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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

ARTE SOBRE O CANGAÇO:

Por Dr. Archimedes Marques

Eis um membro do meu bando de cangaceiros. Esse é o cangaceirinho Volta Seca. A arte da minha autoria em papel reciclado, para vocês terem uma ideia do tamanho do cangaceirinho está ao lado de uma garrafa de licor também da minha fabricação que costumo presentear os amigos e ao fundo a caricatura de um policial volante que na verdade é mais cangaceiro do que volante, arte essa também da minha autoria.


Fonte: facebook
Página: Dr. Archimedes Marques

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

BILHETES E AMEAÇAS DE LAMPIÃO


Inteligência, além de seus significados exatos, significa trampolinagem. Indivíduos calmos, supostamente resignados ou omissos, de repente se desenroscam e picam: é o golpe peçonhento. Assim se entende ainda, e em proporção crescente, o dom da inteligência em todas as esferas sociais, agora reforçado pela tecnologia.

Lampião foi inteligente, neste sentido. Socialmente excluído, revoltou-se ao ponto de banir-se ele próprio. Tinha pouca instrução, faltava-lhe fluência no discurso imperativo de “interventor” ou “governador” dos sertões. No entanto, sabia ser claro e contundente nas mensagens, conforme se depreende dos bilhetes em português tosco reproduzidos pelo historiador Oleone Coelho Fontes.

A um sargento comandante do destacamento de Juazeiro do Norte, Ceará, em 1926:

“Il.mo sr. José António — Eu lhe faço esta, até não devia me sujeitar a te escrever porem, sempre mando te avisar, pois, eu soube que vc., no dia que eu cheguei ahi na fazenda vc., esteve pronto para vir me voltar orem, eu sempre lhe digo que você crie juízo, e deixe de violências, apois eu venho chamando é por homem, e mesmo assim vc. Com zuada não me faz medo. Eu tenho visto, é, coisa forte, e não me assombra, portanto vc. Deve tratar de fazer amigos não para fazer como vc. Diz. Sempre lhe aviso, que é para depois vc. não se arrepender e nada mais, não se zangue, isto é um conselho que lhe dou. — Do Capitão Virgolino Pereira (?) da Silva”.

Ao Sr. José Batista, Fazenda Porteira, Cumbe (atual Euclides da Cunha), sem data — Sua saudação não pacei em sua casa soubi que não estava mas tenho estaque é para vancê manda por este portado 5 contos de rs.
“Olhi é para não deixar de mandar apois não mandando é pior para vancê apois aguardo sua resposta. ”Sem mais do Capm. “Virgulino Ferreira Lampião”.

Mais esta: “Sergipe. Ilmo Snr. João Apostolo Sua saudação

Com todos lhe faço esta para o sr. Mandar-me Um conto de Rs. Apois não quero maçada faço esta com urgença Cp. Lampião”.

E, para findar os exemplos, este aviso curto e grosso a José da Costa Dórea, outubro de 1932:

“Seu Dora se aprepare para morrer 
Camp. Virgulino Ferreira Lampião”.

http://www.vidaslusofonas.pt/lampiao.htm
http://jmpminhasimpleshistorias.blogspot.com


O JULGAMENTO DE LAMPIÃO

Material do acervo do escritor e pesquisador do Cangaço Archimedes Marques

O JULGAMENTO DE LAMPIÃO
Divagações entre o real e a utopia
Gerivaldo Alves Neiva, Juiz de Direito

Bezouro, Moderno, Ezequiel,
Candeeiro, Seca Preta, Labareda, Azulão!
Arvoredo, Quina-Quina, Bananeira, Sabonete,
Catingueira, Limoeiro, Lamparina, Mergulhão, Corisco!
Volta Seca, Jararaca, Cajarana, Viriato,
Gitirana, Moita-Brava, Meia-Noite, Zambelê!

Quando degolaram minha cabeça
passei mais de dois minutos
vendo o meu corpo tremendo
E não sabia o que fazer
Morrer, viver, morrer, viver!

(Sangue de Bairro, de Chico Science)

Virgulino Ferreira da Silva, pelo povo também conhecido como “Lampião”, foi preso em flagrante pela “volante” do Tenente Bezerra e apresentado a este Juízo na forma da ilustração de autoria do cartunista @CarlosLatuff.

