Chicote, onde se achava o conhecido cangaceiro Lampião com sua gente, cercado pelas forças que o perseguem e o trazem acuado pelos sertões. Em Boa Vista mora Urias Pontes, cunhado do major Theóphanes da polícia de Pernambuco e o mais encarniçado perseguidor do bandido, tendo em sua casa as duas cunhadas, irmãs do citado oficial. Dizia-se também que o bandoleiro atacara esse local com o fito de capturar as moças para conservá-las como reféns, garantindo assim a vida de seus irmãos e asseclas capturados em Juazeiro e mandados para Pernambuco. Por isso mesmo quando isso ocorreu, foram vários homens armados para Boa Vista, ao mesmo tempo que saíam de Jardim, comandados por um sargento, 30 praças, que se destinavam às forças do tenente Bezerra, comandante em chefe da Volante.

Na casa de Zeca da Cruz, essa força encontrou o delegado de Porteiras, que ia a Jardim pedir socorro, pois Lampião estava cercando Chico Chicote. Foi, então, o próprio a Jardim, prevenir e a força seguiu com a citada autoridade para Porteiras; alguns rapazes armados, seguiram de Jardim para socorrer Chicote, os quais, chegando em Porteiras, pediram ao sargento comandante das 30 praças idas de Jardim, para acompanhá-los numa retaguarda à Lampião. Esse militar respondeu que não mandaria os soldados, mas, se algum quisesse ir por conta própria, que fosse. 

No dia 2, às 10 horas, chegou a Jardim um vaqueiro, filho do coronel Salviano de “Cacimbas”, dizendo que Lampião prendera o Sr. Pedro Vieira, exigindo cinco contos para libertá-lo, sob pena de fuzilamento. Com essa notícia estabeleceu-se enorme confusão. Lampião não podia estar ao mesmo tempo em Guaribas e Cacimbas separadas aproximadamente por seis boas léguas, pois, o fogo continuava em Guaribas. Pedro Vieira, que é sócio de Urias Novais, mandou pedir a este o dinheiro necessário. Mas Urias não estava presente. O povo revoltou-se dizendo que o “povo de Jardim não mandava dinheiro para bandido!” Afinal, foi resolvido mandar o dinheiro, não para o cangaceiro, mas para o prisioneiro. Essa quantia foi obtida por subscrição pública, partindo, então, um portador levando dois contos, esperançoso de que o bandido se contentasse com esta importância.

Nesse ínterim chegou um vaqueiro, que também estivera prisioneiro de Lampião com Pedro Vieira e fugira no momento em que o bandido mandou buscar animais. Esse vaqueiro, que é filho do major V?, usara de um inteligente truque para fugir.

Aqui damos um exemplo da energia da mulher do nosso sertão. A nossa gravura mostra uma moça da elite barbalhense, no Ceará, pronta a defender, com a própria vida, a sua cidade natal.

Não havendo mais animais, disse que ainda faltava um e o bandido mandou buscá-lo. Era o que ele desejava, fugindo e chegando a Jardim em dolorosas condições. Foi esse fugitivo que declarou que Pedro Vieira suplicara ao bandido para deixar a sua libertação por dois contos, alegando ser pobre, no que recebeu formal recusa e nova ameaça de morte. Fez-se, então, nova quota e foi expedido novo portador com os 3 contos que faltavam. Mas nenhum dos dois mensageiros encontrou o bando.

No dia 3, às 10 horas, Lampião ficando a meia légua de Ipueiras, com os seus prisioneiros, Pedro Vieira e um outro que trazia em penhor de 15 contos pedido por sua liberdade, de Pajeú, mandou 20 “cabras” atacar a povoação, para prender o coronel Pedro Xavier. Este, sendo avisado, à última hora, da aproximação do bandido, assim mesmo resistiu por duas horas de fogo cerrado, com dois homens, apenas. O coronel, cercado de sua esposa e filhos dentro de casa, animava o fogo dizendo:
- Morrem todos, mas ninguém se entrega.

Os bandidos tiveram um morto que foi arrastado por quatro outros companheiros, que só deixaram o cadáver, levando todas as armas e munições. 

Vendo a resistência, os bandidos recuaram até seu chefe a quem participaram o ocorrido. Este ao receber a notícia da morte do seu assecla, exasperou-se, dizendo a Pedro Vieira:

- Então você está peitado para me matar? Pois é você que vai morrer.

O prisioneiro suplicou, chorou, pediu por tudo, até pela alma da mãe do bandido, dizendo ser pai de 10 filhinhos.

O cangaceiro friamente tirou a “parabélum”, encostou-lha ao ouvido, detonou-a, deixando-o estendido ao solo.

