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sexta-feira, 2 de outubro de 2015

“O FIM DE VIRGULINO LAMPIÃO” O que disseram os JORNAIS SERGIPANOS


O livro “O FIM DE VIRGULINO LAMPIÃO” O que disseram os JORNAIS SERGIPANOS custa:
30,00 reais, com frete incluso.

Como adquiri-lo:
Antonio Corrêa Sobrinho
Agência: 4775-9
Conta corrente do Banco do Brasil:
N°. 13.780-4

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"SEDIÇÃO DE JUAZEIRO"

Postado por Sálvio Siqueira

Para os pardos que não viram, uma ótima oportunidade de ter uma noção de como foram os fatos, retirando as exceções. E para aqueles que já o tenha assistido, será uma boa para o final de semana. Depois 'puxar' o assunto em uma mesa d'um barzinho e ver, como todos prestam atenção em sua narrativa. O brasileiro, em sua maioria é preguiçoso em leituras, mas, é um bom ouvinte. Bom final de semana a todos.



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A IGREJINHA DO POÇO DE CIMA

Por Rangel Alves da Costa*

A gente sertaneja sempre teve a religiosidade espelhada na intensidade da fé. Talvez não haja qualquer outro povo mais devotado aos mistérios divinos que o vivente nas distâncias áridas da região nordestina, principalmente naquele contexto onde o sertão é mais característico: o bicho, a vegetação e o homem, tudo na dependência do que vem lá do alto, respingando como chuva abençoada ou se espalhando como sol de esturricar coração.

Se ainda hoje, em meio a tempos mundanos e pecaminosos, a religiosidade continua aflorada e incontida pelos sertões, que se imagine lá pelos idos do século XVIII para o XIX. Foi nesta época que o atual município de Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo começou a ser efetivamente habitado, pois antes disso apenas as penetrações de desbravamento no desconhecido sertão. Distando cerca de treze quilômetros do Velho Chico, nos confins da mata fechada, porém numa localidade mais elevada e de visão privilegiada, foi o local escolhido por Manoel Cardoso de Sousa para se instalar com sua família.

Tem-se, pois, a família Sousa, englobando os Cardoso, como pedra fundamental na gestação da futura povoação sertaneja. Quando as filhas de Manoel Cardoso, sendo estas Delmina e Maria Rosa, tomaram como esposos os irmãos Feitosa e Lucas, linhagens familiares frutificariam até os dias atuais. Igualmente ocorreu com o terceiro irmão, chamado Cirilo, que se engraçou por uma mocinha chamada Maria, das beiradas do Curralinho, e igualmente fez gestar uma importante família poço-redondense.

Toda essa gente necessitava ir além das orações e oratórios para expressar sua fé. Assim, logo foi providenciada a construção de um pequeno templo católico aonde aqueles moradores da região do Poço de Cima pudessem compartilhar com o sagrado as dádivas da existência. E também para celebrações, batizados, encontros de fé. Como padroeiro foi escolhido Santo Antônio, o santo protetor dos pobres e desvalidos e guardião dos grandes milagres. Nada mais justo a abençoar um povo em contínua luta pela sobrevivência.



Com o passar dos anos, o templo que era conhecido apenas como Igrejinha do Poço de Cima foi recebendo outro batismo e passou a ser denominada Capela de Santo Antônio do Poço de Cima. Foi erguida em local elevado, talvez defronte às principais moradias da localidade – considerando que quase nada resta das antigas residências – e com a parede do fundo voltada para a atual sede municipal.

 A Igrejinha do Poço de Cima ou Capela de Santo Antônio de Poço de Cima, como se prefira denominar, foi, pois, construída nos primórdios do surgimento da povoação. Consiste em uma pequena construção de arquitetura simples, com um pequeno altar um pouco adiante da parede do fundo, uma porta mais larga como entrada e mais uma em cada lado. Tais características continuam as mesmas dos tempos idos, diferenciando-se apenas nos reparos estruturais que foram feitos recentemente.