Esta é uma decisão, portanto, que navega entre o virtual e o real, o passado e o presente, entre o possível e o impossível, permeada de utopia, sonho e esperança... O que se verá, por fim, é a evidência da contradição, não insolúvel, entre o Direito e a Justiça. Quem viver, verá.

Inicialmente, registro que não costumo me dirigir aos acusados por“alcunhas”, “vulgos” ou apelidos. Aqui, todos têm nome, pois ter um nome significa, no mínimo, o começo para ser cidadão e detentor de garantias fundamentais previstas na Constituição brasileira. Neste caso, no entanto, abro uma exceção para me dirigir ao acusado Virgulino Ferreira da Silva apenas como“Lampião”, pois creio que assim o fazendo não lhe falto com o devido respeito. Ao contrário, faço valer, ao tratá-lo como “Lampião”, a mesma reverência que lhe dedica o povo pobre e excluído do sertão brasileiro.

Em seguida, devo observar que a responsabilidade de julgar “Lampião” é tamanha e me assombra. De outro lado, não aceito como “divino” o papel de julgar. Deixemos Deus com seus problemas. Julgar homens é tarefa de homens. Da mesma forma, tenho comigo que realizar a Justiça é tarefa do homem na história. Assim sendo, passo a julgar “Lampião” como tarefa essencialmente humana e com o sentido de que, ao julgar, o Juiz também pode contribuir com a realização da Justiça ou, na pior das hipóteses, ao menos não impedir que o povo realize sua história com Justiça.

Pois bem, consta dos autos que “Lampião” teria sido preso em flagrante sob acusação de formação de quadrilha para a prática de inúmeros crimes contra a vida, contra o patrimônio e contra os costumes. Consta ainda dos autos os depoimentos dos condutores – membros da “volante” do Tenente Bezerra - e a representação da autoridade policial pela decretação da prisão preventiva do acusado, sob argumento da “garantia da ordem pública.”

Ao estrito exame das provas apresentadas, por conseguinte, e do que dispõe a lei, parece pacífica a necessidade da segregação preventiva do acusado para garantia da ordem pública, visto que restou provado, em face dos depoimentos colhidos, que o acusado, de fato, representa grave perigo à harmonia e paz social. Isto é o que se depreende do que se apurou até então e do que consta dos autos. Imperativo, por fim, que se decrete a prisão preventiva do acusado, segregando-o do meio social.

Antes de concluir a decisão com a terminologia própria, o tal “expeça-se o mandado de prisão, publique-se, intime-se, cumpra-se...”, recosto a cabeça na cadeira, ajeito o corpo, fecho os olhos e ponho-me a pensar quantas vezes já decidi dessa maneira, quantas vezes já decretei prisões preventivas por motivo de garantia da ordem pública...

De súbito, enquanto pensava, eis que “Lampião”, o próprio, saltitando feito uma guariba, pula da gravura do @CarlosLatuff e invade minha mente. É virtual, mas é como se fosse também real e humano na minha frente. “Parabellum” em uma mão e o punhal de prata, cabo cravejado de brilhantes, em outra. Não tenho medo e nem me assusto. Ele também não diz nada e agora apenas me olha e circula em torno de mim. Somos pessoas e ao mesmo tempo ideias e pensamentos. O texto final da minha decisão judicial, por exemplo, fazendo referência à garantia da “ordem pública”, é como se fosse também algo concreto nesta cena, como um pássaro rondando minha cabeça. De repente, com um tiro certeiro de“Parabellum”, “Lampião” esfacela esta forma de pensar, que me ronda feito um pássaro, como se matando este meu “senso comum teórico dos juristas”, conforme denuncia Warat. Em seguida, ainda atônito e sem mais pensamentos para me agarrar, sinto uma profunda punhalada no coração, mas não sinto dor alguma. Não sangro sangue, mas vejo jorrando do meu peito todos os meus medos de pensar criticamente o mundo em que vivo, as relações sociais e, sobretudo, o Direito.

O que faço? Não tenho mais o “senso comum teórico dos juristas” e também não tenho mais freios no meu modo de pensar criticamente o mundo e o Direito. “Lampião” acabou com eles com um tiro de “parabellum” e uma punhalada com punhal de prata. Agora, sem minhas “defesas”, que imaginava poderosas, sou como um morto... Estou morto.

