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segunda-feira, 18 de julho de 2016

REPENSANDO NOSSO TEMPO

(*) Rinaldo Barros

A conversa de hoje é uma reflexão em defesa da nossa jovem Democracia, duramente conquistada; uma espécie de alerta sobre um fenômeno político ainda em gestação aqui no patropi, mas com raízes já fincadas em alguns países da América Latina: o surgimento de uma nova Autocracia. Vejamos.

Estamos assistindo o alvorecer de uma nova era política em terras crioulas.

Com a mundialização da economia, com a crise na União Europeia, com o enfraquecimento do Mercosul, com novo governo federal à vista, necessariamente, teremos uma nova realidade política em toda América Latina e Caribe, como de resto em todo o planeta.

Todavia, o impeachment presidencial é necessário, mas não é suficiente.

Nossos governantes e parlamentares, assim como, todos os homens de boa vontade, estão obrigados a repensar o nosso tempo. Como já tive oportunidade de lembrar aqui, o sucesso de rótulos como "pós-moderno" e "pós-industrial" evidenciam a incapacidade de os nossos dirigentes e intelectuais pensarem a partir do nosso próprio tempo.

Temos tentado pensar a partir do que já foi, e já não é mais.

Como se não bastasse, é lamentável a palpável cooptação de muitos outrora importantes movimentos sociais (como o sindical, o de mulheres e o de estudantes, por exemplo). É igualmente preocupante a despolitização das novas gerações, às voltas com um individualismo estéril, terreno fértil e perigoso para as manipulações. E somente os dinossauros ainda não perceberam a força descomunal da internet, revelando inusitadas formas de comunicação social.

Ninguém está preparado ainda para lidar com essa novíssima realidade. Trata-se de uma série de especificidades, eivada de ambiguidades, tecendo redes complexas e fragmentadas de conceitos e paradigmas, as quais vão se redefinindo, por sua vez, junto a cada movimento do real, a uma velocidade alucinante.

É uma espécie de entrelaçamento de novas reflexões que envolvem a arte, a cultura, a pedagogia, a tecnologia, a política, a economia, a produção de conhecimento, a internet e, como não poderia deixar de ser, os pressupostos filosóficos. Há um silêncio ensurdecedor da “intelligentsia” sobre o nosso tempo.

Acredito que o próprio papel de intelectual está igualmente se redefinindo, da mesma forma que cabe o questionamento dos conceitos do que antes se entendia como sendo "esquerda" e "direita".

Não se trata, é bom que fique claro, de afirmar o fim da história. Muito pelo contrário.

Trata-se, mais do que nunca, de reencontrar um Novo Iluminismo, como continuidade do processo histórico, das manifestações do novíssimo fazer humano.

Esta reflexão tem a influência direta das minhas releituras, notadamente de um dos livros de Cornelius Castoriadis, filósofo francês (Encruzilhada do Labirinto), a partir do qual ousei intitular este texto.

O cenário atual do patropi é composto por partidos fracos e sem novas lideranças, Congresso desmoralizado, corrupção endêmica, sindicalistas que viraram banqueiros, fundos de pensão (milionários) atraindo sócios privados privilegiados. Ressalte-se que, no Brasil, os fundos de pensão não são apenas acionistas - com a liberdade de vender e comprar em bolsas – mas são gestores que controlam os conselhos de grandes empresas. Uma baita fonte de corrupção.

O fato é que - devagarinho, o vírus da Autocracia minou o espírito da nossa Democracia constitucional; a qual pressupõe regras, informação, participação, transparência, representação, deliberação consciente e controle social. Nada disso existe em nossa República Surrealista dos Trópicos (Mestre Walter, sua bênção!)

Em verdade, continuamos a ser uma República sem povo.

Trata-se de um processo de desmoralização das instituições, combinada com o incessante culto à personalidade, a um só tempo autoritário e popular. Uma espécie de “fulanização” da política.

A meu ver, o Brasil vivenciava com o PT (e ainda corre o risco) um processo de criação de um novo e duradouro bloco de controle da máquina estatal, capaz de se manter por algumas décadas. (Aliás, este sempre foi o projeto do PT: conquistar o poder e governar para transformar, autocraticamente, o Brasil numa “potência” bolivariana.

Por trás desse “imbróglio” gigantesco, há toda uma camada de valores a ser estudada pelos analistas sociais. Com um problema: seu estamento intelectual - e aí se incluem os políticos - não pensa como a maioria do povo. Pior: nem sabe como essa maioria pensa.

E não adianta maldizer a realidade. Ela não deixará de ser real por isso. Estes são os fatos!

(*) Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso

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ABANDONOS E ABANDONADOS

*Rangel Alves da Costa

Nada possui a eternidade desejada nem a serventia que se almeja, pois tudo sempre limitado ao uso e ao poder de permanência. A verdade é que as coisas envelhecem, se tornam frágeis, viram escombros, desaparecem. Assim com as fortalezas, com as muralhas de guerra, com os casarões e os casebres, com a construção forte e frágil. Contudo, assim não deveria acontecer com a pessoa humana, quando desprezada e relegada ao fim antecipado.

