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terça-feira, 16 de agosto de 2016

VÍDEO DOCUMENTÁRIO SOBRE A FUGA DOS CANGACEIROS MORENO E DURVINHA DA TRILHA SANGRENTA DO CANGAÇO, E A REVELÃO DELES, PARA SEUS FILHOS, QUE FIZERAM PARTE DO BANDO DE LAMPIÃO

https://www.youtube.com/watch?v=RTUZcdbaauU&feature=youtu.be

VÍDEO DOCUMENTÁRIO SOBRE A FUGA DOS CANGACEIROS MORENO E DURVINHA DA TRILHA SANGRENTA DO CANGAÇO, E A REVELÃO DELES, PARA SEUS FILHOS, QUE FIZERAM PARTE DO BANDO DE LAMPIÃO

"Os Últimos Cangaceiros, Jovina Maria da Conceição e José Antonio Souto são dois senhores que levam uma vida bem comum pelos últimos 50 anos. O que ninguém sabe, incluindo seus filhos, é que estes nomes são falsos. A dupla, na verdade, é conhecida como Durvinha e Moreno. Eles integraram o bando de Lampião, o mais controverso e famoso líder do cangaço. A verdade só vem à tona quando Moreno, aos 95 anos, resolveu compartilhar suas lembranças com os filhos, além de sair a procura de seu parentes vivos, incluindo seu primeiro filho."link do vídeo:

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TERRA E LUTA

*Rangel Alves da Costa

A concentração fundiária, ou seja, dos grandes latifúndios nas mãos de uns poucos senhores, sempre foi característica marcante no Brasil. Desde as capitanias hereditárias que a desigualdade na divisão das terras apontava a exclusão daqueles que delas necessitavam para o plantio e a sobrevivência. Em tal processo, o homem da terra sempre foi colocado à margem da fruição do seu próprio chão, pois servindo apenas como objeto de exploração.

Os camponeses sempre enfrentaram o latifúndio e se opuseram ao Estado que, a seu ver, representa a classe dominante. Assim, a resistência camponesa manifesta-se em diversas ações que sustentam formas distintas e se modificam em seu movimento. A luta agrária nasceu do impulso de uma necessidade premente, porém só foi impulsionada quando movimentos sociais se organizaram em socorro daqueles desfavorecidos.

Desde os meados do século XX que novas feições e novas formas de organização foram criadas na luta pela terra e na luta pela reforma agrária, principalmente em torno das ligas camponesas, das diferentes formas de associações e os sindicatos dos trabalhadores rurais. Em todo o país, diversos conflitos e eventos foram testemunhos da organização camponesa na sua intensa luta pela direito ao chão, ao plantio, à sobrevivência.

As lutas dos pequenos proprietários, dos arrendatários e posseiros para resistirem na terra, juntamente com as lutas dos trabalhadores assalariados e sindicalistas, devolveram o processo de organização política do campesinato. Crescia a luta pela reforma agrária e diversas frentes e atores começaram a ter participação mais ativa no processo de oposição à concentração fundiária.

Foi uma junção de fatores que permitiu que a classe desprovida de meios de produção aumentasse os reclamos sobre seus direitos. A concentração fundiária, caracterizada pela posse da terra nas mãos de um pequeno número de pessoas, foi causando irresignação naquela maioria excluída dos meios de produção. Verdade é que esta estrutura fundiária se consolidou sob interesses da elite fundiária e com a conivência do próprio Estado. Este possui um histórico de subserviência às elites burguesas.


As lutas pela terra, desenvolvidas e organizadas através dos movimentos sociais no campo brasileiro são lutas históricas. Contudo, o fortalecimento e a visibilidade pública destas lutas acabaram recaindo num ator principal - o MST. O Movimento surge da força política da classe trabalhadora em oposição e resistência às políticas agrícolas desde os governos militares. Os trabalhadores se organizaram nesta e noutras siglas e passaram a lutar contra o processo de desenvolvimento do capitalismo no campo.

A partir da década de 90 os movimentos começaram a ocupar as terras devolutas e improdutivas de particulares que não eram legítimos proprietários e da União, denominadas de latifúndios. Depois também todo tipo de grande propriedade. Contudo, foram as formas de ocupação que emergiram os conflitos entre as classes envolvidas: trabalhadores sem terra e latifundiários. Esta última geralmente amparada pelo braço estatal representado pela polícia, principalmente nos processos de reintegração de posse das áreas ocupadas.

Começaria, então, uma luta sangrenta, voraz, sem fim. O MST invadia com violência e os proprietários regiam à altura do ataque, deixando um rastro de sangue sobre a terra, numa violência descomunal. Nas invasões mais pacíficas, casas e plantações eram incendiadas, rebanhos mortos, propriedades devastadas. Depois disso, os invasores se instalavam no seu interior ou nas margens das estradas, armados até os dentes, sempre prontos para os revides dos proprietários.

A maioria dos doutrinadores acerca da questão agrária passou a defender as ações do MST, justificando suas ações, ainda que de extremada violência, como necessária. E afirmava que era uma classe trabalhadora enfrentando, a um só tempo, o poder e agressividade latifundiária e a máquina estatal, vez que o aparelho do Estado estava, quase sempre, a serviço da classe dominante.

