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sexta-feira, 22 de julho de 2016

MOSSORÓ E SEUS PERSONAGENS NA ÉPOCA DO ATAQUE FRUSTRADO DE LAMPIÃO EM 1927


MOSSORÓ E SEUS PERSONAGENS NA ÉPOCA DO ATAQUE FRUSTRADO DE LAMPIÃO EM 1927

Júlio Fernandes Maia, comerciante, organizou a trincheira da sua forma e lutou em defesa da cidade, apoiando o prefeito.

Fonte: Livro "A Marcha de Lampião"
Pedro Ralph Silva Melo (Administrador)


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JULHO – É MÊS DO ANIVERSÁRIO DA CIDADE DE POMBAL

Por Verneck Abrantes de Sousa

Em frente à Igreja do Rosário, um detalhe do Cruzeiro velho, construído para se comemorar a passagem do século dezoito para o século dezenove. Em 1993, o velho Cruzeiro se encontrava em precário estado de conservação, assim, foi retirado pelo marceneiro João Pereira Filho-Natal, que construiu outro em madeira de Jatobá e esplendor de Cedro, nas mesmas dimensões e desenho do original, quando no mês de setembro foi recolocado esse novo Cruzeiro sobre o pedestal do antigo.

Verneck Abrantes de Sousa. Agrônomo. Escritor. Natural de Pombal/PB


Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

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PARQUE DE LUIZ GONZAGA CONTINUA RECEBENDO INSCRIÇÕES PARA O IX FESMUZA; PARTICIPE!


REGULAMENTO
Homenageado do ano: Poeta e Repentista Oliveira de Panelas.
Art. 1º – O IX FESMUZA acontecerá nos dias 19 e 20 de Agosto de 2016.
Art. 2º – A apresentação será no dia 20 de agosto, às 20:00 horas, no Palco “Abel Medeiros”.
Art. 3º – O período de inscrições será de 11 de abril a 31 de julho de 2016.
Art. 4º – Cada participante poderá inscrever duas músicas, que serão exclusivamente do cancioneiro de Luiz Gonzaga.
Art. 5º – Haverá apenas uma categoria entre os participantes.
Art. 6º – As inscrições poderão ser feitas através dos e-mails:chicocardoso.caldeirao@gmail.com / chicocardosocz@yahoo.com.br dos telefones: (83) 99615-7942 / (83) 99379-1893 e pelo seguinte endereço: Rua Dr. José Guimarães Braga, nº 70, Vila do Bispo – CEP: 58900-000 – Cajazeiras (PB).

PREMIAÇÃO
Campeão
R$ 3.000,00
Vice-campeão
R$ 2.000,00
3º colocado
R$ 1.000,00
4º colocado
R$ 400,00
5º colocado
R$ 300,00
6º colocado
R$ 200,00
7º colocado
R$ 100,00

Fazenda São Francisco, julho de 2016.
Francisco Alves Cardoso
Presidente do Parque Cultural “O Rei do Baião”
Francisco Álisson de Oliveira
Produtor Cultural

http://www.caldeiraodochico.com.br/parque-de-luiz-gonzaga-continua-recebendo-inscricoes-para-o-ix-fesmuza-participe/

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UM CEMITÉRIO ESCRAVO NO ALTO DA SERRA

*Rangel Alves da Costa

Ainda não o conheço, mas ouço muitos relatos acerca de sua existência. Trata-se de um cemitério dos negros encravado no alto da Serra da Conceição, esta fazendo parte do complexo montanhoso denominado Serra da Guia, onde se assenta o ponto culminante do estado de Sergipe, no município sertanejo de Poço Redondo, próximo à divisa com Pedro Alexandre, antiga Serra Negra, no estado da Bahia.

A Guia é uma das mais antigas povoações das terras poço-redondenses, surgida em moldes diferentes dos demais desbravamentos vindos das beiradas do São Francisco, vez que nascida com escravos fugidios de outras paragens nordestinas e ali fixando moradia em quilombos. Então, entre serras ou no alto dos montes, os negros foram gestando um novo viver, em meio às durezas da terra, perseguições e misérias, até se enraizarem como comunidade forte e abnegada, além de possuidora de imensa riqueza histórica e cultural.

Enquanto comunidade quilombola, o seu reconhecimento só foi conseguido a duras penas. Durante todo um percurso de vida, o povo negro da Guia foi reconhecido apenas pela sua herança escrava, pela cor e principalmente por uma moradora famosa: Zefa da Guia, parteira renomada, mulher das quatro artes na reza, no curandeirismo e no benzimento. Somente a partir de 2009, a Fundação Cultural Palmares reconheceu oficialmente o seu status de comunidade quilombola.

Mesmo reconhecida, a comunidade da Serra da Guia continua vivendo na simplicidade, e até na pobreza, como nas gerações passadas. Grande parte reside em casas de cipó e barro, com fogões de lenha e demais utensílios rústicos tão costumeiros nos tempos idos. Outra parte, mais economicamente favorecida, possui casa de alvenaria e algum conforto. Cultivam a terra, quando a chuva deixa, e quando não se reinventam pela necessidade de sobrevivência. E uma sobrevivência dificultada até mesmo pela distância e isolamento da região.

A religiosidade é fator de grande relevância na comunidade da Guia. Ali explícito o sincretismo religioso: o catolicismo é abraçado pela mesma mão que preserva outros cultos. A crença na divindade cristã não impede que os cultos de origem africana continuem sendo praticados, que as crenças sejam diversificadas e as superstições continuem com relevância. O curandeirismo, por exemplo, é usualmente praticado, ainda que a curandeira seja aquela mesma que organiza as festas religiosas. São tradicionais os novenários da Santa Cruz nos nove dias que antecedem o três de maio, dia santo da Santa Cruz.


Mas segundo informações de Manoel Belarmino, um poço-redondense profundo conhecedor da história sertaneja, a comunidade da Serra da Guia não era onde hoje está, no pé da serra, mas na região onde está o cemitério, no alto da serra.  Neste cume ainda são encontrados sinais da antiga povoação, tais como escombros de antigas casas de farinhas, de casas de ferreiros, pés de cajueiro e mangueiras espalhados juntos à vegetação nativa, além dos escombros das primeiras moradias. E não é difícil encontrar gamelas, restos de potes, pedaços de bancos de madeira e outras quinquilharias espalhados pelo mato. Tudo lá no cimo, afastado das paisagens abertas mais abaixo.

Ainda segundo Belarmino, o cemitério da Guia fica no ponto mais alto da Serra da Conceição, exatamente onde se concentra a vegetação com mais forte característica de mata atlântica, pois ali as orquídeas, as bromélias, as plantas de folhagens largas e as árvores altas e pujantes. É neste entremeado que estão as sepulturas dos ancestrais quilombolas, onde jazem aqueles primeiros que chegaram fugindo do açoite, do tronco, do contínuo sofrimento. Tudo como um santuário negro, de extrema simbologia devocional, cujo acesso dificultoso imprime a feição de paraíso aos escolhidos.

Quando a comunidade desceu a serra e se estabeleceu nos arredores abaixo, aquele cemitério lá permaneceu exatamente como um marco da ancestralidade. As sepulturas, contudo, não poderiam nem deveriam ser abandonadas ou esquecidas e, por isso mesmo, alguns enterros de descendentes continuaram sendo feitos no cume da serra, ainda que fossem muitos os sacrifícios para escalar ladeiras e caminhos íngremes, levando o defunto e todo o peso da dor dos parentes. Por que atualmente se utiliza o cemitério de baixo, é preciso que a pessoa, com linhagem ancestral e ainda em vida, deixe claro o desejo de que sua sepultura seja aberta naquela terra sagrada pela negra raiz.

Contudo, o cemitério no alto encravado, vai muito além de ser apenas uma última moradia ancestral. Na fuga, os escravos se abrigaram no alto da serra para dificultar a localização e permitir uma eficiente defesa. Ali se tornou um local seguro para se viver. E também o mais garantido para a perpetuação da alma após a morte. As sepulturas ali existentes são como pilares de fundação da nova vida de um povo, reverenciadas em rituais e tidas como no primeiro degrau de um céu dos negros. No alto da serra, próximo das nuvens, os espíritos ancestrais estão mais próximos de seus deuses negros e da divindade maior.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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GÉRSON PIONÓRIO: VIVE EM PAULO AFONSO O ÚLTIMO MATADOR DE CANGACEIROS.

Por João de Sousa Lima

 O ÚLTIMO MATADOR DE CANGACEIROS

No dia 28 de julho completará 75 anos da morte de Lampião, as pessoas envolvidas diretamente na história do cangaço e que ainda se encontram vivas estão beirando os 100 anos de idade. É muito difícil encontrar remanescentes daquela época em se tratando de cangaceiros ou os que lutaram em nome da ordem pública como soldados efetivos ou contratados. Encontramos só três cangaceiros vivos e soldados da volante em torno de doze. Coiteiros e pessoas que conheceram alguns cangaceiros ainda existem uma grande quantidade.

Gérson Pionório, um dos últimos matadores de cangaceiros.
  
Em Paulo Afonso vive Gérson Pionório Freire, filho de João Miguel Freire e Isabel Pionório Freire. O pai de Gérson nasceu nas barrancas do Riacho do Navio e sua mãe em Chorrochó, Bahia. Gérson nasceu no dia 20 de janeiro de 1916, em Curaçá, Bahia. Ele é um dos poucos militares que matou cangaceiros.

A identidade do cidadão Gérson

O Primeiro contato de Gérson com os cangaceiros foi quando Lampião passou com seu grupo na fazenda Guarani, em Curaçá. A fazenda pertencia ao pai de Gérson, o senhor João Miguel. No momento estavam o pai, a mãe, Gérson, Abdias, Ulisses e Elza. Os cangaceiros solicitaram dinheiro, ouro, sal e animais. O ouro estava em um cupinzeiro que existia em uma das paredes e os cangaceiros não encontraram. Pegaram cinco contos de réis que estavam no bolso de João Miguel, um cavalo, um burro e sete jegues.