Mas também com relação às coisas, grandes ou pequenas, que tantas serventias tiveram, mas que, pelos exaurimentos do tempo, foram sendo vistas como inúteis, desnecessárias, até desprezíveis. Uma roupa velha de trabalho, por exemplo, só é deixada num canto quando seus rasgões já não permitem uso. Ainda assim fica guardada como recordação e agradecimento pela serventia na luta. Mas outros preferem simplesmente descartar tudo aquilo que não esteja sendo de proveito imediato.

Daí os tantos abandonos e abandonados. Tanta coisa, tanta gente, tudo assim pela vida. E o esquecimento e o desamparo sempre pelo desinteresse, por que em nada afeta a vida do omisso em si, por que tanto faz como tanto fez que assim acontecesse ou não. O que não tem serventia não mais desperta qualquer cuidado, o que não traga retorno não merece ser valorizado. Tudo tratado como tralha, como traste velho, como resto imprestável, como nada.

Filhos abandonam pais, pais abandonam filhos. Sempre uma tristeza quando se noticia que filhos, na tentativa de se verem livres de seus já idosos genitores, acabam colocando-os em asilos e depois fazem de conta que sequer existem. Sempre uma angústia danada ao saber que pais simplesmente jogam seus pequeninos à sorte do mundo, em busca de esmolas ou pequenos furtos, e ainda os castiga quando o trabalho do dia não é lucrativo. Assim por que abandono não é só distanciamento, mas a negligência com a vida.

Costumeiramente, os abandonos familiares levam a grande número de abandonados no mundo. As esquinas, as marquises e as calçadas e vielas estão cheias destes relegados ao desprezo. Primeiro a negação familiar, depois a deprimente repulsa social. Meninos e meninas perambulando pelo mundo, dormindo debaixo da lua, entregues à sorte dos desprezados, e tantas vezes feridos na alma, no corpo, na esperança. E quase sempre usados para satisfação dos mais perversos e pervertidos instintos.


Tudo o que é abandonado vai corroendo antes do tempo. Mesmo que nada esteja imune ao perecimento, pois próprio da existência um começo e um fim, há uma dolorosa antecipação da ruína toda vez que o cuidado esmorece. Quem ama cuida, quem gosta preserva, quem sente abnegação busca conservar a todo custo. As preciosas relíquias surgem assim, pela conservação do que se tem como valor ao coração. Diferente ocorre com a desvalorização pelo envelhecimento, pelo desuso, pelo simples abandono.

Que se tenha em mente o velho carro-de-bois que depois de tanto auxílio e serventia agora resta esquecido debaixo de um pé de pau. O jumento que foi esquecido e relegado às distâncias depois que a motocicleta lhe tomou o lugar de montaria e transporte. O velho candeeiro deixado num canto dos fundos da casa pelo desuso após a instalação do bico de luz, para depois ser jogado ao lixo. A fiel companheira de muitos anos de união, inseparável na luta e no convívio, que de repente é rejeitada pelo ilusório surgimento de uma novinha.

Que se tenha ainda em mente o velho livro e o livro mais velho ainda. O primeiro, tido como um livro qualquer, de tanto esquecido e abandonado vai se enchendo de traças, sendo corroído folha a folha, até virar pó. Mas o segundo, pelo fato de ser especialmente admirado, é sempre cuidado, limpo, relido, folheado, conservado com esmero e carinho. Em casos assim, observa-se que o zelo assume função primordial nas permanências e permite uma existência maior a tudo aquilo que não é jogado aos porões do esquecimento.

As pessoas também envelhecem mais cedo e vão se exaurindo pelas situações de abandono. Um abandono chamado fome, pobreza, miséria. Ou quando vão se desprezando por conta própria. Um desprezo íntimo chamado vícios, drogas, permissividades, abusos de todos os tipos. Há gente que se abandona completamente, que chama para si as traças do mundo e se finda como um resto que passou pela vida e não viveu.

Por isso mesmo é que se há de gostar de tudo, de tudo aquilo que seja útil, traga prazer e felicidade, e mais tarde possa servir como boa recordação. Uma vida utilmente vivida é imortal por si mesma. O que foi de serventia algum dia jamais será esquecido. Daí os convívios da infância, as experiências adultas, os amores, as paixões, os desejos tantos. Recordações que surgem por que não houve abandono do passado. Aliás, não existe passado, apenas esquecimento.

As traças avançam sobre tudo, são famintas, vorazes. Destroem vidas, passado, presente, tudo. Que nada fique ou permaneça ao abandono. Não deixe que devastem o seu livro maior e seu bem mais precioso: a vida.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

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CERTIDÃO DE BATISMO DO PADRE IBIAPINA

Por Joab Aragão

Para Benedito e Romero
Mando-lhes para arquivo ou anexo a fontes de estudo, certidão de batismo do padre Ibiapina.

Abraços
Joab Aragão

Enviado pelo professor, escritor, pesquisador do cangaço e gonzaguiano José Romero de Araújo Cardoso.

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MEUS AVÓS ABEL THOMAZ E MARIA GOMES.


Abel Thomaz, era um homem pacato, não gostava de conflito, porém devido à proximidade com Gomes Jurubeba e vendo a ameaça dos “Ferreiras” foi obrigado a participar da batalha em defesa do Povoado de Nazaré (Atual Nazaré do Pico/PE) teve sua participação em vários combates a exemplo "das Baixas", "Nazaré" e "Enforcado" quando ficou ferido na orelha.