Contudo, há os que, pautando-se na legalidade, defenderam o justo direito de defesa dos proprietários. Pregavam ainda que, diferente do que sempre se afirma, nem todas as terras de latifúndios eram improdutivas nem seus proprietários deixavam de observar o uso social da propriedade. Ademais, havia um direito constitucional de propriedade a ser respeito. E desse direito deriva todo um aparato jurídico de proteção à propriedade. E um desses direitos expressa o poder de revidar injusta agressão.

Contudo, há de se observar que a violência praticada pelo MST possui uma amplitude ainda maior. Os ocupantes ou assentados nunca se contentaram com o obtido nem com a desapropriação. Verdade é que, mesmo já assentados durante muito tempo, ainda assim continuaram praticando atos de violência contra pessoas, meios de transportes, instituições públicas e privadas. Neste sentido, foram inúmeros os saques, os furtos e roubos, as depredações, o porte ilegal de armas.

Os ânimos refrearam, até mesmo por que não há mais um grande número de propriedades a serem invadidas, mas as ações perpetradas ainda refletem o modus operandi costumeiro. Ou seja, violência e mais violência.

Escritor
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UM CLÁSSICO BRASILEIRO

por José Gonçalves do Nascimento


No dia 2 de dezembro de 1902, vinha a lume, na então capital federal, pela Laemmert & C. Editores, um dos maiores monumentos das letras nacionais: Os sertões (Campanha de Canudos), do jornalista, militar e engenheiro Euclides Rodrigues da Cunha, nascido em 20 de janeiro de 1866, em Cantagalo, antiga província do Rio, e morto em 15 de agostode 1909, em confronto com o jovem cadete Dilermando de Assis.

Naquele mesmo ano, 1902, mais quatro obras de vulto despontavam no cenário da literatura nacional e estrangeira, a saber: Canaã, de Graça Aranha, (Brasil), A ceia dos cardeais, de Júlio Dantas, (Portugal), Coração das trevas, de Joseph Conrad, e O cão dos Baskerville, de sir Arthur Conan Doyle (Inglaterra).

Canaã retrata a saga dos imigrantes germânicos numa colônia da então província do Espírito Santo. Caracterizado pelo confronto entre diferentes visões de mundo, onde avulta a violência do preconceito racial, o romance tem como personagens principais os jovens Milkau e Lentz, que vivem o desafio de construir uma vida nova em terra estrangeira – a terra de Canaã. Trata-se de obra importantíssima para a compreensão da realidade brasileira, naquele princípio de século XX.

A ceia dos cardeais é um clássico da dramaturgia mundial. A peça tem como cenário uma luxuosa sala no Vaticano, onde, durante a ceia da noite, depois de algumas rusgas, três cardeais já velhinhos lamentam o peso do tempo, enquanto relembram os amores do passado. Traduzida para um sem-número de idiomas, a obra ainda atrai a atenção do público.

Coração das trevas é uma crítica contundente à exploração predatória do Congo negro, por parte de Leopoldo II, rei da Bélgica. A obra relata a viagem do capitão Marlow em direção ao interior da África, com o objetivo de resgatar o lendário Kurtz, negociante de marfim, que criou em torno de si um culto baseado em sacrifícios humanos. A viagem do narrador ao “coração das trevas”, onde se deparou com multidões de homens negros trabalhando como escravos, converte-se em rito de iniciação ao mal absoluto, equivalente à descida ao “sombrio círculo de algum inferno”. Tida como uma das obras-primas da literatura inglesa e parte do cânone ocidental, o livro inspiraria anos mais tarde o filme “Apocalypse now”, de Francis Ford Coppola.

O cão dos Baskerville é, talvez, a melhor história policial que já se escreveu até os dias de hoje. Na trama, sir Charles Baskerville é encontrado morto em circunstâncias misteriosas, havendo em torno do seu corpo pegadas ainda frescas de um cão monstruoso. Apôs o ocorrido, sir Henry, o único herdeiro da prole, passa a sofrer estranhas e inexplicáveis ameaças. Reza uma lenda que todos os varões da família Baskerville haverão de morrer sob as garras letais de um cão infernal. Para solucionar o enigma, é convocado ninguém menos que o famoso e experimentado detetive Sherlock Holmes. Permeado de vaivéns, mistérios e suspenses, o livro é um dos mais populares no gênero, com inúmeras adaptações para as telas do cinema.

Todavia, em que pese o fascínio que tais obras até hoje exerceram sobre os mais variados públicos, nenhuma delas conseguiu jamais aproximar-se do valor, da grandeza e da magnitude d’Os sertões, denominado por seu autor como livro vingador.

Os últimos meses que antecederam o lançamento d’Os sertões, todavia, foram de profunda frustração para o escritor fluminense. Em 19 de outubro de 1902, escrevia Euclides da Cunha ao amigo Escobar:

"Chamaste-me atenção para vários descuidos dos meus Sertões; fui lê-lo com mais cuidado e fiquei apavorado. Já não tenho coragem de o abrir mais. Em cada página o meu olhar fisga um erro, um acento importuno, uma vírgula vagabunda, um (;) impertinente... Um horror! Quem sabe se isto não irá destruir todo o valor daquele pobre e estremecido livro?"

