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segunda-feira, 16 de março de 2015

SANTANA, MIRANTES E CONHECIMENTO

Por Clerisvaldo B. Chagas, 16 de março de 2015 - Crônica Nº 1387

Conhecemos várias cidades planas, em Alagoas, como Arapiraca, Pão de Açúcar, São José da Tapera, Ouro Branco e outras mais. Não podemos negar, porém, que Santana do Ipanema, seja totalmente assim. É uma cidade ladeirosa, repleta de patamares para o norte e para o sul a partir da calha do rio Ipanema. Como tudo tem suas vantagens e desvantagens, Santana possui inúmeros mirantes naturais, perto de si e mais distante que contemplam tanto o  o núcleo urbano quanto as cercanias. Próximos a nós temos os serrotes do Gonçalinho, Cruzeiro, Pintado, Pelado, e serras Aguda e Remetedeira. Um pouco mais distantes, as serras do Poço, Camonga e Macacos. Quantos já subiram esses montes para conhecê-los e apreciar os cenários?

Mirante do Cruzeiro. Foto (Clerisvaldo).

Legítimo e cultural são, portanto, as caminhadas que grupos santanenses que moram fora, promovem periodicamente. Com objetivos de juntar velhos amigos, beber, brincar e caminhar, alguns vão conhecendo lugares do seu município onde nunca estiveram antes.
Como já passei da fase de caminhadas longas, ainda penso num pequeno grupo, em um jipe antigo e bom a percorrer a zona rural do município sempre aos domingos, tanto as partes serranas, quanto as planuras.

Apaixonado pela caatinga descubro imenso prazer em sair abastecido e parar em qualquer sombra do campo a se deliciar com a natureza. Quantas ruas de Santana você conhece? Quantos sítios do município? Quantos mirantes?

O conhecimento deveria partir da iniciativa escola. Uma programação que fizesse com que mais tarde o cidadão afirmasse: “Conheço minha cidade, meu município completo, meu estado todo”. Assim o homem está preparado para conhecer sua grande Região Geográfica e seu País para poder partir para o mundo. Ninguém ama o que não conhece.

Uma caminhada no momento, contudo, com a altíssima temperatura desse fim de verão, não anima a ninguém. Além disso, as estradas, trilhas e caminhos não estão de confiança. A droga, os bandidos em motos estão nos quadrantes do sertão, onde ninguém mais deve andar sozinho.

As visitas de conhecimentos e lazer, agora são ameaçadas pela insegurança dessa nova geração dos desmantelos.


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Dadá e Zé Rufino - Texto de outubro de 1968

Dadá esposa do cangaceiro Corisco

Maio de 1968. Jeremoabo, Nordeste da Bahia. Uma rua lamacenta, uma casa humilde. Aqui vive José Osório de Faria, Zé Rufino, de cama, meio paralítico por causa dos cinco enfartes que já sofreu. Ele sabe que Sérgia da Silva Chagas, a Dadá, vem vê-lo, como toda a cidade também sabe, pois as notícias correm de boca em boca, com a rapidez do telégrafo. Também deve saber o que Dadá quer dizer-lhe: que ele na matou Corisco em batalha, mas numa emboscada, traição.

No entanto, o que deveria ser um encontro feroz, de ódio, de palavras duras, acaba sendo uma troca de abraços comovidos, um pouco de alívio para um homem acabado, perto do fim. No quarto do doente, entra um moreno alto, forte, fardado:

- É você mesmo, Dadá?

Os dois se abraçam, Zé Rufino sorri. O homem fardado é Zé Rochão, soldado que participou da morte de Corisco. Chega mais gente que quer conhecer Dadá, a mulher de Corisco. Zé Rufino enxuga lágrimas com um lenço branco, os olhos estão baços da velhice.

- Eu não queria matar...

- Mas por que o senhor entrou para a volante?

- Com medo de morrer. Tinha medo dos cangaceiros e tinha medo da Polícia. A Fôrça me batia porque meus parentes acoitavam cangaceiros. Se eu ajudasse os cangaceiros, apanhava; se não ajudava, morria. Lampião chegou a me chamar para ir junto com ele. Não, não podia ir, era preciso ter coragem, não apreciava aquela vida, não. Não sabia o que fazer, acabei entrando para as volantes.

Zé Rufino, embora tranquilo, assusta-se quando a fotógrafa abre a maleta de couro para retirar um filme. Nesses trinta anos, a ideia de que algum filho de Corisco viesse vingar a morte do pai nunca lhe saiu da cabeça. Maria de Lourdes, a mulher de Rufino, conta que muitas vezes ele acordava sobressaltado de madrugada, revólver na mão, atirando.

Há três anos, discutiu com um soldado e teve o primeiro enfarte. De lá para cá, teve mais quatro. Nos últimos meses, tem piorado. Hoje, tem título de coronel. Ele olha para Dadá, sem uma perna que perdeu ferida pela mesma metralhadora que matou Corisco:

- Dadá, você nasceu errado, devia ser homem. Em muito lugar do sertão você tinha mais nome que Lampião. E seu filho Dadá, é um homem. Sílvio é um homem, mesmo.

Pega no lenço outra vez, diz baixinho: EU NÃO QUERIA MATAR CORISCO.