Maria Gomes, filha de Gomes Jurubeba, muitos foram os dias que saiu da Fazenda Jenipapo com tachos de comida para os construtores da Igreja e, ao lado das irmãs e primas auxiliava na coleta dos recursos para compra do material da igreja. Foi na sua casa no Jenipapo, que seu pai Antônio Gomes Jurubeba, passou os últimos anos de vida e veio a falecer.

Geraldo Antônio de Souza Júnior (Administrador do Grupo O Cangaço)

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CANGACEIROS O GOSTO PELO PUNHAL


Os famosos punhais de lâmina longa não eram uma prerrogativa conferida apenas aos bandos de cangaceiros. Há inúmeros registros de tropas volantes portando peças dotadas de lâminas extraordinariamente compridas. Na foto observar uma Volante baiana portando punhais longos. Foto de Benjamim Abraão (1936).

Fonte: blog http://lampiaoaceso.blogspot.com
Pedro Ralph silva Melo (Administrador do Grupo Gangaceiros)


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OS CALOS DO CANGAÇO

Por Raul Meneleu Mascarenhas

O incômodo chamado calo, que a dermatologia, indica ser uma área dura de pele que se tornou grossa e rígida, inicia como resposta a repetidos contatos e pressões. Na botânica, o termo também é utilizado com uma condição de rigidez em superfícies de plantas ou folhas. No ser humano. já que o contato repetido é necessário para a existência do calo, o local mais comum para ocorrência são nas mãos e pés. Os calos geralmente não são nocivos, mas podem ser a fonte de outros problemas. como a infecção.

Alguns adágios conhecidos são:

"Quando o calo aperta, uns vão embora da festa, outros continuam a dançar descalços."

"Os Santos não têm calos. Se os tiver, deixam de sê-lo na primeira pisada."

"O calo só dói quando o sapato aperta."

Pois bem... voltando ao tema, na história do cangaço, também temos calos que machucam e têm que ser extirpados, pois podem ser realmente nocivos e fontes de infecção histórica. Para extirpa-los devemos usar um remédio chamado "Pesquisa".

Na Saga Cangaço, existem pessoas que querem tirar proveito dela, mas não exporem o que sabem, ou esconderem a verdade, fazendo de tudo, inclusive entrando com processos na Justiça Civil, no intuito de barrar o surgimento de verdades escondidas. Lógico que não conseguem fazer isso por conta dos pleitos terem sidos considerados Inconstitucionais. Por exemplo; o caso da tentativa de proibição do livro "Lampião - O mata sete",  obra lançada em 2011 que também fala do suposto adultério de Maria Bonita, embora o foco fosse a homossexualidade de Lampião.



Após anos impedida de ir à venda, teve a autorização para a comercialização. O Tribunal de Justiça de Sergipe entendeu que o cangaceiro é uma figura pública e que isso significa abrir mão de uma parcela de sua privacidade, além de citar o direito à liberdade de expressão do autor. A família de Lampião entrou com um processo porque se sentiu ofendida com a insinuação de que Lampião era homossexual e que Maria Bonita era adúltera.

Ora, não podemos tirar o direito da família em agir assim. Todo o direito teria e tem, de insurgir-se contra qualquer investida de denegrir-se as figuras de seus parentes. No entanto, não foi a família que deu uma contribuição maior para rebater essas "ofensas" do autor, onde em seu livro, aborda um tema que nenhum estudioso ou pesquisador do cangaço ouviu falar, mas foram, os pesquisadores e escritores independentes que o fizeram, onde em nossos grupos de discussão, fizemos artigos combatentes para desconstruir as afirmativas de tal livro.

Inclusive tivemos um dos maiores estudiosos do cangaço em Sergipe, o Dr. Archimedes Marques, Delegado da Polícia Civil de Sergipe, que lançou seu livro contestação "Lampião Contra o Mata Sete" contrapor-se ao livro do ex-Juiz Dr. 


Pedro de Moraes que em reportagem no G1-Globo disse que não esperava essa repercussão sobre seu livro. "O livro tem 300 páginas e foi escrito entre 1991 e 1997, período em que o juiz morava em Canindé do São Francisco. Segundo Pedro de Moraes, o objetivo foi desmistificar o Lampião herói, pois ele também seria um criminoso. “O Lampião herói foi criado pela esquerda intelectualizada após o Golpe Militar de 1964. Antes, ele era visto como um bandido e é sobre isso que meu livro trata. Não é uma biografia gay de Lampião, é uma biografia qualquer, além disso, eu nunca usei a expressão gay”, garante o autor."

ESSE FOI UM DOS CALOS DA SAGA CANGAÇO, mas existem outros. Entre eles OS FILHOS DE LAMPIÃO E MARIA BONITA.

Os pesquisadores e historiadores debruçam-se por diversos anos nesse "CALO" que a família mais próxima de Lampião e Maria Bonita insiste em não colaborar para que essa verdade não seja exposta, fazendo que se crie conjecturas sobre esse óbice.