Lampião olhou pra Gérson e disse:

- Menino venha cá, pise aqui esse sal!

Gérson pisou o sal e entregou a Lampião. O cangaceiro começou a colocar o sal com uma colherinha de chá em um pequeno cumbuco de coco que o orifício de entrada era apertado e o sal caia fora do recipiente em sua maior parte. Gérson pegou um livro, arrancou uma página, fez um funil e colocou o sal no cumbuco. Lampião observando a inteligência do rapaz falou:

- É morrendo e aprendendo!

Desde esse episódio do primeiro encontro de Lampião, alguns anos se passaram e Gérson resolveu ser policial, sendo apadrinhado do capitão Menezes. No dia 04 de maio de 1936, na cidade de Jeremoabo, Gérson e seus irmãos Abdias e Ulisses entraram na volante de Antônio Inácio como contratado. Gérson passou a ser efetivo da polícia no dia 10 de outubro de 1940.

A identidade de Gérson como cabo da polícia baiana.

Gérson  destacou como soldado nas cidades de Jeremoabo, Canindé, Canudos (foi delegado), Pilão Arcado, Sento Sé, Remanso, Sobradinho, Casa Nova, Senhor do Bonfim, Juazeiro, Napele, Tucano, Calda de Cipó, Urucé, Itabuna, Canavieiras, Camacã, Jacareci (foi delegado), Euclides da Cunha (foi comandante), e Cocorobó (foi delegado). Ele passou pelas volantes de Pedro Aprígio, Aníbal Vicente, Zé Rufino e Odilon Flor.


Quando serviu com Odilon Flor, participou do combate onde foram mortos os cangaceiros Pé-de-Peba, Chofreu e Mariquinha. O combate aconteceu no Riacho do Negro, em Sergipe.

A volante de Odilon Flor seguiu os rastros dos cangaceiros e próximo a cidade de Coité (hoje Paripiranga) chegaram na casa de um coiteiro. Os policiais cercaram a casa, no curral tinha uma janela e avistaram umas perneiras, roupas e garrafas de bebidas. Os policiais entraram na residência e perguntaram a mulher sobre os cangaceiros. O marido da mulher foi chegando e os soldados deram voz de prisão. Odilon Flor ordenou:

- Gérson vá mais Luiz pra trás da roça e mate esse coiteiro!
    
O coiteiro pra não morrer prometeu entregar os cangaceiros. A volante seguiu com o coiteiro nos rastros dos cangaceiros indo encontrá-los às onze horas da noite. O combate noturno travado entre 15 policiais e 08 cangaceiros foi ferrenho. Odilon Flor foi baleado nas nádegas, os cangaceiros tiveram uma baixa de 03 componentes do grupo. Os policiais cortaram as cabeças e ainda à noite as colocaram em um carro de boi e levaram até Paripiranga. Na cidade, a população pôde ver as cabeças de Pé-de-Peba, Chofreu e Mariquinha. Gérson passou a receber o soldo de sargento depois da morte dos cangaceiros.

Soldado da volante

Quando Zé Rufino matou Corisco e baleou Dadá, Gérson e seu irmão Abdias Pionório foram buscar Dadá em Paripiranga e a trouxeram pra Jeremoabo. Dormiram no Sítio do Quinto, revezando os dois irmãos a guarda da cangaceira baleada.

As orações que Gérson guarda com carinho desde sua entrada na polícia para perseguir os cangaceiros.

A convivência de Gérson e Zé Rufino foi marcada por discussões. Zé Rufino descontava do soldo dos soldados pra pagar o que eles consumiam dos sertanejos e Zé Rufino ficava com o dinheiro.

Fragmentos de uma oração

O volante participou também da prisão do matador Peixoto, assassino que aterrorizou várias cidades baianas. O bandido Peixoto matou um rapaz em Santo Antônio da Glória e foi preso depois de uma longa perseguição. Peixoto fugiu da cadeia de Glória e foi se esconder em Sergipe, na cidade de Simão Dias, sob a proteção do fazendeiro Dorinha.

Detalhes das orações dentro de um plástico

Gérson, João Ribeiro, Gervásio Grande e mais alguns soldados foram a Simão Dias e prenderam Peixoto e o levaram para Paripiranga. De lá foram levar o preso pra Salvador. No trajeto, quando passavam em Boquim, um juiz de Direito se aproximou dos policiais e do detento e pediu aos soldados que soltassem o preso que ele era um coitadinho. João Ribeiro pegou um mamão e jogou no juiz. O mamão espatifou-se nos peitos do juiz sujando sua roupa de linho branco. O preso foi entregue em Salvador.

O crucifixo que por tantas vezes o protegeu nos tiroteios.


Gérson trabalhou um bom período para a família do político Nilo Coelho, vive há muito tempo em Paulo Afonso e é sargento reformado da polícia baiana. Lúcido, conta suas histórias e fala com saudades do tempo em que andava nas caatingas em perseguição aos cangaceiros. Guarda junto aos documentos algumas orações e um crucifixo que ele tem desde que entrou na polícia e acredita que só não morreu nos tiroteios por força dessas orações.

João de Sousa Lima
Historiador e Escritor, Membro da ALPA - Academia de Letras de Paulo Afonso. Sócio do GECC - Grupo de estudos do cangaço do Ceará

Paulo Afonso, Bahia, 07 de março de 2013.

http://joaodesousalima.blogspot.com.br/2013/03/gerson-pionorio-vive-em-paulo-afonso-o.html?spref=fb

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POMBAL: 154 ANOS COMO CIDADE

Por Verneck Abrantes de Sousa

Em 21 de julho de 1862 a Vila de Pombal foi elevada à categoria de cidade, por sugestão do Dr. Augusto Carlos de Almeida e Albuquerque, a redação e leitura final na Assembleia Legislativa foi apresentada por Dr. Manuel Tertuliano Thomas Henriques. 


O projeto de lei foi sancionado pelo Presidente da Paraíba, Francisco de Araújo Lima. Na época, as edificações residências não passavam de cem casas, formando três ruas: a do Comercio (hoje Cel. João Leite), a Rua do Rio (hoje Cel. José Fernandes) e a de São Benedito, situada ao sul, dando formação ao antigo largo do Bom Sucesso. Pombal tinha, ainda: a Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, depois denominada Nossa Senhora do Rosário, Casa do Mercado, um Cemitério, a Casa da Câmara e a Cadeia; há 154 anos.

Verneck Abrantes de Sousa. Agrônomo. Escritor. Natural de Pombal/PB.

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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O AUTOR DE "LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS" JOSÉ BEZERRA LIMA IRMÃO SERÁ ENTREVISTADO HOJE ÀS 7:00 HORAS DA NOITE

José Bezerra Lima Irmão

Amigos, serei entrevistado logo mais, nesta sexta-feira, 22 de julho, às 7 horas da noite, no programa "Expressão" da TV Aperipê, do jornalista Pascoal Maynard. Na entrevista, para variar, falo do meu "Lampião - a Raposa das Caatingas". 

A entrevista será reprisada amanhã, sábado (23), ao meio-dia e meio, e na segunda-feira, às 9 da manhã. É uma entrevista extensa. 

Esqueci de dizer na entrevista que na segunda-feira, a partir das 3 da tarde, haverá uma Roda de Leitura na Academia Sergipana de Letras, tendo como tema o meu livro. 

Essa "Raposa" está passando dos limites. Desse jeito não vai ficar galinheiro nessas caatingas. Quá-quá-quá-quá-quá...

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CORONEL DELMIRO GOUVEIA (GERALDO SARNO, 1979)

https://www.youtube.com/watch?v=ZMsyOSwK3zc

Publicado em 1 de abril de 2014

Em fins do século passado, Delmiro Gouveia rico comerciante e exportador do Recife, capital do Estado de Pernambuco, Brasil, sofre perseguições políticas. Seu estilo arrojado e aventureiro lança contra ele muitos inimigos, inclusive o Governador do Estado que manda incendiar o grande mercado Derby, recém - construído por Delmiro Gouveia. Falido e perseguido pela polícia do Governador, Delmiro refugia-se no sertão, sob a proteção do Coronel Ulisses, levando consigo uma enteada do Governador. No sertão, ele recomeça sua atividade de exportador de couros e monta uma fábrica de linhas de costura, aproveitando a energia elétrica de uma usina que constrói na cachoeira de Paulo Afonso e o algodão herbáceo nativo da região. A Grande Guerra de 1914, impedindo a chegada dos produtos ingleses à América do Sul, garante a Delmiro a conquista desse mercado, sobretudo brasileiro. Os ingleses da Machine Cottons, ex-senhores absolutos do mercado, enviam emissários para negociar a situação assim criada. Delmiro nega-se a vender ou associar-se. É assassinado em 10 de outubro de 1917. Alguns anos mais tarde, 1929, a fábrica é adquirida pelos ingleses, destruída e lançada nas águas da Cahoeira Paulo Afonso. (Press-release)


Prêmios Melhor Roteiro e Melhor Trilha Sonora no Festival de Brasília, 11, 1978, Brasília - DF.. Grande Prêmio Coral no Festival de Havana, 1979 - CU.. Prêmio São Saruê - Federação de Cineclubes do Estado do Rio de Janeiro, 1979. Melhor Diretor - Troféu Golfinho de Ouro, 1979 - Governo do Estado do Rio de Janeiro.