Manhã de sol, 4 de maio de 1930. Um domingo quase igual aos outros na Fazenda Baixo do Ribeiro, no sertão Norte da Bahia. Dadá, menina de doze ou treze anos, bate roupa na fonte , sonhando com o dia em que vestirá vestido de noiva e irá à capela, montada no burrico, ao lado de Cazuza. Em casa, Dadá ajuda a cuidar de oito irmãos menores, e ainda cozinha. A família vive de plantar e de algumas criações. O futuro de Dadá, moreninha e bonita, parece tranquilo. Ela bate e bate a roupa, que vai estendendo ao sol, nas pedras.

Então, de repente, aparece um sombra. Dadá olha para cima. É um homem com roupas diferentes, todo armado, chapéu de aba quebrada, muita firmeza no olhar. Diz simplesmente:

- Venho mais tarde para te levar comigo.

- Não. Eu não vou.

O homem alto e loiro vira as costas e se vai. Dadá está assustada. Sente um frio, medo, corre para casa, longe dali. O pai a recebe:

- Cazuza foi baleado por Corisco.

Um homem alto e loiro, cheio de armas. Era ele mesmo: o cangaceiro que a queria levar acabava de matar seu namorado. E instantes depois aparece, a cavalo, e ordena ao pai de Dadá:

- É esta mesmo, coloque na garupa, ande, vamos logo!

Dadá apenas chora. O cavalo parte a galope.

Nasce um cangaceiro

Cristino Gomes da Silva Cleto, Corisco, o “Diabo Loiro”, nasceu em Matinha de Água Branca, na serra da Jurema, Alagoas. Cedo aprendeu a lei fundamental do sertão: lavar com sangue qualquer desonra sofrida. E desonra pode ser uma simples ofensa, como pode ser o defloramento de uma irmã, uma calúnia contra algum parente. Corisco se forma assim: sertanejo humilde, mas pronto a cobrar uma dívida de honra com a ponta do punhal.

Foi essa lei que Corisco teve que enfrentar bem cedo. Coisa à toa. Uma festa de fazenda, cachaça para todos, música e dança para animar. De repente há uma briga. Corisco, com dezesseis anos, ou menos, é ofendido, e mata. Mata um homem que é protegido do coronel mais da região. Precisa fugir, pois mais dia menos dia, o coronel mandará matá-lo. Corisco pensa: se conseguir embrenhar-se na caatinga e encontrar o banco de Lampião, está salvo. Assim tinha feito tantos outros, como Labareda, cangaceiro famoso que aos 17 anos assassinou o soldado que violentara sua irmã. Lampião aceitava homens assim, valentes, destemidos. Só não aceitava quem estava sendo perseguido pela polícia por roubo ou defloramento. Era uma lei também.

Foram meses de andanças para Corisco, roubando para comer, fugindo, a pé, a cavalo, como podia. Até encontrar o bando de Lampião, que descansava à beira do rio São Francisco, bem perto da Fazenda Baixa do Ribeiro. Então Corisco conheceu Dadá.

Um revólver inútil

Na Fazenda Baixa do Ribeiro viviam algumas famílias. A de Cazuza, namorado de Dadá, tinha muito gado, e andavam sumindo algumas cabeças. Certamente seriam os “bandidos” que viviam ali por perto. Alguém avisou a polícia, possivelmente Maria Quileta, tia de Corisco e mãe de um dos rapazes que se tinham juntado ao bando de cangaceiros. No entanto, ela mesma urdiu toda uma intriga, dando a entender que quem tinha feito a denúncia fora Cazuza, mais o pai de Dadá. E Corisco em pessoa veio para vingar-se. Ao pai de Dadá, perdoou, mas não perdoou à família de Cazuza.

Gregório Silveira Nascimento, irmão de Cazuza, hoje com 58 anos, chapéu largo, alpercatas nos pés, roupa de brim, óculos, pele morena e rude, chega a chorar quando lembra aquele dia. Enquanto fala, acaricia o revólver, agora inútil, não tem em quem vingar-se pela morte do irmão, há 38 anos. Gregório conta:

- Cazuza tinha dezoito anos. Estava de joelhos, tirando leite da vaca. Feliciano, meu irmão mais velho, viu quando Corisco chegou e destravou o mosquetão. Pensou em correr, mas resolveu ir em defesa de Cazuza. Não deu tempo. Quando Cazuza levantou, Corisco atirou, de pouca distância. O tiro pegou no ouvido direito, ele caiu com a cara dentro do leite. Quando Feliciano se aproximava, outro cangaceiro, Beija-flor, atirou nele, mas errou. Feliciano se atracou com Beija-flor. Corisco atacou, com um punhal. Feliciano se afastou, mas a arma entrou no pescoço e varou até a boca. Feliciano também é vivo ainda hoje.

Deixando os dois corpos estirados no chão, Corisco foi conversar com a mãe de Cazuza, que, segundo Maria Quileta, também tinha denunciado os cangaceiros.

- Me mandaram aqui para dar uma surra na senhora e lhe cortar os cabelos, mas eu não sou homem de maltratar mulher, então matei seu filho.

- Você matou meu filho, mas foi injusto, porque ele não tem intriga com ninguém. Cazuza é irmão de leite de Rafael de Silvestre, e Rafael de Silvestre é seu primo, Corisco.

Os parentescos e amizades são muito respeitados no sertão. Ante a revelação da mulher, Corisco chegou a chorar arrependido. E, antes de partir para raptar Dadá, ouviu a mulher dizer:

- Nossa Senhora que cubra com seu divino manto. De mim o senhor é perdoado. Matou meu filho, mas foi injusto.