Com efeito, por muito tempo a igrejinha ficou relegada ao completo abandono. Os familiares dos antigos moradores do Poço de Cima sofriam com a visão das ruínas a cada visita que faziam àquele local de grandiosa importância sentimental, pois ali não só a escrita de um glorioso passado como a presença de entes queridos no pequeno cemitério que se estende pelos arredores da capela. As cruzes e os túmulos, ora mais imponentes ora apenas vestígios sobre a terra, são testemunhas dos quantos ali jazem na eternidade.

No rústico e quase familiar cemitério foram sepultadas não só as ilustres figuras do Poço de Cima como outros importantes personagens que deram origem ao povoamento do município, sobressaindo-se sempre os falecidos das famílias Sousa, Cardoso e Lucas. Importante ressaltar que até hoje estas famílias preferem ali, em campo aberto e muitas vezes rente às sombras das catingueiras, dar repouso aos seus entes queridos.

Ao longo dos anos, talvez como forma de não deixar que igualmente às antigas residências a igrejinha também desmoronasse, algumas tímidas iniciativas procuraram mantê-la em pé. O que foi conseguido, mas não de forma que a população sentisse que o seu templo sentimental estivesse devidamente reformado e pronto para os ofícios religiosos. A verdade é que não fosse a iniciativa da Paróquia de Poço Redondo, através do Padre Mário, mais uma vez as paredes estariam caindo, o telhado desabando e o interior tomado de morcegos.

Coube então ao Padre Mário, apaixonado e devotado que é pela terra sertaneja, designar um grupo de jovens para tomar a frente dos destinos da Capela de Santo Antônio de Poço de Cima. E que acertada escolha. Atribuiu-se a estes jovens, alguns deles com profundos laços familiares na localidade, proporcionar a feição que hoje pode ser encontrada: um verdadeiro templo de Deus, de história e amor ao berço de tantas gerações.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS


Se você ainda não comprou este fantástico trabalho só restam poucos livros, então procura adquiri-lo o quanto antes, pois os colecionadores poderão comprar os poucos que restam. Seja mais um conhecedor das histórias sobre cangaço, para ter firmeza em determinadas reuniões quando o assunto é "cangaço". O Raposa das Caatingas é sucesso nacional.

O autor aceita e agradece suas críticas, correções, comentários e sugestões:

(71)9240-6736 - 9938-7760 - 8603-6799 

Pedidos via internet:
Mastrângelo (Mazinho), baseado em Aracaju:

Tel.:  (79)9878-5445 - (79)8814-8345

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A INVASÃO DE LAVRAS

por Quinco Vasques
Quinco Vasques ao centro de seus 10 filhos, na Carnaúba dos Vasques

A espetacular programação do Cariri Cangaço - Edição de Luxo - Ano V em Lavras da Mangabeira, estava apenas começando. Ao final da tarde daquele 24 de setembro de 2015 a caravana seguiu sob o comando dos pesquisadores Cristina Couto e João Tavares Calixto Junior, para visitar os principais cenários da Invasão de Lavras pelo "Bravo Caririense" Quinco Vasques, de tradicional família do ramo dos Terésios de Missão Velha, isso em 1910.

"No amanhecer de sete de abril de 1910 o centro da cidade de Lavras da Mangabeira, no Centro-Sul cearense, era invadido por cangaceiros comandados por Joaquim Vasques Landim, o Quinco Vasques. Era político o intento, e como alvo, o mandão provisionado do feudo de Dona Fideralina – o Coronel Gustavo Lima. Não são muitos os relatos literários que atentem com riqueza de detalhes a este objeto, e ao presente trabalho, interessa uma tentativa de interpretação através do comparativo de duas versões díspares, principalmente. Nas páginas de O Rebate, periódico que circulou no Cariri entre julho de 1909 e setembro de 1911, nota-se uma destas versões, assegurada por seu redator principal, o Padre Joaquim de Alencar Peixoto. No jornal, uma série de cinco artigos atribui aos coronéis do Crato, inimigos declarados do Pe. Peixoto, participação crucial no evento. A outra versão apoia-se em autos de inquérito e em depoimentos do próprio Quinco Vasques, assim como de testemunhos e atenta à participação dos deportados de Aurora junto aos inimigos políticos lavrenses, próprios parentes do Cel. Gustavo, a fim de expulsarem-no, à bala, do poder municipal. Este episódio configurou-se como um dos de maior repercussão no cenário coronelístico do Nordeste do Brasil, à época, não só pela tentativa de deposição, propriamente, mas pela audácia na violação da predominância política estabelecida pela matrona Fideralina e o clã dos Augustos."  


