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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

HOJE NA HISTÓRIA DE MOSSORÓ - 03 de Fevereiro de 2015

Por Geraldo Maia do Nascimento 

Em 03 de fevereiro de 1855 dava-se a fundação e instalação da Irmandade de Santa Luzia de Mossoró. A solenidade foi realizada na Igreja Matriz e foi presidida pelo vigário Antônio Joaquim Rodrigues.

www.diocesedemossoro.com

A comunidade católica, que era quase a totalidade dos habitantes, se fez presente ao ato, tornando aquele dia festivo para a então Vila de Mossoró. 
Geraldo Maia do Nascimento

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A Cadeia velha de pombal

Por Verneck Abrantes (*)
Clique sobre a imagem para ampliá-la. 

A cidade de Pombal localiza-se no alto sertão da Paraíba, foi o primeiro núcleo populacional do interior sertanejo. Foi ela quem deu origem a outros núcleos habitacionais da região. Na velha cidade, entre outros marcos históricos, destaca-se a Velha Cadeia, que mantêm ainda suas linhas arquitetônicas, denunciando em nosso tempo, a introdução de um marco da era imperial no alto sertão paraibano. Desativada como presídio, a Velha Cadeia deveria ser o Museu do Cangaceiro, o que bem caracterizaria sua história, mas o projeto não foi adiante. Alicerçada no ano de 1848, famosa porque concentrava presos perigosos do Estado e cangaceiros da década de 20 e 30 do século passado, a Velha Cadeia não abriga mais presos, mas uma instituição denominada de Casa da Cultura, necessitando de mais zelo e maior identificação com sua história. Em suas celas de parede largas e piso de tijolos rústicos passaram muitos criminosos que marcaram época, a exemplo: Donária dos Anjos, que durante a seca de 1877, segundo a própria, “para não morrer de fome”, matou uma criança e comeu sua carne. O bandido “Rio Preto”, que se dizia, tinha um pacto com o diabo: “era curado de bala e faca, no seu corpo os punhais entortariam as pontas e as balas passariam de raspão”. Ferido à bala por vingança, “Rio Preto” morreu dentro da velha cadeia. Outro preso famoso foi Chico Pereira, que após a morte de seu pai se fez um dos grandes chefes do cangaço no sertão da Paraíba. Os fanáticos Pretos da “Irmandade dos Espíritos da Luz”, chefiados por Gabriel Cândido de Carvalho, depois da prática de crimes, também tiveram sua participação na história da velha cadeia. Mas entre muitos acontecimentos, um se destaca pela audácia: Jesuíno Brilhante, cangaceiro inteligente, com certa instrução educacional, foi protagonista da história, que se deu da seguinte forma: Lucas, irmão de Jesuíno, cometeu um crime em Catolé do Rocha, foi preso e remetido, havia tempo, para cadeia de Pombal, onde estavam mais de 50 presos da cidade e de outras vizinhanças. Como o julgamento estava demorando, Jesuíno tomou a decisão de libertar o irmão. Às duas horas da manhã de 19 de fevereiro de 1874, numa quinta feira, chovendo bastante, não havendo ronda noturna, Jesuíno Brilhante, seu irmão João Alves Filho, o cunhado Joaquim Monteiro e outros, perfazendo um total de oito cangaceiros, todos montados a cavalos, atacaram de surpresa a Velha Cadeia, que na época era guarnecida por um cabo, onze soldados da Guarda Nacional e um da Polícia. Despertando-os a tiros, dizendo em voz alta os nomes dos primeiros atacantes, destacados como os mais importantes do bando, dando viva a Nossa Senhora, os oitos cangaceiros conseguiram dominar todos os soldados. Enquanto isso, os presos acendiam velas e lamparinas para iluminar as celas. Os cangaceiros se apoderaram das armas e munições, distribuiriam com presos que, aos poucos, iam ganhando liberdade e ajudando no ataque. Arrebentaram cadeados, fechaduras, dobradiças, grades e saleiras com pedras, machados e outros instrumentos. Foi um verdadeiro levante, na maior algazarra. Depois se retiraram gritando pelas ruas, quando já se tinham evadido 42 presos de justiça, ficando 12 que não quiseram fugir. Os fugitivos tomaram rumos diversos, não constando nos autos a captura de um só criminoso. Nunca tantos presos deveram tanto, a tão poucos bandoleiros. Hoje, a Cadeia Velha, que resiste à passagem do tempo, é um marco da era imperial encravada no sertão da Paraíba, uma relíquia da memória pombalense, que faz parte do centro histórico da nossa querida cidade. Então, quando estiver em Pombal, visite a Cadeia Velha – A Casa da Cultura – os seus passos serão os de muitos que ali passaram e fizeram história, infelizmente, de muitos crimes. 

(*) Agrônomo, pesquisador e sócio da SBEC.

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Bento Praxedes Fernandes Pimenta - 01 de Fevereiro de 2015

Por Geraldo Maia do Nascimento

Nasceu em Martins/RN a 31 de janeiro de 1871. Aos 19 anos deixou o rincão nativo onde iniciara seus estudos elementares, com professores que eram grandes expressões no campo do conhecimento e das letras, como foram os doutores Bainor Fernandes, João Antunes de Alencar e Manoel Moreira Dias, vindo para Mossoró em busca de oportunidades. Com inteligência, trabalho e dedicação, conseguiu formar a sua personalidade e conquistar seu espaço na sociedade mossoroenses.