Isso foi dito por um velho preso que serviu de guia aos bandidos e que já tendo cumprido a missão que lhe fora designada, conseguiu liberdade. Após essa façanha, seguiram pela estrada. Adiante, encontraram sobre um jumento um menor de 15 anos, apenas, único arrimo de uma família, e o mataram. O fogo em Guaribas cessou às 12 horas do dia 2. A essa hora, do pé da serra foi visto o fumaceiro em Guaribas. Era a polícia pondo fogo em todas as casas do sítio de Francisco Chicote, inclusive a dos seus pobres moradores.

Era a vitória da lei proclamada pelo incêndio.

Guaribas está a três léguas de Jardim, e, apesar de avisada de que Lampião passara próximo a Jardim (duas léguas) a polícia só chegou à cidade no sábado, dia 5, isto é, caminhando uma légua por dia, visto que o incêndio de Guaribas foi no dia 2. O povo de Jardim esperava a chegada da força, esperançado de ver-se garantido. Mas que decepção!...

Não se sabia se aquela gente era polícia. Eram umas cento e vinte praças mais ou menos, fardadas apenas com uniformes da polícia cearense e poucos da pernambucana.

O povo não sabia se a tropa era composta de policiais, ou de cangaceiros. O seu primeiro ato de bravos mantenedores da ordem foi soltar as suas montarias dentro do sítio do coronel Roriz e depois irem à feira, onde tomaram animais e até esteiras e cordas, de cujo fabrico alguns pobres se sustentam, e tudo que lhes apetecia. Dois desses homens foram ao sitio do major Manoel Amaro, suplente de delegado, onde encontraram suas duas filhas, um filho e um cunhado. Ale ameaçaram que se não dessem bons animais, iriam tomá-los de qualquer maneira. Afinal entraram num acordo e deixaram aquelas criaturas em paz. Perto da saída foi uma bebedeira infernal:

A soldadesca, especialmente os paraibanos, trajados de cangaceiro, inclusive um de gibão (corneteiro), percorriam a cavalo o interior das feiras, machucando mulheres, moças e crianças, gritando:

- Quem quiser apanhar levante o dedo!

Porém ninguém levantou, e eles, como que acometidos de um mal desconhecido, seguiram em direção à Pernambuco, açoitando quem encontravam pelo caminho. A primeira vítima foi o Sr. Chico Geraldo, que voltava da roça e que em consequência disso vomitou sangue durante cindo dias. Adiante prenderam dois meninos, que lograram fugir, motivo porque foi um deles alvejado pelos policiais.

Depois pegaram do pobre velho, de quem arrancaram toda a barba, fio a fio. Esse pobre homem ainda se encontra enfermo.

Um exemplo do fanatismo existente no interior do Ceará terá o leitor na gravura acima. Ela mostra uma cédula-reclame no valor de 100$000, das muitas que correm na zona nordestina, a qual traz a efigie do padre Cícero Romão Batista, o guia dos sertanejos.


Na casa do Sr. Antônio Bem, cunhado e primo do Sr. Pedro Vieira, morto por Lampião, obrigaram sua esposa cuja aflição já era grande, a pisar arroz e fazer comida para a soldadesca. A senhora, que se encontrava acompanhada apenas de uma mocinha e um menor, que só não foi espancado pelos policiais por ter sido trancado num quarto, sofreu as maiores torturas. Os soldados mataram-lhe toda a criação doméstica, como sejam: galinhas, perus, porcos, etc; fizeram matalotagem para cada soldado, encheram os bornais e o que sobrou do morticínio policial eles mesmos enterraram no terreiro.

Quanto à captura de Lampião e seu bando, penso ser isso, apenas, uma questão política, só dependendo dos políticos. A perseguição ao bandoleiro não é, a meu ver, nem útil nem prática, nem mesmo necessária, tendo em vista a forma por que é feita. Foi isto o que verifiquei e o que as populações sertanejas estão fartas de saber. Para essas infelizes populações do interior nordestino é preferível a visita de Lampião à de certas forças policiais que o perseguem a dez e vinte léguas de distância...

Há ainda um fato que deve ser ressaltado: com esses açoites e espancamentos, a polícia transforma os nossos rudes, mas briosos sertanejos em ardorosos soldados das hostes de Lampião. E os casos dessa natureza já não são poucos. O bandido só açoita o inimigo, ao passo que as polícias de certos Estados sacrificam toda a população ordeira das povoações por onde passam. Quando toma um cavalo Lampião devolve-o, de algumas léguas distante, ao respectivo dono, usando até de ameaça de morte para os condutores, os quais cumprem à risca a ordem. Já a polícia tira em nome do governo e, o que passa para o Estado, perde o seu legítimo dono.

Consta até que em Salgueiro foram carimbados cerca de 400 animais com um carimbo especial do governo pernambucano. Sobre as violências da polícia muita coisa há ainda para contar, mas vamos deixar para outra correspondência.