Calixto Junior estabeleceu cinco paradas dentre as mais importantes que nos levariam ao episódio marcante de 1910. Em primeiro lugar, ainda fora do centro de Lavras fomos ao Trevo que divide os municípios de Lavras, Aurora e Caririaçu, de onde partiu Quinco Vasques com um razoável grupo de 50 jagunços e cangaceiros. Dali partimos para o Sítio Outeiro onde Quinco Vasques pediu que fossem redigidos dois bilhetes, "um para o Coronel Gustavo Augusto e outro para a polícia local". No Oiteiro o grupo de invasores já somavam mais de 100 homens em armas.

Numa terceira parada, agora já dentro da cidade, no "Beco da Igreja" a confraria Cariri Cangaço, sempre sob a orientação de Calixto Junior, conheceu o local das primeiras trincheiras e o local onde se fez a única vítima do inusitado episódio. Quinco Vasques comandou seus homens subindo pela Igreja e percorrendo os becos do centro até chegar a Casa dos Augusto, primeiro a casa de Dona Fideralina, que se encontrava no Sítio Tatu e depois prosseguiram em combate para a casa do principal protagonista da defesa, coronel Gustavo Augusto.

 
Primeira parada no Trevo de entrada de Lavras
Calixto Junior e Manoel Severo
 Caravana Cariri Cangaço na segunda parada no Oiteiro

 Terceira parada no "Beco da Matriz"
 Antônio Tomaz e Aderbal Nogueira em frente a Casa de dona Fideralina
Última parada: Casa do Coronel Gustavo Augusto

"Joaquim Vasques Landim, o Quinco Vasques ou Quinco Vasco. Nascido em 1874, aos 5 de janeiro, no sítio Santa Teresa (Missão Velha), veio casar-se em 1893, aos 9 de novembro, com Maria da Luz de Jesus (Marica), de 20 anos de idade, nascida no Sítio Olho d'água Comprido, do referido município. Depois de casado, Quinco Vasques deixou Santa Teresa, indo residir no sítio Tipi, em Aurora, onde foi vaqueiro de seu parente José Antônio de Macêdo (Cazuza). Morou, depois, nos sítios Boca das Cobras, em Juazeiro do Norte, Bico da Arara, na Serra de São Pedro (Caririaçu), e Passagem de Pedras, confinando-se este com o de Santa Teresa, seu local de origem."  
  
Quinco Vasques

"Vasques realizou diversas proezas. Questionou com os poderosos de Missão Velha, Isaías Arruda e Sinhô Dantas, sem objeção. Juntamente a três filhos, dentro de um vagão de trem, defrontou o temíveis Paulinos, de Aurora, que o haviam jurado para um primeiro encontro, mas retrocederam.  Todavia, nada se compara ao evento de 7 de abril de 1910, em Lavras da Mangabeira. Com efeito, Quinco Vasques abalaria as estruturas de uma das mais fortes oligarquias do Nordeste, até então, exclusivamente por eles próprios deturpada. Teria sido Joaquim Vasques um jagunço ou algum tipo de facínora? Seria Vasques um mercenário, ou apenas um aventureiro? Teria sido um herói regional, ou meramente alguém que, pelos repetidos atos de destemor, ganharia fama de bravo, tão somente?"