Bento Praxedes Fernandes Pimenta - oestenews-mossoro.blogspot.com

Casou-se com dona Pautila Praxedes de Oliveira, filha do Cel. Francisco Gurgel de Oliveira, importante chefe político que tinha sido líder do Partido Conservador, com quem manteve sempre estreitos laços de amizade. Desse consócio nasceram quatro filhos, tendo falecido um deles.
               
A boa convivência que mantinha com o Cel. Gurgel, \\\"viria a se tornar uma das poderosas influências junto aquela destacada figura, cujo prestígio viera do Império e se projetara nos dias da República. Sua ação passou, assim, a tomar lugar nas mais importantes deliberações do velho chefe sertanejo, tornando-se individualidade marcante nas decisões do seu partido onde era ouvido com acatamento e considerações\\\", segundo as palavras do escritor Raimundo Nonato. Seu destino não poderia ser outro que não a carreira política, se tornando chefe político em Mossoró na sucessão, por morte, do seu sogro. Homem de talento, inteligente, de palavra fácil, deixaram fama os seus discursos, os vibrantes improvisos e os brindes que sabia levantar com elegância e comedimento de palavras e de elogios. 

A sua vida foi bem um exemplo de dignidade, de critério, de lealdade, de filantropia e muito especialmente como chefe de família. Foi administrador da Mesa de Rendas Estaduais de Areia Branca, primeiro escriturário do Tesouro do Estado e Coletor Federal de Mossoró. \\\"A tolerância foi seu escopo principal e não poucas vezes as aclamações que subiam até o chefe partiam de amigos e adversários\\\".
               
Como jornalista fundou e dirigiu o \\\"O Comércio de Mossoró\\\", que circulou de 17 de janeiro de 1904 a 17 de dezembro de 1917. Era um jornal de feição própria, de colaboração séria, com programa, orientação e rumo definidos. Mesmo no ostracismo partidário, sua influência era benéfica, tornando-se uma fisionomia indispensável na recordação social e política de Mossoró.
               
Faleceu em Mossoró a 29 de abril de 1922. E apesar dos cargos que ocupou, da sua influência política e até mesmo do jornal que tanta projeção lhe deu, morreu pobre. Não deixou mais que um passado honroso para sua família. Seus amigos construíram um túmulo para guardar os restos mortais daquele que inúmeros benefícios prestou à coletividade mossoroense. \\\"Alma boa, coração bondoso, viveu uma vida de homem pobre, deixando a sua morte a mais desolada saudade\\\" - dizia \\\"O NORDESTE\\\" na sua edição de 14 de fevereiro de 1928, publicando a relação nominal dos amigos de Bento Praxedes que contribuíram na construção do túmulo.
               
Pelas suas qualidades de homem honrado e prestativo, bem que poderia se aplicar aquela famosa frase latina: \\\"Perfransit benefaciendo\\\", que traduzindo explica bem o que ele fez de fato: \\\"Passou a vida praticando o bem\\\".
               
A Cidade de Mossoró o homenageou empestando seu nome a uma praça do centro da cidade.
                
Para saber mais sobre a História de Mossoró visite o blog: www.blogdogemaia.com.


Geraldo Maia do Nascimento

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LAMPIÃO A RAPOSA DAS CAATINGAS

Por Antonio José de Oliveira

Na realidade Pesquisador Mendes, o livro LAMPIÃO: A RAPOSA DAS CAATINGAS oferece total segurança nas informações, por ser fruto de um trabalho minucioso e didaticamente perfeito, realizado em profundidade durante onze anos de pesquisa.


Posso afirmar sim, uma vez que tive o prazer de lê-lo por completo. O autor desenvolveu uma ampla pesquisa de campo, além da bibliográfica e documental. 

Autor deste livro José Bezerra Lima Irmão e o escritor João de Sousa Lima

Não conheço pessoalmente o Bezerra Lima, mas pelo que pude interpretar na leitura do seu livro, trata-se de um escritor que, na medida do possível buscou a "verdade verdadeira". Acredito Mendes, que esta segunda edição irá logo desaparecer das prateleiras das livrarias, e ele terá que partir para uma TERCEIRA ETAPA.

A 2ª edição continua sendo vendida através dos endereços abaixo:

josebezerra@terra.com.br
(71)9240-6736 - 9938-7760 - 8603-6799 
Pedidos via internet:
Mastrângelo (Mazinho), baseado em Aracaju:
Tel.:  (79)9878-5445 - (79)8814-8345
E-mail:   lampiaoaraposadascaatingas@gmail.com 

Clique no link abaixo para você acompanhar tantas outras informações sobre o livro.

http://araposadascaatingas.blogspot.com.br 

Atenciosamente,
Antonio Oliveira - Serrinha

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O LUGAR DO JAGUNÇO

Por Rangel Alves da Costa*

Segundo relatos colhidos de fontes seguras e guardados no embornal da história - e agora repassados com toda veracidade -, num tempo onde as terras nordestinas, principalmente aquelas situadas nas regiões sertanejas de catingueira e vastidão de mataria, eram recebidas de eréu e depois transformadas em latifúndios nas mãos de uns poucos senhores, as poderosas amizades e os ódios sangrentos se desenvolveram no mesmo passo.

A imensidão de terras nas mãos de poucos senhores causava o empobrecimento e a submissão da maioria da população agrestina, já tão sofrida pelas secas de quase sempre. Mesmo que muito desses latifúndios servissem apenas para a criação de rebanhos soltos, a maioria mantinha alguma produtividade. E o plantio, a colheita, o cuidado com o gado, a queimada, o roçado e muito mais que a terra exigia, era trabalho do pobre homem do campo, cujo destino era apenas servir ao patrão.