Por que tentam esconder isso da história? Que valor moral ou até mesmo financeiro existe para se barrar todos os testemunhos de pessoas que viveram à época desses dois vultos históricos da saga nordestina?

Tomo emprestado de meu amigo João de Souza Lima, grande pesquisador e historiador da Saga Cangaço, seu artigo "Os Filhos do Rei do Cangaço" que faz parte de um de seus livros,  onde debulha tin-tin por tin-tin o grande achado seu, quando enveredou pelas caatingas do município de Paulo Afonso na Bahia, em busca da "verdade-calo":

João de Souza Lima entre os volantes Teófilo e Zé Alves

"Enigmático é o mundo do cangaço, ainda mais pela forma e o tempo de seus participantes resguardarem seus acontecimentos. Os últimos remanescentes, só agora, quando beirando os cem anos de idade, estão revelando seus segredos. Por longos anos, os fatos vivenciados foram trancados nos baús do esquecimento e lacrados com a chave da fidelidade da palavra empenhada. O tempo cuidou de reparar as falhas do passado e se fazer sentir a urgência de registrar seus marcantes episódios. Grande prejuízo para a história recente do nosso país, seria a perda dos relatos desses homens e dessas mulheres que viveram nas Caatingas, as conseqüências de uma luta ainda tão marcante para nosso povo do Sertão Nordestino. Misteriosa obediência ao segredo carrega o sertanejo, como se fosse parte inseparável o segredo e a honra. Alicerço-me no depoimento de Firmina Maria da Conceição, “Dona Cabocla”, cozinheira e lavadeira do bando de Lampião, que prestes a completar 102 anos de idade, no próximo mês de maio, lamentou ter me contado sua vivência com o Rei do Cangaço, se arrependendo de ter relatado sua relação dos préstimos de serviços ao cangaceiro, achando que mesmo hoje, o segredo deveria ter ficado guardado, só o confidenciando por insistência da filha Maria.

Por tamanha devoção e fidelidade cresceu minha admiração e respeito a essa mulher que é hoje parte da nossa história recente. É este um dos mais sinceros e puros exemplos de lealdade. Por ser Lampião a figura central do cangaço, sendo o maior expoente desse capítulo da história, o estudo referente ao tema tem recaído sua maior parte sob seus rastros. Diante do mínimo vestígio de fundamento, nós nos defrontamos com a questão inevitável de transmiti-lo. Os caminhos trilhados buscam os fatos inéditos, seguindo uma infindável legião de admiradores e estudiosos ávidos a alcançarem os novos achados. Em busca deles tenho me dedicado a longos dez anos de uma extensa pesquisa. Nessa caminhada na busca de informações sobre a história de Lampião, neste longo trajeto, um dos fatos mais marcantes foi a descoberta de um filho de Lampião e Maria Bonita. Das quatro gestações da cangaceira, sabíamos apenas sobre Expedita Ferreira da Silva, ainda viva e residindo em Aracaju. Quando comecei a escrever o livro: “A Trajetória Guerreira de Maria Bonita, A Rainha do Cangaço”, sempre que perguntava aos meus entrevistados detalhes sobre os gêmeos Arlindo e Ananias, irmãos de Maria Bonita, ou obtinha o silêncio por resposta ou escutava um curto e desafiador resmungar: “Ananias não é irmão de Maria Bonita não!”. Tive que me desdobrar para conseguir alguém que me explicasse mais abertamente essa afirmativa. Durante dias busquei os informes dos familiares e amigos que conviveram com Maria Bonita nos conturbados dias do cangaço. Um dos primos de Maria, um senhor chamado Manuel Maria dos Santos, apelidado por “Seu Nequinho”, um ex-barqueiro acostumado a atravessar, junto com o pai, os cangaceiros que cruzavam o milenar Rio São Francisco, foi o primeiro a confidenciar: “Ananias é filho de Lampião e Maria Bonita! Aqui todo mundo sempre soube desse segredo. Agora, na época de Lampião, quem era doido de andar com uma conversa dessa?!” Seu Nequinho ainda indicou mais algumas fontes que poderiam atestar o que ele estava dizendo e fui buscar a comprovação. Dentre as pessoas que fizeram seus relatos (e os tenho todos filmados para futuras comprovações) pode-se encontrar Servina Oliveira de Sá (prima de Maria Bonita), Eribaldo Ferreira Oliveira (sobrinho de Maria Bonita), os irmãos Osvaldo, Olindina e Maria Martins de Sá (primos de Maria Bonita), Firmino Martins de Sá (foi casado com a prima e melhor amiga de Maria Bonita: Maria Rodrigues de Sá). Estes são alguns dos que confirmaram a história que se segue: Dona Maria Joaquina Conceição Oliveira, “Dona Déa”, mãe da Rainha do Cangaço, estava grávida e por coincidência Maria Bonita havia engravidado quase que na mesma época. Por questão de aproximadamente dois dias, as duas mulheres viram nascer seus rebentos. Mãe e filha gerando vidas e fazendo crescer sua descendência. Pelas dificuldades impostas pela luta travada nas caatingas, onde cangaceiro vivia permanentemente em fuga, lutando contra as perseguições da polícia, filho era um entrave, levando perigo aos componentes do grupo e sofrendo as conseqüências da vida atribulada. Os filhos nascidos no cangaço, sempre iam cair nos braços de alguma autoridade política ou religiosa e às vezes enviados aos simples catingueiros, quando dotados da extrema confiança do cangaceiro. Duro castigo para as mães que tinham que ver seus filhos serem criados por outras pessoas. Maria Bonita dera à luz. Lampião arquitetou deixar o filho com a sogra, para que ela criasse as crianças como se fossem gêmeas e assim aconteceu. O filho de Dona Déa ganhou o nome de Arlindo Gomes de Oliveira e o filho de Lampião e Maria Bonita foi batizado como Ananias Gomes Oliveira. Ananias ainda está vivo, residindo em São Paulo. Arlindo faleceu recentemente. Era fácil observar as diferenças entre os irmãos: Arlindo era baixo e claro, Ananias é alto e moreno, ganhando por sua cor escura, o apelido de “Pretão”.