Caravana Cariri Cangaço no Sítio Outeiro em Lavras da Mangabeira

Depois de percorrer os principais cenários da invasão a Caravana Cariri Cangaço foi recebida no gabinete do prefeito municipal de Lavras da Mangabeira, Dr Tavinho Bisneto, onde foram apresentadas armas e outros artefatos pertencentes ao seu Bisavô, coronel Gustavo Augusto Lima. Do gabinete do Paço Municipal a confraria Cariri Cangaço se deslocou até a Câmara Municipal onde participou de Conferência, Debate e Lançamento do Livro de Calixto Junior "Considerações sobre a Invasão de Lavras em 1910.
  
Prefeito Tavinho Augusto e Manoel Severo
Veridiano Dias e o bacamarte de Coronel Gustavo Augusto

A solenidade marcou também a entrega de Títulos de Amigo do Cariri Cangaço aos pesquisadores; José Sabino Bassetti de Salto, São Paulo; Alcides Carneiro de João Pessoa, Paraíba e Reclus de Plá de Santana de Duque de Caxias, Rio de Janeiro, além do conferencista da noite, pesquisador e escritor João Tavares Calixto Júnior.
  
 Secretária de Cultura Cristina Couto
 Manoel Severo
Câmara Municipal de Lavras da Mangabeira
João Tavares Calixto Junior , a Conferencia e Título do Cariri Cangaço

"De acordo com o processo faziam parte do grupo armado de Quinco Vasques, dentre outros, os seguintes: Fenelon Carneiro Guerra, José Lino Simões, Vicente Maurício, Tremeterra, Matias de Tal, Belo Fernandes (vulgo Belinho), Pedro Calangro, Manoel Mouco, João Marreca, José Terto, Antão de Tal, Joaquim Gonçalves, José Cornélio, João Mariano, José Rosa, João Paulino, Ildefonso de tal, Joaquim Jardim, Antônio Sabino, Antônio Rosa, Josino (filho de Antão de tal) e Zezé. Ao término da luta, constatavam-se na turma de Vasques, alguns feridos, ao passo que do lado de Gustavo, tombara sem vida o subdelegado local, Possidônio Faustino.

Contam alguns lavrenses, mais em dia com os acontecimentos da terra, que o referido Possidônio Faustino, que também guardava fama de jagunço ou cangaceiro, recebera tiro de rifle na testa, durante a refrega. Afirmam que a primeira trincheira, teria sido erguida nas proximidades do beco da Matriz, e que os cangaceiros Carneiro, Vicente Justino, Bodega e os Leandros, todos do grupo de Gustavo, aguardavam a tropa de Vasques, de prontidão, junto a Possidônio. Informam ainda, que o referido Bodega, que ladeava o subdelegado Possidônio durante o tiroteio, avisava sobre o risco que aquele corria ao atirar e depois, erguer-se numa tentativa curiosa de conferir o resultado. A cada tiro dado pelo militar, observava atento um dos cangaceiros de Vasques, que, no minuto propício, acertou-o de fronte à face. Do centro de Lavras, depois de recuado o bando, rumou Joaquim Vasques com o grupo ao Sítio Calabaço, no riacho do Rosário, cujos proprietários, à época o Capitão Joaquim Lobo de Macêdo e Maria Joaquina da Cruz, lhes eram parentes. Atente-se ao fato de que a esposa de Vasques, Maria da Luz de Jesus, era prima legítima da referida Maria Joaquina da Cruz.  Na casa do engenho, onde os feridos receberam curativos, descansou e alimentou-se o batalhão, enquanto na casa-grande, repousava o chefe . Tornou-se providencial a casa grande no Calabaço já que a investida, sofrivelmente praticada, fracassou e o percurso de volta seria longo. O malogro do ataque teria de ser fatal por deficiência de planejamento. O contingente foi inexpressivo (cento e cinquenta homens), calculadamente, enquanto não se ignora que, nos casos de deposições, algumas centenas eram organizadas. Na de Totonho Leite em Aurora, por exemplo, arrebanharam-se cerca de seiscentos. Além disso, os atacantes já chegaram fatigados, tendo perfeito a jornada a pé, tirando mais de uma légua por hora [9]. Considerem-se, ainda, a insuficiência de munição, bem como os preparativos para a resistência e defesa dos atacados, sem se falar no reforço policial que se aproximava da cidade ao ensejo da debandada. Refeitos da fadiga, reestabelecidas as forças no sítio Calabaço, retornou Quinco Vasques com seus homens, a Caririaçu, tendo alguns se dispersado no trajeto."