Porém existia uma classe de homens, escolhidos a dedo pelos próprios patrões ou seus capatazes, que eram contratados para um trabalho diferenciado. Ao invés de cuidar dos afazeres da terra ou dos rebanhos, tinham que cuidar de seus senhores. Não como serviçais nas lides domésticas nos casarões, mas propiciando segurança, cuidando de preservar a vida de seus patrões.

Não só cuidar de seus senhores como proteger o verdadeiro feudo das ameaças e ataques inimigos. O poderio não estava representado apenas no homem poderoso, na feição daquele dono de homens, terras e bichos, mas na contextualização de seu nome perante a região e outros também poderosos. Daí que defendendo o homem estariam também zelando pela sua fama, sua riqueza, seu poder e sua honra forjada no respeito imposto.

Não podia ser diferente. O poder do latifúndio, que era também o poder político e econômico, era disputado por alguns senhores de mesma patente, e cada um querendo destruir o outro para aumentar ainda mais seu prestígio e força de mando. Mesmo se encontrando em almoços e reuniões, com visitas retribuídas e até a celebração de acordos políticos, a verdade é que nenhum daqueles homens suportava o outro. Daí que necessitavam de proteção, de homens valentes que servissem como alerta para que fossem evitadas as tramas contra o seu patrão, sob pena de o troco ser redobrado na violência.


Tais homens eram os jagunços, uma subclasse de impávidos sertanejos que ao invés de utilizar seu destemor em causa própria ou em ações positivas, vendiam sua honra e sua valentia aos senhores do latifúndio, aos donos do poder, aos coronéis nordestinos. Arregimentados, colocados ao redor dos casarões, ou mesmo nas moradias próximas, estavam prontos para agir a qualquer momento. Em tempo bom ou ruim, em clima de paz ou de tempestade sangrenta, deveriam responder e corresponder ao chamado do patrão.

Desse modo, no sertão nordestino o lugar do jagunço está situado na arcaica estrutura fundiária que caracterizou o latifúndio e a ascensão do coronelismo. A imensidão de terras proporcionou poder local e influência política, fazendo surgir uma classe de poderosos que buscava, a todo custo, aumentar ainda mais seu poder de mando. E o mando e o poder exigiam defesa contra os desafetos e ataque contra todos aqueles que contrariassem suas ordens ou servissem de empecilhos aos seus interesses.

No contexto do coronelismo político e latifundiarista, o jagunço representa a extensão da força pessoal do líder local ou regional. Como o senhor dono do mundo apenas ordenava que fosse feito segundo o seu desejo, cabia ao seu contratado cumprir a determinação. E isso era feito com a proteção ao senhor e seus bens, bem como preparando ofensivas para dizimar inimigos. E os meios utilizados, além das próprias armas de punho, era a tocaia ou emboscada, que consistia em agir nas sombras para surpreender mortalmente aquele que estivesse marcada para morrer.

Assim o lugar do jagunço, num mundo de poderio exacerbado sobre homens e bichos, num tempo onde a vida interiorana era comandada pelos velhos senhores vestidos em linho branco nas suas cadeiras de balanço. E também onde a lei só possuía vigência para os fracos e a sobrevivência da grande maioria sempre dependia das benesses do poder, como forma de garantir a continuidade do mando naquelas vastidões.

Quem dera que o jagunço tivesse sido apenas nos moldes relatados em algumas obras ficcionais, retratados apenas como rudes sertanejos, desvalidos da terra e dos meios de sobrevivência que, sem perspectiva de vida, optavam ou pela vida cangaceira ou pela submissão ao coronelismo beligerante e sanguinário. A maioria, contudo, mais parecendo seres domados pelas forças do patrão e, por isso mesmo, irreconhecível em si mesmo. Degenerados, desconheciam o valor de qualquer valor, principalmente da vida humana.

Mas não. A realidade foi mais consciente e sangrenta do que retratada na ficção. Não é um ser alheio ao mundo que escolhe o local mais apropriado para emboscar, que espera horas e horas a fio até a passagem da vítima e mira com tal obstinação que não deixa escapatória. Não é qualquer um que faz do ofício sangrento uma razão de existir.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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Recado de Frederico Pernambucano de Mello

Manoel Severo e Frederico Pernambucano de Mello

Sobre a chegada do Cariri Cangaço em terras de Princesa Isabel...
"Mestre Severo, como gostava de dizer o 
coronel Audálio Tenório: 
vosmecê só vai matando...
Arreda, Antônio Silvino, que já temos um novo Governador do Sertão!

Abraço do admirador,"
  Frederico

E em Março...

http://cariricangaco.blogspot.com.br/2015/02/recado-de-frederico-pernambucano-de.html
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A BATALHA DO CASARÃO DOS PATOS ( Série grandes artigos )

Por Rostand Medeiros
Este trabalho já havia sido postado antes no http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Ao longo da história da região Nordeste do Brasil, não faltam ocorrências que perpetuam a valentia de alguns e a covardia de muitos. Onde muitas histórias são regadas a sangue, com muitos tiros, correrias e tropelias.

Em toda a região os relatos sobre estes fatos são continuamente passados as novas gerações, muitas vezes através da tradição oral, do folheto de cordel, sendo depois documentados em livros, servindo então de temas para teses acadêmicas, que contestam ou corroboram os fatos. Outras vezes o espectro é ampliado e estas sagas chegam ao teatro, a televisão e ao cinema. Mas a tônica é uma só; estes episódios são sempre conhecidos e repetidos pela região.