Chega o amor

Jovemzinha de treze anos, Dadá foi levada para longe dali. Corisco a violentou, ela quase morreu.

- Eu não podia mais ver meus pais. Era “mulher de cangaceiro” e, se fosse à casa deles, eles seriam considerados coiteiros pela Polícia.

Coiteiro era qualquer pessoa que ajudasse os cangaceiros.

- Mesmo assim, meus pais apanharam da volante, minhas irmãs de cinco e nove anos passaram frio e fome na cadeia, meus irmãos tiveram as unhas arrancadas. Minha mãe quase morreu de tanto desgosto.

Três anos ficou Dadá nessa vida angustiada, na casa de uns tios de Corisco, odiando-o, vendo-o uma vez ou outra, até que um dia ele disse:

- Agora você pode ir com a gente, já tem mulher no grupo.

E Dadá, a sertaneja calma, serena, de pouco falar, colocou suas muambas nas costas e saiu para enfrentar uma vida de tiros, correrias, a luta contra a polícia na caatinga, dormindo ao relento sobressaltada, comendo quando houvesse comida.

- Às vezes dormíamos em travesseiros recheados de dinheiro e não havia o que comer. Mas, quando a polícia dava folga, tudo de bom se tinha, perfume, cavalos. Vivíamos como as mulheres da sociedade, ao pé do marido, como dona de casa... como estou vivendo hoje em minha casa.

Em 1932, a perseguição policial apertou. O grupo se dividiu em dois, um com Lampião, outro com Corisco. Foram para o Raso da Catarina, vasta região ao norte da Bahia. Agora não podiam mais andar a cavalo, pois os animais chamavam a atenção. Então, encantada com a delicadeza e o carinho de Corisco, Dadá começa a gostar dele.

- Quem não ama o homem que carrega a gente no colo pra gente dormir?

Corisco resolve casar com Dadá, e a cerimônia é realizada pelo Padre José Nunes da Rocha, hoje pároco em Feira de Santana-BA.

O primeiro filho de Dadá, Josafá, nasceu a 1º de maio de 1933, época dura para os cangaceiros, cercados por todos os lados, perseguidos, andanças sem descanso de um canto para outro.

- Fiquei com esse menino três meses. Por todo canto era tiro. O pobrezinho estava assadinho, chorava, eu não sabia o que fazer. Deixei com umas pessoas conhecidas, mas ele morreu.

Dadá compreendeu que não era possível criar os filhos:

- Foi horrível ter meus filhos e não poder carregar. Sabe levar os meninos seria morte certa, aquilo não era vida para anjo. Tive sete. Três estão vivos: Celeste, casada, com dez filhos; Maria do Carmo, com três filhos e Silvio Bulhões, que é economista e tem seis filhos. Todos eles foram criados por amigos. Mas nasciam na caatinga, onde eu estivesse. Celeste nasceu durante uma perseguição.

Onde está Lampião ?

Para o homem comum do Nordeste, ainda hoje, cangaceiros eram heróis, homens fortes que lutavam por justiça e liberdade. Eram quase sempre sertanejos, altivos, orgulhosos. Do outro lado, as volantes, a polícia que os caçava em nome da lei. Entre dois, estavam os sertanejos, numa posição delicada: se não tinham armas em casa, eram acusados de “coiteiros”, se tinham armas e repeliam os cangaceiros, acabavam sendo assassinados por eles.

Dadá conta que seu bando entrava em fazendas ou povoados e primeiro pedia dinheiro, ou comida. Se não recebesse, tomava à força.

- A gente respeitava as famílias, senão ninguém queria ser amigo da gente. Nossos bandos não faziam as misérias que vi no sertão. Por onde andei encontrei muita coisa ruim das volantes. Antônio Marcionílio, cortaram a barriga dele, perguntando: “onde está Lampião? Você vai dar conta”. Isso foi na fazenda Gravatá, Estado de Alagoas. Quando achavam que o homem era amigo nosso, aí era horrível. Às vezes penduravam de cabeça para baixo numa árvore e jogavam pedra. Quando pegavam um cangaceiro vivo, primeiro perguntavam se tinha medo de morrer. Geralmente, o “cabra” dizia que não. Então mandavam cavar um buraco, matavam e enterravam.

O grande cerco

Foi em 1931 que Dadá conheceu Lampião.

- Tinha traquejo desde menino. Às vezes a gente estava sossegada, na fazenda de algum coiteiro, quando ele olhava para um lado, concentrado, e dizia: “Vamos embora que aí vem a polícia”. Um dia, o dono da casa disse: “Que polícia, que nada, compadre. Vamos estourar umas pipocas”. E Lampião respondeu: Estourar pipoca, não. Em dez minutos vai estourar é tiro”. Saímos imediatamente, e no outro dia soubemos que a polícia chegara ali minutos depois.

De outra vez, a volante suspeitou que um vaqueiro fosse “coiteiro” de Lampião. Os homens da Polícia chegaram e o ameaçaram:

- Você sabe onde Lampião está? Vai dizer, senão morre.

O vaqueiro sabia, mas respondeu que não passava de um simples peão. No entanto, se a volante quisesse, ele iria dar uma espiada por ali, enquanto recolhia o gado. O rapaz foi, encontrou-se com Lampião e explicou tudo. Pediu a Lampião que achasse uma solução, pois se voltasse para casa sem dar notícias dos cangaceiros, a volante saberia mais tarde que eles tinham estado ali e o matariam.

