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domingo, 18 de dezembro de 2016

ONTEM, COM PADRE MÁRIO

*Rangel Alves da Costa

Ontem, 17 de dezembro, num sábado sertanejo de sol brilhoso, o pároco da Matriz de Nossa Senhora da Conceição, demais igrejas e povoações, no município de Poço Redondo, sertão sergipano, o Padre Mário César, completou 50 anos de existência.

Alheio a qualquer tipo de comemoração festiva dos paroquianos – amigos, beatas, devotos -, o jovem pastor só aceita receber visitas cordiais de felicitações e sem quaisquer surpresas de bolos, salgadinhos, docinhos e cantorias. Não se sabe bem os motivos de não aceitar velas e palmas ou jubilosos alaridos. Mantém-se em reflexão e assim é encontrado pelos visitantes.

Cheguei já passado do meio-dia à residencial paroquial. Porta da frente fechada, avistei aberta a do lado, já ao fundo, e para lá me dirigi. Padre Mário já estava sentado ao redor da mesa para um almoço simples preparado por alguns amigos. Abracei, fui abraçado, recebi um imenso e sincero sorriso, tão afetuoso e penetrante que nos faz ungidos de corpo e alma.

Levei dois presentinhos. Aliás, ao adentrar na cozinha logo falei que o amigo secreto estava chegando. E que deleite estar na presença desse jovem pastor, cadeirante e com asas tão possantes que se abrem nos espaços a todo instante.

Meus dois presentinhos: o livro Paz e Bem, uma belíssima obra em capa dura sobre São Francisco de Assis, e um vinho. Assinei dedicatória enquanto o vinho era aberto e derramado em taça. Não aceitei brindar, infelizmente. Fui convidado a almoçar, mas outros afazeres me impediam de compartilhar as delícias gulosas daquela mesa.

Despedi-me repleto de contentamento. Toda vez que encontro e converso com Padre Mário me sinto assim. Confessarei algo mais. A cada abraço apertado e demorado de Padre Mário é como se os laços de amizade ficassem mais unidos e acrescidos de confissões: que a seiva do abraço revigore nossos corações para o eterno querer!

Já em pé para o retorno, disse apenas que lesse uma pequena mensagem postada por mim nas redes sociais naquela manhã. E mais tarde, nos comentários, lá estava sua voz: “Não faço por merecer. Não mereço. Total gratidão”. Merece sim, Padre Mário, merece muito mais. E por isso mesmo reproduzo as palavras de ontem:


“Mário César de Souza, filho de José Cirilo de Souza e Maria de Lourdes Santos. Padre Mário, simplesmente. E tudo.

Natural de Neópolis, cidadão sertanejo, homem de terra e céu. Aquele que veio entre nós e Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo acolheu como filho querido. E deste berço jamais abrirá a porta em despedida!

Repito: E deste berço jamais abrirá a porta em despedida! E assim por que Poço Redondo o tem como dádiva maior – verdadeira benção – chegada em caminhada sobre cadeira de rodas para ensinar o sertanejo a se erguer e caminhar pelo bom caminho.

Dotado de qualidades exemplarmente dignificantes, talvez suas características mais profundas estejam no falar o que o seu povo anseia ouvir, no dialogar sobre mundo e vida sem nada acobertar, na pulsação eloquentemente apaixonada sobre verdades celestiais e realidades terrenas, refletindo o sagrado na palma da mão calejada do povo.

Padre Mário não quer simplesmente a igreja, não quer simplesmente a Bíblia, não quer simplesmente a Deus. Pasmem! Padre Mário quer a igreja do povo e o povo na igreja, quer a Bíblia onde os evangelhos sejam também aqueles escritos pelo povo no seu mister de viver, quer Deus refletido como luz de sol sertanejo no semblante e coração de cada um.

E como é bom ouvir seu sermão, Padre Mário, como é bom sentar ao seu lado para dialogar grandiosas miudezas, como é bom avistá-lo chegando como anjo traquina para falar aos jovens, chegando como querubim cadeirante para repassar mensagens dos céus aos mais velhos, chegando com o seu vozeirão para dizer: Acorda, Marizete!

Parabéns, Padre Mário. Das águas são-franciscanas à aridez petrificada poço-redondense. Não chegado como escolha, mas como missão. Ou talvez como um daqueles mistérios sagrados que só são desvendados quando o povo reconhece a grandeza do presente de Deus.

Entre nós, Padre Mário, és um grandioso presente de Deus. E por isso mesmo hoje Poço Redondo e o sertão inteiro festejam o seu natalício. Cinquenta anos em um menino, em um homem menino, em um menino anjo. Anjo sagrado e tão profano no realismo explícito em tudo que faz e diz.

És verdadeiro. O povo sertanejo será sempre fiel à suas verdades, abraçará sempre suas sinceridades, sentirá na sua presença a força que tanto necessita para sobreviver e espiritualmente se elevar ante as durezas dos tempos.

Já é Natal. Feliz Natal, Padre Mário. A sua estrela de Belém já brilha hoje nos horizontes. Ao redor dessa manjedoura sertão, o povo louva o seu nascimento, como se louvando já estivesse o nascimento daquele outro menino.

A paz! Cinquenta anos e muitos outros mais. A paz!”.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

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