Localização de Patos do Irerê e Princesa Isabel no mapa da Paraíba, onde está o casarão.

Neste sentido, é de se estranhar que atualmente na região ocorra um acentuado desconhecimento e uma estranha falta de informações sobre o conflito deflagrado no ano de 1930, na região da atual cidade paraibana de Princesa Isabel, próximo à fronteira com Pernambuco e conhecido como a “Guerra ou Sedição de Princesa”.

Um Cruel Momento da História Paraibana

Esta guerra (e não a nenhum exagero de assim chamá-la) foi pródiga de episódios interessantes e cruéis, onde tudo começou através de discórdias políticas e econômicas, envolvendo poderosos coronéis do interior do estado e o governador eleito da Paraíba em 1927, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque.


Governador João Pessoa - PB

João Pessoa discordava da forma como o grupo político que o elegera conduzia a política paraibana, onde era valorizado o grande latifundiário de terras do interior, possuidores de grandes riquezas baseadas no cultivo do algodão e na pecuária. Estes “coronéis” atuavam através de uma estrutura política arcaica, que se valia entre outras coisas do mandonismo, da utilização de grupo de jagunços armados, da conivência com grupos de cangaceiros e outras ações as quais o novo governador não concordava.


Entre os embates ocorridos, podemos listar uma maior perseguição do governo estadual aos grupos de cangaceiros e a cobrança de taxas de exportação do algodão. Por esta época, os coronéis exportavam o produto principalmente através do principal porto de Pernambuco, em Recife, provocando enormes perdas de divisas tributárias para a Paraíba. Procurando evitar esta sangria financeira e efetivamente cobrar os coronéis, João Pessoa implantou diversos postos de fiscalização nas fronteiras da Paraíba, irritando de tal forma estes caudilhos, que pejorativamente passaram a chamar o governador de “João Cancela”.

O coronel José Pereira

Os embates políticos entre o governador e os coronéis foram crescendo. A maior liderança entre estes poderosos, sem dúvida foi o coronel José Pereira Lima, verdadeiro imperador da região oeste da Paraíba, na área da fronteira com Pernambuco, tendo como base, a cidade de Princesa. Do embate entre estes dois homens resultou em um dos maiores conflitos armados do Brasil Republicano.


Sertão em Armas


A contenda teve início em 28 de fevereiro de 1930, quando ocorreu a invasão da então vila do Teixeira (PB), por parte da polícia paraibana, com o aprisionamento da família Dantas, ligada por profundos laços de parentescos e interesses ao coronel José Pereira.


Apesar de governador João Pessoa não contar com o apoio do Palácio do Catete, onde o titular, Washington Luís, não viabilizou uma efetiva ajuda as forças policiais paraibanas, o mandatário paraibano foi à luta.


Com o apoio discreto, mas efetivo, do Presidente da República e dos governadores de Pernambuco, Estácio de Albuquerque Coimbra, e do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine de Faria, o coronel José Pereira decidiu criar o “Território Livre de Princesa” com absoluta autonomia, separando-se durante o período do conflito do restante do estado da Paraíba.

Princesa se tornou uma fortaleza inexpugnável, resistindo palmo a palmo ao assédio das milícias leais ao governador João Pessoa. O exército particular do coronel José Pereira era estimado em mais de 1.800 combatentes, onde diversos desses lutadores eram egressos das hostes do cangaço e muitos eram desertores da própria polícia paraibana.


No lado do presidente João Pessoa, suas tropas estavam sob o comando do Coronel Comandante da Polícia Militar da Paraíba, Elísio Sobreira, do então Delegado Geral do Estado, Severino Procópio, e do Secretário de Interior e Justiça, José Américo de Almeida. Na tentativa de desbaratar os sediciosos de Princesa, estes comandantes dividiram os efetivos policiais, compostos por cerca de 890 homens, em colunas volantes.

No povoado de Olho D’Água, então pertencente ao município de Piancó (PB), estava aquartelado o comando geral de operações da polícia paraibana, que decidiu enviar à Princesa uma de suas colunas volantes, conhecida como “Coluna Oeste”. Esta coluna era comandada pelo Tenente Raimundo Nonato, que tinha entre seus principais comandados o valente sargento Clementino Furtado, mais conhecido como Clementino Quelé, ou “Tamanduá Vermelho” (por ser branco e ficar “avermelhado” quando nervoso).

Clementino Quelé

Quelé era a valentia em pessoa, calejado nas lutas do sertão, podia se vangloriar de possuir no seu “currículo”, mais de vinte combates contra Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Foi a volante de policiais comandadas por Quelé, a primeira a entrar em Mossoró, em 13 de junho de 1927, perseguindo Lampião e seu bando, logo após este ter tentado invadir esta importante cidade potiguar.


Composta de valentes combatentes foi para a “Coluna Oeste” que o comando designou uma missão especial.


Em Princesa, entre um dos mais importantes líderes das tropas locais estava o fazendeiro Marçal Florentino Diniz, poderoso e influente agropecuarista da região, que juntamente com seu filho, Marcolino Pereira Diniz, eram parentes e pessoas da inteira confiança do coronel José Pereira. O coronel Marçal Diniz possuía no então distrito de Patos de Princesa, a 18 quilômetros da cidade, uma fazenda localizada no sopé da grande serra do Pau Ferrado, o segundo ponto mais elevado da Paraíba, com cota máxima em torno de 1.120 metros de altitude e foi para esta fazenda que o comando da polícia paraibana ordenou que Clementino Quelé atacasse a casa grande do poderoso coronel.