Elenco:

Falco, Rubens de (Coronel Delmiro Gouveia)
Parente, Nildo (Lionello Lona)
Soares, Jofre (Coronel Ulisses Luna)
Berdichevsky, Sura (Eulina)
Dumont, José (Zé Pó)
Graça, Magalhães (Gal. Dantas Barreto)
Sena, Conceição (Mulher de Zé Pó)
Freire, Álvaro (Tenente Isidoro)
Déda, Harildo (Coronel Zé Rodrigues)
Adélia, Maria (Dona Augusta)
Bourke, Denis (Mister Hallam)
Alves, Maria (Jove)
Almeida, Henrique (Oswaldo)
Gama, João (Chefe da estação)
Wilson, Carlos
Ribeiro, Sue
Guerra, Hélio (Sertanejo)

Ficha completa da Cinemateca Brasileira: 


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DR. ATÊNCIO BEZERRA WANDERLEY

Por Verneck Abrantes de Sousa

Dr. Atêncio Bezerra Wanderley, medico, prefeito municipal de Pombal no período de 1969 a1972, e ex-deputado Estadual, era excessivamente zeloso no gerenciamento dos recursos do tesouro municipal, fez uma administração honestíssima! Gostava imensamente de Pombal, no entanto, politicamente o povo pouco correspondeu para a importância administrativa do seu trabalho e a grande honestidade com que administrava o dinheiro público. Era casado com Cacilda Medeiros Wanderley, pais de: Marcos Vinícius Medeiros Wanderley, Berta Letícia, Alba Rejane e Ana Valéria.

Dr. Atêncio Bezerra Wanderley

Nasceu no dia 10 de janeiro de 1913 e faleceu em 1992.

Culto, porém discreto, Dr. Atêncio construiu o Centro Administrativo de Educação, no qual instalou a maior biblioteca pública de Pombal. Deixou construída a parte térrea da atual Prefeitura; fez um novo Matadouro Público; reorganizou as finanças e pagou todas as dívidas públicas do Município, uma meta que parecia impossível de ser realizada. Construiu escolas na sede e na zona rural; fez serviços de esgotos; calçamentos de ruas; melhoramentos nas estradas para diversas localidades e a construção de uma repetidora de TV, a primeira do sertão paraibano, o que acabou levando o país para dentro da cidade. Em sua administração ocorreu à inauguração da BR 230, pelo então Governador do Estado, João Agripino. A estrada asfaltada ligando o Município à Capital e outras cidades mais avançadas desenvolveu o comercio local, o setor agropecuário e a indústria, o que muito facilitou comércio externo, a segurança, a educação e outros interesses afins da população pombalense. No ano de 1971, foi criado a A.E.U.P. – Associação dos Estudantes Universitários de Pombal, por um grupo de jovens que realizou em janeiro de 1971, a 1ª. Semana Universitária de Pombal. A sede social da A.E.U.P. foi estabelecida na parte superior do Bar Centenário, cedida por Dr. Atêncio, na época Prefeito Municipal, o qual foi uma referência, entre as maiores, de cultura, educação e honestidade do nosso município.


Verneck Abrantes de Sousa. Agrônomo, Escritor. Natural de Pombal/PB

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

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GUERRA DE CANUDOS – A BATALHA DO FIM DO MUNDO!

Comentário do pesquisador do cangaço Luiz Serra

Comentário sobre um capítulo do livro O Sertão Anárquico de Lampião.

Em Canudos, o Beato Conselheiro arrastou para lá quase 40 mil indigentes pelo sertão agrestino, vinham caminhando em transe de rezas e ladainhas!

Assim nasceu a Vila do Belo Monte.

Aquém do morro da Favela, instalaram-se em miríades de pequenos casebres de taipa. A Igreja foi erigida junto à casa sagrada de Antônio Vicente Mendes Maciel, o líder carismático e 'assombroso', Antônio Conselheiro.

Para assuntos de guerra, foi criada uma força de guerrilha de jagunços, liderada pelo temível Pajeú, que era pernambucano, como tal seria Virgulino Lampião.

Advieram os conflitos e duas campanhas de tropas policiais tentaram abafar a ira dos fanáticos, como diziam destes.

As primeiras dezenas de mortos de policiais e milicianos do governo da Bahia e do Exército se confirmavam!

O Governo então fez enviar um forte contingente de forças federais, que saiu da Bahia, inclusive levando um canhão alemão Krupp, que ia sendo arrastado por uma parelha de bois. No comando, um herói da Guerra do Paraguai, o coronel Moreira César, apelidado de “o corta-cabeças!”

O sertão agreste, dia a dia, ia solapando os ânimos dos soldados!

Até que se deu o recontro: os guerrilheiros de Pajeú, invisíveis nas matas e atrás de pedras, munidos de bacamartes boca-de-sino, municiado com chifre de novilho, acertavam os soldados que, atingidos, alguns morriam em agonia sobre os cavalos !

Um dos que acabou tombando foi o coronel Moreira César, que, mesmo usando um colete de aço, acabou milimetricamente varado pelo disparo em local sem proteção! Afirmou-se que o próprio Pajeú foi quem acertou o mítico comandante das tropas !

O responsável por substituir Moreira César no comando da tropa foi o coronel Tamarindo, mas a tropa desarvorada, pelos seguidos e rápidos ataques dos jagunços de Pajeú, inicia uma desabalada carreira, sertão afora! Debandada geral!

Foi daí que o coronel Tamarindo soltou a famosa frase naquele ardor crítico da batalha: “ É tempo de murici, cada um cuida de si!”.

Também o coronel Tamarindo seria morto e degolado pelos sequazes do Conselheiro!

Essa batalha dos sertões, entre o Brasil real e o Brasil virtual, no dizer de Ariano Suassuna, parecia não acabar!

Meses após, naquele fatídico ano de 1897, uma gigantesca tropa foi enviada pelo governo federal, do Rio de Janeiro, comandada pelo ministro da Guerra, marechal Bitencourt, que promoveria o cerco para além do rio Vaza-Barris, e aconteceria o massacre denunciado por Euclides da Cunha n’Os Sertões!

 Consequência da guerra do fim do mundo: o mais sangrento conflito armado de nossa História, com maior número de baixas: 25 mil mortos, entre 5 mil militares, enviados pela República, e 20 mil jagunços sertanejos!

https://www.facebook.com/luiz.serra.14?fref=nf

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DELMIRO GOUVEIA: A TRAJETÓRIA DE UM INDUSTRIAL NO INÍCIO DO SÉCULO XX

Por Telma de Barros Correia - (Profa. Dra, SAP-EESC-USP)

A Ascensão no Mundo dos Negócios

O comerciante e industrial Delmiro Gouveia foi um personagem ímpar no cenário brasileiro em fins do século XIX e início do XX. Protagonizou uma conturbada trajetória no mundo dos negócios e da política em Pernambuco e Alagoas, realizando empreendimentos inovadores, colecionando inimigos poderosos e construindo uma reputação individual insólita, onde atributos como destemor, ousadia e autoritarismo articulam-se delineando o perfil deste singular homem de negócios.
              
No início do século XX, Delmiro já era uma lenda viva entre os recifenses. O empresário jovem, elegante e charmoso que despontava no mundo dos negócios - recém enriquecido no florescente comércio de couros - causava furor tanto pelo sucesso do moderno centro de comércio e lazer que criara - o Derby -, quanto pela corajosa oposição que fazia ao poderoso grupo político situacionista liderado por Rosa e Silva. Sua tumultuada vida amorosa - alvo de mexericos, escândalos e denúncias na imprensa - não deixava de contribuir para mantê-lo em constante evidência. A retirada para o Sertão de Alagoas longe de ter implicado numa redução do interesse em torno de Delmiro, só veio a reforçar os mitos que já vinham se construindo em torno dele. A construção da usina elétrica no rio São Francisco, da fábrica de linhas de costura - a primeira do Brasil - e do núcleo fabril da Pedra, colocaram-se para seus admiradores como novos indícios dos dotes exemplares que reunia como empresário. Sua morte violenta, assassinado em 1917, aumentaria o interesse pelo personagem, que desde então tem sido tema de numerosos estudos, obras de ficção e homenagens.
              
Delmiro nasceu em 1863, em Ipú, no Ceará. Em 1868, após a morte de seu pai, transferiu-se com a família para Goiana, em Pernambuco, e em 1872, para o Recife, onde começou a trabalhar em 1878, após a morte de sua mãe. Nesse ano, empregou-se como cobrador na Brazilian Street Railways Company, onde exerceu, em seguida, a função de Chefe da Estação de Caxangá, no Recife. Em 1881, era despachante em armazém de algodão. Dois anos depois, exercia a função de intermediário entre comerciantes do interior e firmas exportadoras de peles e algodão - Herman Lundgren e Rossbach Brothers. De empregado da filial no Recife do curtume americano Keen Sutterly & Co., em 1892, passou a gerente no ano seguinte. Simultaneamente, desde 1891, estabeleceu - inicialmente em sociedade com o inglês Clément Levy - um armazém de compra e exportação de courinhos (peles de cabra e bode). Nos últimos anos dessa década, detinha o monopólio deste comércio no Recife e partia para outros empreendimentos paralelos. Em 1899, assumiu a direção da Usina Beltrão - uma fábrica de refino de açúcar - e inaugurou o Derby - um centro de comércio, serviços e lazer que incluía mercado, hotel, velódromo e pavilhão de diversões. Em 1900, conflitos políticos entre Delmiro e governantes pernambucanos resultaram no incêndio do Mercado do Derby pela polícia e na inviabilização da Usina Beltrão e da própria permanência de Delmiro no estado. Em 1903, Delmiro tornou-se proprietário de uma fazenda em Pedra, no Sertão de Alagoas, na qual centralizou seu comércio de peles. Em 1913, construiu uma usina hidrelétrica junto à Cachoeira de Paulo Afonso, para fornecer energia à fábrica de linhas de costura que inaugurou no ano seguinte, em Pedra. Com a fábrica, criou no interior da fazenda um núcleo fabril dotado de habitações, comércio, hotel, escolas e equipamentos de lazer. Em 1917, foi assassinado em Pedra.
              