Por hoje o que aí está já é o bastante.”

Sobre os fatos mencionados na matéria supra, recomendo a leitura dos excelentes textos dos pesquisadores e escritores Manoel Severo - “A Tragédia das Guaribas de Chico Chicote”, constante do site http://cariricangaco.blogspot.com.br, e de José Bezerra Lima - “Chico Chicote: A Tragédia das Guaribas”, in “Lampião – A Raposa das Caatingas”.

Fonte: facebook
Pagina: Antnonio Corrêa Sobrinho
Grupo: O Cangaço
Link: https://www.facebook.com/groups/ocangaco/permalink/1456851927661254/

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SOLDADO 914, O CANGACEIRO ALECRIM (Sortudo ou azarento?)

Por Sálvio Siqueira

Naquele tempo, uma das duas saídas para o jovem roceiro, era entrar para a polícia, ser um volante e cair dentro da caatinga e ir perseguir cangaceiro por um soldo irrisório, que atrasava bastante, mas que vinha, tendo também que respeitar a hierarquia militar, além de estar fardado podendo fazer de tudo para conseguir o que queria, ou entrar para o cangaço, ter sempre dinheiro, ser ‘respeitado’ aonde chegava, não prestar contas de seus atos... porém estar sempre de prontidão, em alerta total, para trocar tiros com as volantes e ser bom de perna para correr delas mata adentro. Muitos estavam com os bolsos recheados de notas de mil réis, no entanto, estavam com o ‘couro do bucho’ colado às costas, não tinham como gastá-lo.

Quando a tropa volante saía em campo à procura de rastros de bandos de cangaceiros, tinham ordens para irem, procurarem e capturarem, ou mesmo matarem desde que fosse ‘necessário’. Essas missões eram cruéis para aqueles homens, pois passavam dias e dias dentro da mata sem, muitas vezes, não terem o que comerem a não ser o que a própria caatinga lhes oferecia como xique xiques, coroas de frade, mandacaru e outras mais. Valiam-se, também, de tubérculos das raízes como fonte de alimento e água. Mas, o homem só não vive de beber e comer. Existindo as necessidades fisiológicas naturais em seu metabolismo.

Após vários dias dentro da caatinga, quando conseguem voltar ao ‘mundo’ habitado, aqueles homens queriam mais era farrearem, beberem e se divertirem com as mulheres nos cabarés que sempre existiram.

Certa feita, um soldado volante da Polícia Militar da Bahia, Pedro Barbosa dos Santos, com o número de registro 914, ao retornar de uma dura missão, está na cidade de Jeremoabo, BA. Como seus companheiros, vai tomar cachaça, dançar e ‘ficar’ com as mulheres nos cabarés. Após alguns dias de folga, 914 vai urinar e sente uma dor terrível. Descobre que contraiu blenorragia. Chegando o termino da folga, Pedro não é escalado para seguir com a tropa e o comando lhe dá ordens para ficar em casa.

O tempo passa lento, sem ter toda tensão que seus sentidos costumavam sentir quando na perseguição dos grupos cangaceiros. A coisa demora tanto, que quando, certo dia, vai ao quartel, sabe que fora dispensado. Antes, porém, tinha feito algumas compras fiado para pagar quando recebesse seu pagamento. Homem honesto, não queria ter seu nome ‘falado’ por dever e não pagar, então resolve entrar no mato e ir atrás de uma de suas reses para, pegando-a, vende-la e saldar a dívida. 


Só que, em vez de encontrar uma rês, dá de cara com um bando de cangaceiros. O ex soldado 914 estava cercado pelo bando de Mariano. Desesperado, seu cérebro trabalhava em ritmo alucinante, pensando como é que sairia daquela encrenca. Mas, estando na mata, pensa ele, a cavalo e encourado, talvez passasse por um simples vaqueiro.

Engano total de Pedro. No subgrupo chefiado por Mariano tinha uma cangaceira, Otília, que estando certa vez em determinado lugar, foram surpreendidos por uma volante e o tiroteio foi pesado. Tão intenso que os bandidos tiveram que largar o que levavam para fugirem com maior liberdade de movimentos. E é ela que reconhece o rapaz.

“- Ah! É Pêdo, filho de Rimualdo, foi ele quem deu fogo em nois, lá na Lagoa Grande.” (“Lampião em Paulo Afonso” – LIMA, João de Sousa. 2ª Edição Ampliada e Revisada. 2013).