Dos depoimentos que se tem registro daquela época, o mais contundente é o deixado por José Mutti, major reformado do exército, que foi casado com Antonia Oliveira (irmã de Maria Bonita) e que escreveu o livro: Reminiscências de um ex-Comandante de Volante, que retrata com detalhes sobre a descoberta desse segredo, vejam a parte do capítulo que trata do mistério: “... ao chegar nos Picos do Tará, encontrei meus sogros arranchados numa frondosa quixabeira. Mandei construir dois quartos pra eles. encontrei duas crianças de dois anos cada. Tendo perguntado de quem eram filhos, dona Déa disse-me que eram mabaços (gêmeos) e eram seus filhos. As crianças eram completamente diferentes. O Arlindo sim, era parecido com a família, mas o Ananias era trigueiro (moreno escuro), não podia ser do mesmo casal José Filipe e Déa. Deu-me o estalo de ”Vieira”: será o Ananias, filho de Lampião e Maria? Comecei a perseguir a sogra: ‘Dona Déa, diga-me quem é o pai de Ananias, o Ananias não é filho da senhora e do José Filipe. Se a senhora disser de quem é filho o pretão (apelido do Ananias) eu guardo segredo até a morte’. Tanto persegui minha sogra para saber quem era o pai de Pretão, que um dia ela me disse “O Pretão é filho do homem” (a família de Maria Bonita tratava Lampião de “O HOMEM”), fiquei satisfeito e não falei mais no assunto”. Ai está desvendado mais um dos mistérios do cangaço e para registro histórico, vale salientar que Ananias concordou em fazer o exame de DNA, sendo coletado sangue de dona Mocinha (irmã de lampião), de Arlindo (o irmão que se diz gêmeo) e do irmão Ozéas Gomes. O desfecho está sendo aguardado porque vem sendo movido por meios judiciais uma vez que Expedita e Vera Ferreira (filha e neta de Lampião e Maria Bonita) se negaram a fazer os exames. Outro caso que foi bastante difundido foi o de João Peitudo - residente em Juazeiro do Norte (CE), onde veio a falecer - outro suposto filho dos Reis do Cangaço, mais um que tentou em vão se aproximar da família e não obteve resultados. Continuando no campo da pesquisa histórica, vasculhando as fontes que trazem alguma ligação com o cangaço, acabo de descobrir outro filho de Lampião, na cidade de Chorrochó, Bahia. Ele é da família dos famosos “Engrácias”, as primeiras pessoas que mantiveram contato com Lampião quando ele entrou no estado da Bahia, tendo vários membros dessa família seguido os cangaceiros. Alguns se tornaram famosos, como: Cirilo de Engrácia, Antônio de Engrácia, Zé Sereno, Zé Baiano, Arvoredo e Corisco. Da família dos “Engrácias” um dos grandes coiteiros de Lampião nessa região foi João Ramos de Souza, conhecido por todos como Joãozinho. Entre as filhas desse coiteiro Lampião se engraçou da jovem Helena e com ela teve um caso, poucos dias depois a menina-moça apareceu grávida e o Rei do Cangaço para resguardar a honra da jovem e não desmoralizar a família que tanto lhe dava guarida, tomou uma rápida e sábia decisão: pagou uma alta quantia a um rapaz, Simão Alves dos Santos, para que ele casasse com Helena e assumisse a paternidade do filho do cangaceiro. Simão topou o acordo e assim foi feito, nascendo a criança no dia 13 de agosto de 1930, sendo batizada com o nome de José Alves dos Santos. O parto foi realizado por dona Lídia, mãe do cangaceiro Zé Sereno. Durante muito tempo as conversas sobre esse caso foram mantidas em segredo, temendo a população que Lampião fosse sabedor que a conversa havia se espalhado. Quando Lampião morreu e o cangaço se extinguiu, as brincadeiras começaram a surgir e os amigos de José Alves sempre o perturbavam relacionando-o como filho de Lampião. Os comentários tornaram-se freqüentes e as pessoas de mais idade sempre tocavam no assunto. José Alves dos Santos ainda encontra-se vivo e residindo em Chorrochó, nas mesmas terras onde seus pais o criaram. Estive recentemente com ele quando realizei extensa entrevista e ele concordou em fazer um exame de DNA para realmente comprovar o que os fatos indicam. Os testes estão em andamento e só o tempo dirá se ele é realmente mais um filho gerado nas caatingas do Sertão Nordestino, mais um rebento descendente de Lampião, mais um fruto evidenciado de um farto capítulo da nossa história recente, a história do Cangaço, capítulo ainda tão latente, tão presente nos carrascais do Sertão."