Coerente com a postura adotada por muitos industriais adeptos e difusores da ética do trabalho, Delmiro procurou incorporar à sua imagem empresarial a figura de um trabalhador infatigável. O trabalho era enaltecido por Delmiro que, através dele, procurava explicar seu sucesso nos negócios e a origem de sua rápida fortuna. Em artigo de 1898, Delmiro lançou mão da ideia de trabalho para responder às críticas de seus adversários políticos no Recife, que lançavam dúvidas quanto à probidade de seus negócios:

"Enquanto elles viviam pelas ruas, cafés, casas de pensão, restaurants, trens e mesmo em seus escriptórios, onde à falta de trabalho passam o tempo a se occupar da vida alheia, eu estava no labor do meu negócio, externuando-me na verdadeira lucta pela vida, afim de conseguir o que tanto hoje os incommoda" (GOUVEIA, 1 jan. 1898, 2).

Procurando rebater insinuações acerca do mistério que cercou seu breve trajeto de vendedor de bilhetes de trem até próspero comerciante, Delmiro argumentava: "O que medeia entre essa humillissima posição e a de um industrial util á minha patria, que sou hoje, é apenas uma pagina de trabalho" (GOUVEIA, 7 jul. 1899, 4). Delmiro contrapunha o trabalho ao ócio e a formas de obtenção de recursos que tratava com desprezo, tais como o jogo, a usura e a bajulação:

"Fiquem certos esses calumniadores de officio que não ganho nem estrago dinheiro em jogatinas; não empresto a juros de vinagre; não sirvo de capacho, de limpa botas de quem está acima de mim em posição ou vantagens (...)" (GOUVEIA, 5 jan. 1900, 2).

Coerente com a glorificação do trabalho que ganha adeptos nas classes dominantes - percorrendo o pensamento burguês, o ideário positivista, o catolicismo social, doutrinas puritanas e evangélicas -, Delmiro elege o trabalho como o principal atributo moral dos indivíduos. Vê no trabalho um sinal de personalidade bem formada do ponto de vista moral, um indício de honra, perseverança e energia. Ao trabalho, por outro lado, atribui a capacidade de engrandecimento do indivíduo, pelo enobrecimento moral e pelo acesso a bens materiais. O elogio do mérito individual e a noção de igualdade de oportunidades, outros dos princípios do pensamento liberal, são também mobilizados por Delmiro para explicar sua trajetória no mundo dos negócios, revidando críticas quanto à lisura de seus negócios feitas por adversários:

"Si elles tivessem no sangue, nos nervos, nas faces, vergonha, e no organismo alguma coisa de energia e sentimento, deviam orgulhar-se de haver um homem do povo, pobre porém trabalhador, capaz de mostrar-lhes com exemplos que quem lucta pela vida com honradez, actividade e perseverança, póde conseguir uma posição na sociedade e, em vez de andarem pelas ruas, cafés, trens e esquinas empregando-se na maledicência, podiam dedicar-se ao trabalho proveitoso, que nobilita o homem e dá-lhe sempre o direito de confundir seus inimigos gratuitos" (GOUVEIA, 1898, 2).
             
Ao lado do trabalhador, outro atributo que costuma ser associado à imagem empresarial de Delmiro é o de nacionalista. As bases para a construção desta noção foram lançadas pelo próprio industrial na década de 1910. Mobilizando uma argumentação em que procurava associar os interesses da indústria aos da Nação e sentimentos nativistas e cívicos que se propagavam no País na década de 1910, Delmiro apelou para idéias nacionalistas na promoção da fábrica de Pedra e no pleito de concessões e incentivos públicos. Obteve junto ao Governo de Alagoas amplas concessões que incluíram o direito de posse de terras devolutas, a isenção de impostos para a fábrica, a permissão para captar energia elétrica da Cachoeira de Paulo Afonso e recursos para financiar a construção de cerca de 520 quilômetros de estradas, ligando Pedra a outras localidades. Mobilizou ainda argumentos de cunho nacionalismo no intuito de sensibilizar os consumidores a darem preferência à linha "Estrela" fabricada em Pedra, em detrimento das fabricadas por empresas estrangeiras. A geração de empregos para brasileiros, a utilização de matéria-prima nacional e a quebra de monopólios eram os argumentos usados em anúncio veiculado na imprensa:

"Nossa Fábrica ocupa 2.000 operários brasileiros e nossa linha é fabricada com matéria prima exclusivamente nacional. Esperamos que o público não deixará de comprar a nossa linha, de superior qualidade, para dar preferência a mercadoria estrangeira ou com rótulo aparente de nacional. Se não fôsse a linha "Estrêla" o preço de um carretel estaria por 500 réis ou mais; o público deve o benefício do barateamento dêste artigo de primeira necessidade, à nossa indústria" (MENEZES, 1963, 134-135).

A intensa disputa de mercado entre Delmiro e a Machine Cotton, fabricante da linha "Corrente" contribuiu para convertê-lo em um dos símbolos mais fortes da causa nacionalista em todo o País. Matéria do Jornal do Commércio do Recife, de 1922 - reproduzida pelo Correio da Pedra - mostrava a fábrica da Pedra como elemento de soberania nacional:

"A importante fabrica de linhas, que era o inicio daquelle faustoso emporio industrial ahi está produzindo em franca e vantajosa competencia com suas similares, pondo-nos á salvo da tutella pesada do estrangeiro" (Correio da Pedra, 22 out. 1922, 1).

A disputa entre a Machine Cotton e a fábrica da Pedra se estendeu por longos anos, tendo-se acirrado na década de vinte. Esta concorrência acirrada levou a Fábrica da Pedra a sucessivos prejuízos no tocante à fabricação de linhas de coser, apenas parcialmente compensados pelos lucros decorrentes da produção de fios industriais. Em 1926, o Presidente Artur Bernardes assinou o Decreto N. 17.383, elevando a taxa de importação sobre as linhas de coser. O Decreto, no entanto, foi revogado dois anos depois pelo Presidente Washington Luís, motivado, inclusive, por pressões do Embaixador e de banqueiros ingleses, que qualificavam o Decreto de ato de hostilidade comercial. Após haver tentado, sem sucesso, comprar Pedra a Delmiro, a Machine Cotton, em 1929 - 12 anos após a morte deste -, realizou seu intento de tirar a fábrica da Pedra da produção de linhas. Para tanto, a Machine Cotton adquiriu dos então proprietários de Pedra (os irmãos Menezes, também donos da Fábrica Têxtil de Camaragibe, em Pernambuco) as marcas registradas das linhas e os maquinismos específicos para sua fabricação. Pelo acordo, Pedra permaneceria fabricando apenas fios industriais; seus proprietários não poderiam por dez anos participar direta ou indiretamente de negócios relativos à fabricação de linhas ou venda de fios para a fabricação por terceiros. À aquisição, seguiu-se a destruição das máquinas, aniquiladas a golpes de picareta e atiradas ao Rio São Francisco. A violência deste gesto e a agressividade da disputa de mercado por parte da fábrica escocesa deram subsídios para que Pedra fosse convertida em marco da luta contra o imperialismo. No mesmo sentido, procurou-se converter Delmiro Gouveia em mártir da causa nacionalista. Embora fosse então amplamente aceito que seu assassinato houvesse sido conseqüência de disputas com coronéis de cidades vizinhas, progressivamente dúvidas foram sendo lançadas sobre suas causas. A Machine Cotton foi incorporada ao rol dos suspeitos por uns, por outros acusada de haver promovido o assassinato.   

Derby e Pedra

Ao longo de sua trajetória empresarial Delmiro construiu ainda uma reputação de empresário ousado e inovador. Três de seus empreendimentos - o Derby, a usina hidroelétrica em Paulo Afonso e a fábrica e vila operária da Pedra - evidenciam tais atributos.
              
O Derby foi um centro comercial e de lazer - que incluía mercado, hotel, cassino, velódromo, parque de diversões e loteamento residencial - inaugurado no Recife em 1899. Depoimentos de observadores da época revelam a admiração causada pelo Derby junto a segmentos da população do Recife, e o orgulho diante deste empreendimento que parecia colocar a cidade em sintonia com o que havia de mais moderno e de bom gosto no mundo de então. O Derby surgia como expressão de progresso e civilidade, como um local ameno que ornava e dignificava a cidade, como um centro de diversões modernas que trazia ao Recife os prazeres inéditos produzidos com o auxílio da técnica e da ciência.

Tal admiração era compartilhada por viajantes. Quando trata de Pernambuco no livro "The New Brazil", publicado em 1901, a escritora americana Marie Robinson Wright confere uma relevância especial ao Derby - que visitou em outubro de 1899 -, ao qual reserva três das doze ilustrações do capítulo e um último parágrafo bastante elogioso:

"Muitos estrangeiros visitam o porto de Pernambuco todo ano, e não é raro ver meia dúzia de nacionalidades representadas nos hotéis de seus atraentes subúrbios, especialmente no Derby, que é um dos mais pitorescos lugares que se pode imaginar, com bonitas casas, sombras de arvoredos, leve movimento das águas do rio, pequenas pontes artísticas semi-enterradas na vegetação das margens, e canoas alegremente pintadas deslizando na superfície da água. Este subúrbio goza da distinção de possuir um dos melhores hotéis da América do Sul; o Hotel do Derby é perfeitamente moderno em todos os sentidos e orientado por um padrão metropolitano de serviço. O mercado do Derby é um dos maiores estabelecimentos do seu tipo, no Brasil, e está equipado para os amplos negócios que diariamente são nele realizados. O subúrbio deve seu aspecto atraente à empresa de um cidadão muito progressista, Senhor Delmiro Gouveia, o proprietário, que tem pessoalmente dirigido tudo em sintonia com o desenvolvimento do empreendimento" (WRIGHT, 1901, 314).

Uma estratégia agressiva de propaganda e de promoção do local, através da imprensa, buscava colocá-lo em evidência e firmá-lo como ponto de encontro de "famílias distintas" e local de diversões moralizadas e modernas.