Dadá não se cansa de elogiar a inteligência de Lampião:

- Ele pegou os chocalhos dos bois, colocou nos pescoços dos seus homens, e tocaram para a casa da fazenda, onde a volante esperava o vaqueiro. Os soldados foram apanhados todos desprevenidos, foi aquele inferno. Não sobrou um. Lampião tinha muito traquejo.

Um homem assim teria que morrer como morreu, traído por um “coiteiro”? Lampião e seu bando, uns 35 homens, estavam acampados numa espécie de caverna, de frente para o rio São Francisco, na Fazenda Angicos, em Sergipe. A volante os cercou pela frente, alguns soldados ficaram por trás, sobre os altos da caverna. Quando perceberam o cerco, muitos se lançaram correndo para a frente, e foram mortos por trás, como Maria Bonita, mulher de Lampião, baleada nas costas. Lampião e mais dez morreram. Quinze conseguiram fugir. Soldados daquela volante, vivos ainda hoje, se espantam com a coragem dos homens de Lampião. E confessam que tinham medo deles. Alguns estudiosos explicam a derrota de Lampião por uma questão muito simples: ele e seus homens não haviam atualizado os armamentos. Enquanto as volantes recebiam já metralhadoras e outras armas mais eficientes, Lampião continuava com seus fuzis, revólveres e até punhais tradicionais.

O tiroteio em que Lampião foi morto, ouviu-se da outra margem do rio São Francisco, do lado de Alagoas, onde estavam Corisco e seu bando. Porém ele não podia atravessar as águas para socorrer o companheiro.
As cabeças dos cangaceiros mortos naquele dia, 11 de junho de 1938 , inclusive as de Lampião e Maria Bonita, foram cortadas e enviadas ao Museu Nina Rodrigues, em Salvador.

Diga que matei

A morte do líder, Lampião, pôs em pânico o resto do bando. Mas logo o pânico se transformou em ódio, vontade de vingar. O vaqueiro Domingos, o “coiteiro” que acreditavam haver traído Lampião, estava com os dias contados.

Corisco esperou uma boa oportunidade, e dias depois dirigiu-se com seus homens à casa do vaqueiro, onde matou o mesmo número de pessoas que a volante tinha matado. Dadá lembra as cenas horríveis:

- Vi cabeças decepadas, enquanto os cães uivavam na noite escura. Num canto, escondida, vi uma moça gorda protegendo duas crianças, que de tanto medo nem conseguiam mexer-se. Fiquei com pena. Disse à moça: “Vão embora daqui, fujam por trás, pela porta dos fundos”.

Foram as únicas que escaparam. Uma criança salvas ainda vive, trabalha em Paulo Afonso. Todos os outros da família do vaqueiro Domingos foram assassinados. Corisco arrancou-lhes a cabeça, colocou numa rede e mandou um velho de nome João Crispim de Morais levar ao Tenente Bezerra, que tinha comandado a matança do bando de Lampião. Dadá não esquece o recado que Corisco mandou o velho dar ao tenente.

- Diga a ele que faça uma fritada com as cabeças. Diga que matei também duas mulheres para vingar as duas que foram assassinadas em Angicos.

Corisco não imaginava a injustiça que tinha cometido. O vaqueiro Domingos era grande amigo de Lampião e jamais o trairia. Tempos depois, soube-se que o delator de Lampião era outro vaqueiro, chamado Pedro, que vivia perto dali.

O último encontro

Depois disso, Corisco pensou em dissolver o bando. Não conseguiam mais dormir tranquilos. Chegavam a ter dois encontros por dia com os homens da polícia. As volantes agora estavam usando muitos sertanejos, até mesmo ex-cangaceiros, como rastejadores. Eram homens que conheciam a caatinga, corajosos, hábeis, os únicos capazes de enfrentar os cangaceiros em condições de igualdade. Num dos encontros, Corisco é ferido.

- Foi em Lagoa da Serra, Sergipe. Estávamos num rancho, esperando que viesse o almoço. Como demorasse, fomos para a casa da fazenda. Chegando lá, estava a Fôrça nos esperando, tinham descoberto nosso esconderijo. Estavam emboscados, metralhadoras todas no chão. Vínhamos eu e Roxinho na frente, Roxinho caiu logo, Corisco foi metralhado nos braços. Logo que percebi os tiros, tomei o fuzil de Corisco, enrolei os braços dele, carreguei-o para fora do cerco e assumi o comando.

Foi este o último encontro de Corisco com a volante, antes de morrer.

Se entrega Corisco... o fim triste !

1940. O sertão à tranquilidade. Os cangaceiros estão desarvorados. Por ordem do Governo da Bahia, aqueles que deixassem as armas podiam entregar-se ou seguir viagem para outro Estado. Não seriam punidos. Nem cortariam mais cabeças.

Dadá e Corisco, escondidos ainda, na casa de um sertanejo, já estão decididos, Corisco cortou os longos cabelos, guardou as armas numa mala, vão desaparecer no mundo, mudar de vida, trabalhar.

Acabaram de almoçar. No terreiro um cavalo encilhado os espera. Eles saem com as malas. A lenda diz que alguém gritou: “Se entrega Corisco!” E que ele respondeu: “Eu não me entrego, não!” Mas foi diferente. Corisco e Dadá estavam botando as malas sobre o cavalo, quando se ouviu uma rajada de metralhadora. Dadá saltou, pulou uma cerca, já atingida por um tiro no tornozelo. Ao levantar o rosto, viu vários soldados à sua frente.