O Assalto de Quelé


Este episódio é conhecido na região como o “Fogo ou Batalha do Casarão dos Patos”.


A ideia deste ataque visava dividir as forças do coronel José Pereira, que teria de retirar homens da frente de combate de Teixeira, para socorrer os familiares da família Diniz que estavam no casarão, bem como formar com as reféns uma espécie de cordão de isolamento, um escudo humano, que objetivava garantir a segurança dos militares. Pensavam que, agindo assim, nenhum defensor de Princesa ousaria atirar nos combatentes do governo paraibano.


A imprensa oficial potiguar e o próprio governo de Juvenal Lamartine eram contra João Pessoa e a favor de José Pereira.

Outra teoria seria a de levar as mulheres como prisioneiras, ou reféns, para a cidade de Paraíba do Norte (atual João Pessoa) e forçar os comandantes de Princesa a alguma espécie de negociação.


No dia do ataque, 22 de março de 1930, Quelé e seus policiais, em número estimado entre sessenta para alguns, e entre setenta a cem homens para outros, seguiram atravessando a zona urbana da pequena vila de Alagoa Nova (atual MANAÍRA-PB) e daí subiram a grande Serra do Pau Ferrado. Ao passarem pela propriedade de Antônio Né, pessoa ligada à família Diniz, no homônimo Sítio Pau Ferrado, assassinaram um cidadão por nome Silvino, depois, desceram a serra.

Dona Xandu, imortalizada pelo grande Luís Gonzaga na música “Xandusinha”

Não havia muitos defensores pertencentes aos grupos do coronel José Pereira, ou de Marcolino Diniz e a força policial de Quelé ocupa o local sem maior oposição. Na casa estavam entre outras pessoas, às mulheres de Marcolino Diniz, Alexandrina Diniz (também conhecida como Dona Xandu, ou Xanduzinha) e a de Luís do Triângulo, Dona Mitonha. Luís do Triângulo era um dos mais valentes e destacados chefes dos combatentes de José Pereira.


Neste interregno, o grupo de combate comandando por Marcolino encontrou um soldado da polícia de nome Zeferino, o qual seguia com uma mensagem do Sargento Quelé ao Delegado Geral do Estado, Severino Procópio, informando da ação contra o casarão.

José Pereira e Marcolino Diniz recebem a notícia da prisão de seus familiares. Eles tomam esta ação como um acinte, uma falta de respeito e preparam o contra ataque. Ordenam que uma parte de suas tropas que combatiam as forças policiais do governador João Pessoa na região de Tavares, se deslocasse para Patos de Princesa e ordenam que os homens levem farta munição. Outros combatentes conclamam moradores da região para o ataque, enaltecendo a covardia de Quelé, que usava mulheres como escudos. Este chamamento dos líderes de Princesa e de seus homens encontra eco entre membros das comunidades de Princesa e Alagoa Nova e estes decidem seguir com o grupo que vai retomar o “Casarão dos Patos”.


A Batalha Pela Reconquista do Casarão


Na noite do segundo dia após o bem sucedido ataque de Quelé, a situação permanece inalterada. Segundo relatos dos reféns, os soldados, com raras exceções, se portaram de forma vândala e arrogante durante a ocupação.


Na minha última visita a casa já praticamente coberta pelo mato.

Enquanto isso os combatentes de Princesa vão discretamente fechando o cerco ao casarão. Aparentemente, por falta de comunicação com seus comandantes, Quelé não abandonou a posição e levou seus prisioneiros. Outros acreditam que ele logo percebeu que estava cercado e esperou o inevitável.


O certo é que na manhã do terceiro dia de ocupação, o céu se apresentava nublado, os defensores do casarão estavam tranquilos, apesar da tensão existente na região. Alguns esperavam o café, outros até jogavam uma improvisada partida de futebol (possivelmente com uma bola de meia), no pátio defronte a casa. É quando o primeiro tiro é detonado em um soldado que vinha do Sítio Pedra e trazia um carneiro para abate, aí tem início um inferno no “Casarão dos Patos”.


A polícia estava cercada na casa, se defendendo como podia, o sargento Quelé vai animando seus policiais em meio a uma intensa troca de tiros e insultos entre as forças combatentes.


Marcolino Diniz, à frente dos seus homens, está com o “cão no couro”, comandando, disparando e mandando buscar cachaça nas bodegas da pequena vila de Patos de Princesa para “esquentar” seus “cabras”. Esta cachaça era trazida em sacos, distribuída francamente entre seus combatentes. Até hoje se comenta na região como os distribuidores da bebida terminaram os combates totalmente embriagados e sem dispararem um só tiro.

O tiroteio é cerrado. Colocar a cabeça muito exposta nas janelas do casarão é motivo para que algum policial se torne um alvo fácil. Já os homens de Diniz continuam disparando sem cessar. Eles estão espalhados em todo o perímetro, protegidos por árvores, pedras, pelos muros e paredes das poucas casas vizinhas.


O combate prolongou-se até às dezesseis horas do mesmo dia, quando a polícia praticamente estava sem munição e seus disparos tornam-se esparsos. É quando os homens de Marcolino, aproveitando uma forte chuva que desabava e a existência de um canavial nas imediações do casarão, partem para o assalto final.


Sótão do casarão. Neste local, segundo os moradores da região, vários soldados paraibanos foram mortos. Até algum tempo atrás ainda haviam marcas de sangue nas paredes.

Durante a invasão é travado um forte combate corpo a corpo em cada uma das dependências da casa. Gritos, pancadas, socos, pontapés, dentadas, tiros, facadas e sons de lutas ocupam o ambiente. Os homens de Quelé procuram à fuga, mas estando o casarão cercado, muitos são abatidos impiedosamente pelos combatentes de Marcolino.