A coisa engrossou para o lado de Pedro. Rapidamente alguns cangaceiros o seguram, o amarram e o levam aos solavancos para um determinado local onde havia um coito. Lá chegando eles o fazem ficar em pé e colado ao tronco de uma árvore. Depois pegam a corda e o amarram dando várias voltas fazendo com que a corda ficasse como um caracol. Prendendo o corpo do ex volante colado ao tronco da árvore, de tal maneira que ele só ficou mexendo os olhos. Assim, enquanto espera a chegado do chefe cangaceiro, Pedro está lá, sem poder comer, urinar ou defecar. Nem água fora lhe dado. Por fim, Lampião, o “Rei dos Cangaceiros”, chega e fica a par do acontecido.


Nessa época Virgolino já havia, há muito, divido seu grande grupo em pequenos subgrupos, com seus respectivos chefes, estando ele a esperar Labareda, e seus “cabras”, que ficara de encontra-lo naquele local para prestação de contas e receber novas ordens. O que não ocorreu, para aumentar a agonia de Pedro, no mesmo dia. Ângelo Roque, o chefe de subgrupo, o cangaceiro Labareda, só chega ao coito, no outro dia.


O reencontro de cangaceiros sempre era comemorado por, principalmente, estarem vivos, motivo mais do que lógico de festejarem. Os homens vão se abraçando e proseando sobre suas ‘aventuras’, enquanto isso, Lampião conta o ocorrido sobre o preso. Labareda vai imediatamente ver quem seria aquele soldado. Lá chegando, reconhece Pedro que era seu sobrinho. Vira-se para o seu chefe e diz:

“-Ah, não, cumpade Lampião, esse daqui é filho do meu tio Rimualdo, esse num tem bom pra matá.” (e já vai cortando as cordas que amarravam Pedro)

“-Também cumpade, tu tem parente até no inferno!” (diz Lampião)

“- Assim como o sinhô também tem.” (retruca Labareda)(Ob. Ct.)

A sorte, ou a falta dela, começa a mudar para o lado do ex 914. Labareda arruma uma montaria e, dando-lhe as ‘coordenadas’, o manda para um coito onde logo mais o avistaria. Assim, Pedro de Rimualdo sai e vai para onde Labareda, naquela ocasião, seu anjo da guarda, mandou. Após pouco tempo de Pedro ter chegado ao acampamento, Labareda chega e lhe apresenta aos demais como sendo o cangaceiro “Alecrim”. A partir dali, Alecrim passa a ser comandado pelo seu primo e participa de várias missões.


Certa feita, seu chefe, o primo Ângelo Roque, o deixa guarnecendo duas cangaceiras, Mariquinha, sua companheira, e a companheira do cangaceiro Passarinho, a cangaceira Lica. Dando uma olhada no perímetro onde estavam Alecrim descobre uma volante muito próxima ao acampamento. Sorrateiramente pega as duas mulheres e as leva para bem longe dali. Após mais de um mês de separação, Labareda se reencontra com sua companheira. Assim Alecrim vai ganhando a confiança de seu primo, o chefe de subgrupo Labareda.

Seu chefe, sabedor da fome que tinha passado, manda que Alecrim vá até um coiteiro amigo e pegue uma criação para que servisse de alimento, que depois acertaria com ele. Chegando onde deveria estar o coiteiro, Alecrim não ver ninguém. Olha para os lados e uma tremedeira começa a tomar conta de seu corpo. Dana-se no meio da mata e dessa vez acerta no rumo da casa de seu pai, numa velocidade que nem bala pegava.


Vejam que coincidência, um irmão da cangaceira Otília, Batista de Clara, como era conhecido, vai até o quartel da Polícia em Jeremoabo e diz ao comandante ter avistado o soldado Pedro de Rimualdo, o 914, junto com cangaceiros. Imediatamente é decretada sua prisão. Pedro dana-se no vasto Raso da Catarina e passa bastante tempo escondido de Lampião e seus cabras, de Labareda e seus homens e da polícia. O sofrimento é grande. Não tinha sossego de maneira alguma. Assustava-se até com a própria sombra. Então toma uma decisão. Vai até Jeremoabo e entrega-se ao major Jonas.


O major, por antes ter sido patrão de Pedro, o qual era vaqueiro, manda que levem o prisioneiro para que o Juiz resolvesse seu caso. O Magistrado manda coloca-lo atrás das grades e, parece é terem esquecido dele no xilindró. O tempo passa e Pedro continua a ver o sol nascer quadrado. Até que um dia, um de seus ex comandantes, o tenente Zé Vitor, aparece, após 914 lhe mandar chamar, e lhe pede que o transfira para a Capital. Assim é feito.


Chegando a Capital, Salvador, Pedro é preso e lá se vão três anos de ‘jaula’ quando um amigo dele resolve fazer um abaixo assinado e enviar para o então Presidente da República Getúlio Vargas. Só que, nas entrelinhas do Abaixo Assinado, não se referiu apenas a soltura de Pedro, também era solicitado a dos cangaceiros Bananeira, Sebastião e Manoel Correia. A resposta vem determinando que os três últimos seguissem para Ilhéus e de que Pedro tinha que ir a Capital do País para ter uma audiência com o Presidente. Assim se procedeu e se cumpriram as ordens.