- Estava certa de que ia ser sangrada ali, na hora.

Um soldado berrou:

- Vamos matar logo essa...

- Não toquem nela! – gritou a voz de comando. Era Zé Rufino.
Dadá encarou-o:

- Podem me matar, mas não deixe me judiar, Zé Rufino.

- Não vai pegar em arma nenhuma.

- Então corte você mesmo...., respondeu Dadá.

Mas ninguém teve coragem de cortar.

A viagem de carro de boi durou dez horas. Corisco pedia água e dizia, inconsciente, o nome da companheira. Morreu antes de chegar ao hospital.

(Zé Rufino não permitiu que cortassem a cabeça de Corisco, como acontecera a Lampião e Maria Bonita. Mandou enterrá-lo. Mas, cinco dias depois, as autoridades o desenterraram, cortaram a cabeça e o braço direito do cangaceiro e os enviaram também ao Museu Nina Rodrigues, em Salvador. Silvio, um dos filhos de Dadá e Corisco, luta, ainda hoje, para retirar do museu a cabeça do pai.)

Fonte: REALIDADE – EDITORA ABRIL – ANO III – NÚMERO 31 – OUTUBRO 1968
Entrevista e fotos de Christina Matta Machado


Fonte: facebook
Página: Corisco Dadá 

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CAVALGADA “CAMINHOS DA FORÇA VOLANTE: NO RASTRO DE LAMPIÃO." (NAZARÉ DO PICO/ FLORESTA - PE)

Por Cristina Lira

Prezados,
Boa tarde...!

Um amigo convida outro, que convida outros e no final fazemos uma bela festa.

Eu me chamo Cristina Lira, sou filha do Tenente João Gomes de Lira, e juntamente com mais vinte pessoas fundamos a Associação Tenente João Gomes de Lira. Esta Associação tem sede em Nazaré do Pico, e tem como um dos objetivos estimular o turismo local resgatando e fortalecendo a história de Nazaré e dos Nazarenos. Dentro desta proposta A Associação em parceria com a Comunidade de Nazaré está organizando a primeira Cavalgada de Nazaré do Pico.

E será uma grande alegria e uma honra tê-los conosco neste dia tão importante para o povo de Nazaré. Este é o primeiro passo para outras iniciativas de cunho social na nossa comunidade. 

A grande preocupação do meu Pai (João Gomes de Lira) era quanto ao futuro de sua terra... Hoje, estamos acolhendo o sonho do meu pai que era de ver Nazaré do Pico um lugar prospero e bom de se viver. Mas para que isto aconteça é preciso unir forças com pessoas amigas e que de certa forma conhecia meu pai e o via como um homem bom.  

Estou enviando anexo do Convite, e deste já fico na torcida para que vocês possam chegar para dar mais beleza a nossa festa.  

Gostaria de lhes fazer um pedido... Se possível divulguem para o maior número de amigos. 

Obrigada!

Saudações,
Cristina Lira  

Associação Tenente João Gomes de Lira
NAZARÉ DO PICO/FLORESTA - PE

CONVITE

A comunidade de Nazaré do Pico e a Associação Tenente João Gomes de Lira, tem a honra e a alegria de convidar todos os amantes das cavalgadas e apaixonados pelo cangaço, para a PRIMEIRA CAVALGADA 
“CAMINHOS DA FORÇA VOLANTE: NO RASTRO DE LAMPIÃO”,
que será realizada em
02 de maio de 2015, no distrito de Nazaré do Pico/Floresta – PE. 

PROGRAMAÇÃO

Data: 02 de maio de 2015
Local: Nazaré do Pico/Floresta – PE
6:00 às 7:30 – Concentração e café da manhã (Praça de Nazaré);
7:30 às 8:00 – Bênção e entrega da Bandeira de Nazaré e da Bandeira da cavalgada (em frente à Igreja de Nossa Senhora da Saúde);
8:10 – Saída para os Caminhos da Força Volante: No Rastro de Lampião;
10:00 – Fazenda Jenipapo - Parada para descanso e apresentação de grupos culturais;
10:40 Segue percorrendo os caminhos até a Serra do Pico;
11:30 às 12:00 – Chegada da comitiva ao pé da Serra do Pico 
almoço;
14:00 – Retorno a Nazaré do Pico;
15:30 – Tempo Livre;
16:00 às 19:00 – Lançamento dos livros dos escritores José Alves, Manoel Alves e Benedito Vasconcelos;
19:30 - Será servido o Jantar;
20:30 – Celebração de uma missa em memória ao Coronel Manoel Neto;
21:30 – Inauguração do Busto do Coronel Manuel Neto;
22:30 – Festa na Praça, com apresentações de grupos culturais e bandas de forró pé de serra.

PERCURSO DA CAVALGADA

Vila de Nazaré;
Lagoa de baixo (casa de João Flor);
Fazenda Jenipapo (casa de Gomes Jurubeba);
Enforcado (local da batalha com Lampião);
Serra do Pico.

INSCRIÇÕES
Taxa de inscrição: R$ 25,00 por pessoa; o que dará direito a café da manhã, almoço e jantar.

As inscrições deveram ser feitas até o dia 20 de abril de 2015, por e-mail, no endereço:


No ato de inscrição precisa especificar:
Nome, RG, idade, se levará seu cavalo, eventuais exigências e especificar, e-mail, telefone para contato.
Os participantes que não levarem seus cavalos, deveram alugar seu cavalo no local da cavalgada.