Alguns policiais fugiam feridos ou não, pelo mesmo canavial que serviu de abrigo para os atacantes e de lá seguiam para a serra do Pau Ferrado. Nesta fuga, muitos combatentes se cruzavam, às vezes cara a cara, dentro do canavial e tiros ou facadas eram desferidas a curta distância.


O mato é tanto, que só derrubando algumas plantas para entrar no local
Marcolino, atiçado pela bebida e já dentro do casarão, prometia aos gritos “vou sangrar todo mundo, até Xandu” que no seu entendimento de valentão do sertão, com um pensamento extremamente machista, imaginava que a sua mulher já havia sido estuprada e aí só “sangrando para limpar o corpo”. Mas Xandu e as outras mulheres estavam bem e foram preservadas por Quelé e seus homens. Todas estavam em um quarto, acompanhadas de um soldado ferido na perna, que conseguira desarmar uma bomba (ou granada?), que o sargento Quelé colocara no recinto. O soldado salvou a vida das reféns, sendo igualmente salvo pelas mulheres de ser impiedosamente sangrado por Marcolino e seus “cabras”.


Após isto, Marcolino e seus homens seguiram pelos vários recintos do “Casarão dos Patos”, chacinando os policiais que não fugiram. Dos militares que lá dentro se encontravam, não sobrou nenhum vivo, pois até o soldado que havia salvado as mulheres, morreu no mesmo dia, devido aos ferimentos, quando era transportado para a vizinha cidade pernambucana de Triunfo.

Marcas Sangrentas


Segundo relatos dos moradores da região, havia até recentemente, em alguns quartos da casa, registros de mãos ensanguentadas nas paredes, mostrando a agonia deste dia terrível.


Quanto a Quelé, vendo-se acossado pelos homens de Marcolino e escutando o próprio caudilho dos Patos de Princesa gritando dentro do casarão que “queria pegar Clementino e matá-lo sangrado”, pulou do andar superior, juntamente com dois soldados e juntos fugiram em direção ao canavial. Já era noite quando conseguiram chegar à serra do Pau Ferrado, depois seguem para Alagoa Nova e ao encontro das forças de João Pessoa. O restante dos militares que escapou com vida embrenhou-se em território pernambucano.

Das forças de José Pereira e Marcolino Diniz houve apenas uma baixa, um senhor de nome Sinhô Salviano, possivelmente sob efeito da cachaça, desprezou as ordens e ficou sob a mira dos soldados. Para alguns pesquisadores, as forças paraibanas perderam mais da metade do efetivo, mas segundo os relatos que se perpetuam na região, contados por aqueles que participaram do conflito e transmitidos para seus descendentes, foram mortos em torno de cinquenta policiais, sendo seus corpos enterrados em uma vala comum nas proximidades do casarão. Os equipamentos bélicos dos policiais mortos foram recolhidos pelos combatentes de Princesa para reforço de arsenal.

Fato comum; morador da região com um cartucho de fuzil Mauser intacto, encontrado ao arar o terreno próximo ao casarão.

Final da Guerra de Princesa

Houve outros episódios sangrentos e terríveis na Guerra de Princesa, mas após a morte, em Recife, do governador João Pessoa e a consequente eclosão da Revolução de 30, o conflito em Princesa acabou, era o dia 26 de julho de 1930.


O coronel José Pereira Lima organizou a defesa dos seus domínios de forma impressionante, provocando baixas estrondosas à força pública paraibana durante os quatro meses e vinte e oito dias que durou sua resistência.


A partir de um caminhão foi desenvolvido em Campina Grande um veículo blindado para combater os revoltosos de Princesa.

Princesa não foi conquistada pela polícia paraibana. Após a eclosão da Revolução de 30, tropas do exército, de forma tranquila, ocuparam a cidade.


O coronel José Pereira e muitos dos que lutaram com ele fugiram da região e a família Diniz se retraiu diante do novo sistema governamental imposto. O tempo dos caudilhos do sertão estava chegando ao fim, pelo menos naquele formato utilizado por José Pereira.


Com o fim da guerra, a fortuna da família Diniz ficou seriamente comprometida. O combate e, principalmente, a ira dos soldados, destruiu tudo. Canaviais, engenhos de rapadura, moendas, casas e outros bens foram alvo da vingança dos fardados, quase nada escapou.
Depois da Guerra.

Mesmo com as perseguições sofridas após o fim da guerra, todos os anos Marcolino Diniz e sua gente, comemoravam o aniversário da retomada do casarão com muita festa.


Marcolino sempre foi um homem controverso, valente, prepotente, astuto e sagaz. Era proprietário das fazendas Saco dos Caçulas e Manga, onde diversas vezes Lampião descansava dos combates. Esta polêmica amizade entre Marcolino e Lampião é bem retratada em um episódio; em 30 de dezembro de 1923, Marcolino, juntamente com seu guarda-costas conhecido por “Tocha”, por conta de uma briga, matam o então magistrado da cidade de Triunfo (PE), o Dr. Ulisses Wanderley. Marcolino fica ferido e é feito prisioneiro na cadeia pública local. Seu pai, o coronel Marçal, recorreu aos préstimos do cangaceiro a fim de libertar o filho. Não demora muito e um grupo armado, com um número de homens estimado em torno de 100 a 150 homens, retira tranquilamente o prisioneiro ferido da cadeia.