Algumas singularidades diferenciavam o Mercado do Derby dos mercados brasileiros da época, aproximando-o do conceito do shopping center atual. Era um empreendimento privado e voltado, inclusive, para o comércio de produtos sofisticados. Lá, além dos artigos usualmente comercializados nos mercados na época como os alimentos, se vendia gelo, todos os jornais diários, artigos para fumantes, havia filial da Livraria Francesa, perfumarias, lojas de tecidos, de calçados, de louças, de miudezas, entre outras. Sua localização fora do centro da cidade, em área cercada por rios e mangues, garantia um isolamento espacial, coerente com a busca de um ambiente autônomo e com lógica própria, ideal para favorecer as compras e longe de tudo que possa dificultá-la - o barulho e o movimento das ruas, a falta de segurança, as intempéries naturais. Bondes de bagagem, ligando o Derby a outras localidades, trafegavam pela manhã para atender aos usuários.
              
No Derby o consumo era promovido como espetáculo, distração, aventura e prazer, utilizando-se diferentes estratégias que pretendiam absorver o vigor dos jovens, os anseios dos entusiastas do progresso e a vida social das famílias. Os proprietários empenhavam-se em colocar a diversão como finalidade do empreendimento. Ao Derby, procurava-se ligar a idéia de progresso, distinção, status e bom gosto. O prédio - com sua higiene, bom gosto, luxo, conforto, iluminação elétrica com uso cenográfico amplamente explorado e localização em área "aprazível" à margem do rio Capibaribe - surgia como uma atração em si. O "magnifico pessoal" que atendia os clientes, a música e a variedade de comidas, bebidas e jogos completavam o espetáculo proposto por este "Centro de Diversões". Na busca atrativos para o local, a técnica constituía-se em outro dos principais elementos mobilizados. "Suas maravilhas" foram alardeadas - a magia da luz elétrica, os "quadros surprehendentes" do cinema e as engrenagens complicadas e caras dos novos aparelhos de diversão - e exibidas, com ampla publicidade, no local. Com o título "Paris no Derby", organizou-se no mercado "um pavilhão para exhibição de diversos apparelhos electricos de diversões" (Jornal Pequeno, 11 set. 1899, 2).
               
A difusão da prática de esportes modernos, na qual segmentos da população urbana buscavam sinais de distinção social, foi largamente mobilizado, no Derby, pela promoção de jogos e atividades esportivas, tais como corridas de bicicleta (com casa de apostas), regatas, apresentações de ginástica, jogos de bilhar, dados e dominó, tiro ao alvo, boliche e corridas de pedestres. Também se promoveu apresentações musicais (bandas militares, colegiais e de sociedades musicais, orquestras, concertos individuais), carrossel, queima de fogos de artifício, sorteios, exposições, exibições de filmes e peças teatrais. No Derby, festas tradicionais foram recriadas: a missa se desloca do recinto da igreja para o templo do consumo, incorpora as grandes massas, mistura-se às formas novas de diversão. As comemorações do Natal de 1899 se deram entre missa campal, salva de tiros e corridas de ciclistas. Matérias de jornal noticiavam as grandes multidões - de até oito mil pessoas, segundo matéria no Jornal Pequeno - que acorriam ao Derby, elas próprias mostradas como um espetáculo à parte (Jornal Pequeno, 27 dez. 1899, 2). Com este atrativo chamado ao prazer, buscava-se estender o consumo às horas livres, comprometendo as noites e os dias santificados com a atividade.
              
A concepção do Derby foi favorecida pela divulgação de experiências européias e americanas, através, sobretudo, de revistas especializadas e de exposições da indústria. Delmiro Gouveia visitou a Exposição Universal de Chicago, de 1893, evento no qual teria encontrado inspiração para a concepção do Derby, cujo mercado revela particular inspiração no Fisheries Building, projetado para a Exposição de Chicago por Ives Cobb.
              
Mais dignos de admiração, entretanto, revelaram-se os empreendimentos da usina de Paulo Afonso e de Pedra, realizados em regiões distantes e até então pouco acessíveis do Sertão. Plínio Cavalcanti, em artigos e conferência, narrou a epopéia, comandada por Delmiro, que teria representado a construção da usina hidrelétrica: o transporte das imensas máquinas até o sertão através de estradas precárias e de abismos, superando o descrédito, o desânimo e o temor de auxiliares (CAVALCANTI, 1927). Em relatos de contemporâneos acerca de Paulo Afonso, revela-se o profundo impacto causado pela grandiosidade da cachoeira - sua beleza sublime em meio à fúria dos elementos - e o júbilo ante a possibilidade de sujeitá-la aos imperativos do progresso. O filme "A Cachoeira de Paulo Affonso e a Fábrica de Linhas da Pedra", que estreou no Recife, em 1923, centra seu enfoque na contraposição entre a força da cachoeira e força ainda maior da técnica que ousou submetê-la a uma utilidade prática (Correio da Pedra, 12 ago. 1923. p.1).
              
Mas nenhum dos empreendimentos dirigidos por Delmiro despertou mais entusiasmo e admiração que a fábrica e a vila operária da Pedra. Para Assis Chateaubriand Pedra surge como uma reversão heroica das contingências do meio, como uma dupla vitória sobre os elementos e sobre a essência do sertanejo. Sublinhando a paisagem seca e desolada e as violentas variações de temperatura, o autor enfatiza a hostilidade do ambiente natural da região de Pedra e seu poder avassalador sobre o indivíduo. Em face da visão de uma natureza sem freios, diante de cujas forças imensas e ferozes o homem se sente ameaçado e impotente, a ação de Delmiro em Pedra surge como um vigoroso embate da técnica e da razão contra os elementos (CHATEAUBRIAND, 1990). Neste confronto, demonstrando um poder que seus contemporâneos vêem como inelutável, a técnica suplanta aos seus olhos, uma a uma, todas as até então consideradas invencíveis resistências que, acreditava-se, a natureza inóspita do Sertão impunha à penetração do progresso e da civilização no seu território.
              
Na luta para subjugar esta natureza, vê-se a técnica aliada à tenacidade de Delmiro. Transpor a distância do litoral a Pedra, suplantar a fúria das águas da cachoeira, ultrapassar seus abismos e íngremes encostas, desbravar a vegetação agressiva, vencer a resistência do rígido arenito do subsolo e sobre ele levantar cidade, pomares e jardins, tudo isto sob um sol escaldante, um clima seco e um calor asfixiante, era visto como um empreendimento heroico. Tal empreendimento, considerava-se, além de conhecimentos técnicos, exigia muito de entusiasmo, autoconfiança, força de vontade, liderança, teimosia e audácia.
              
Pedra foi edificada ao longo de 14 anos. Em 1903, quando Delmiro chegou ao lugar, era um pequeno povoado às margens da Ferrovia Paulo Affonso, no Sertão de Alagoas. Junto a este povoado, Delmiro comprou uma fazenda onde construiu currais, açude, uma residência, prédios para abrigar um curtume e, a partir de 1912, uma fábrica de linhas e um núcleo fabril para abrigar seus operários. Em 1917, havia em Pedra cerca de 250 casas, chafarizes, lavanderias e banheiros coletivos, loja, padaria, farmácia e feira semanal, escolas, médico e dentista, cinema, pista de patinação, banda de música, posto do Correio e Telégrafo.
              
A localização de Pedra conciliava demandas referentes a controle social, com uma posição estratégica em relação a meios de transporte e a fontes de matéria-prima e de energia. Sua localização era estratégica em termos econômicos. Situada a 24 km da Cachoeira de Paulo Afonso, Pedra encontrava facilidades para o uso de energia elétrica e água, captadas no São Francisco, bem como a possibilidade de utilizar o transporte fluvial no escoamento da produção. Sua localização permitia, ainda, a utilização da Ferrovia Paulo Affonso.
              
Pedra foi inteiramente concebida por Delmiro Gouveia e edificada sob seu comando. Revelando uma extrema centralização de decisões, o industrial conduzia pessoalmente todas as obras. Conforme Hildebrando Menezes, "(...) repetia sempre que não queria mestres a orientarem a execução das suas obras. Preferia homens que cumprissem bem as suas ordens e executassem os seus planos" (MENEZES, 1991, 71). Segundo Arno Pearse, que lá esteve em 1921, tratava-se de "(...) uma cidade especialmente construída, onde as casas são espaçosas e a arquitetura e o plano da cidade modernos" (LIMA JÚNIOR, 1963, 206). Todos os operários da fábrica - com exceção dos rapazes solteiros sem família no local - moravam em casas de alvenaria, alugadas ou cedidas pela fábrica.
              
Coerente com a lógica que presidiu a concepção de núcleos fabris, Pedra foi concebida como um lugar do trabalho; como um espaço pensado para favorecer a produção de mercadorias e a reprodução de uma força de trabalho capacitada para o trabalho industrial e conduzida para respeitar o patrão e suas propriedades. Como uma extensão da fábrica, o núcleo existia para ela. Pedra foi estruturada como um meio onde todas as circunstâncias se atrelavam à produção, onde tudo conspirava para converter o morador em indivíduo previdente, ordeiro, metódico, trabalhador e obediente. Tal esforço comportou ações voltadas para o controle do movimento das pessoas e dos contatos entre elas, para a supervisão do consumo, para a introdução de novas formas de perceber e gerir o tempo, para a promoção do lazer regrado e da educação, para a alteração de hábitos e dos cuidados com o corpo e com as casas. A fixação de normas determinando horários para as diversas atividades, prescrições morais, regras de higiene, proibição do consumo de bebidas e interdição de hábitos considerados impróprios e maneiras julgadas indecentes ou insolentes foram algumas das medidas adotadas. Neste projeto de construção de um novo trabalhador, estratégias de convencimento foram acompanhadas por medidas puramente repressivas.
              