O jornalista Viriato Correia, que entrevistou Euclides em agosto de 1909, narrou, na revista Ilustração Brasileira, o que dele ouviu sobre a torturante crise que lhe abatera os ânimos nos primeiros instantes d’Os sertões:

"Ao chegar à Companhia Tipográfica, abrindo ao acaso um volume, lá encontrava um com uma crase intrusa, adiante uma vírgula de mais, etc., etc. Aquela crase, aquela vírgula, aqueles outros erros pareceram-lhe grandes blocos de pedra que vinham atacar o seu nome. Que horror! E a ponta de canivete (parece mentira, mas verdade), em dois mil volumes Euclides raspou oitenta erros. Foram cento e sessenta mil emendas! Um estranho pavor se apoderou de Euclides. Tinha certeza de que a obra ia ser um desastre." E tocou-se para Lorena.

Ali chegou oito dias depois, encontrando, ainda segundo Correia, duas cartas do editor.

"Abriu uma por acaso [continua Correia], por felicidade era a segunda. Nesta carta o editor dizia que estava assombrado com a venda do livro e que em oito dias estava quase esgotado um milheiro; A outra carta, a primeira, era esmagadora. O editor confessava-se-lhe redondamente arrependido de tê-lo editado. Dizia que não havia vendido um único volume – Se eu tivesse lido essa carta em primeiro lugar, parece que morreria, conclui Euclides, sorrindo".

Surpreendentemente, o livro que tanto desconforto trouxera ao seu autor acabou por tornar-se o maior espetáculo literário do início do século XX e o primeiro best-seller da literatura brasileira, obtendo estrondoso sucesso de crítica e de venda.

Em artigo publicado no jornal Correio da manhã, um dia após o advento d’Os sertões, o consagrado escritor José Veríssimo, o maior e mais mordaz crítico literário da época, não economizou encômios à obra em apreço, no que foi seguido por outros insignes resenhistas, a exemplo de Araripe Júnior, Moreira Guimarães, Coelho Neto e Sílvio Romero. Este último, que, aliás, não era dado a largos elogios, elevou o livro de Euclides ao patamar das coisas sagradas, admitindo-se-lhe a possibilidade de culto e veneração:

"Deixai que exerça livremente meu direito de admirar. Também sei queimar gostosamente bagas de incenso, quando o altar não está vazio e nele existe realmente o que se deva venerar. Para tanto, no caso, não hei mister improvisar; basta-me abrir o vosso livro e ler nele como se lê nos missais nas cerimônias do culto".

Dois meses após o aparecimento da enigmática obra, e contrariando as expectativas do primeiro momento, comunicava Euclides ao pai: “recebi uma carta do Laemmert declarando-me que é obrigado a apressar a 2ª edição dos Sertões para atender a pedidos que lhe chegam – e aos quais não pode satisfazer por estar esgotada a 1ª. Isto em dois meses.”

Era a consagração do livro e do autor.

Dividido em três partes, a saber: a Terra, o Homem e a Luta, o livro ora em apreço empreende ampla e profunda abordagem acerca da geografia do Nordeste e dos tipos humanos que povoam essa parte do Brasil, culminando com o conflito entre o exército brasileiro e os heroicos habitantes de Canudos – comunidade liderada pelo beato cearense Antônio Vicente Mendes Maciel, comumente conhecido como Antônio Conselheiro.


Tem o texto o mérito de mediar o difícil e doloroso diálogo entre o “Brasil real e o Brasil oficial” – para usar uma expressão de Machado de Assis – despertando a atenção das elites políticas, econômicas e culturais para os inumeráveis problemas que faziam (e fazem) desta uma nação dividida entre o progresso do litoral e o atraso do interior. Pela primeira vez, no Brasil, uma obra de literatura assumia a discussão sobre os reais problemas do país e lançava as bases para a construção de uma sociedade mais justa e menos desigual.

Escrito nos raros momentos de intervalo, enquanto seu criador monitorava a reconstrução de ponte metálica na cidade paulista de São José do Rio Pardo, Os sertões, por força do seu estilo único e sui generis, em que convivem no mesmo espaço história, ficção, poesia e literatura é considerado por muitos estudiosos como livro inclassificável, não sendo possível circunscrevê-lo em nenhum dos gêneros literários até aqui conhecidos. Com acerto, pontifica Afrânio Coutinho: “Não há modelo que se lhe possa comparar com exatidão, fato, aliás, que se passa com a maioria das obras-primas da humanidade, cada uma realizando-se segundo lei que é a sua própria e criando seu próprio padrão estrutural.” Noutro passo da sua extensa e brilhante obra, sentencia o douto pensador baiano: “Os sertões são uma obra de ficção, uma narrativa heroica, uma epopeia em prosa, da família de Guerra e Paz, da Canção de Rolando, cujo antepassado mais ilustre é a Ilíada.”