Marcolino e a sua adorável Xandu, continuaram unidos até a morte, tendo seu amor sido imortalizado em 1950, por Luís Gonzaga e Humberto Teixeira, com a música “Xanduzinha”. Marcolino nasceu em 10 de agosto de 1894 e faleceu em Irerê, em 21 de dezembro de 1980, com 86 anos, conforme está inscrito em sua lapide, na igreja deste atraente lugarejo.

Já o sargento Clementino Quelé sobreviveu à Guerra de Princesa e ainda teria fôlego para perseguir, no ano de 1936, o bando do cangaceiro Virgínio Fortunato da Silva. Conhecido como “Moderno”, foi cunhado de Lampião, homem de sua mais alta confiança, que neste ano investiu contra a região conhecida como “Tigre paraibano”, atacando várias fazendas na área próxima a cidade de Monteiro. Quelé, possivelmente pelo analfabetismo, nunca passou da patente de sargento, tendo morrido idoso na cidade paraibana de Prata. Coincidentemente, Quelé também foi lembrado em uma música de Luís Gonzaga intitulada “No Piancó”.

Quem visita atualmente a antiga Patos de Princesa, atual Irerê, município de São José de Princesa, com suas casas antigas e bem preservadas, nem imagina que o carcomido e arruinado casarão existente no fim da rua principal, foi palco de tamanho conflito.

Mesmo em ruínas, o casarão impressiona pela imponência da sua estrutura, pela grandiosidade da sua construção. Nele existe um andar superior, com dois sótãos independentes, vários quartos e dependências, sendo um exemplo do poder emanado pelos coronéis da região. Em meio ao silêncio atual, se o visitante puxar pela imaginação, é possível ouvir os sons da batalha ali ocorrida no longínquo ano de 1930.

Nota – Especificamente sobre o “Fogo do Casarão dos Patos”, utilizo principalmente as lembranças de várias pessoas que vivem na região de Princesa Isabel, Irerê e Manaíra. Sendo as informações do senhor Antônio Antas Dias, residente na cidade de Manaíra, as narrativas mais utilizadas. Este senhor comentou sobre este momento histórico, em uma entrevista concedida no dia 14 de agosto de 2006. O Sr. Antônio Antas tinha 61 anos na época da entrevista, onde as informações que ele prestou lhe foram transmitidas principalmente por Marcolino Diniz, de quem era parente, pelo guarda costas deste último, Manoel “Ronco Grosso” Lopes, por José Florentino Dias, seu pai, e pelo senhor Sebastião Martins, morador do atual distrito de Irerê.

No dia desta entrevista, o autor estava acompanhando do Sr. Dr. Juiz de Direito e pesquisador, Sérgio Augusto de Souza Dantas.


Igualmente utilizei os trabalhos do amigo e professor de geografia José Romero Araújo Cardoso, lotado na UERN-Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, em Mossoró. Estes artigos são “Marcolino Pereira Diniz e Xanduzinha: Imortalizados através da arte de Luiz “Lua” Gonzaga”, no link –
http://www.turismosertanejo.com.br/?target=artigos&id=69


Outro Trabalho do professor Romero, ao qual utilizei material para a confecção deste artigo, foi uma série de interessantes entrevistas realizadas entre 1989 e 1991, com diversas testemunhas sobre episódios do cangaço e da Guerra de Princesa, que está inserido no link -http://www.marcoslacerdapb.hpg.ig.com.br/romero/cangaco.htm

- Este artigo já havia sido anteriormente publicado e reproduzido em sites de vários de amigos por este Nordeste afora, que colocam a devida referência em relação ao autor e vários outros sites que nem se preocupam com isso. Mas decidi colocar o meu próprio blog, com novas fotos para quem gosta destas antigas histórias do nosso sertão.


Um detalhe importante. Já faz um tempo que não vou por lá, nem sei se o casarão está mais de pé, mas se tiver, visite enquanto é tempo.


Um abraço a todos
Rostand Medeiros...pesquisaor e escritor



http://tokdehistoria.com.br/2015/02/02/holandeses-no-nordeste-do-brasil-sngue-e-destruicao/
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FOTO INÉDITA.


As cabeças dos cangaceiros: Mariquinha (companheira de Labareda); SOFREU E PÉ DE PEBA, mortos pela volante do bravo nazareno ODILON FLÔR...

Foto: Cortesia da Família Nogueira

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LAMPIÃO E MARIA BONITA EM ESTÁTUETA


Sou fascinado por estas duas figuras que eram maus. Mas os homens são maus: uns mais, outros menos. Tudo é uma questão de medida, de circunstância, de coragem, de necessidade, de senso de justiça, etc. como posso dizer, da mesma forma, que os homens são bons. Somos humanos, sujeitos todos às forças inconscientes que nas complexas dimensões dos nossos cérebros, ditam e comandam os nossos caminhos.

Fonte: facebook

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Lampião e o Lazarento - A outra face.

Texto de Raul Meneleu Mascarenhas

A marcha estava sendo exaustiva e o calor vindo por cima e exalando quentura por baixo fazia os cabras vez em quando cambalearem como mamulengos. Não dava para parar, as volantes com cabras dispostos, todos bem municiados, estavam quase em cima deles. E outra..., parar onde? Só o que se via eram pedras e areia misturados com aquelas hastes espinhosas dos mandacarus,  apontando para o céu onde não se via nuvens. Só não dava pra ver os inimigos por causa do emaranhado de galhos secos e de vez em quando um pezinho minrrado e desfolhado de umbu.


