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domingo, 13 de novembro de 2016

A MORTE DOS “MARCELINO”


No município de Barbalha, CE, havia um “coronel” dono de uma imensidão de terras ‘repartidas’ em várias propriedades. Podemos citar como sendo seus, os imóveis rurais do coronel João Coelho de Sá Barreto, denominados Riacho do Meio, Piquete, Brito e Chapada, esses em terras cearenses, ainda tendo como propriedade uma fazenda no sítio Minador, no município de Serrita em Pernambuco.

Variavam suas culturas, sendo predominante a produção de cana para a fabricação, ou produção, de rapadura em seus engenhos de cana. Nas terras em terras pernambucanas criava gado para corte.

Necessitava de muita gente para fazerem os serviços. Dentre seus trabalhadores encontravam-se três jovens de uma família chamados João, Manoel e Marcelino. Todos da família Marcelino.


João sendo mais velho dos três, tinha grande experiência na lida do campo. Manoel, entre eles o do meio, com o vigor do jovem sertanejo aflorante em seu corpo, é promovido de trabalhador braçal para vaqueiro. Já Marcelino, estava começando a ‘entaludar’, muito jovem, principiava na adolescência. Essa família, no todo era composta por nove pessoas, das quais quatro eram mulheres e os demais homens.

No dia 23 de agosto de 1923, João Marcelino deixa a roça e vai à feira da Vila de Caririzinho, sua terra natal. Ainda hoje, em diversos locais por onde andamos nesse Sertão de meu Deus, o pessoal da roça tem o costume de trazer na cintura uma faca peixeira, instrumento de trabalho do trabalhador do mato, do roçado. Pois bem, João, ao chegar a Vila, estava com a sua faca na cinta. Na ocasião Ioiô Peixoto, velho conhecido de João, era Delegado daquela comunidade. Junto com um soldado e um auxiliar chamado José Benedito inquerem João a entregar a faca peixeira. João, homem rude e temperado, puxa a faca com bainha e tudo e a joga no chão, aos pés do Delegado.

Aquele ato da autoridade, para o sertanejo, foi visto como sendo uma desmoralização a sua honra. É tanto que João Marcelino profere uma frase para os três:

“- Esta faca ainda vai parir muitas faquinhas!” (barbalhaterradesantoantonio.com)

Voltando para casa, João diz aos irmãos o que ocorrera na Vila. Todos ficam indignados pelo ‘abuso’ de autoridade do delegado. Assim o tempo passa e, vez por outra, João relembra o que se passou naquele dia de feira.

Três anos depois, em cinco de setembro de 1926, num lugar de banho comunitário chamado “Bica do João Bento”, Manoel Marcelino, irmão de João, conseguindo apossar-se da arma de Ioiô Peixoto, um revólver, e o mata para lavar a honra do irmão.

Desse dia em diante, aquele trabalhador, vaqueiro das caatingas, entrega seu gibão ao patrão e cai na vida do banditismo. Vira cangaceiro e passa a ser conhecido como “Bom de Veras”. João, solidário ao que o irmão tinha feito, também cai na vida de crimes e torna-se o cangaceiro “Vinte e Dois”. Está formado o bando de cangaceiros dos “Marcelino”.

Praticando arruaças aqui, roubos e molestando moças ali, a fama dos “Marcelino” vai espalhando-se pelo cariri cearense, transpõe barreiras e alastra-se nos estados vizinhos. O “Rei dos Cangaceiros”, Lampião, usou por diversas vezes o trabalho das armas dos “Marcelino” em vários planos, inclusive no ataque a cidade paraibana de Cajazeiras e na tentativa de ataque em Mossoró, no Rio Grande do Norte.

No sítio Cruz, no engenho de rapadura Lulu de Sá, tinha um ‘cambiteiro’ de cana conhecido por todos como João Vaqueiro. O clã dos “Marcelino” mexe e maltrata uma irmã desse vaqueiro que quer, também, lavar sua honra. Esse, larga da vida de trabalhador braçal, viaja para capital do Estado, Fortaleza, e senta Praça na PMCE. É enviado para destacar em Juazeiro do Norte. A partir daí procura não dar trégua aos cangaceiros.

O soldado João Vaqueiro, faz parte da tropa comandada pelo sargento José Antônio. O comandante da volante recebe a informação de que haveria um animado forró e que nele estariam os “Marcelino”. João Vaqueiro, conhecedor das redondezas, serve de guia para a coluna e a leva até a Baixa do Catolé, local da festança. Nessa noite, 23 de dezembro de 1926, é travado um grande tiroteio entre o bando de cangaceiros e a volante do sargento José Antônio. Nesse confronto morre o primeiro dos “Marcelino”, o “Bom de Veras”, assassino do Delegado Ioiô Peixoto, o ex vaqueiro João Marcelino.

A morte do cangaceiro “Bom de Veras”, pra variar, é no mínimo complexa, pois citam alguns autores que ele enfrentou a volante de frente. No entanto, a bala que o matou, penetrou na altura da sua nuca. Dando a impressão que alguém do próprio grupo o tenha eliminado. Há até a citação de um pagamento feito para isso pelo dono de um Chalet em Barbalha, o coronel Antônio Aristides Xavier, em ‘resposta’ a umas 'traquinagens' que o cangaceiro fizera no mesmo. A traição é tão antiga quanto à humanidade.

Um ano e três dias depois, em 26 de dezembro de 1927, a volante ataca o grupo e desse novo confronto, tomba o cangaceiro “Vinte e Dois”, João Marcelino. Saindo ferido o cangaceiro “Lua Branca”, um jovem adolescente que já caminhava na vereda do crime. Seu ferimento era no pé, impossibilitando-o de dar sequência a sua fuga. No dia seguinte, 27 de dezembro, é preso e levado para Barbalha.

No desenrolar dos combates e perseguições, terminam presos em Barbalha os cangaceiros “Lua Branca”, seus companheiros João Gomes e o irmão Joaquim Gomes, Manoel Toalha e um inocente, que não tinha nada com o crime Pedro Miranda.

Esses cinco presos são retirados da prisão de Barbalha para serem levados para a Cadeia Pública da cidade do Crato, onde seriam julgados, condenados e tirariam suas penas. O sargento José Antônio os retira da prisão em Barbalha, e os fazem seguir por uma antiga estrada usada pelos almocreves no transporte de suas mercadorias. Em certo momento, já tendo alguns quilômetros andados, o sargento, entregando uma ferramenta a cada um dos presos, ordena que cavem cinco covas rasas. O desespero toma conta dos prisioneiros. Alguns tentam fugir, outros aceitam o destino e terminam a tarefa... Assim, no romper da aurora do dia 5 de janeiro de 1928, todos do grupo dos “Marcelino” e um inocente, são executados nas quebradas do Cariri cearense.

Fonte blog Ct.

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