Para o já mencionado escritor José Veríssimo, 
"O livro do Sr. Euclides da Cunha é ao mesmo tempo o livro de um homem de ciência, um geógrafo, um geólogo, um etnógrafo; de um homem de pensamento, um filósofo, um sociólogo, um historiador; e de um homem de sentimento, um poeta, um romancista que sabe ver e descrever, que vibra e sente tanto aos aspectos da natureza, como ao contato do homem". 

Tamanha importância detém Os sertões que por cerca de meio século foi ele a principal referência no tocante à história de Canudos, mesmo existindo sobre o assunto outras fontes igualmente valiosas, muitas das quais publicadas antes mesmo do surgimento do livro vingador.

Essa quase hegemonia d’Os sertões, se por um lado obliterou as demais literaturas sobre a matéria, por outro conferiu maior status ao episódio tido no sertão da Bahia, levando-o, inclusive, a transpor as fronteiras nacionais e tornar-se conhecido em outras partes do orbe. Para a estudiosa Marilene Weinhardt
"sem Euclides da Cunha, os acontecimentos de Canudos não teriam a mesma atenção que têm merecido. Seja porque representou o mea-culpa das elites, seja pelas qualidades estilísticas da narrativa. O fato é que o episódio de Canudos encontrou sua expressão ideal na pena de Euclides".

Na edição de 23 de novembro de 1994, a revista Veja convidou um grupo de 15 renomados intelectuais, com o objetivo de escolher a obra brasileira que pudesse ser classificada como o cânone nacional. Merecidamente, Os sertões apareceu em primeiro lugar. Não é descabida, portando, a opinião dos que defendem ter o escritor fluminense exercido papel fundador na cultura brasileira, a exemplo de Cervantes, na Espanha, Goethe, na Alemanha, Alighieri, na Itália e Camões, em Portugal. Vertido para 13 idiomas e contando, em terras brasileiras, com mais de 80 edições, o livro de Euclides é um dos mais lidos e difundidos no Brasil e no exterior.

Afirma Celso Furtado que se 110 anos depois "a obra de Euclides permanece tão atual é por seu caráter pioneiro no reconhecimento da formação de um mundo em construção (...). Os problemas que hoje nos angustiam – a fome, o analfabetismo, o latifundismo – são substrato da realidade por ele descrita. O que nos leva a reconhecer que ele captou, avant la lettre, a resistência às mudanças em nosso país".

Da mesma forma como Euclides da Cunha contribuiu para o engrandecimento das letras brasileiras, Os sertões, sua obra maior, encarregou-se de perpetuar no tempo a magnífica saga de Canudos ou Belo Monte, legando às gerações futuras o maior exemplo de heroísmo popular que a história do Brasil até aqui registrou.

jotagoncalves_66@yahoo.com.br
(do livro: Canudos: "uma vila florescente e rica")

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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COMUNICADO!

Por Benedito Vasconcelos Mendes

O MUSEU DO SERTÃO receberá no dia 27 de novembro do corrente ano, para um dia de cultura e lazer, os participantes do II SEMINÁRIO  INTERNACIONAL  ENCONTRO DAS AMÉRICAS: Literatura, Arte e Cultura em Terras Potiguares. 

Além da visita ao Museu do Sertão, os participantes do referido evento irão assistir palestras, exposição de esculturas, declamar poesias, receber homenagens e passar um dia de lazer e cultura nas instalações do referido museu. 

Este evento começará em Natal (no período de  23 a 26 de novembro) e terminará em Mossoró, de 27 a 29 do mesmo mês. Estão sendo esperados intelectuais, artistas, escritores e membros de Academias de Letras e de Artes de vários países americanos e de muitos Estados brasileiros.

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MINHA HOMENAGEM A JOSÉ ROMERO

Por Valberto de Sena

Após ler sua postagem
Pelo compartilhamento
Percebi que a sua imagem
Vai ganhando avivamento,
E o reconhecimento
De sua imagem é real...
Seu nome no "literal"
Ganha fama e é citado,
Merece ser e é honrado
Pelo valor cultural...

Poucos escritores têm
A sua cultura imensa,
E essa homenagem vem
Comprovar essa sentença...
O José Ronaldo pensa
Da maneira como eu penso,
Cada vez mais me convenço
Do que vejo ao seu respeito...
É enorme o seu conceito
Em seu universo imenso...

A sua humildade enorme
É gritante e se agiganta,
Sua colheita, é conforme
O que sua alma planta...
A sua voz se levanta
Entre os bons pesquisadores.
Para quem tem seus valores,
A história guarda um lugar.
"Galgastes o patamar
Dos que possuem PRIMORES"

Valberto de Sena. Poeta popular paraibano, natural de Água Branca


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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O CANGACEIRO VOLTA SECA, EM ENTREVISTA COM JORNALISTAS BAIANOS E SERGIPANOS...!!!