Na verdade, estou morto e renascido livre ao mesmo tempo. Vejo, de um lado, meu corpo morto e meu pensar antigo e, de outro lado, sinto-me renascido em outro corpo e outro pensar. Morri para nascer de novo. Agora, nascido de novo, posso pensar diferente; posso pensar um novo Direito e, por fim, posso pensar que a Justiça é possível e que pode ser construída pelo homem novo. Está certo Gilberto Gil. É preciso “morrer para germinar.” “Lampião” me matou para que eu pudesse viver e ver. Viva “Lampião”!

E vivendo depois da morte, vejo, agora, com “Lampião” ao meu lado, que aquele antigo modo de pensar, na verdade, foi o fruto do ensino jurídico que incute verdades e dogmas na mente de acadêmicos de Direito, que se tornam advogados, que se tornam juízes, que se tornam desembargadores, que se tornam ministros de tribunais e se imaginam sábios porque aprenderam a reduzir o Direito à lei e a Justiça à vontade da classe que representam. Este é o Direito limitado aos “autos”do processo e à tarefa de manter excluídos da dignidade os pobres e miseráveis; o Direito da manutenção da falsa “ordem” burguesa; o Direito alheio à vida, à pobreza, à miséria e à fome.

Posso ver agora, com “Lampião” ao meu lado, que aquele modo antigo de pensar aprisiona e mutila os fatos nos “autos” do processo. Assim, “autos” não tem vida, não estão no mundo, não tem contradições sociais e transformam homens em “delinquentes”, “meliantes” e “bandidos”. Reduz, pois, todas as contradições do mundo e da vida em uma tolice: “o que não está no processo não está no mundo.”

Agora posso ver, com “Lampião” ao meu lado, depois de ter morrido para viver, ver e violar dogmas, que “o mundo está no processo”. É, pois, no processo que está a desigualdade social, a concentração de renda, séculos de latifúndio, a acumulação da riqueza nacional nas mãos de uns poucos, preconceitos, discriminações e exclusão social. Tudo isso é e está no processo. Isto é o processo.

Vejo, por fim, compartilhando esta última visão com “Lampião”, que os autos que me apresentaram não tem mundo e nem vida. Não tem sua vida,“Lampião”. Não tem sua história. Não tem seu passado. Não tem sua família. Não tem seus pais e irmãos sendo expulsos da terra que cultivavam. Não tem sua dor e sua revolta. Não tem sua sede e fome de justiça. Não tem sua desesperança na justiça. Não tem sua vida, repito. Não tem nada e de nada servem esses autos. Não servem para um julgamento. Servem para justificar uma farsa, acalentar os hipócritas e fazer da mentira a verdade.

Esses “autos” que me apresentaram, “Lampião”, não tem índios escravizados e mortos pelo colonizador; negros desterrados e escravizados nesta terra; posseiros expulsos de suas terras e mortos pelo latifúndio; operários explorados, desempregados e desesperados; crianças dormindo ao relento; os sem-teto, os sem-terra, os excluídos da dignidade. Esses autos não estão no mundo, é um faz-de-conta, uma ilusão...

O que faço agora? Estou morto de um lado, mas vivo de outro. Não sei mais o que é virtual e o que é real. Sei que deliro, mas não posso deixar morrer este novo eu. Preciso fazer com que permaneça vivo em mim o que renasceu e deixar morto o que morreu. Não quero ser mais o que era antes de morrer. Quero ser apenas o que renasci.

Luto comigo mesmo e permaneço vivo. Estou vivo, escuto e vejo, agora, mais uma vez, tiros de “parabellum” e golpes de punhal, como se saídos do nada e bailando no ar, furando e cortando em pedaços os “autos” do processo. Agora, não existem mais os “autos” do processo. Papéis picados tremulam no ar. Voam descompassados como borboletas... Preciso manter a lucidez, mas agora é tarde. A loucura tomou conta de mim e me levou com as borboletas para as “lagoas encantadas” do sertão brasileiro. Agora sou pura utopia, sonho e liberdade. Converso com “mães-d’água” à beira da “lagoa” e todas as coisas agora fazem parte de tudo. Nada mais é sem as outras coisas. Somos todos partes de um todo...