A obediência às normas e regulamentos que regiam a vida em Pedra era apoiada por uma vigilância sobre cada pessoa, exercida por vigias, vizinhos, chefes, professoras e pelo próprio patrão. Para evitar situações favoráveis à contravenção às rígidas normas impostas e reprimir os infratores, uma guarda privada e o próprio industrial realizavam uma inspeção constante, percorrendo as dependências da fábrica, as ruas, os locais de lazer, a feira e as moradias. Segundo Adolpho Santos:

"Todos os dias, pela manhã, invariavelmente, Delmiro fazia demorado passeio de fiscalização pela vila operaria, aconselhando uns, repreendendo os faltosos, impondo costumes de educação domestica, verdadeira romaria de evangelizador exercendo a catequese de civilização naquele centro semi-bárbaro" (SANTOS, 1947, 37).

A limpeza das casas e das ruas e a higiene dos moradores eram enfatizadas na gestão do lugar, tanto através de severos regulamentos, quanto da criação de serviços de abastecimento d'água e esgotamento sanitário. Todas as moradias eram abastecidas por energia elétrica, gerada na usina construída por Delmiro na Cachoeira de Paulo Afonso. As casas de Pedra impressionavam os visitantes pela regularidade e asseio. Salomão Filgueroa apontava nessas casas a "(...) rigorosa uniformidade de estylo na construcção e absoluta hygiene" e Plinio Cavalcanti dizia serem "irreprehensivelmente limpas" (FIGUEROA, 1925; CAVALCANTI, 1927, 51). O asseio rigoroso das ruas e das casas e a brancura das construções - a fábrica fornecia cal e exigia a pintura regular das moradias - foram enfatizados, também, por Assis Chateaubriand, que esteve em Pedra em 1917:

"Antes de tudo, falo do asseio. É irrepreensível. Dentro e fora da fábrica, individual e coletivo. A vassoura é ali uma instituição. Tudo é escovado, brunido, polido. Não vi em parte alguma por onde tenho andado (...) limpeza tamanha e tão rigorosa. (...). Nas ruas seria impossível encontrar um cisco, um pedaço de papel atirado ao chão. Aqui e ali se vêem os barris para coleta dos papéis servidos. As carrocinhas passam e vão esvaziando-os (...). Passa-se como passamos várias vezes por aquelas calçadas extensas e não se vê uma mancha, um sinal de cuspe no chão. É tudo lavado, varrido, escovado” (CHATEAUBRIAND, 1990, 65-69).

Em Pedra, Delmiro Gouveia - não é à-toa que era chamado coronel - colocava-se simultaneamente como patrão e líder político local. Ao mesmo tempo em que se opôs a qualquer interferência, em Pedra, dos coronéis da região, criou todo um aparato policial e administrativo próprio. Vigias, guardas e funcionários o auxiliavam no controle da ordem e na administração do núcleo. À frente de tudo estava Delmiro: única autoridade local. Hildebrando Menezes conta que, em Pedra, Delmiro era "(...) extremamente absorvente, sómente êle mandava" (MENEZES, 1991, 97). Lima Júnior relata que Delmiro costumava prevenir os récem-admitidos na fábrica que "(...) na Pedra, ele era tudo: Deus, o Diabo, a mais alta autoridade" (LIMA JÚNIOR, 1963, 315).
              
A vida cotidiana e o trabalho na fábrica eram orientados por normas concebidas por Delmiro. Extremamente apegado a regulamentos, estabeleceu, inclusive, um para seus hóspedes. Na fábrica, a regra fundamental era a busca constante de aperfeiçoar o produto, exprimida em norma escrita pelo industrial:

"Quem manufatura nunca esta fazendo bem feito de mais.
Por mais minunciosa e bem cuidada, nunca a fiscalização é suficiente e completa.

Nunca se conseguirá ser tão asseado quanto se deveria. Jamais se poderá dizer que o produto é irrepreensível, ou livre de defeito. Enfim, todos os dias deve-se cuidar do melhoramento do produto. 

Não seguindo estes conselhos, tudo baqueará" (LIMA JÚNIOR, 1963, 152).

A norma essencial em Pedra - tão evidente que nem precisava constar de regulamentos - era a obediência à vontade do patrão. Lauro Góes conta que, antes de assinar o contrato para trabalhar no escritório da fábrica, foi alertado por Delmiro: "Aqui o empregado tem que fazer tudo que eu mandar, seja qual for o serviço, serve?" (GÓES, 1962, 3).
              
Os operários de Pedra eram, na sua quase totalidade, originários do próprio sertão. A maioria compunha-se de flagelados da seca de 1915. Outros eram pessoas foragidas em função de intrigas e conflitos, as quais chegaram ao local recomendadas por amigos de Delmiro, ou tendo recorrido diretamente ao industrial.
              
Nos regulamentos que regiam a vida local uma atenção especial era dispensada ao controle dos operários solteiros, sobretudo àqueles sem família no local. Moravam em pensões fora do núcleo - na Pedra Velha - e tinham seu acesso a este - principalmente o contato com as operárias - rigidamente controlado pelos vigias. Tratados como problema de ordem pública, os rapazes solteiros estavam proibidos de frequentar as casas das famílias operárias. No cinema, homens e mulheres sentavam-se em locais separados, mesmo que fossem casados, enquanto as crianças também tinham um lugar reservado nas primeiras filas. Segundo Lauro Góes, Delmiro costumava repetir: "(...) não admito que funcionário nosso abuse das operárias". Ao tomar conhecimento de que "abusos" desta ordem estavam ocorrendo, Delmiro exigia o casamento (GÓES, 1962, 28 e 12). Para Assis Chateaubriand, Delmiro teria confidenciado:

"A maioria dos rapazes do escritório são solteiros e filhos de famílias de gente da burguesia alagoana e pernambucana. Se mexerem com as meninas operárias, não tem conversa, caso-os no dia seguinte. Nestas condições, evitemos complicações futuras. Queremos o mínimo de convivência entre os dois escritórios e a vila operária" (CHATEAUBRIAND, 1963, 3).

A fábrica exercia um controle rígido sobre o que era comercializado, regulamentando a venda de bebidas alcoólicas e proibindo a de produtos como armas, xales e cachimbo. Delmiro procurava combater formas de consumo julgadas incompatíveis com o salário e a posição dos operários. Assim, estabeleceu prêmios para as operárias que se vestissem melhor e de forma mais barata, buscando incentivar o gosto pela aparência, porém, combatendo "os hábitos suntuários das mulheres" (CHATEAUBRIAND, 1990, 68).
              
O tempo livre e as formas de lazer dos moradores de Pedra também eram objeto de atenção do industrial. Havia o cassino onde se realizavam bailes e sessões de cinema; havia banda de música, pista de patinação, parque de diversões e futebol. O "rink" era o local que concentrava parte destas atividades, definidas por Assis Chateaubriand como "prazeres honestos" (CHATEAUBRIAND, 1990, 66). Aos domingos, havia ainda retretas, cinema e carrossel. A fábrica promovia e incentivava o carnaval, oferecendo fantasias para os blocos e organizando bailes. Formas usuais de divertimento na época, como o jogo de azar, a caça e o jogo do bicho, eram proibidos (MARTINS, 1989, 122). Sobre a proibição à caça, Delmiro - em consonância com a ideia da preguiça como atentado à economia e à razão - afirmava: "Obtenho dois resultados com isso, ensino-os a serem dóceis com os animais e combato a vagabundagem. O caçador aqui é um preguiçoso" (CHATEAUBRIAND, 1990, 69).
              
A rotina das crianças também era fiscalizada com cuidado. Havia um controle rígido sobre a freqüência às escolas, tendo sido estabelecidas multas para os pais que não conseguissem justificar as faltas dos filhos. Regulamentos, vigilância severa, multas, castigos e humilhações eram os instrumentos básicos utilizados para mudar características originais dos moradores, impondo novos padrões de higiene, de vestir e de boas maneiras. As normas, em Pedra, também eram rígidas em relação aos modos de conduta dos moradores. Puniam-se atos considerados de incivilidade, como jogar papel ou cuspir no chão, riscar paredes e fumar cachimbo. Às moças era proibido fumar em público. Para os que infringiam as normas reservavam-se punições exemplares que iam de reprimendas públicas, multas e castigos corporais à expulsão do núcleo. A ordem tida como exemplar - e tantas vezes elogiada - de Pedra fundamentava-se nesta profunda ingerência sobre a vida privada dos moradores, configurada um despotismo radical do patrão sobre seus operários.

Negócios e Política

O sucesso empresarial de Delmiro dependeu de favores e concessões públicas. A realização de iniciativas empresariais arrojadas, como as levadas a cabo por Delmiro, dependeram de concessões públicas, obtidas graças a alianças com políticos de Pernambuco e Alagoas. O Derby tornou-se possível pela concessão do Prefeito Coelho Cintra do Recife, em 1898, concessão para construir e explorar um mercado - que batizou Mercado Coelho Cintra - pelo prazo de 25 anos, com isenção de impostos municipais. Pedra, um empreendimento ainda mais amplo, incluindo núcleo fabril, fábrica, curtume, fazendas, usina hidrelétrica, açudes, sistema de abastecimento de água e cerca de 520 quilômetros de estradas, exigiu concessões diversas, já mencionadas, obtidas graças a empenho pessoal de governadores alagoanos, com os quais Delmiro travou relações de amizade e de alinhamento político.
              
Embora não tenha concorrido diretamente para cargos públicos, Delmiro envolveu-se profundamente na política. No Recife, tomou o partido do grupo que fazia oposição a Rosa e Silva e ao Partido Republicano Federal, mantendo vínculos estreitos com Coelho Cintra, José Mariano, Gonçalves Maia e Phaelante da Câmara. Na eleição de 1899, integrou uma caravana que percorreu o interior do Estado em propaganda eleitoral (SANTOS, 1947, 11). Participou ativamente, em 1911, da campanha do General Dantas Barreto para o Governo do Estado. Em Alagoas foi aliado dos governadores Euclides Malta e Joaquim Paulo Malta, do Coronel Ulisses Luna (de Água Branca) e do Coronel Manoel Rodrigues da Rocha (de Santana do Ipanema). Aos aliados, além de favores, Delmiro tinha a possibilidade de oferecer votos. É provável que controlasse grande número de votos entre seus fornecedores de courinhos, locatários do mercado e empregados das várias empresas que possuiu. No caso de Pedra, a massa de operários submetida a programa de alfabetização contribuiu, sem dúvida, para alterar a correlação de forças na região e para inquietar seus adversários políticos.
              