OBS: A modalidade de pagamento será comunicada sucessivamente aos inscritos por E-mail.

Associação Tenente João Gomes de Lira
Nazaré do Pico Floresta-PE.

Enviado por: Cristina Lira

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DONA ELITA SOUTO DO MONTE, A ILUSTRE PATRONA DESCONHECIDA

Por Gibran Araújo - Areia Branca
D. Elita Souto do Monte. Fonte da imagem: Acervo do autor. Gentilmente cedida por Nietta Lindenberg do Monte.

Como curioso irrequieto que sou das coisas de Areia Branca, sempre tive interesse em conhecer não somente a história da minha terra, como também em saber quem foram as pessoas que a desenvolveram, tentando descobrir os motivos das homenagens que dão nome aos logradouros e aos prédios públicos deste município. Desde a minha infância, quando a Escola Estadual Elita Monte funcionou vizinha à casa de meus pais, tenho curiosidade de saber quem foi esta senhora e por qual motivo o seu nome estava impresso nas fardas e no timbre, gravado no frontispício, ecoando através dos tempos, formando gerações e se perpetuando na história de minha terra! Perguntei incansável e inutilmente às pessoas mais velhas e aos atuais e antigos funcionários desta instituição de ensino por subsídios que explicassem quem foi Elita Monte e por que a essa escola se dava o seu nome. O tempo passou e mesmo assim a inquietação em solucionar essa curiosidade nunca me sossegou…

Até que um belo dia, ao pesquisar o arquivo paroquial de Areia Branca, deparei-me com a esclarecedora informação deixada no Livro de Tombo pelo Mons. Leão Medeiros Leite, então Vigário da Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Areia Branca:

“Interessado em poder proporcionar aos pobres da cidade um pouco de educação às crianças e ministrar–lhes instrução, pude fundar, no dia 3 de outubro de 1938, a Escola Paroquial, embora pobremente aparelhada. A Escola foi inaugurada com dois turnos, com mais de 40 alunos, sendo Professor o Sr. João Baptista de Souza. As aulas funcionam no antigo Grupo Escolar, à Rua Cel. Fausto, enquanto não for inaugurado o prédio que está em trabalho, doado à Paróquia, à Rua Silva Jardim, que estava há anos abandonado e está sendo concluído, graças à generosidade espontânea de D. Elita Souto do Monte, residente no Rio de Janeiro, doando 6 contos de réis.”¹

No dia 14 de novembro de 1938, em meio ao grandioso evento do Congresso Eucarístico Paroquial de Areia Branca, o primeiro realizado na Diocese de Mossoró e o terceiro no Estado do Rio Grande do Norte, houve a inauguração do Salão Paroquial. Fez o discurso inaugural o Revmº. Vigário que agradeceu as generosas ofertas da extinta Sociedade “Amor e Caridade” e da benfeitora D. Elita Monte e se congratulou com o povo por esse acontecimento dizendo “ali se farão as festas das Associações e funcionará a Escola Paroquial”. O Sr. Bispo Diocesano fez eloqüente discurso concitando todos a amparar a Escola. Compareceu grande número de Sacerdotes, autoridades, seminário, associações e música.¹

O escritor mexicano Reynaldo de La Paz, que esteve presente neste Congresso, em seu livro “A Diocese de Mossoró e suas marcantes realizações”, publicado em 1939 pela Editora Ramos & Pouchain, nos dá as seguintes informações complementares:

“A Escola Paroquial é outra bela iniciativa do infatigável vigário. Instalada no Salão Paroquial, consta de duas Classes primárias, funcionando a 1ª classe denominada “Santa Theresinha” pela manhã, com 17 alunos. A 2ª classe “D. Elita Monte”, funciona à tarde com 23 discípulos. A escola é subvencionada pelo governo municipal, sendo seu diretor o Rvdmo. Vigário, e professor o Sr. João Baptista de Souza.”²

Em 1943, o então Vigário Pe. Ismar Fernandes de Queiroz nos informa que “em reconhecimento da generosidade de D. Elita Monte, esposa do Cel. Miguel Faustino do Monte, a Escola Paroquial que funciona no Salão Paroquial recebeu o nome de Escola Paroquial Elita Monte”.¹

Este prédio situado na então Rua Silva Jardim, atual Francisco Ferreira Souto, foi doado à Paróquia de Nossa Senhora da Conceição pela Sociedade “Amor e Caridade”, que  se propunha a construir um hospital, arrecadando dinheiro através de festas populares. Fora lançada a pedra fundamental do referido hospital, e logo depois foi levantada 3 paredes, onde hoje existe a Escola Estadual Francisco Fausto, em frente à Praça Antônio Lúcio, no início da Rua Jorge Caminha. Devido às questões políticas locais, esta sociedade foi extinta e com o saldo existente em caixa, o respeitável e justo Seu Dimas, como Presidente da Sociedade, realizou a doação conforme escritura pública passada no seu Cartório, depois de propriedade de Manoel Leandro Sobrinho, para funcionamento da Escola Paroquial, que depois obedeceu à direção da Professora Maria de Lourdes. A escola funcionou neste local até 1976, quando o prédio desabou por incúria dos responsáveis pela sua conservação, como bem disse o confiável tabelião.³

Depois, o Colégio Elita Monte, como era popularmente conhecido, passou a funcionar em outro local na mesma rua, quatro quarteirões acima, no quarto imóvel a contar da Travessa Joaquim Nogueira até a Travessa dos Calafates, onde hoje se transformou em bar e residência. Era um prédio velho azul, cujo piso era todo de madeira e logo na sua entrada tinha uma escada em estilo de época que dava para a secretaria. No início dos anos 1980, o colégio mudou novamente de lugar, mas ainda continuou funcionando na mesma rua, no prédio da antiga sede do Sindicato dos Estivadores, esquina com a Avenida Deputado Manoel Avelino. Deste prédio, magnífico registro do esplendor do passado de Areia Branca, hoje só existem escombros e ruínas. Até que finalmente a escola se mudou nos anos 2000 para a Rua Rui Barbosa, Bairro São João, e oficialmente se intitula Escola Estadual Elita Monte.