Neste devaneio em que me encontro, não sei mais o que é o real, o que é verdade, o que é passado ou presente ou se estou morto ou vivo; não sei mais - ou sei? - o que é e para que serve o Direito. Delirando assim, não posso mais julgar. Estou impedido de julgar. Não posso mais julgar Lampião. Eu não sou mais real, sou sonho apenas. “Lampião”, também, não é mais real. É uma lenda, um mito.“Lampião” agora povoa o imaginário dos pobres do sertão. “Lampião” não pode ser mais julgado por um juiz apenas. Só a história e o povo podem julgá-lo agora.

Esperem! “Lampião” me foi apresentado preso e eu preciso decidir sobre o flagrante. Preciso voltar... As borboletas me trazem de volta da “lagoa encantada”em que me encantei. Sou novamente real neste mundo virtual. Aqui estou e preciso falar. Assim, enquanto a história não vem, mas inevitavelmente virá um dia, não posso deixar “Lampião” encarcerado. A cadeia não serve aos valentes e aos destemidos; a cadeia não serve aos que, como Marighella, nunca tiveram tempo para ter medo; a cadeia não serve aos que não tem Senhor e aos que amam a liberdade. Homens verdadeiros não morrem presos.

Portanto, “Lampião”, a liberdade é tua sina. Vá. Talvez Maria te espere ainda. Talvez teu bando te espere ainda. Talvez Corisco não precise te vingar. Talvez teu corpo não trema por mais de dois minutos depois que degolarem tua cabeça. Vá. É melhor, na verdade, que morra em combate com a “volante” do Tenente Bezerra do que apodrecer e morrer vivo na prisão. Os valentes morrem lutando e escrevem a história. Vá. É a história, somente ela, que tem a autoridade para lhe julgar.

Por fim, agora concluo minha decisão inacabada: “expeça-se o Alvará de Soltura e entregue-se o acusado, Virgulino Ferreira da Silva, “Lampião”, ao seu próprio destino.” Dato e assino: Gerivaldo Alves Neiva, Juiz de Direito.

Depois disso, as borboletas me levaram de volta ao mundo da paz, da harmonia e da solidariedade, onde somos todos iguais e irmãos; de volta às“lagoas encantadas” do sertão brasileiro e aos braços das “mães d’água”.

Como viram, ouviram e imaginaram, este julgamento é um devaneio. Mistura de imaginação, passado e presente, sonho, utopia e, sobretudo, esperança inquebrantável na Justiça.

Uma noite fria e chuvosa, agosto, 2010.
Gerivaldo Alves Neiva
Juiz de Direito

Para assistir ao vídeo clique neste link:

https://www.facebook.com/groups/179428208932798/329049043970713/?notif_t=group_activity

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ENQUANTO OS CANGACEIROS PULAM O CARNAVAL - 7 CASOS SURPREENDENTES DE ROUBOS DE OBRAS DE ARTE - PARTE V


5. O caso de duas toneladas

Ano: 2005

Valor: 3 milhões de dólares

Sem preocupações, ela se espreguiçava nos gramados. Com dimensões avantajadas (1,8 metros de altura e 3,6 metros de largura) e pesando mais de 2 toneladas, era natural supor que a imponente escultura do britânico Henry Moore estaria segura no jardim da fundação beneficente que leva o nome do artista, na Inglaterra. Só que não foi bem assim. 

Desafiando as probabilidades com uma manobra cinematográfica, em Dezembro de 2005, dois carros invadiram os gramados da instituição e, com ajuda de um guindaste, levaram embora a importante obra abstrata conhecida como Reclining Figure LH608. 

Caso esteja se perguntando como os ladrões conseguiram passear por aí com uma escultura do tamanho de um hipopótamo sem atrair atenção, saiba que esta história não tem um final feliz: em 2009 a polícia informou que a peça, com valor estimado em mais de 3 milhões de dólares, foi perdida para sempre – por menos de 3 mil dólares, foi vendida como sucata.

