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sábado, 26 de novembro de 2016

HIPOCRISIAS

*Rangel Alves da Costa

Qual Olimpo o homem imagina habitar? Qual reino celestial está assegurado, desde já, ao ser? Qual deus, além de simples e mortal humano, o homem imagina ser? Ademais, a vida é curta, breve demais, para que a pessoa se suponha além de mero passageiro. E trocar a doce experiência de viver por ilusões doentias, acaba transformando a passagem em devaneio e dor, ainda que o sujeito se imagine poderoso o suficiente para a tudo vencer.

Mas tem gente que nunca aprende a viver ou finge não querer existir perante os bons ditames da existência. Sempre esquece que ao homem foi permitido existir para viver com fraternidade, amor, compreensão, compartilhamento. Coisas simples e que não deveriam ser renegadas por ninguém. Contudo, indaga-se: o que levar o ser humano a transgredir a si mesmo, forçando ser além daquilo que lhe foi permitido ser?

Na possível resposta, algumas enfermidades psicológicas, comportamentais, morais e éticas. Doenças da honra, da conduta, da atitude, do trato do convívio social. Muita gente há que não se possa dizer que em completo estado de degradação. E tudo por que tomada de egoísmos, vaidades, soberbas, desonestidades, arrogâncias, demagogias, hipocrisias. As hipocrisias, aliás, causam um surrealismo mortal ao ser humano: cria aparências que são como vermes que, invisivelmente, vão corroendo por dentro, devastando aos poucos todo veio aurífero que imagina ser.

Mas não há como fugir dessa triste realidade. O mundo está cheio de hipócritas. A cada passo e por todo lugar pessoas fingidas, dissimuladas, falsas, verdadeiros lobos em peles de cordeiros. Os fingimentos parecem servir como carapaças às abomináveis verdades escondidas. É próprio dos hipócritas se esconderem em máscaras e falsas aparências. Sempre medrosos, mentirosos, desleais, não têm coragem de enfrentar as verdades que se apresentam. Brilhos e luzes nos que vivem em sombras. 


Na hipocrisia, a máscara brilhosa e fétida. No hipócrita, a perfumada putrefação. Tantas qualidades em quem só tem defeitos. Tanto querer ser sem nada ser. E pessoas assim por todo lugar. Hipócrita que se arvora da fartura quando nem tem o pão. Hipócrita que vive se escondendo nas sombras do poder. Hipócrita que menospreza o outro sendo um igual. Hipócrita que canta vitória quando pagou pela glória. Hipócrita que estende a mão e se enoja por dentro. Hipócrita que abraça quando deseja pisar. Hipócrita que possui duas ou mais faces segundo a situação ou conveniência. 

Hipócrita que acha que a vida é só o momento presente. Hipócrita que nem olha para trás para não avistar o amigo que ontem o serviu. Hipócrita que muda de opinião segundo o interesse. Hipócrita quando o anel no dedo vale mais que o restante do ser. Hipócrita quando a roupa bonita limita o contato com o de roupa simples ou rasgada. Hipócrita que se arvora de tudo ser quando nada é. Hipócrita que mostra o prato cheio do outro, dizendo que é seu, quando o próprio continua vazio. Assim as hipocrisias. 

Assim os hipócritas. Conheço muita que é assim. A muitos, a riqueza se expressa no luxo, esquecendo que a verdadeira grandeza reflete através da alma. Eis o mundo de feras e labirintos, eis a vida onde os de bom coração só são acolhidos aos olhos do Senhor. A razão do Eclesiastes: Vaidade das vaidades, tudo vaidade... Não sabendo que o sol nasce e o sol se põe. O que é agora já não será. E ao pó hás de retornar!

Enquanto isso, o humilde possui a sua paz merecida, o seu viver honrado e o reconhecimento pelo homem de bem e aos olhos de Deus. Então, por que forjar um viver aparente quando a grandeza humana está nas qualidades do ser em si mesmo, envolvido em verdade e realidade? Pelas ilusões e fragilidades. Quanto mais fraco o homem mais ele se ampara em sombras inexistentes.

Escritor
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


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