Apesar da estreita relação entre política e negócios que presidiu sua trajetória no mundo do comércio e da indústria, Delmiro se empenhou em desqualificar sua atuação política. Adotando um discurso coerente com a imagem do indivíduo independente e do empreendedor auto-suficiente que procurou encarnar, buscou negar sua intimidade com a atividade política: "Nada tenho que ver com a politica. Não sou politico. Não sou partidario. A politica influe apenas indirectamente nos meus negocios pela acção dos impostos ou pelas garantias constitucionaes que ella anima" (GOUVEIA, 12 jul. 1899, 3).
              
A oposição feita por Delmiro a Rosa e Silva - político que comandou durante mais de quinze anos a política estadual - provocou grandes danos aos seus negócios no Recife e inviabilizou sua permanência em Pernambuco. Antigo membro do Partido Conservador no Império, Rosa e Silva, já em 1893, ingressou no Partido Republicano Federal - fundado nesse ano - e, a partir de 1896, assumiu a liderança política do estado, relegando à oposição republicanos históricos como Martins Júnior e Gonçalves Maia. Embora freqüentasse muito pouco o Recife - morava no Rio de Janeiro, onde exerceu função de senador e vice-presidente da República - e contasse com a antipatia de amplos setores da população da cidade, Rosa e Silva controlou a política estadual de 1896 a 1911. No período, indicou todos os governadores que, por sua vez, indicaram os chefes políticos locais. A estratégia de Rosa e Silva para tal domínio consistiu em bloquear a autonomia política de seus aliados e desencadear uma violenta pressão sobre a oposição, a ponto de muitas de suas lideranças terem sido obrigadas a emigrar para outros estados. Em artigo de 1906, o jurista Phaelante da Câmara acusava o ex-governador Sigismundo Gonçalves - um fiel aliado de Rosa e Silva - de, no exercício do governo, com a aquiescência ou cumplicidade do judiciário, haver desrespeitado vários direitos constitucionais, como o habeas-corpus, o domicílio, a propriedade, a instituição do juri e a fiança criminal (CAMARA, 1906, 1).
              
Delmiro Gouveia foi um adversário ferrenho de Rosa e Silva, travando com os partidários deste, no Recife, violentas trocas de acusações pela imprensa. A situação acusava Delmiro de especulador e a oposição o defendia, enfatizando o autoritarismo e a intransigência do governo. No primeiro semestre de 1899, uma série de conflitos envolveu Delmiro e o então Prefeito do Recife, Esmeraldino Bandeira, indivíduo que se auto-intitulava a "segunda pessoa" de Rosa e Silva. Houve, da parte do Prefeito, a proibição - utilizando força policial - da venda de carne verde no Mercado do Derby. A imposição de empecilhos a obras drenagem que estavam sendo realizadas por Delmiro no Derby, foi outro momento de tensão entre ele e o Prefeito do Recife. Tais conflitos se converteram em confronto aberto quando um carregamento de farinha que se dirigia ao Derby foi apreendido por ordem do Prefeito ao chegar ao Recife.
              
No segundo semestre desse ano, as divergências acirraram-se, após episódio ocorrido no Rio de Janeiro, onde Delmiro, após tentar, sem sucesso, um entendimento com Rosa e Silva, tendo-o encontrado na Rua do Ouvidor, agrediu-o com a bengala. Jornais da situação do Recife criticaram violentamente esta atitude. Entre as inúmeras mensagens de apoio recebidas pelo Vice-Presidente da República após este episódio, consta um telegrama do Governador de Pernambuco, empenhando o compromisso de um revide da parte dos "amigos" de Rosa no estado:

"Recife, 19 de junho - Urgente - Dr. Rosa e Silva, vice-presidente da Republica - Rio - Sou interprete competente da grande maioria do Estado para affirmar-vos que o tendes prompto a lavar qualquer affronta que a cegueira partidaria por intermedio de algum suggestionado, ouse fazer-vos... Descansai em vossos amigos. Não se humilha um homem notavel e limpo por se mandar um desvairado dirigir-lhe, perante uma população civilisada, algumas chufas. O aggredido, sereno, acatado por todos, volta as costas ao aggressor, e deixa-o expor-se sozinho por si proprio, tal qual é, ao publico, que, não raro, se enoja de entes que, inconscientemente, a tanto se abatem. Fui levar o testemunho do meu apreço aos vossos dignos pais e filhos e encontrei-os calmos, como deveriam estar, e correctos. Cordiaes saudações. Sigismundo Gonçalves" (O Paiz, 20 jul. 1899, 1).

O episódio intensificou a troca de acusações, pela imprensa, entre Delmiro e seus adversários. Delmiro era acusado de enriquecimento ilícito - sonegação de impostos no comércio de couro e algodão - e de praticar violências contra concorrentes - teria usado um capanga para espancar em uma rua do Recife um concorrente no comércio de peles, Clément Levy, que, após o incidente, teria se transferido para Fortaleza. Atribui-se a métodos desta natureza - e não ao trabalho honesto e perseverante tantas vezes reivindicado por Delmiro - a origem de sua fortuna (Jornal do Commercio, 6 jul. 1899, 5). Tais acusações eram rebatidas por Delmiro, questionando as origens da fortuna que Rosa e Silva "(...) usufrue em seu ócio" (GOUVEIA, 7 jul. 1899, 4); contrapondo uma idéia de ganho honesto obtido pelo trabalho com uma noção da política como meio de obtenção de proveitos indevidos: "Sou um homem do povo, sou um plebeo, e, se possuo um brazão unico, é o que o trabalho esculpe na vida dos homens úteis à sua patria" (GOUVEIA, 28 jun. 1899, 4). Coerente com a noção liberal de mérito, Delmiro se contrapõem a este "filho de seu pai" - Rosa era filho do Comendador Albino Silva - se auto-intitulando "filho de si mesmo", de seu trabalho, de seu próprio esforço, reivindicando para si "a coragem que só a luta ensina" (GOUVEIA, 21 jul. 1899, 4).
              
Simultaneamente a esta troca de acusações pela imprensa, os governantes, no Recife, multiplicaram as ações contra Delmiro, seus aliados e simpatizantes. Em julho, a polícia revistou o Mercado do Derby e a casa do sócio de Delmiro - Coronel Napoleão Duarte - apreendendo armas. O retorno de Delmiro ao Recife foi cercado de euforia e tensão: seus amigos e aliados organizaram manifestações de apoio no Derby, para as quais um grande número de curiosos e simpatizantes afluiu; rumores de ameaças de demissão de funcionários estaduais que "negassem apoio a Rosa e Silva" espalharam-se pela cidade, enquanto a repressão policial foi usada contra pessoas que festejavam a volta de Delmiro.
              
Entre os oposicionistas, no entanto, estas retaliações eram consideradas apenas um ensaio para uma ação mais eficaz no sentido de aniquilar a influência de Delmiro em Pernambuco, temendo-se, inclusive, seu assassinato. O próprio Delmiro levantava a suspeita de que a idéia de um atentado contra si mesmo poderia ter partido de Rosa e Silva, a quem acusava de omissão - se não cumplicidade - no assassinato de homens que lhe fizeram oposição em Pernambuco (GOUVEIA, 1 ago. 1899, 5). Em coluna do Partido Republicano publicada em jornal, as denúncias de Delmiro são ridicularizadas, procurando-se mostrar como absurda a possibilidade de assassinato de Delmiro por motivos políticos, enquanto - em tom que não deixa de soar como uma ameaça - considera-se factível um crime por motivos pessoais (Jornal do Recife, 12 nov. 1899, 1). Ao risco de vida, Delmiro entendia somar-se a ameaça às suas propriedades, ante a qual anuncia a iminente venda do Derby a um grupo americano.
              
Enquanto isso, o cerco do governo a Delmiro foi se fechando com diferentes estratégias. Na madrugada do Natal, soldados da polícia provocaram tumultos - "terror e ataques de senhoras" - em evento realizado no Derby, ao investirem com seus cavalos sobre uma multidão que aguardava dentro do Mercado o início de uma missa campal (MENEZES, 1991, 96). Conforme matéria em jornal:

"A policia sempre prompta a plantar a desordem, na noite da festa tentou fazer diabruras no Derby, onde viam-se cerca de oito mil pessoas, entre ellas familias distinctas. Não poude, porem levar a effeito o seu intento pela energia do Coronel Napoleão Duarte, que chamou á ordem o subdelegado e seus auxiliares. No entanto houve panico, provocando este, ataques e grande confusão. É sempre assim a nossa policia (...)" (Jornal Pequeno, 27 dez. 1899, 2).

Tal episódio deu lugar a novas afrontas, quando, poucos dias depois, um coronel da polícia dirigiu-se ao mercado para protestar contra o tratamento dispensado a seus soldados por ocasião dos tumultos por eles provocados, alertando "(...) que si quizesse entraria a cavallo no mercado e rebentaria tudo, e terminou as ameaças com a promessa de voltar em breve" (A Província, 29 dez. 1899, 1). Na madrugada do dia dois de janeiro de 1900, a polícia incendiou o mercado do Derby e durante este dia o Recife foi tomado por frenético movimento de tropas, seguido de prisões, entre as quais a de Delmiro, de Napoleão Duarte e de vários empregados do mercado.
              