  
Trechos dessa postagem, em grifo vermelho: Passagens do Livro "Considerações sobre a Invasão de Lavras em 1910" de João Tavares Calixto Junior, lançado nesta noite.

Cariri Cangaço
Edição de Luxo - Ano V
Percurso em Lavras e Câmara Municipal
Lavras da Mangabeira, 24 de Setembro de 2015

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LIVROS DO ESCRITOR GILMAR TEIXEIRA


Dia 27 de julho de 2015, na cidade de Piranhas, no Estado de Alagoas, no "CARIRI CANGAÇO PIRANHAS 2015", aconteceu o lançamento do mais novo livro do escritor e pesquisador do cangaço Gilmar Teixeira, com o título: "PIRANHAS NO TEMPO DO CANGAÇO". 

Para adquiri-lo entre em contato com o autor através deste e-mail: 
gilmar.ts@hotmail.com


SERVIÇO – Livro: Quem Matou Delmiro Gouveia?
Autor: Gilmar Teixeira
Edição do autor
152 págs.
Contato para aquisição

gilmar.ts@hotmail.com
Valor: R$ 30,00 + R$ 5,00 (Frete simples)
Total R$ 35,00

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EM JARAMATAIA DE GARARU - FINAL

Por Nertan Macedo

Depois da comida o Capitão, a pedido do dono da casa, consentiu em deixar-se fotografal,só e acompanhado. Prometeu o doutor enviar-lhe as fotografias de presente, quando ficassem prontas.

Foto feita em Jaramataia por Eronides Carvalho

- Coronel, fique certo que eu mando cobrar estas poses ao senhor  - disse-lhe Lampião.

E solicitou em "particular" ao médico. Este já esperava pelo pedido e se preparava convenientemente. Indicou o seu quarto de dormir, fechando-se, ambos, nesse cômodo. Por medida de precaução, o doutor pusera a sua parabellum embaixo do colchão, nos pés da cama, para qualquer eventualidade. Sentaram-se lado a lado, no leito, com a mão direita apoiada no colchão, em cima do revólver. 

- Foi aí que eu notei a transformação- contou, mais tarde, o doutor. - As refeições do visitante cordial mudaram por completo. De um momento para o outro, aquela natureza estranha se transformou. Era, agora, outro homem, arrogante, grosseiro, autoritário, mais dono do que hóspede.

Falando quase num sussurro, como era de hábito. Lampião indagou:

- O senhor tem arma de fogo?

- Tenho e da boa, respondeu Eronides silabnado a resposta. 

- É igual a esta? - insistiu, puxando a Parabellum.

A arma, todavia, não saiu do coldre. O Capitão fez uma segunda tentativa, mas inutilmente.

- Está enferrujada, poderou o médico.

- Mas temos força - revidou Virgulino e, num gesto brusco e violento, arrancou a Parabellum do estojo de couro que a detinha.

Calmamente, o doutor pôs a mão sobre a do Capitão, que sustinha a arma, comprimindo o botão que liberou o pente de balas que saltou ao colo de Virgulino. Eronides apanho-o, guardando-o no próprio bolso, enquanto a mão, de novo, procurava com naturalidade disfarçada os pés da cama, onde ocultava a sua pistola. 

Desarmara o cangaceiro, este então pediu-lhe:

- Doutor, se as nossas armas são iguais, o senhor deve ter munição em casa. Estou desmuniciado e preciso de bala. O senhor vai me dar um pouco da sua;

- De fato, replicou Eronides, tenho uma caixa de munição em casa e posso cedê-la ao senhor.