Como vemos, todos querem contribuir para o esclarecimento da verdade, menos a família mais próxima de Lampião e Maria Bonita. Por que fazem isso? Que interesses estão envolvidos? Será que tem relação com o financeiro?

Esses dois temas, a homossexualidade de Lampião, plenamente rebatida por todos os pesquisadores, e os filhos dele espalhados por onde passou, podem ser considerados "calos do cangaço".

http://meneleu.blogspot.com.br/2016/07/os-calos-do-cangaco.html

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O GLOBO – 26.01.1932 “LAMPIÃO” SERÁ ABATIDO?


"O escritor e pesquisador do cangaço Antonio Corrêa Sobrinho disse o seguinte: É sempre um prazer ler textos sobre Lampião ainda vivo, 
e mais ainda, quando compartilho com os amigos. No dia 26 de janeiro de 1932 o jornal "O Globo" publicou o que segue abaixo:

O GLOBO – 26.01.1932
“LAMPIÃO” SERÁ ABATIDO?

NÃO! – Declara ao GLOBO um jornalista pernambucano conhecedor do sertão nordestino

Curiosas e interessantes revelações do nosso confrade.

O Sr. José Firmo está entre nós desde abril, do ano extinto. O jornalista pernambucano veio de Recife, como há seis anos passados, compelido por circunstâncias políticas. Homiziou-se na metrópole, como centro de maior civilização e cultura, e aqui permanece afastado da sua própria especialidade, que é o panfleto. Jornalista militante na capital de Pernambuco, tendo dirigido, com os seus irmãos, várias empresas jornalísticas, com uma história acidentada de campanhas e prisões, poucos, como ele, familiarizado com os problemas da sua terra, melhor aparelhado para discretear conosco sobre o banditismo no Nordeste, agora evidentemente em foco com as últimas ofensivas das forças policiais nordestinas contra Lampião e o seu grupo. O confrade aquiesceu. Nenhuma divagação supérflua. Fomos diretamente ao assunto.

Às nossas perguntas preliminares sobre o que pensava da eficiência da campanha movida ao bandido, responde-nos José Firmo:

- Penso que ela falhará por completo. Quero justificar, com razões poderosas, o meu pessimismo. Virgulino Ferreira é o efeito lógico de várias causas. Perdurará aquele enquanto perdurarem estas. Em 1929, por um imperativo da profissão, percorri quase todo o sertão do meu Estado. Estive em diversas cidades preferidas pelo bandido. Estimaria mesmo, pelo sabor da aventura, cair em algumas das suas armadilhas. Fiz inumeráveis inquéritos. Ouvi sertanejos. Estudei toda a região perlustrada e cheguei a uma conclusão que poderá parecer absurda, mas só o é para quem não desceu, como eu, até o coração de todas aquelas misérias. A conclusão, em síntese, é a seguinte: É a injustiça, em 99 por cento dos casos, que gera bandido, no alto sertão. Quase sempre, após a passagem dos contingentes policiais, em perseguição aos bandidos, engrossam as fileiras destes. Recolhi, a esse respeito, depoimentos interessantíssimos. O sertanejo, em regra, teme mais a polícia do que o cangaceiro. É que este devasta muito menos do que aquela. Não há nenhum exagero na afirmativa. Os confrades poderão chegar até àquela região caluniada e infeliz, onde vive um povo que é um milagre de resistência e de resignação. Essa resignação tem um limite. Ele pode gerar o herói ou o bandido, na sua explosão irrefreável. Foi uma injustiça que fez Antonio Silvino, célebre antecessor de Lampião, passar vinte anos no cangaço. Convivi com ele na prisão, em Recife. Ele me narrou, no pitoresco incrível da sua linguagem, a sua história. Era lavrador. Mataram-lhe o pai, à volta de uma missa. O assassino, protegido do chefe político local, nem sequer prestou declarações à polícia. Era demais. Gritaram nele todos os extintos maus das sub-raças que o formaram. Apanhou o rifle. Era para quem tinha que apelar. Era a sua instância superior. Matou o assassino. Fugiu. Internou-se na caatinga. Veio depois a necessidade de viver. Assaltos. Roubos. Novos crimes. Eis a história de um bandido que não tem a mancha-la o sangue de um desvirginamento. Nada sei a respeito. Sei que é feroz com o inimigo e generosíssimo com os que o protegem. E os seus protetores, no alto sertão, são inumeráveis.

Atalhamos um pouco o confrade na sua digressão vertiginosa. Lançamos uma pergunta:

- Quer dizer com isso que Lampião não será preso precisamente devido a essa proteção que lhe dispensam os sertanejos?

- É esse um dos motivos que, aliás, eu justifico. Se eles denunciarem Lampião, quem os vai depois proteger da vingança inexorável do bandido, uma vez que a polícia não mantém contingentes nas longínquas localidades onde eles vivem?