Chegando diante do Presidente Vargas, Pedro faz um relato de tudo que se passou com ele. O Presidente ordena:

“Levem-no e o incorporem novamente na polícia.” (Ob. Ct.)

“(...) Pedro Barbosa dos Santos passou a usar novamente o fardamento policial, com o mesmo número de registro 914, sem esquecer que um dia vestiu a indumentária cangaceira, conhecendo assim os dois lados da moeda (...)”. (Ob. Ct.)

A imprensa, na época, noticia sobre a prisão do cangaceiro “Alecrim”. Faz referências sobre a ida dele e dos outros para Ilhéus, quando, na verdade, ele fora requisitado para comparecer diante do Presidente da República, no Rio de Janeiro, Capital do País, naquela ocasião. No entanto, não sabemos o porquê, ou melhor, sabemos, pela trave que sempre fora colocada pelas autoridades, coisa que ainda hoje ocorrem, nada de seu tempo como soldado de volante fora noticiado, a ida ao Rio de Janeiro nem sobre seu retorno ao quadro da Polícia da Bahia com o mesmo número de registro, 914.

O Jornal “O IMPARCIAL” noticia, meio desnorteado, sobre a liberação de alguns presos irem viver trabalhando nas matas do sul do Estado da Bahia. Inclusive o sobrenome do sodado, cangaceiro preso, 914 é escrito “Pedro Vieira da Silva”. O próprio Pedro, em entrevista refere ser ele na matéria ao autor da fonte desta. A narração da matéria trás, explicitamente, não acreditarem em uma recuperação tão rápida dos bandidos. Nem tão pouco de onde partiu tal decisão. Não sabiam que a decisão, segundo a fonte pesquisada, partira do Palácio do Catete, canetada do próprio Presidente, por isso, na matéria, fazem perguntas de como pode uma coisa dessas ocorrerem? ... no solo soteropolitano. Após vários anos, o pesquisador/historiador dá com o cabra e ele narra para ele como ocorreram as coisas.

Fonte “Lampião em Paulo Afonso” – LIMA, João de Sousa. 2ª Edição Ampliada e Revisada. Paulo Afonso, Bahia. 2013.
Foto João De Sousa Lima
Benjamin Abrahão
Jornal O Imparcial
PS// FOTO DE LAMPIÃO COLORIZADA, DIGITALMENTE, PELO AMIGO, PROFESSOR Rubens Antonio

Fonte: facebook
Página:  Sálvio Siqueira
Grupo: OFÍCIO DAS ESPINGARDAS
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NAZARÉ É UM ESPETÁCULO!

Por Delcy Vilas Boas Magalhães

A bela Nazaré é realmente uma terra diferente, um lugar onde passado e presente se tocam, um lugar onde a História brota em cada casa, em cada pessoa, vejo o orgulho de um passado glorioso e um presente que precisa olhar para trás e projetar um futuro melhor, poucos lugares tem tanta riqueza junta, mas a riqueza que falo é obviamente outra, não é a material, que nos aprisiona e muitas vezes faz com que paremos no tempo.

É a riqueza da História, essa é deslumbrante no caso de Nazaré, Homens e Mulheres que há 100 anos construíram esse lugar na base de muita luta e suor, Nazaré resistiu ao Cangaço, resistiu a agressividade do clima e hoje, pessoas dos mais diversos lugares vão a Nazaré, em reverencia a seu povo e sua História.

É a riqueza das belezas naturais, meu Deus, esse aspecto é singular, a grandiosidade da Serra do Pico, a beleza da paisagem local (seja na Ema ou no Jenipapo), Nazaré é bela sim senhor, como outros lugares do Sertão, a beleza natural de Nazaré é imponente.

Há alguns anos tenho frequentado regularmente essa terrinha, ano passado assisti um evento incrível, de alto nível e organizado pelas pessoas de Nazaré, o Cariri Cangaço passeou pela História, visitou locais e relatou fatos e feitos dos Nazarenos, prestei atenção em tudo, pessoas de vários estados do Brasil estavam ali e todas foram unânimes ao dizer: NAZARÉ É UM ESPETÁCULO.

Definitivamente Nazaré não é um local pequeno, pelo contrario, Nazaré é uma terra de GIGANTES, a História mostra isso, o tempo tratou de mostrar isso também, são 100 anos e atravessar um seculo não é tarefa fácil, desejo que Nazaré continue a atravessar o tempo com tanta força e brio.

Fica aqui um salve para Nazaré, sua História e seu povo. 

Autor: Delcy Vilas Boas Magalhães

Gentileza da Postagem: Charles Wagner Lira

Em Outubro...