Levantou-se. Foi a um armário próximo e retirou de lá uma caixa. Abriu-a sobre a cama e retirou um punhado de balas, que passou a Virgulino. Tirou um segundo punhado e quando apanhou o terceiro, quase esvaziando o conteúdo, Lampião obstou-o:

Basta, doutor. O senhor está morando nestas brenhas e precisa tanto quanto eu. Vamos dividir igualmente a munição - e ele próprio repartiu a caixa, após o que retornou ao alpendre para bater em retirada.

Na hora da despedida, o doutor fez-lhe presente de um par de perneiras do Exército.

- Na qualidade de Capitão, o senhor não pode andar sem perneiras, comentou Eronides.

- Não esqueça as fotografias, lembrou Virgulino. - Qualquer dia desse em mando buscá-las.

Tempos depois, estava o doutor Eronides na fazenda Cajueiro, descansando numa espreguiçadeira, quando um desconhecido dele se aproximou, trnasmitindo-lhe o seguinte recado:

- O Capitão Virgulino mandou buscar as poses da Jaramataia.

- Diga ao Capitão que eu não mando agora; Entrego depois, no lugar onde ele indicar.

- Pois pode mandar coronel para o Porto da Folha, entregar na venda que fica na entrada da rua. Basta chegar ao balcão e dizer – China!

Mais tarde, o doutor chamou um dos seus vaqueiros, fazendo-o portador das fotografias. Ensinou-lhe a senha indicada.

O vaqueiro foi a Porto da Folha, chegou à bodega, onde se achavam alguns fregueses, gritando:

- China!

O dono da mercadoria fez-lhe um sinal, levando-o, incontinenti, a um quarto no interior da casa. Ali recebeu das mãos do portador as fotografias tiradas em Jaramataia.

Um dia o bando de Lampião matou um vaqueiro do doutor Eronides, em Nossa Senhora da Glória. Num encontro com o Capitão, lamentou o acontecido de modo amargo:

- Seus homens mataram o meu vaqueiro, Capitão. Deram-me um prejuízo de quinze contos de réis, quantia que o homem levava, da venda de um gado nas Alagoas.

Lampião ouviu. A seguir justificou-se:

- Aquele vaqueiro não prestava, coronel, nem pra mim nem pro senhor. Falava demais! Dava conta de todos os meus passos pela sua propriedade. Vivia batendo com os dentes na feira. Quanto ao dinheiro, pode ter certeza de que não me apoderei dele. Deve estar com o defunto...

E mandou alguns dos seus homens abrir a cova do vaqueiro em cujo bolso interno, do paletó, foram encontrados, intactos, os quinze contos da venda do gado.

Pediu, mais de uma vez, montarias arreadas ao doutor Eronides e as devolveu depois, sem faltar uma corda, uma cela, um estribo.

Doutra feita, o médico aconselhou Virgulino a largar a vida erradia do cangaço.

- Não posso, coronel, é tarde demais. Em todo lugar querem me destruir.

Muitas vezes o Capitão voltou a pedir munição ao doutor. Não vinha recebê-la pessoalmente. Determinava o lugar onde devia ser enterrada. À noite ia buscá-la, com a sua gente.

Aproximava-se do fim.

Vez por outra, nas suas andanças por Sergipe, acoitava-se nas locas de pedra à margem do São Francvisco. Passava aí dias e dias, alquebrado, vinte anos de viver perseguido pelas tocas do sertão. Tinha quarenta anos de vida, mais da metade passada no cangaço.

Num dos seus derradeiros encontros com o doutor Eronides, que se achava doente, Lampião lhe disse:

- Vou mandar Maria Bonita tratar do senhor. Ela tem mãos de fada.

Morria, pouco depois, ao lado da amante, na Gruta dos Angicos. 