CONTINUA...



http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/7-casos-surpreendentes-de-roubos-de-obras-de-arte/

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“O GLOBO”- 28/11/1958 - PARTE XX

Material do acervo do pesquisador Antonio Corrêa Sobrinho 

COMO SE FORJA UM CANGACEIRO

A LEI DO NORDESTE

Não Melhorou a Vida no Rio de Janeiro – A educação Nordestina é Muito diferente – Dois Exemplos do Que é o Nordeste – Difícil Adaptar-se ao Modo de Vida Carioca

MUITA gente desejava escrever a minha biografia e me oferecia vantagens, mas eu nunca tive vontade de conta-la, até que um vespertino carioca me fez uma proposta interessante e eu resolvi embarcar para o Rio. Um repórter foi encarregado de escrever minhas aventuras, e eu ganhei alguns contos de réis. Se as reportagens não agradaram, não foi apenas culpa minha. Eu poderia ter falado mais do que falei, mas só me perguntavam coisas sobre Lampião, e sempre perguntas tolas, sobre fatos de todos conhecidos. Não me deixaram falar livremente, e eu andava ainda com receio de ter que voltar para a cadeia. Não sei por que, mas até agora ainda não me sinto muito seguro. Por mais que me digam que eu não posso ser punido por coisas que fiz dos onze aos quatorze anos, não me tranquilizo, pois a verdade é que já passei vinte anos atrás das grades...

PROPOSTAS TORTUOSAS

EU pensava que no Rio minha vida ia melhorar, mas tal não se deu. Sempre desperto curiosidade, mas, no fundo, ninguém tem vontade de me ajudar. É bem verdade que não sei ler, mas sei fazer tanta coisa... Infelizmente, para quase todos a minha especialidade ainda é matar. Não me faltaram propostas para ser guarda-costas de gente graúda e andar armado. Conheço bem essas coisas, pois isso acaba sempre em crime e, enquanto os graúdos ficam soltos, os miúdos vão para a cadeia.
Não sou homem dado a crimes, e a prova tem sido esses anos de liberdade que tenho gozado. Saibam os leitores que oportunidades não me têm faltado para fazer umas asneiras, mas a minha natureza é pacata, apesar do meu gênio não ser dos melhores, quando provocado. Eu só me tornei cangaceiro por uma fatalidade e creio que, conforme já narrei, qualquer garoto naquelas condições teria ingressado no crime.

O NORDESTE É DIFERENTE

A EDUCAÇÃO nordestina é diferente da que se adquire nas grandes cidades. Pouco depois de me libertarem, um homem assassinou um de meus irmãos no Nordeste, onde minha família vive. O criminoso não foi condenado, tal a razão que tinha. Pouco depois cheguei à cidade em que se dera o crime, e estive frente a frente com o homem que matara meu irmão. Ele estava assustado, mas eu logo o tranquilizei, pois me informaram meus outros irmãos como as coisas se tinham passado. A luta foi leal e o rapaz matou para não ser morto, o que, para um irmão, pode ser doloroso, mas era preciso ser justo, e eu até agora me orgulho de assim ter procedido.

Já o mesmo não se passou com outro crime em minha família, este bem recente. Uma de minhas irmãs pôs-se a namorar, no interior de Sergipe, um rapaz que não estava à altura de se casar com ela, que era menina decente e muito prendada. Um de meus irmãos compreendeu a situação e tratou de desfazer o namoro, que já estava se tornando sério. Energicamente interveio, e minha irmã, obediente, aceitou a decisão e deu o seu caso amoroso por terminado.

O rapaz, porém, não se conformou, e, enciumado, armou-se e matou no mesmo instante meu irmão e minha irmã! Quando me escreveram contando o caso, fiquei alucinado, pois o assassino estava vivo e solto. As regras morais de um nordestino não admitem isso. Quem procede assim tem que morrer, segundo aprendi desde menino. Que confirmem os meus conterrâneos se isso não é norma para nós. O crime foi brutal e covarde. O assassino estava solto e gabava-se do que tinha feito. Além do mais, o que me contrariava é que meus irmãos são pacatos e eu sabia que nenhum eles teria coragem para vingar os dois mortos. Teria que ser eu o vingador!

É DURO VIVER ASSIM...

POR outro lado, a ideia de voltar a ser assassino me apavorava, agora que tenho mulher e quatro filhos pequenos, sendo que, na ocasião, o quarto estava para nascer. Este infeliz iria conhecer o pai na cadeia! Sim, porque o assassino de meus irmãos estava solto, mas se Volta-Seca o matasse, seria preso e condenado! Todavia, era preciso eliminar o assassino!

Foi durante esse torturante dilema que um de meus irmãos, o mais pacato de todos, matou o assassino. Esse meu irmão devia ter pensado muito em mim, na minha família, na minha situação delicada. Não tenho dúvida de que pensou, pois, antes de liquidar o rapaz, mandou-me um telegrama que dizia: “Não precisa mais vir, Antônio. Matei o assassino de nossos irmãos”.