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PESQUISA UERN TV


Bom dia, colega!

O departamento de Comunicação Social da UERN desenvolve um projeto de pesquisa para analisar de público-alvo da UERN TV, com o intuito de conhecer melhor quem assiste o canal universitário. Como são diversas emissoras (Canal Futura, TV Assembleia do RN, Tv Brasil, TV Câmara Municipal de Mossoró e outras emissoras que se interessem em reproduzir os programas) além das possibilidades das redes sociais que compartilham os vídeos apresentados na UERN TV, é preciso saber qual o alcance da audiência.  A pesquisa busca analisar também os hábitos de consumo de mídia dos telespectadores/internautas.

O questionário, com apenas 10 perguntas com respostas objetivas, pode ser respondido pelo link:


Sua participação vai ajudar no planejamento de nossa programação. e estratégias de divulgação.

Agradecido desde já.

Prof. Marco Escobar
Coordenador do projeto de pesquisa
Marco Escobar
Doutor Interdisciplinar em Recursos Naturais - UFCG
Professor do Departamento de Comunicação Social da UERN

UERN - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte
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Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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“O GLOBO” – 13/09/1927 A PSICOLOGIA DO CANGACEIRO III

Do acervo do pesquisador Antonio Corrêa Sobrinho

“O GLOBO” – 19/09/1927
A PSICOLOGIA DO CANGACEIRO
O BANDITISMO NOS SERTÕES DO NORDESTE BRASILEIRO
UM ENSAIO POLÍTICO-SOCIAL
(Especial para o GLOBO)

CAPÍTULO III

Dos nossos dois artigos anteriores, evidencia-se que duas providências se impõem aos governos para os sertões do Nordeste: - “Instrução” e “Justiça”; - escolas e magistrados íntegros, desligados dos chefes políticos locais e dispondo de força policial disciplinada para o cumprimento de suas ordens.

Enquanto não levarmos ao sertanejo a certeza de que ele não será mais o vassalo dos potentados da terra, de que todas as garantias lhe serão dadas pelos poderes públicos, de que o seu direito será respeitado pelas autoridades e os seus delitos punidos de acordo com as leis e não de conformidade com a vontade dos políticos situacionistas – tudo quanto se fizer será inútil para modificar lhe o caráter e tirar-lhe esse pendor para a vingança particular, que herdou dos seus antepassados, e que leva ao crime. Será este o único meio de se evitar que novos bandos de cangaceiros se formem, arrastados por aquele instinto sanguinário que já analisamos.

Estas mesmas considerações lemos em um discurso proferido na Câmara dos Deputados de Pernambuco pelo deputado Arruda Falcão, o transcrito aqui no Jornal “A Manhã”, de 9 de agosto findo. Infelizmente, o inteligente orador, com a preocupação de fazer obra de oposição ao governo, subordinou as suas patrióticas aspirações, que são as de todos os bons pernambucanos, a conclusões verdadeiramente contraproducentes.

Combatendo a proposta orçamentária do governo para 1928, na qual o Dr. Estácio Coimbra pedia um aumento na dotação da verba destinada à força pública, o ilustre deputado, citando Alberto Rangel, disse o seguinte:

- “O cangaceiro é uma expressão da terra que habita, como o jangadeiro o é do mar. A sua moral tem as irregularidades de infrações devidas ao olvido e ao desleixo com que o fulminou a organização política do país.

O banditismo é uma endemia do sertão, mas é a hipertrofia da coragem. Tipo estupendo da originalidade, o Brasil não produziu nenhum mais interessante. Com a educação conveniente, o sertanejo abandonaria a crueza de desvios sociais e seria um fator de trabalho e de riqueza.”

Destes conceitos, que não sofrem contestação, tirou o Dr. Arruda Falcão as seguintes conclusões:

- “Precisamos manter no sertão excelente justiça ‘e nada de polícia’ para solução de problemas de ordem social e econômica que ela nunca poderia resolver. ‘O sertão não espera policiamento” para desenvolver-se. Precisa desde tempos imemoriais colocar-se ao abrigo da lei moral e do pão quotidiano. Melhoramentos materiais, melhoramento moral. Eis os benefícios que ao sertão nunca os governos enviaram.

Em vez de “reforçar a eficiência numérica dos batalhões policiais”, olhemos com especial cuidado para o serviço da Justiça.”

Não são outras as ideias que vimos emitindo neste trabalho sobre o caráter do sertanejo nordestino e a necessidade de se lhe dar instrução e justiça.