FIM

Fonte: Capitão Virgulino Ferreira: LAMPIÃO
Autor: Nertan Macêdo
Editora: Edições o Cruzeiro - Rio de Janeiro - 1970

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Lampião em Aquidabã

Por: Antônio Corrêa Sobrinho

Penso que, das investidas criminosas de Lampião e seus asseclas contra o povo sergipano, nenhuma, a meu ver, causou tanto terror, pânico e prejuízo do que a empreendida contra a população da então vila de Aquidabã, num certo dia de outubro de 1930, cujas informações primeiras a respeito só chegaram ao conhecimento do público depois de algum tempo, pelo médico e escritor Ranulfo Prata, no seu livro “LAMPIÃO”, as quais trago abaixo; vez que, até onde eu sei, os jornais sergipanos não noticiaram este trágico acontecimento.

Hoje, pela manhã, de passagem por Aquidabã, de uma parte alta da cidade, tirei esta fotografia (abaixo) que revela, panoramicamente, uma de suas partes mais velhas; ao mesmo tempo que registrei presença na provável imediação aonde ocorreram as barbáries contra o fazendeiro Zé do Papel, seu irmão Antônio Custódio, o roceiro Eduardo Melo e o fronteiriço Souza de Manuel do Norte.

Antônio Corrêa Sobrinho e Ed Wanderlei
Aquidabã por Antônio Corrêa Sobrinho

Eis o referido trecho do livro de Ranulfo Prata:

"Em outubro de 30 explode a Revolução, e o presidente do Estado, homens de instintos guerreiros à prussiana, para enfrentar as forças do capitão Juarez Távora que descem, em avalanche, do Norte, desguarneceu todo o interior.Lampião achou, afinal, a ocasião que tanto desejava, e partiu, num galope, em demanda da fronteira, para um ajuste de contas com amigos que não lhe foram leais.Era o voo certeiro de caracacá que desce como uma flecha sobre a presa desprevenida.

Nesta feita tocou primeiramente em Aquidabã. Compunham o bando, agora: Moderno, Corisco, Azulão, Ponto-Fino, Volta Seca, Couro Seco, Beija-Flor, Cirilo, Mariano, Fortaleza, Mourão, Zé Baiano e mais cinco.No povoado Cajueiro, cerca de três quilômetros da vila, às duas horas da manhã, bateu à porta de José Custódio de Oliveira, conhecido por José do Papel. Aberta a porta, José Baiano o agarrou e ameaçando-a de morte intima-o a dar o dinheiro que possuísse. José Custódio deu-lhe o que tinha – 850$000. Os bandidos saqueiam lhe a casa, levando roupas, anéis e objetos de uso. Um deles ao fitar um dos filhos menores de José a dormir na rede, diz:

- Está este pestinha aqui drumindo; tava bom de suspendê na ponta do punhá.

Um companheiro intercede em favor da criança. José Baiano leva José Custódio à presença de Lampião, que se achava dentro do mato, cerca de 50 metros de distância.No saque descobrem dez balas de rifle. Lampião interroga-o a esse respeito. José custódio responde que emprestara a arma ao Dr. Juarez Figueiredo, juiz municipal da vila. Lampião murmura: - com certeza pra esperar Lampião. E indaga se o juiz está em casa, obtendo resposta negativa.
  

Partiram para a vila. As pessoas encontradas no caminho eram detidas e incorporadas ao grupo. Perto dois bandidos subiram a um poste telegráfico e cortaram as linhas. Ao romper da manhã entraram na vila, tomando de assalto o quartel de polícia, onde não havia soldado. José Custódio ficou sob a vigilância de Lampião, Volta Seca e Moderno, espalhando-se pelas ruas os restantes, a arrombarem as casas e surrando todas as pessoas a bolo e chicote, feito de vergalho de boi. Alguns batem às portas, e, quando estas mal se abrem, irrompem, inopinadamente, pelo interior, de chicote erguido, a desferir golpes sobre golpes. Estão ferozes, animados de uma cólera louca.

Senhoras e moças fogem em trajes menores para o mato, desvairadas de pavor.A vila desperta toda enovelada num tumulto de feira, de onde emerge um pânico que imbeciliza os moradores. O nome de Lampião corre como um rastilho da casa mais abastada ao casebre das pontas de ruas miseráveis, pondo tremuras nos corpos, como uma sezão maligna.