Mas afinal, quem foi Elita Souto do Monte?

Elita Souto nasceu em Macau/RN a 13 de março de 1888, filha do Cel. Elias Antônio Ferreira Souto e de Thereza Rebouças Ferreira Souto. Cel. Elias Souto era professor concursado do magistério público em sua terra natal, Assú/RN. Depois residiu em Macau/RN, onde foi administrador da Mesa de Rendas Municipal. É tido como o fundador da imprensa diária da capital do Rio Grande do Norte, Natal. Elita era sobrinha de Alfredo de Souza Rebouças, Prefeito de Areia Branca de 1932 a 1934, e cunhada do Desembargador João Dionísio Filgueira, que dá nome a uma das ruas de Areia Branca. Elita Souto se casou em Natal/RN com o riquíssimo empresário cearense, Coronel Miguel Faustino do Monte, viúvo de Maria Idalina, esta sobrinha de Joca Soares, um dos fundadores de Areia Branca.

Miguel Faustino do Monte - foto gentilmente cedida ao nosso blog http://blogdomendesemendes.blogspot.com pelo jornalista Geraldo Maia do Nascimento

Cel. Miguel Faustino do Monte nasceu em Sobral/CE e por volta de 1884 chegou a Mossoró, tinha um grande tino comercial e com o tempo se tornou o principal sócio da firma M. F. do Monte & Cia., uma das maiores empresas do estado à época, dona da principal usina de algodão e de três das maiores salinas do parque salineiro da região mossoroense, Jurema, Pitulico e Caenga, passando também esta empresa a funcionar como casa bancária até 1930, quando o inteligentíssimo e visionário empreendedor encerrou definitivamente suas atividades. O industrial salineiro Cel. Miguel Faustino e sua segunda esposa D. Elita Monte foram os pais de Maria José Souto do Monte e Miguel Faustino do Monte Filho. Passaram a residir no Rio de Janeiro por volta dos anos 20, onde o patriarca Miguel Faustino construiu um imenso patrimônio imobiliário.

Capa do livro “Uma Roseira com Duas Rosas”, parceria de Elita Monte e sua neta Nietta Monte, publicado em 1966.

Dona Elita Monte era poetisa e sempre apresentou vocação às artes a exemplo de seu pai que era professor, jornalista, escritor e crítico literário. Em 1916, ela já escrevia poemas e poesias. Dona Elita gostava de escrever cartas, correspondências e mantinha amizades literárias com Manuel Bandeira e com Câmara Cascudo, este foi o prefaciador do livro “Uma Roseira Com Duas Rosas”, publicado postumamente em dezembro de 1966, em parceria com sua neta Nietta Lindenberg do Monte. Nos últimos anos de vida, Dona Elita se enveredou pela pintura em telas, em louça e em outros materiais diversos.

Mesmo com tantas informações de sua biografia, faltava ainda um rosto que habitasse e desse alma a esta ilustre personagem, ora resgatada para o conhecimento do povo areia-branquense. E através de algumas tentativas, consegui fazer contato com sua neta Nietta Lindenberg do Monte, professora especialista em Educação Indígena e Meio Ambiente, autora de muitos livros sobre o tema e da obra Memoriando, publicado em 2010 pela editora 7letras, que foi musicado e apresentado no lançamento do livro como espetáculo de monólogo cantante, categoria de teatro musical voltado para uma estrutura de canto a capela. A multifacetada artista e cientista Nietta traz a poesia no sangue e no nome e também gosta da arte de pintar como sua avó. Ela sempre me atendeu bem e gentilmente me auxiliou em ceder informações, bem como fotografias e os livros. Ensejou ainda a oportunidade para que eu conhecesse o seu irmão Miguel Monte, quando de sua vinda recente a Mossoró para tratar de assuntos da Salina Caenga, em Grossos, que ainda lhes resta. Encontro breve, porém muito proveitoso e interessante, sobretudo porque recebi das mãos do neto de Elita Monte um presente verdadeiramente grandioso: o manuscrito “Papae – mais de minha vida”, espécie de autobiografia escrita nos anos 1947-48 pelo seu avô Cel. Miguel Faustino do Monte, nonagenário que narrou com lucidez penetrante sua admirável história de vida com informações nunca dantes veiculadas.

Miguel Faustino do Monte faleceu em 10 de novembro de 1952, aos 94 anos de idade, e sua esposa D. Elita Monte faleceu no dia 26 de setembro de 1965, aos 77 anos. A esta patrona ilustre e ao mesmo tempo desconhecida, que despendeu generosa quantia pela educação, bem como pelo desenvolvimento de Areia Branca, devemos lembrar a todas as gerações vindouras a gratidão e o reconhecimento de quem foi esta digníssima benfeitora que através de um belíssimo e louvável ato de solidariedade, consagrou o seu nome na História de Areia Branca!