Acervo do pesquisador do cangaço Guilherme Machado Historiador Pesquisador

Volta Seca. Preso no início de 1932 e levado para a Casa de Detenção da Bahia, Volta Seca foi procurado por alguns sergipanos interessados em recolher informações sobre o cangaço no Nordeste e sua presença em Sergipe. Joel Macieira Aguiar, representando o Jornal de Notícias, acompanhado de Hernani Prata e de João Prado, estudantes de Direito na Bahia, encontrou Volta Seca tocando realejo, entrevistando-o, em começo de abril de 1932, fixando estes dados pessoais: sergipano, nascido no Saco Torto, povoado de Itabaiana, filho de Manoel Santos, que trabalhou no Engenho Conta douro, de propriedade de Antônio Franco, frequentou o Engenho Central, onde trabalhava Antônio de Engraça, conheceu Aracaju, e conheceu bem sua terra, Itabaiana, e Malhador. Volta Seca declarou, ainda, que entrou para o cangaço com 12 anos, a convite do próprio Lampião, em Gisolo, no sertão da Bahia. 12 anos depois, em março de 1944, Joel Silveira, já um jornalista importante no Rio de Janeiro, viaja a Salvador, e na Penitenciária da Bahia entrevista Volta Seca e outros cangaceiros presos, como Ângelo Roque, Deus Te Guie, Caracol, Saracura, Cacheado. Joel Silveira anota o nascimento de Volta Seca em Itabaiana e diz que ele entrou no cangaço com 14 anos. Um documentário sonoro, feito na década de 1950, gravado em 1957, narrado por Paulo Roberto, locutor da Rádio Nacional, afirma que Volta Seca

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VOLANTES E CANGACEIROS - SE FICAR O BICHO PEGA, SE CORRER O BICHO COME

Por Raul Meneleu Mascarenhas

O velho fazendeiro dizia a seu hóspede, que lhe pedira para passar uma noite arranchado em seu alpendre, visto o tempo ter fechado no horizonte próximo com nuvens escurecidas de chuva.


- Tem que ter cuidado pois essa região está infestada de cangaceiros!

E o mascate que pela primeira vez aventurava-se por aquela região, concordava com o balançar de cabeça e olhos arregalados. Vestia-se como um dandy. Seu modos finos e trejeitos denunciavam-lhe como um citadino que tentava imitar, e o fazia com perfeição, os modos finos daqueles que tinham bom gosto e senso estético, mas que não necessariamente pertenciam à nobreza. 


Trazia junto com ele, muitas quinquilharias de uso doméstico, juntamente com finos tecidos no intuito de vender para aqueles que tinham dinheiro para isso. As quinquilharias não; essas eram geralmente de preço acessível para as donas de casa em geral. Toda a mercadoria armazenada em uma cafuringa pequena, tipo T modelo 1929 da Ford.


A mulher e as filhas do fazendeiro, não saiam de perto, admirando aquele homem de fino trato e de olho nas mercadorias que ele lhes mostrava. As de uso doméstico mais cobiçada pela mulher do fazendeiro, e pelas filhas os mimosos e coloridos tecidos que poderiam fazer vestidos de festa.

- Pois bem, dizia o fazendeiro, "tive até que contratar jagunços pra proteger nossa propriedade e a gente. O governo seu moço, não cuida do sertão e abandona toda essa gente dessas bandas..."

A noitinha já tinha chegado e estavam sentados à mesa para fazerem a refeição da janta quando ouviram pisadas lá fora e um barulho de confusão. O fazendeiro levantando-se, foi abrir a porta e deparou-se com soldados de polícia, segurando os dois jagunços que tinha contratado e que foram presos pelo comandante da volante que apresentava-se à frente.

- Ora, ora, então quer dizer que coiteiro agora se protege com jagunços em armas né? Disse de chofre o tenente que comandava a volante.

- Que é isso seu tenente... esses homens estão ai pra proteger a gente dos cangaceiros! Disse o fazendeiro.

O tenente olhando pra dentro da casa, viu a mulher, as filhas e aquele homem engraçado com aquelas roupas apertadas, e entrando sem pedir licença foi dizendo:

- Quem é você cabra? O que está fazendo por essas bandas? É seu aquele caminhãozinho que tá lá fora?

E o comerciante, levantou-se e todo aprumado respondeu a inquirição:

Me chamo Aderbal Ventura, sou do Recife e estou nesse sertão de Deus para trazer progresso para essa gente tão abandonada. Minhas mercadorias estão como o Senhor pode ver, naquele canto ali, apontando para a lateral da sala.

- Pois muito bem 'seu" Aderbal, vá se afastando pro lado pois a conversa aqui não lhe compete. E virando-se para o fazendeiro disse: "Soubemos que o senhor está acoitando cangaceiros e viemos aqui pra lhe dar um aviso!"

Ao ouvir isso, o fazendeiro ficou lívido de temor e disse de imediato: "Como! Estou gastando dinheiro pra manter cangaceiros fora de minhas terras e protegendo minha família como o senhor pode bem ver com esses dois homens que estão ai presos! Como pode dizer isso?"

- Esses dois cabras estavam armados ali na porteira e devem fazer parte do bando que se acoitou aqui. Diga a verdade homem!

- Esses dois foram contratados por mim para proteger a fazenda e não são cangaceiros não "seo" tenente!