- E quais são as outras razões?

- São os mesmo os processos empregados. Os mesmos soldados. Quase a mesma oficialidade. Seu de alguns oficiais que forneceram até munição do governo ao bandido, à custa de remunerações generosas. Isso há anos passados, no governo do Sr. Sérgio Loreto. Houve um chefe de polícia em Pernambuco, um só, que levou a sério a campanha contra o banditismo. O seu nome está na boca de todo sertanejo. Eurico de Sousa Leão não burocratizou o cargo. Trabalhou de verdade. Dirigiu pessoalmente a campanha. Expôs-se ao perigo. Evitou que os seus soldados praticassem misérias contra os sertanejos. E se ele não conseguiu prender o bandido, logrou que, durante toda a sua gestão. Lampião renegasse o estado de Pernambuco, diminuindo assim o seu imenso raio de ação.

Mas voltemos às razões por que não acredito que os interventores do Nordeste consigam a captura do mais notável bandido que já registraram os anais daquela região. Resumamos tudo numa palavra: perduram quase todos os motivos que contribuíram para o fracasso de todas as expedições policiais que buscaram o bandido, desde a sua auspiciosa estreia no crime.

Somente isso explica que meia dúzia de homens, tendo à frente um facínora romântico, fardado de capitão, continuem, em plena civilização, a ironizar os poderosos contingentes policiais que os perseguem, há vários anos, comprometendo seriamente a cultura de um país que já aceita ideologias avançadas e que está francamente dentro de uma de suas fases históricas mais interessantes.

Estou falando muito. Não há necessidade disso. O seu jornal é perfeitamente moderno, vertiginoso e sintético. Já expus o meu pensamento. Para que comprometer uma das suas mais poderosas virtudes, que é a síntese?

E despediu-se.

José Firmo em palestra com o redator do "Globo"

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O LIVRO


OS REVOLTOSOS DA COLUNA PRESTES ATRAVESSARAM O BRASIL, DE SUL A NORDESTE, ENTRE 1925 A 1927… FORAM MOMENTOS DE RANCOR GENERALIZADO E CONFLITOS PELO BRASIL.

Abordagem coligida e temporalizada (em sequência de acontecimentos) no livro O SERTÃO ANÁRQUICO DE LAMPIÃO.


A Coluna Prestes tomou forma após o movimento militar (e civil) do tenentismo (1922). .... .. A Coluna foi um movimento que alterou a história política e social do Brasil para a modernidade e país desenvolvido (ainda que com falhas estruturantes e societárias) ... Fez irromper a Revolução de 1930... e o governo de Getúlio Vargas.
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ABORDAGEM DAQUELES MOMENTOS CRUCIAIS EM QUE SE SE CONSIDEROU UMA INVASÃO DE TERRITÓRIO DOS CORONÉIS E DOS CANGACEIROS DE LAMPIÃO! 

Como tal revelou Juarez Távora em suas Memórias (1973).

“Procurávamos evitar esses confrontos com os jagunços do coronel Zé Pereira, na Paraíba, e com os cabras de Lampião!”

“Um assombro…!”…diziam os moradores das vilas e cidades interioranas.


Uma carreira infindável de cavaleiros armados (chegou a 1600 !), cortaram o sertão nordestino, organizados por um estado-maior chefiado por Luiz Carlos Prestes e sob as chefias dos revoltosos general Miguel Costa e tenente-coronel Juarez Távora.

A cada trecho de 800 quilômetros os cavalos precisavam ser substituídos em negociações (‘nem sempre’ amistosas) com grandes fazendeiros.

Um exército em marcha com quatro destacamentos liderados pelos capitães Siqueira Campos, Cordeiro de Farias, Djalma Dutra e João Alberto Lins e Barros, todos promovidos a coronel pelo comando revolucionário. Advieram combates horripilantes, como o massacre de Piancó.

Este livro dá ênfase à passagem tumultuária dos rebeldes da Coluna pelo Nordeste, onde foram precipitados confrontos, diante da reação pontual de coronéis, com suas guardas pessoais, e os cabras dos cangaceiros.


Foto: PrismaNet

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DONA RITA ROSA DE JESUS, A LENDÁRIA PROPRIETÁRIA DA FAZENDA OITICICA

Dona Rita Rosa de Jesus

Dona Rita reuniu na sua fazenda Oiticica três cabras da sua inteira confiança: Antônio Ferreira da Silva (Antônio Bahia), Manoel Severino de Souza (Mané Fôiço) e o escravo João Pires Ribeiro (João do Cipó). Deu ordens para que armados de bacamartes e clavinotes seguissem rumo ao Termo de Triunfo, e no lugar São Domingos, assassinar a Antônio de Souza Pereira. O referido crime aconteceu às nove horas da noite em 12 de agosto de 1879. Reza a lenda que dona Rita despachara os seus cabras com a incumbência de lhe trazer a orelha do assassinado. Não era à toa que corria um boato em Belmonte que a dona da Oiticica rezava toda noite num rosário de orelhas de inimigos. Talvez viesse desse estranho rosário a capacidade que a velha possuía de atrair e manter o poder.