Bibliografia:

¹Primeiro Livro de Tombo da Paróquia N. S. da Conceição de Areia Branca (1919-1944)
²PAZ, Reynaldo de La. A diocese de Mossoró e suas marcantes realizações: resenha e apreciações. Editora Ramos & Pouchain, 1939. p. 75
³RAMOS, Dimas Pimentel. In: RAMOS, Ricardo. Dimas Pimentel Ramos, nascido em 6.nov.1900. 

https://areiabranca.wordpress.com/2013/10/30/dona-elita-souto-do-monte-a-ilustre-patrona-desconhecida/

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52 ANOS: A DÁDIVA DIVINA DA EXISTÊNCIA

Por Rangel Alves da Costa*

Nasci num sábado sertanejo, dia 16 de março de 1963, há 52 anos, na querida Nossa Senhora da Conceição de Poço Redondo. Registrado e batizado como Rangel Alves da Costa, meus pais Maria do Perpétuo Alves (Peta) e Alcino Alves Costa escolheram Núbia de Dona Nenzinha e Joãozinho de Neuza como meus padrinhos.

Alcino Alves Costa

Minhas raízes familiares já estavam fincadas na terra desde muito tempo. Minha mãe era filha de uma das famílias mais tradicionais da povoação: Teotônio Alves China, China do Poço, dono de bodega e amigo de Lampião e de quantas figuras ilustres chegassem ao lugar. E Marieta Alves de Sá, ou simplesmente Mãeta, pequenina, porém imponente quando sentava na calçada de sua bela moradia numa das esquinas da Praça da Matriz.

Lampião e Benjamin Abraão

Pelo lado paterno uma família de igual renome e reconhecimento. Ermerindo Alves Costa, meu avô, arribou das bandas de Carira e foi ser empreendedor em Poço Redondo. Homem de muitos ofícios e vocações, líder político nato, comerciante e senhor da Santa Rita. Já minha avó Emeliana Marques, nascida cheirando a flor do sertão, de família numerosa que ainda hoje enobrece o município e além, viveu e partiu exemplificando toda a nobreza da força da mulher sertaneja.

Sou, pois, filho e fruto dessa nobre linhagem, mas ainda pouco se não fosse o cuidadoso cultivo de Dona Peta e Alcino. Minha mãe, uma linda mulher desde que nasceu e partiu, com sua doçura e zelo jamais esquecidos. Meu pai, com tantos afazeres na estrada, nascido para ser guardião da história e da cultura sertaneja, partiu tendo vivenciado também a política, a escrita e a paixão indescritível pelo seu sertão.

A minha herança genética é indiscutível. De minha mãe assimilei o gosto pela arte, pela pintura, pelo desenho, pela visão poética da vida. E dela também o cultivo da fé, da religiosidade, da crença nos poderes divinos. E de meu pai outro leque de coisas. Desde o retrato ao gosto pela história sertaneja, dizem que tudo parece. Minha paixão sertaneja é a mesma de Seu Alcino, a busca de suas raízes, a preocupação com a terra e sua gente também. A minha poesia, a minha escrita, a minha arte literária, tudo já desde raiz e berço.


Hoje estou completando 52 anos de vida. Acaso a vida tivesse resguardado para cada um o percurso de 100 anos, mais da metade dessa estrada já teria percorrido. Mas ela é cheia de incertezas, de chamamentos apressados e de concessões para maior vivência. Daí ser sempre uma dádiva divina não só o nascimento como a permanência na estrada. Se ainda entre nós estivessem, minha mãe estaria com 71 anos e meu pai com 74. Ela partiu em 2009, aos 65 anos, e ele em 2012, aos 72 anos. 

Como afirmado, cheguei ao mundo pela dádiva divina da existência concedida por Deus aos seres humanos. Mas o Criador me deu muito mais. Não é todo mundo que tem o prazer e honra de nascer num sertão cativante, humilde e humano, ladeado por pessoas singelas e abençoadas. E meu Poço Redondo é assim, um berço que orgulha todo filho seu. Deu-me uma família numerosa, bons e fiéis amigos, um sol para enxugar os lenços molhados e uma lua imensa para cantar o amor.

Também concessões divinas a tenacidade, a persistência, o encorajamento para a luta. O meu esforço nunca foi em vão. Espinhos, pedras, labirintos e armadilhas, tudo isso me foi e me é colocado na estrada para que eu possa vencê-los. Não diria como a frase famosa que “Vim, vi e venci”, mas a cada dia amanheço tecendo a bandeira da vitória que um dia erguerei. E quando esse dia chegar, a felicidade me encontrará numa casinha no meio do mato nas distâncias do meu sertão.

Estudei para saber, me formei para aprender muito mais. A vida é em constante lição. Orgulho-me do que sou e como sou. Sou verdadeiramente apaixonado pelo direito, a história e o jornalismo, mas um amante inveterado da escrita, da poesia, da crônica, do romance, do conto. Um dia deixarei no livro do tempo a poesia da minha vida: E do sonho fez asas, e com as asas voou. Não queria a imensidão dos espaços, mas apenas estar perto de Deus...

Por tudo isso, mesmo nos momentos mais difíceis ergo os braços igual ao mandacaru do meu sertão para dizer: Obrigado, meu Senhor!

Poeta e cronista
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