O tenente olhando malevolamente para a moças e para a mulher do fazendeiro, que entraram no quarto com medo, disse a seu sargento:

- Oiticica, pega um desses cabras, esse mais moço... e leve ali pra fora e tenha uma conversinha com ele pra ver se ele abre o bico.

De dentro da casa, todos ouviam a peia cantar em cima do pobre rapaz, que gritava espavorido da surra que tomava.

- Senhor tenente... mande parar por favor! - disse Aderbal.

- Que nada senhor Aderbal, o senhor tá passando por aqui pela primeira vez e não conhece essa corja de fazendeiros coiteiros de cangaceiros! O senhor vai ver que esse safado - se referido ao dono da casa - é coiteiro sim!

O fazendeiro olhava fixamente para o oficial e disse: "Isso que o senhor está fazendo é pior que os cangaceiros fazem!"

O tenente com muita raiva, partiu pra cima do velho e disse-lhe: "Véio safado é melhor você calar a boca senão lhe meto a chibata!" - Nisso o sargento vinha entrando na casa e disse: Senhor, o homem desmaiou,o que faço? E o tenente disse: "Pega o outro" - E o outro jagunço foi levado e feito o mesmo serviço com ele. Apanhou até dizer chega, mas não disse nada que incriminasse o dono da fazenda.

O Tenente, abriu a porta e disse para o cabo que guarnecia a porta: Juventino, vá lá na cozinha e pegue a empregada e leve ali pra fora pra ela se explicar também!

O velho fazendeiro, com ira nos olhos arregalados por ver tanta perversidade, disse: "Essa é sua autoridade tenente! Bater nas pessoas de bem?"

- Cala a boca véi safado, senão lhe meto uma bala nela!

Foi quando a mulher do fazendeiro e as filhas, chorando e gritando pedindo que parassem com aquilo, saíram do quarto e a mulher do fazendeiro foi dizendo: "Eu conto tudo "seo" tenente! Não faça nada com meu marido!" - e o chororô aumentava e as moças tremiam de medo - E ouvia-se o clamor da empregada sendo surrada no pátio da fazenda. A lua iluminando com sua luz prateada, o terreiro, o curral e os bois deitados como se tudo estivesse bem. Os soldados riam daquela cena, espichados pela calçada do alpendre. A empregada não tinha levado nem três lamboradas de cipó de pau-ferro, quando gritou que iria falar.

- Eu conto... eu conto tudo... - gritava a mulher. - "eles estiveram aqui a cinco dias atrás... estão agora lá naquele lagêdo das sariemas. Ficaram aqui apenas uma noite e foram embora. Ouvi eles dizer que iam pra Sariema "seo" tenente!"

- Não disse senhor Aderbal? O senhor pode entender de comércio, mas quem entende de coiteiro sou eu. - E virando para o sargento disse: "Solta todo mundo! Vamembora gente, vamo pegar esses safados!"

Esvaziaram a dispensa, saquearam o que podiam saquear, e a soldadesca invadiu a casa e levaram também muitas bugingangas e tecidos do dandy que olhava estupefato sua mercadoria sumir na noite adentro.

Já eram umas quatro horas da manhã e o dandy arrumando o restinho de sua mercadoria na cafuringa, ouviu quando a empregada disse baixinho para a patroa "que tinha mentido para se ver livre da peia."

- Fala baixo menina, fala baixo... dizia a patroa.

A manhãzinha já vinha clareando tudo e o sol amarelado despontava. A chuva que prometera arriar no sertão tinha ido embora como se dissesse que aquela terra não merecia suas águas. O galo cantava e o mascate apressado para ir embora dali, rejeitou o convite do fazendeiro para tomar café. O fazendeiro despediu-se dele dizendo:

Tá vendo "seo" Aderbal... é cangaceiro de um lado e a volante do governo por outro!

http://meneleu.blogspot.com.br/2016/08/volantes-e-cangaceiros-se-ficar-o-bicho.html

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GENTE DAS RUAS DE POMBAL IGNÁCIO TAVARES DE ARAÚJO

Por Jerdivan Nóbrega de Araújo

Ignácio Tavares de Araújo nasceu no dia 20 de maio de 1937. Filho do comerciante José Tavares de Araújo (seu Zeca) e de Benigna Lourdes de Sousa (dona Lourdes). É casado com Mocinha, os quis são pais de: Allon, Ignácio Júnior, Tibério e Ana Paloma. 


Com a morte do pai no ano de 1948, deixando-o com apenas 11 anos de idade, Ignácio foi obrigado, pelas circunstancias do destino, a trabalhar na agricultura, numa divisão de tarefa feita por sua mãe viúva, que agora tinha a árdua obrigação de prover o sustento dos sete filhos: Francisco, Filemon, Emerique, Severina, Lia, Félix e o próprio Ignácio.