O incêndio havia sido noticiado com antecedência por jornais da situação e da oposição. Os primeiros alegavam que Delmiro iria recorrer a este expediente para tentar uma saída para seus negócios que, dizia-se, iam mal. Os jornais de oposição alertavam que os adversários de Delmiro estariam planejando incendiar o mercado para levá-lo à falência. A Província publicou, em 4 de janeiro, o conteúdo de um telegrama atribuído ao Governador Sigismundo Gonçalves para o Conselheiro Rosa e Silva: "Mercado incendiado. Delmiro preso. Saudações, Sigismundo Gonçalves". Ainda em janeiro, Delmiro arrendou o Derby e viajou para a Europa. Os incidentes foram atribuídos pelo jornal A Província às eleições de 31 de dezembro de 1899, cujo resultado desfavorável ao Governo no centro do Recife era imputado, por alguns políticos da situação, à ação de Delmiro Gouveia (A Província, 10 jan. 1900, 1).
              
Percebendo que não havia ambiente propício para se manter no Recife, Delmiro se transferiu para Pedra, em Alagoas, em 1903. Esta mudança foi precipitada por um mandato de prisão contra ele por rapto de uma menor que, coincidentemente ou não, era filha - nascida de uma relação fora do casamento - do Governador Sigismundo Gonçalves. O episódio gerou reação enérgica dos governantes, particularmente do Governador, envolvido também por questões pessoais. O Chefe da polícia comandou pessoalmente as buscas ao casal. Após rápido inquérito policial, a prisão de Delmiro foi decretada. Quando a polícia finalmente conseguiu localizar Eulina em um subúrbio do Recife, Delmiro já se encontrava refugiado em Alagoas, onde se estabeleceu numa fazenda junto ao pequeno povoado de Pedra, no Município de Água Branca.
              
A transferência para Alagoas, no entanto, não pôs fim aos seus conflitos com governantes pernambucanos. Em 1904, Delmiro foi preso na estação de trem de Pedra por um destacamento da polícia de Pernambuco - onde permanecia contra ele processo pelo rapto de menor de idade - e conduzido à cidade de Jatobá de Tacaratu neste Estado, tendo sido liberado após habeas-corpus concedido pelo juiz Sérgio Magalhães, que em represália foi posto em disponibilidade e teve sua comarca suprimida.
              
Em 1910, o Governo de Pernambuco apreendeu carregamento de peles e instalou inquérito contra Delmiro sob a acusação de contrabando de peles. A perseguição à sonegação não era uma atividade administrativa de rotina, mas, antes de tudo, uma arma a ser empregada contra inimigos políticos e desafetos. Inseria-se, como bem lembrou Paulo Cavalcanti, numa lógica clientelista, cuja regra básica é: "para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei". Em 1911, com a eleição de Dantas Barreto - aliado de Delmiro - para o Governo do Estado, o processo foi arquivado e o coletor responsável pela apreensão das peles demitido.
              
Em Pedra controlando grande número de funcionários e estabelecendo relações comerciais diversas, Delmiro converteu-se na principal força econômica da região. Tal situação colocava-o em condições de firmar-se, também, como uma importante força política. Desde que se estabeleceu em Pedra, Delmiro contou com o apoio do Governo de Alagoas e de alguns influentes chefes políticos do interior do estado. Uma vez em Pedra, Delmiro ampliou sua força política pelo controle de número crescente de votos. Em 1911, com a posse de Dantas Barreto no Governo de Pernambuco, a influência política de Delmiro ampliou-se ainda mais, agravando conflitos com indivíduos influentes de cidades vizinhas.
              
O assassinato de Delmiro, em 1917, é atribuído pela maioria de seus biógrafos aos coronéis José Rodrigues de Lima (de Piranhas) e José Gomes de Lima (de Jatobá), os quais entraram em conflito com Delmiro por motivos políticos e econômicos. Os atritos entre Delmiro e o Coronel José Gomes ocorreram quando, com a interferência do industrial, este perdeu a chefia política do Município de Jatobá e o cargo de coletor. Com o coronel José Rodrigues - chefe político de Piranhas, município vizinho a Pedra - os atritos decorreram, sobretudo, de questões econômicas, relativas ao fornecimento de lenha para a Estrada de Ferro Paulo Afonso, à concorrência no comércio de peles e a questões referentes à posse de terras.

A Construção do Mito

Sua morte prematura, violenta e pouco esclarecida pelas investigações policiais, só viriam a reforçar a força do mito no qual Delmiro já havia se convertido quando vivo. Inúmeros são os estudos e as produções artísticas sobre a ação de Delmiro e as homenagens póstumas que lhes são endereçadas. Nas décadas de 1910 e 1920, Pedra e Delmiro foram alvos de muitas matérias enaltecedoras em jornais e revistas. A Exposição Nacional de 1922 foi aberta com um discurso do Presidente Epitácio Pessoa com referências elogiosas à obra de Delmiro, a Fábrica da Pedra obteve o "Grande Prêmio". No ano seguinte estreiou no Recife o filme denominado "A Cachoeira de Paulo Affonso e a Fábrica de Linhas da Pedra", cujo roteiro centrava-se na contraposição entre a força da cachoeira e força da técnica que ousou submetê-la a uma utilidade prática.

Nas três décadas seguintes o industrial e o núcleo fabril foram lembrados por autores como Djair Menezes e Jorge Zahur ao investigarem o Sertão e suas potencialidades econômicas e em "Paulo Afonso", baião cantado por Luís Gonzaga que saúda a construção da hidroelétrica pelo Governo Federal, enfatizando a iniciativa pioneira de Delmiro. Ao ser desmembrado de Água Branca em 1952 e transformado em Município, o antigo distrito de Pedra passou a se chamar "Delmiro Gouveia", denominação que também foi conferida por Lei de 1958 à barragem construída pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco na cachoeira de Paulo Afonso.
              
Nas décadas de 1960 e 1970, o volume de escritos e eventos elegendo Pedra e Delmiro Gouveia como tema atinge proporções extraordinárias. Conferências se multiplicaram, foram publicadas diversas obras biográficas, alguns romances, inúmeras matérias em jornais e revistas. Lei de 1960 estipulou prêmio para concurso de monografias sobre Delmiro e em 1961, foram concedidos pela Diretoria Seccional da LABRE e pelo Governo de Alagoas diplomas para radioamadores de 278 emissoras que divulgaram a obra de Delmiro Gouveia. Por ocasião do centenário do nascimento de Delmiro, em 1963, foram realizadas palestras em algumas capitais e homenagens no Congresso Nacional. Em 1977, estreou a peça "O Coronel dos Coronéis", escrita por Maurício Segall, a qual obteve terceiro lugar no Concurso de Dramaturgia do Serviço Nacional de Teatro. No ano seguinte, foi lançado o filme "Coronel Delmiro Gouveia", com roteiro de Orlando Senna e Geraldo Sarno, que foi premiado no Festival de Brasília de 1978, e teve seu roteiro publicado em livro e na forma de história de quadrinhos. O industrial chegou, inclusive, a ser tema de desfile de escola de samba no Rio de Janeiro, tendo a Unidos da Tijuca sagrado-se campeã do grupo 1-B com enredo "Delmiro Gouveia, uma história do Sertão".
Em 1993, a Federação das Indústrias de Pernambuco, o "Diário de Pernambuco", a FUNDAJ e o BANDEPE instituíram o "Prêmio Delmiro Gouveia de Vanguarda Industrial", destinado a distinguir anualmente "as indústrias que se destacarem pela adoção de inovações nas áreas de qualidade, relações trabalhistas, gestão empresarial e interação com a comunidade".
              
Na vasta produção intelectual sobre Delmiro, é enfatizado seu aspecto empreendedor e ousado. Mostra-se um industrial que se antecipou na introdução de inovações técnicas, no controle da reprodução operária e na exploração das potencialidades do Sertão para a indústria. Mostra-se um homem de pulso e visão, convertido em empresário exemplar. Delmiro é representado como um indivíduo destemido - homem de grandes embates -, que teria enfrentado sozinho a prepotência das oligarquias estaduais, a fúria dos trustes internacionais, a violência dos coronéis e a ignorância dos camponeses sertanejos. Surge, também, como o homem com rara habilidade para ganhar dinheiro e organizar empreendimentos inovadores, mobilizando amplamente os recursos oferecidos pela técnica e pela ciência.
              
Para alguns autores - solidários com o mito burguês da ascensão social como uma possibilidade aberta a todos -, Delmiro aparece como um nordestino pobre que deu certo. Como o rapaz humilde que, por esforço próprio conquistou conhecimentos, prestígio e riqueza. Sintetizando esta visão, Gilberto Freyre o qualifica como exemplo de "self made man" (FREYRE, 1959, 121). Nesta ótica, Delmiro converte-se em testemunho de que - dependendo unicamente de suas qualidades individuais - qualquer indivíduo teria condições de ascender socialmente, aproveitando as chances que a sociedade burguesa oferece.
              
Para uma corrente nacionalista do pensamento de esquerda, Delmiro surge como vítima das oligarquias retrógradas e como mártir da luta contra o imperialista. Sua habilidade empresarial é reconhecida, porém, mostrada como insuficiente para vencer estes dois inimigos. Sua trajetória considerada brilhante no mundo dos negócios, porém, marcada por sucessivos percalços e por um final trágico, é mostrada como evidência das dificuldades postas pelas empresas internacionais e pelas elites "atrasadas" ao desenvolvimento do País. Na obra desses autores, os conflitos políticos entre Delmiro e o grupo liderado pelo oligarca Rosa e Silva são enfatizados, e a concorrência entre a Fábrica da Pedra e a Machine Cotton é colocada como ponto central de sua trajetória empresarial e como causa provável de sua morte.
              
Esta ampla apropriação da trajetória de Delmiro para causas e idéias as mais diversas deve-se, em grande parte, à sua capacidade de mobilizar noções amplamente aceitas para justificar suas práticas e projetos. Delmiro soube como poucos associar seus empreendimentos a noções de modernidade e autonomia, despertando sonhos e esperanças em homens de seu tempo e prestando-se, posteriormente, para respaldar - não sem contradições - as mais diversas causas e projetos para o País.

Bibliografia e Fontes

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