Eu nem cheguei a dizer que ia ajustar contas com o rapaz, mas eles sabiam que “essa era a minha obrigação”... E só Deus sabe como sofri para tomar uma resolução que, afinal, nem foi tomada.

Tudo depende da forma como se é educado. Onde eu nasci, um soco na cara, ou mesmo uma ofensa brincalhona à mãe de alguém, é caso de morte. Nas cidades tudo é suportado com esportividade e eu, aos poucos, vou me acostumando com a vida de cá. Mas que é duro viver assim, depois de ter aprendido a viver de outra forma, lá isso não tenha dúvida que é...

CONTINUA...

Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho

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A EX-CANGACEIRA DADÁ VENDO A SUA HISTÓRIA EM LIVRO.


Momento de grande emoção para Dadá, foi grande viu sua história ser eternizada em um livro.


Adauto Silva disse: É o mais esclarecedor da história do casal... Acredito que o Professor Francisco Pereira Lima o tenha.

Voltaseca Volta disse: Bela foto...Entendo que esse momento foi por ocasião do lançamento do livro....Olha a Dadá com o lápis na mão...!..E, o Dr. Amaury, com o livro......Acho que é por aí!

Fonte: facebook
Página: Adauto Silva

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XAXADO


Xaxado é uma dança popular brasileira originada no Sertão de Pernambuco.1

Foi muito praticada no passado pelos cangaceiros da região, em celebração às suas vitórias.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

A palavra xaxado é uma onomatopeia do barulho xa-xa-xa, que os dançarinos fazem ao arrastar as [alpercatas] no chão durante a dança.2
Há controvérsias, sobre a origem do xaxado. Alguns pesquisadores, como Benjamin e Luís da Câmara Cascudo, afirmam que é uma dança originária do alto Sertão de Pernambuco, outros que ela tem sua origem em Portugal e alguns outros ainda dizem que sua origem é indígena.

O xaxado foi difundido como uma dança de guerra e entretenimento pelos cangaceiros, notoriamente do bando de Lampião, no inicio dos anos 1920, em Vila Bela, atual Serra Talhada. Na época, tornou-se popular em todos os bandos de cangaceiros espalhados pelos sertões nordestinos. Era uma dança exclusivamente masculina, por isso nunca foi considerada uma dança de salão, mesmo porque naquela época ainda não havia mulheres no cangaço. Faziam da arma a dama. Dançavam em fila indiana, o da frente, sempre o chefe do grupo, puxava os versos cantados e o restante do bando respondia em coro, com letras de insulto aos inimigos, lamentando mortes de companheiros ou enaltecendo suas aventuras e façanhas.

Originalmente a estrutura básica do xaxado é da seguinte forma: avança o pé direito em três e quatro movimentos laterais e puxa o pé esquerdo, num rápido e deslizado sapateado. Os passos estão relacionados com gestos de guerra, são graciosos porém firmes. A presença feminina apareceu depois da inclusão de Maria Bonita e outras mulheres ao bando de Lampião. A palavra do xaxado não era só por causa dos barulhos das sandálias. O xaxado pode ser visto de varias maneiras de acordo com o seu ponto de vista por exemplo: A dança do xaxado é vista uma dança rica em sua cultura e extremamente folclórica que tem seus estilos naturais e sem alterações. Porém a sua música seja agresiva e satiricas ,motivos pelo qual a Câmara Cascudo considerou o xaxado com uma variante do parraxaxá, um canto de insulto dos cangaceiros, executados nos intervalos das descargas de seus fuzis contra a polícia. O rifle na época substituia a mulher, como dizia o cantor e compositor Luiz Gonzaga, um dos grandes divulgadores do xaxado.O rifle é a dama. E seus instrumentos eram o pífanozabumbatriângulo e a sanfona.

Indumentária[editar | editar código-fonte]

As roupas eram sempre em tons marrons e cáqui, de couro para que se protegessem dos espinhos da caatinga do sertão e sempre acompanhadas do rifle e da alpercata do mesmo material.

Outras danças do Nordeste[editar | editar código-fonte]


Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

Ir para cima↑ Xaxado - Fundação Joaquim Nabuco Fundação Joaquim Nabuco. Visitado em 14 de junho de 2014.


http://pt.wikipedia.org/wiki/Xaxado

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