Dona Lourdes fez a distribuição das labutas de sobrevivência familiar da seguinte forma: os dois irmãos mais velhos, Francisco e Filemon, aprenderam o “ofício” de alfaiate, e foram trabalhar na alfaiataria do tio Lelé, a labuta da casa ficou sob os cuidados da irmã Emerique e da própria e Dona Lourdes. Outra irmã, Severina, foi morar em Cajazeiras, na casa do tio Acrizio. Maria de Lourdes, Lia, foi pra João Pessoa, com a finalidade de fazer o curso de técnica em enfermagem e logo ao retornar foi nomeada para prestar serviços junto ao Posto de Puericultura, da rede, Legião Brasileira de Assistência, restando para os mais novos Felix e Ignácio, que além de irmão era “cúmplice “ nas suas brincadeiras de criança, e pesada tarefa de extrair da terra, através do trabalho, o sustento básico da família. 


Mas, quem tem um sonho não se dá por vencido, e Ignácio trazia em si o sonho de mudar a história sua vida. Ele sabia que só era possível essa reviravolta através dos estudos, e um dos seus sonhos era voou alto para a época e as condições da família: um dia estudar no Estado da Califórnia, Estados Unidos da América. Certa vez ao revelar esse sonho ao irmão Félix recebeu dele a seguinte advertência: “cuidado com sonhos alto demais”.

A vontade de se libertar através dos estudos tonou Ignacio, nas palavras dele: “em um comedor de livro”. Era a sua ânsia de satisfazer a busca de novos conhecimentos e também recompensar o esforço dos irmãos e irmãs que o liberaram das tarefas árduas na agricultura para que ele se dedicasse a realização dos seus sonhos.


E a recompensa do seu esforço e da dedicação da família veio em 1958, quando Ignácio concluiu curso ginasial no Ginásio Diocesano de Pombal, e migra para João Pessoa onde se gradua em Economia, com especialização em Planejamento e Pesquisa Socioeconômica, e vem a ser Professor da disciplina "Micro Economia" do Departamento de Economia da UFPB, assumido cargos importantes no do governo de Tarciso de Miranda Burity, de quem, era amigo particular.

O filho de dona Lourdes pôde dizer que todo o esforço da sua mãe e dos irmãos havia sido recompensado: numa cidade onde os filhos dos homens de grandes poderes aquisitivos não passavam do ginasial ele era economista formado e professor da Universidade Federal da Paraíba.

Restava para Ignácio realizar o sonho de Criança, que era “um dia estudar Califórnia, nos Estados Unidos da América”, conforme revelação feita ao irmão Félix. Para sua surpresa em 1973, Ignácio recebe o convite para fazer doutorado na Universidade de Tukson, no Arizona, justo nos Estados Unidos da América. Ao passar esta informação para o seu irmão, aflorou na lembrança de Félix a conversa deles quando criança, e do conselho de “não sonhar alto de mais”, e Félix ainda brincou: “você errou só o lugar, não foi?”.

Infelizmente o convite chegou um pouco tarde e Ignácio teve que recusar, pois, ao concluir o mestrado em economia já estava casado e tinha que trabalhar para poder organizar a vida, bem como a prover a nova família que estava por vir.

Ignácio Tavares também é um grande cronista das ruas de Pombal. Preocupa-se com a situação administrativa e econômica da cidade, mas, também com a preservação e o resgate da sua história. Com uma memória privilegiada ele tem relatado em primorosos textos ás histórias das ruas da nossa cidade fazendo chorar quem viveu aquela época. Seus escritos são primorosos, trazendo á “vida” pessoas, lugares, paisagens e histórias das ruas da Pombal antiga, principalmente das décadas de 1940, 1950 e 1960.

Ignácio e personagem das ruas de Pombal, que é visto na procissão de Nossa Senhora do Rosário, contemplando as décadas de tradição e fé de uma povo que o viu vencer na vida, em um momento da cidade de Pombal que as dificuldades eram ultrapassadas com persistência e determinação.

Grande conhecedor da saga da família judia e “cristãos novos”, os “Benignos Cardosos”, as pesquisas de Ignácio Tavares nessa vertente, têm ofertado as novas gerações da descendência dos Benignos Cardosos, o conhecimento detalhado dos seus antepassados, que aportaram pelas terras pombalenses no inicio do século XIX, deixando marcas indeléveis nas ruas de Pombal.

Os textos de Ignácio Tavares podem ser encontrados em blogs como o de Clemildo Brunet e Bebabá do sertão (http://www.obeabadosertao.com.br/v3/ignacio-tavares/).
Ignácio Tavares, em parceria comigo, publicou o livro de crônicas - EM ALGUM LUGAR CHAMADO POMBAL, Imrell, 2011.

Jerdivan Nóbrega de Araújo. Advogado. Escritor. Poeta. Funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Membro do Grupo Benigno Ignácio Cardoso D Arão. Paraibano de Pombal.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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CANGACEIROS: PERVERSIDADES E VIOLÊNCIAS

Por Raul Meneleu Mascarenhas

Comecei a ler e marcou-me a narrativa do autor, que conta-nos um acontecido que se deu nas entranhas da caatinga dos cardeiros espinhentos, do sertão das almas que pedem chuva e quando essa não vem, choram. Choro esse para molhar o chão ressequido que recebe aquela secreção de cor do sofrimento suspirado e salgado e salgado fica cada vem mais, o chão. 