Mas isto leva tempo e necessita muito trabalho e muita perseverança por parte dos governos, “PORQUE NÃO SE ACA FACILMENTE COM HÁBITOS, FORMANDO O CARÁTER DE UM POVO”; de medo que, concomitantemente com as providências que todos aconselham, ou melhor, para que elas possam surtir o efeito desejado, torna-se imprescindível extinguir desde já os bandos de criminosos que infestam atualmente os sertões do Nordeste, mesmo porque não é possível a aplicação serena da Justiça quando os seus representantes vivem sob a ameaça constante de morto desses bandos sinistros, para os quais já não servem aquelas providências.

E como extingui-los sem uma força numerosa, pelos motivos que deixamos apontados em nosso primeiro artigo? Basta dizer-se que, não obstante se acharem atualmente nos sertões o Nordeste, em perseguição aos bandidos, “AS MILÍCIAS DE SEIS ESTADOS coligadas pelo convênio de dezembro de 1926, em primeiro talvez superior a 2.000 SOLDADOS, ainda não foi possível a captura de “Lampião”, de “Massilon” e de outros celerados que destes chefes se desligaram, constituindo novos bandos.

Foi, pois, uma verdadeira heresia a afirmativa do deputado pernambucano – “de que precisamos manter no sertão excelente justiça E NADA DE POLÍCIA” – pois sem polícia é que a justiça não pode ser exercida.

E, tanto assim, que o próprio autor dessa frase, “no mesmo discurso” que citamos, disse também o seguinte, em completo antagonismo com aquela afirmativa e com a sua oposição ao aumento da força pública (textual):

- “COMO MEDIDA DE EMERGÊNCIA, A CAPTURA DOS CELERADOS CERTAMENTE SE IMPÕE AOS BONS DESÍGNIOS DA ADMINISTRAÇÃO.”

Ora, não há de ser com pequenos contingentes policiais que o governo pernambucano poderá conseguir este resultado PRELIMINAR, para chegar então ao FIM, por todos almejado. O grande erro dos governos tem sido justamente manter nos sertões pequena força policial em perseguição aos criminosos. Com a tática dos cangaceiros e a facilidade de locomoção que eles têm, como conhecedores do terreno e dos seus esconderijos, em pouco tempo os soldados ficam extenuados, tornando-se impossível a perseguição e sacrificando-se inutilmente homens e dinheiro.

Por consequência, “se a captura dos acelerados se impõe ao governo” (como disse o deputado Falcão), o aumento da força pública é uma necessidade indiscutível e urgente.

Para estes cangaceiros, que estão depredando o Nordeste e tornando impossível a vida do sertanejo honesto e trabalhador, todos os rigores são poucos, tanto mais quanto eles se afastam inteiramente de alguns dos seus antecessores que, em meio de sua vida de crimes, conservavam algumas virtudes primitivas, como a probidade, a proteção para os fracos e o respeito pelas mulheres; de sorte que não é de admirar que quase todos os historiadores da nossa vida sertaneja se refiram a cangaceiros, qualificando-os de – homens valentes e “honestos.”

De “Jesuíno Brilhante”, bandido famoso dos sertões do Ceará, terror dos seus inimigos e um tigre sanguinário quando se defrontava com a polícia e a tropa de linha que o perseguiam, conta Rodolfo Teófilo que por ocasião de uma seca tremenda que assolou aquele Estado, ele se tornara uma Providência para a gente humilde, salvando da morte centenas de famintos, aos quais distribuía mantimentos e roupas.

Xavier de Oliveira, no seu livro – “Beatos e Cangaceiros” – que tem o mérito incontestável de ter sido escrito por um filho do sertão do Ceará, e no qual ele narra as façanhas de 13 cangaceiros “que conheceu pessoalmente” – traça o perfil de diversos como de indivíduos trabalhadores, e “nobres”. Do cangaceiro “Beato da Cruz”, diz que – “a sua memória e as suas virtudes jamais deixarão de ser veneradas, enquanto houver um romeiro crédulo na Jerusalém Brasileira (o Juazeiro do Padre Cícero).” Referindo-se a “Quintino”, outro cangaceiro de Pajeú de Flores, que foi ter no Juazeiro perseguido pela polícia pernambucana, diz: - “era um homem bom, nobre e pacato; um amigo leal, embora um inimigo temível e terrível”. – De “Antônio Vaqueiro” e “Antônio Godé”, bandidos de incrível audácia, diz: - “eram homens honestos em quem a nobreza reclamava a primazia à coragem; incapazes de uma traição como de uma covardia”. – E, para demonstrar a probidade e honradez de alguns desses cangaceiros, conta o seguinte, referente a um deles: - “Canuto Reis” nunca roubou de ninguém um alfinete sequer; mas também nunca levou para casa um desaforo, por pequenino que fosse. Quando o coronel Franco Rabelo, que se apossou violentamente do governo do Ceará, entendeu acabar com o prestígio do padre Cícero, Canuto Reis foi um dos heróis da jornada de 14 de janeiro de 1914, em que as forças do governo foram completamente derrotadas pelos romeiros do padre. Vitoriosos, os sertanejos e “os chefes” revolucionários começaram a saquear a cidade do Crato, onde se ferira o combate, enquanto Canuto se dirigiu a um de nome Pedrinho, pedindo-lhe dez tostões emprestados, para matar a fome, pois não comia desde que começara a luta. Lendo na fisionomia de seu interlocutor a surpresa que lhe causara um tal pedido naquela ocasião, disse-lhe o bandido: - “Seu Pedrinho, me empreste dez tostão. Tou vendo que vosmincê se admira deu não tá também robando; mas um cabra de vergonha, como eu, tem corage pra mata cem homes de uma veiz, mas não tem pra robar um vintém, nem que seja do bispo. Isso faz vergonha.”