Saqueiam o comércio e as casas particulares, carregando joias, roupas, objetos.Na residência de José Xavier, o quadro é atroz. Depois de roubado metem-lhe bolos. A mulher, animosa e valente, intercede e os chama de bandidos. Lampião ordena que a castiguem também. Os bolos estalam, brandida a palmatória pelo braço forte do negro Mariano. O marido pede. A mulher se indigna com a fraqueza do esposo e continua a xingar os miseráveis. E continua a apanhar.

Ranulfo Prata

Um certo Souza de Manuel do Norte, pobre maluco, tipo de rua de cidade do interior, aparece entre eles e vendo-os entregues ao arrombamento das casas, pede-lhes, com a sua falta de juízo, que não façam tal. Os cabras se exasperam e o insultam. E porque Souza, na sua inconsciência, lhes replica que também é homem, puxando de uma faquinha de marinheiro, sem ponta, um deles o abate logo a “parabélum”, em plena praça do comércio!

E repete-se a cena bárbara passada com o cadáver do tenente Geminiano. Com enorme facão marca “Jacaré”, abrem-lhe o ventre, incisando-o largamente. Retiram punhados de tecido gorduroso e ali mesmo “azeitam” os fuzis.É um quadro que aterroriza e faz nascer indignação inominável.Dispersos pelas ruas, não param no saque.

O velho Aurélio, agricultor, nega-se a dar dinheiro, apesar da insistência de Moderno. Este, afinal, que se vinha mantendo calmo, embravece e grita-lhe que não “viera ali para alisar homem”, batendo-lhe a face a pano de punhal, enquanto Volta Seca, por detrás, “pepina-o” sadicamente.
  
Arte de Denis Aragão

Numa esquina, Volta Seca põe abaixo, sozinho, a porta de uma venda e vasculhando as gavetas e nada encontrando, derriba, numa cólera selvagem, toda uma prateleira de louça, que se esfarelou no chão com ruído formidável de desabamento. Nada lhes resiste à fúria de possessos.Trazem para a rua o cofre de ferro do negociante Clementino Azevedo e o abrem, a golpes de marretas, conseguidas num tenda de ferreiro próximo, dele retirando três contos, que foram mesmo ali repartidos entre eles.

Calcula-se em vinte e cinco contos o que levaram em dinheiro e joias. As moedas de níquel e prata atiravam na rua, desdenhosos. Depredada toda a vila, arranjam, sob ameaça, animais selados.Antes da partida, José Baiano aproxima-se de José Custódio e lhe diz:

- Vou deixá uma lembrança pra você não emprestá mais rifle pra espera Lampião. Lança-o em seguida por terra e o espanca a vergalho. Não satisfeito, propõe mata-lo. Moderno, porém, que vinha chegando, impede, levando-o para junto de Lampião.

Aí desenrola-se outra cena monstruosa. Um dos bandidos, depois de esbordoar a couce de fuzil o roceiro Eduardo Melo, cortou-lhe a facão uma das orelhas, que se despegou com metade da face, morrendo o rapaz após um mês de padecimento. No ato da mutilação, um deles grita ao companheiro cruel:

- Não corte tudo, deixe um quinhãozinho do delegado.

O mesmo bandido, com as mãos sangrentas, volta-se para José Custódio e o previne de que ia deixar-lhe outra lembrança e logo decepa lhe a orelha, atirando-a ao chão. Acode-lhe o seu irmão Antônio Custódio, rogando a Lampião que não o deixe matar. Mas um dos cabras agarra-o e dizendo: deixe vê a sua também, faz-lhe o mesmo. Depois de mutilado José Custódio, sangrando, a inspirar dó, Lampião o chama e diz que vai lhe dar um remédio, obrigando-o a beber um litro de cachaça. O homem cai sem sentidos. O delegado de polícia, que se achava preso, e para o qual estavam reservadas as mesmas crueldades, fugiu, num momento de descuido, o que enfureceu Lampião, repreendendo os asseclas: - Voceis não faz nunca as coisa bem feita!” 

Antônio Corrêa Sobrinho
Fonte: Facebook

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