Certo dia, conta-nos José Lins do Rego, apareceu na cidadezinha que estava perdida na caatinga do sertão pernambucano um homem com uma viola nas costas, um saco nas mãos e atravessado em seu peito uma rede de dormir servindo de colete. Era um cantador desses que o sertão já vira por diversas vezes perambulando pelas feiras populares.


O cantador chamava-se Deocleciano e em cada cidadezinha que passava, as pessoas conheciam sua força expressiva pois contava estórias que faziam aquela gente chorar, rir e admirar sua desenvoltura e que deixavam marcadas nas mentes como um ferro de marcar gado aqueles que o escutavam. "Fora amigo de cangaceiros. Não dizia nada para não ser tomado como espia. Deus o livrasse de cair na mão de uma volante, de tenente de polícia. Conhecia cangaceiro de verdade. Nem era bom falar."

Antônio Bento, que ajudava na igreja, como coroinha, se tornara seu amigo por admirar a vida de liberdade daquele menestrel vagabundo e ouvia atento suas narrativas. Só dizia tais para Bentinho (como todos o chamavam) para que ele pudesse avaliar sua força mostrada aos cangaceiros, cabras que gostavam de ouvir viola nas noites de lua, nos ermos da caatinga. Cantava para eles com paixão. 


"Lá para as bandas de Princesa estava aparecendo agora um Ferreira, que era um bicho danado. Diziam que ele estava vingando a morte do pai. E que não respeitava nem os coronéis do cangaço! - Menino, não queira ver cangaceiro com raiva. Dê por visto um demônio armado de rifle e punhal. Eu estava uma vez numa fazenda perto de Sousa. Chegara lá depois de dez léguas tiradas a pé. O homem me deu pousada. Dormi no copiar da casa, na minha rede.

No outro dia, mais ou menos por volta das duas da tarde, nós estávamos na mesa, na janta, quando vimos os cangaceiros na porta. A família correu para as camarinhas e eu e o velho ficamos mais mortos do que vivos, estatelados. Era Luís Padre com o bando dele. "Velho safado!", foi ele gritando logo, "se prepare para morrer." O homem se levantou e foi duro como o diabo: "Estou pronto bandido, faça o que quiser". 

Luís Padre perguntou pelas moças. Queria comer. O pessoal estava fome. E foi andando para o interior da casa. O velho pulou em cima dele como uma cobra. Nisto os cabras se pegaram ele. "Amarre esta égua", gritou Luís Padre. As moças e a velha correram para a sala de janta, fazendo um berreiro como se fosse para defunto. "Meninas", disse o chefe do bando, "nós queremos é de comer. Deixa a velha na cozinha. Nós queremos é conversar com vocês." 

Nisso a velha caiu nos pés de Luis Padre: "Capitão, respeite as meninas! Não ofenda as minhas filhas, capitão!" - "Ninguém vai ofender as meninas, velha cagona!" E foi uma desgraça que eu nem tenho coragem de contar. Os cabras estragaram as moças. Ouvi o choro das pobres, os cabras gemendo no gozo, o velho urrando como um boi ferrado. Foi o dia mais desgraçado de minha vida.

No começo eles quiseram me dar. Contei que não era dali. O homem me dera uma pousada. Eu era um cantador. Então botaram as moças quase nuas no meio da casa. Tinham que dançar. Nunca na minha vida vi cara de gente como a cara das moças. Estavam de pernas abertas até grudadas nos cabras. Toquei viola e cantei até de madrugada. Fiquei rouco, com fala de tísico. Depois eles deram uns tiros no velho e meteram o pau na na mulher. Tive que sair com o grupo até longe. Me disseram horrores. Se a polícia chegasse no Espojeiro, tinha sido coisa minha. Quando me vi solto na caatinga, estava como um defunto, nem podia dar dois passos. Era de noite. O céu do sertão era um lençol de algodão com a lua. Não tive mais coragem de andar. Estendi minha rede debaixo de um pé de umbú e dormi. Dormi tanto que acordei com sol na cara. A minha goela queimava como se eu, tivesse comido um punhado de pimenta. O meu corpo estava podre. E nem quis mais pensar na noite da desgraça. Menino, dois meses depois, ainda tinha na cabeça o velho esticado no chão, as meninas dançando, a velha chorando. Tive até medo de ficar doido. Foi ai que pus a história no verso. E na feira de Campina Grande, quando cantei a coisa pela primeira vez, vi gente chorando e mulher se benzendo. O dono do hotel mandou botar no jornal da Paraíba a cantiga que eu tinha feito. Um sujeito do Ceará mandou um recado. Queria que eu dissesse as coisas para ele passar no papel. O velho Batista da Paraíba fez umas loazinhas parecidas, igualzinhas aos versos que ele tirava para Antônio Silvino, e botou para vender nas feiras."

Essa narrativa, de José Lins do Rego, grande escritor da moderna literatura brasileira, é ficção das boas. Mas quem duvida que essas coisas aconteceram de verdade? Devem ter ocorrido diversas vezes, pois raça mais miserável e perversa que a de cangaceiros não existiu no sertão nordestino. 

http://meneleu.blogspot.com.br/2016/08/cangaceiros-perversidades-e-violencias.html

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