Numa época dominada pelo patriarcalismo, há que se ressaltar a figura de dona Rita Rosa de Jesus, nascida na Várzea da Fazenda Inveja no ano de 1826, filha do português José Pires Ribeiro e de dona Ana Maria Diniz (Ana Gomes da Várzea).

Casara-se aos 23 anos de idade com um parente Roque de Carvalho Brandão, filho de Cirilo Gomes de Sá e Ana Furtado Leite. A cerimônia aconteceu na fazenda Várzea no dia 05 de julho de 1849 e teve como testemunhas os Srs. Manoel de Carvalho Alves e Alexandre Gomes de Sá. Dessa união nasceram 7 filhos: José Pires Brandão, Ana Maria de Jesus, Maria de Barros Pires, Antônio Pires Brandão, Úrsula Camila da Soledade, João de Deus Pires Brandão e Roque Pires Brandão. No dia 28 de dezembro de 1868 seu esposo Roque de Carvalho Brandão, faleceu na fazenda Oiticica. 

Senhora de muitas terras e algumas casas na Vila de Belmonte, a sua residência de campo foi encravada na fazenda Oiticica, herança de seus pais, na qual além da casa-grande, foram construídos o engenho, a casa de farinha, a senzala e bolandeira de beneficiar algodão. Símbolos máximos da autonomia latifundiária, esses equipamentos sempre estiveram de pé, cobrindo de lendas não apenas a senzala, mas também o quarto do cuvico, localizado no coração da casa-grande e o sótão. Na sala do Coração de Jesus, diante do grande oratório, dona Rita costumava rezar diariamente em companhia da família e das escravas o seu rosário, o ofício, e recitar as suas ladainhas, sob a invocação dos santos dos quais era devota: Nossa Senhora da Conceição e São José. Era também proprietária de muitos escravos onde se destacou o negro Apolônio, que era o amansador de cavalos da fazenda. Apolônio conquistava a todos pela coragem e pelo largo sorriso que deixava à mostra os dentes de marfim. Só ele foi capaz de domar o fogoso Ventania, filho do alazão Soberbo, o marchador manga-larga mais exibido da Oiticica. Com a façanha, graças a um festival de chicotadas e esporadas na barriga do Ventania, Apolônio se transformou em herói da meninada da ribeira da Oiticica. Nos livros antigos da Paróquia da Penha encontra-se o registro do casamento de Apolônio: “Aos 15 de junho de 1874, na fazenda Oiticica desta freguesia da Serra Talhada inter servandis, na presença das testemunhas Francisco Pires de Carvalho e Jacinto Gomes dos Santos, receberam em matrimônio Apolônio Pires de Carvalho e Tereza, pretos, ele com 54 anos, natural de Fazenda Grande, morador na Vargem (Várzea) desta Freguesia, ela natural e moradora desta Freguesia, com 19 anos, escrava de D. Rita Rosa de Jesus, moradora na fazenda Oiticica. O vigário Padre Manoel Lopes Rodrigues de Barros.” Viúvo de Tereza, Apolônio viveu seus dias com a preta Manoela e se tornou o eterno “mensageiro” de Belmonte. Faleceu com mais de 100 anos de idade.

A dona da Oiticica é considerada uma das maiores simbologias do mandonismo, sua fama de mulher destemida e audaz correu mundos. No município de Belmonte, o imaginário popular e a tradição, se encarregaram de divulgar muitas histórias, em cujo epicentro está a figura da velha matriarca. Dona Rita impunha respeito, e também despertava medo e curiosidade das pessoas. Entre os negros da Oiticica, quatro deles, dos mais fortes, deviam estar sempre prontos para carregar a liteira da digna matrona nas suas idas à Belmonte geralmente nos dias de sábado para assistir missa na Capela de São José e para a feira . Corpulenta, medidas avantajadas, quadris largos, rosto cheio com sinais de barba, dona Rita era baixa, gorda e muito branca, sisuda, falava bastante alto, cheirava rapé e bebia zinebra. Dizia o que lhe viesse a cabeça, falava palavrões e arrochava os “seiscentos mili diabos”. Tempos depois começou a andar a cavalo, causando admiração naqueles que observavam admirados a vitalidade da velha cavaleira.

Sempre cercada de cabras para proteger a propriedade e garantir a família; a palavra da velha Rita era lei, como também diziam que era famosa em “rogar pragas”, não tinha uma que não pegasse. É tanto que, quando sua neta Donana fugiu aos 14 anos de idade com o primo Joaquim Leonel, a velha Rita se opôs ao casamento e rogou uma praga dizendo que “o destino da Oiticica seria se acabar igual a buraco de formigueiro”.

Vítima de apoplexia, cega, no dia 16 de setembro de 1908 termina a história de Dona Rita da Oiticica, mas não a do seu reinado. Antônio Pires Brandão substituiu a mãe, dando lugar a sua única filha Ana Pires Brandão (Donana), esposa do major Joaquim Pires de Alencar, no comando da secular fazenda Oiticica.

Como era tradição na época a matriarca Rita Rosa de Jesus foi enterrada na Matriz de São José do Belmonte.

(“HISTÓRIAS DA FREGUESIA DE BELMONTE” – autor: Valdir José Nogueira de Moura).

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