Do mesmo modo, Xavier de Oliveira se refere a outros dos seus 13 biografados, salientando lhes às vezes a perversidade, mas sempre abandonando lhes algumas virtudes.

Um perfil de cangaceiro que se arroga, como chefe de um grupo, o papel de – “juiz” – à moda sertaneja traça o Dr. Raul Azedo, narrando o que lhe contou uma velhinha, em cuja choupana ele e um companheiro de viagem se hospedaram, quando atravessavam a zona quase deserta do riacho do Navio, em Pernambuco, sobre as façanhas do terrível bandido Casimiro Honório: - “Se furtam um bode da gente (disse a velhinha na simplicidade do estilo sertanejo), a gente corre onde está Casimiro e basta o ladrão saber disso para o bode logo aparecer. Se alguma cousa ruim faz mal a qualquer moça solteira e não casar com ela, a mãe da moça vai se valer de Casimiro, que manda um recado ao sem-vergonha e ele mais que depressa trata de casar com a moça.”

O célebre cangaceiro Antônio Silvino entrou para o “cangaço” par a vingar o assassinato do pai, quando ele ainda menino, por não ter a justiça punido o criminoso. Quando cresceu, vingou-se matando o assassino e mais quatro irmãos deste. Depois, correu o sertão espalhando o terror, roubando nas estradas, incendiando fazendas e saqueando o comércio nas cidades e vilas. Mas, como distribuía com a pobreza uma parte dos roubos, e se constituiu o protetor da honra das moças, captou a simpatia da gente humilde, ao ponto dos menestréis sertanejos contarem nas suas “décimas” as proezas d’ “O Capitão”, como apelidaram-no. Pôde assim dominar nos sertões do Nordeste durante 20 anos, zombando da polícia pernambucana que o perseguia tenazmente, porque os pobres acoitavam-no em suas casas. Afinal, ferido de um encontro com a força pública, foi preso e se acha recolhido à Casa de Detenção de Recife, onde tem um comportamento exemplar.

Em suma, Gustavo Barroso, no seu livro “Heróis e Bandidos”, não deixou igualmente de salientar o chocante contraste daquelas almas sertanejas de outrora, onde as maiores personalidades se aliavam a uma nobreza de caráter inexplicável, conforme a ocasião e o meio em que agiam.

Mas, até nesse ponto, aquela raça degenerou. O lado heroico, que provocava a admiração dos historiadores do “cangaço”, pela sua parceria com os instintos ferozes, desapareceu.

Os atuais bandos de criminosos que infestam o Nordeste brasileiro são compostos de facínoras da pior espécie, sem a menor sombra de uma qualidade indômita, da b 

“Lampião”, “Massilon”, “Sabino Gomes” e seus sequazes são apenas tipos de ladrões sanguinários e de assassinos covardes. Nos assaltos que deram à vila de algodões e à cidade de Triunfo, em abril de 1926, esses bandidos não encontraram a menor resistência, por terem fugido covardemente os destacamentos policiais que guarneciam aquelas localidades. Pois bem, não obstante a passividade com que os recebeu a população atemorizada, os perversos não se contentaram em saquear as principais casas comerciais; assassinaram friamente diversas pessoas, incendiaram fazendas, mataram o gado e atiraram-se como canibais contra infelizes moças solteiras que não tiveram tempo de fugir, maculando-as em sua honra, e, para cúmulo da malvadez, surraram desapiedadamente aquelas que ainda procuraram resistir aos seus instintos bestiais.

Urge, pois, o extermínio dessas bestas-feras, custe o que custar. Os governos nortistas têm o dever inadiável de dar caça a esses bandos ferozes, numa perseguição tenaz, sem tréguas, a fim de que possa ser iniciada a regeneração dos costumes sertanejos pela “Instrução” e pela “Justiça”.

Só então poder-se-á conseguir que o sertanejo nortista abandone a sua vida de aventuras criminosas para se tornar um fator de trabalho e de riqueza.

Justiniano de Alencar

Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho

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