As alpercatas de Lampião, ardiam como fogo e quando olhava para os pés, via-os latejantes querendo saltar fora do couro da “precata”. Já não tinham água para aplacar a sede. E essa era combatida com pequenos pedaços de rapadura, que encontravam perdidos nos fundo do embornais. Vinham de longe, vagueando por aquelas regiões inóspitas, varrendo a terra como se vento fosse, e trazendo desolação pior que a seca do sertão.


Eram cachorros enlouquecidos, mas não ganiam, pois não queria chamar a atenção dos inimigos. Mas ai daquele que passasse na frente daquela matilha ensandecida. Com olhos injetados pelo sangue que subia às suas cabeças e que misturavam-se aos grãos de terra levantados em poeira naquela desembalada carreira. Mesmo assim com espantosa vivacidade e agilidade, encobriam seus rastros, evitando o faro de hiena dos rastreadores, que a soldadesca “emburacava” atrás para lançarem seu ataque mortífero.


Era um rastejar permanente daquele grupo comandado por Lampião. Assim como também era permanente o rastrear das volantes e seus valentes. Todos eles eram uma mistura provinda do mesmo caldo social estabelecido nos sertões nordestinos. Eram homens que no combate, se devoravam, entre as pedras e areias da caatinga. Lampião e seu bando, eram serpentes mortíferas, sibilando horrendamente  e vez em quando atacando os endinheirados do sertão, abocanhando como áspides e derramando o veneno da morte e da destruição.


A noite já vinha chegando. Da quentura do dia, o sertão vira gelo na noite. Com as bocas ressequidas, Lampião e seus cangaceiros voavam no sereno, e procurando abrir as bocas nessa desembalada retirada, tentando sorver o orvalho que começara a descer como tênue manto de frescor. Mas a sede era maior que todo aquele sertão. Aliado a isso, a fome já também fazia-se surgir nas entranhas de cada um deles.


Mas com o avançar da noite, começaram a relaxar seus membros e articulações fatigados, e deixavam-se esmorecer e a pisar mais macio. O perigo tinha ficado pra trás, pensavam eles. A friagem da noite emanava seu alívio, com ventos frios e entorpecentes, que não deixavam de ser também um problema. Lá pras tantas, desse sertão sem lua, avistaram uma pequena luz bruxuleante. Era um desses casebres perdidos no meio do mato, isolado naquela triste paisagem. Bem que poderia ser um fugitivo da justiça, assim como eles pois desse tipo, o sertão com seus poderosos homens distintos, fabricavam constantemente da noite para o dia ou do dia pra noite.


Ao aproximarem-se, viram que se tratava de uma pequena cabana de pau a pique, onde via-se pelos buracos existentes entre o barro e as ripas, as chamas de uma lamparina dançar pelo efeito da aragem que zunia dentro do pequeno terreiro. Será que ali teriam pelo menos água? Aproximaram-se como onças para dar o bote, cautelosamente e silenciosos como os felinos fazem ao aproximarem-se de suas presas. Não pensavam em mais nada a não ser em água que lhes mataria a sede. Lampião bateu levemente na porta, como se a acariciasse, dizendo:  - Ô de casa... - A resposta não foi imediata. Insistiu... – Ô de dentro... – maior silêncio... – O bando aguardava. E Lampião pela terceira vez, rompeu a mudez emanada da rústica morada, gritando: Quem está ai dentro?


Então uma voz fantasmagórica, mas humana, debilmente sussurrou um já vai, espere ai, já vai, de forma tão sofrida que os cangaceiros estremecidos pela sede, já não lembravam dela. A lamparina moveu-se, a porta foi aberta por um vulto, como se fosse uma alma de outro mundo, talvez comparado até mesmo com a Morte, pois usava um capuz característico para esconder seu rosto; faltava apenas a foice, que fora substituída pelo fogo no pavio do bico de luz. - Que desejam a estas horas da noite? Lampião respondeu que apenas queriam um pouco de água para matar a sede dele e de seus homens. O bando todo, já tinha se chegado mais pra perto, curiosos em ver aquela cena que jamais nenhum deles esqueceria. O vulto encapuzado, escondendo sua face, balbuciou num murmúrio: Querem água...


Eu me chamo Virgulino Ferreira, conhecido como Lampião e estou vindo em paz pois apenas queremos matar a sede. O homem retrocedendo e abrindo passagem para Lampião e os seus, que entraram no casebre que mal cabia todos, viram sentados no chão, por cima de um resto de esteira e panos maltrapilhos, uma mulher com dois filhos, que ergueu-se e perguntou ao marido quem eram. Este respondendo disse-lhe que era Lampião e sua gente, de passagem e com sede. As crianças com medo, apertavam-se uma a outra, e a mulher disse para o marido que Lampião não deveria beber daquela água que eles tinham. E que se eles soubessem, não deveriam nem ter entrado na cabana.


Lampião com altivez disse-lhes que queria apenas água e não queria fazer mal a ninguém. O homem encapuzado com bastante jeito fez ver a Virgulino que eles tinham água, mas por conta de uma doença que tinha e que tinha sido escorraçado de sua cidade e vivia agora no mato não seria bom que bebessem. A doença era a lepra. Deixando cair o capuz, aquela pobre alma mostrou-lhes o rosto, onde parte dele estava carcomido pela doença. 


O bando recuou amedrontado e deixou Lampião sozinho, e ele calado, imóvel, fitou aquele ser torturado e disse não saber de tão grande desgraça e que se soubesse não teria pisado naquelas brenhas perdidas. Perguntou se fazia muito tempo da doença e o homem respondeu-lhe que sim. - E a mulher e as crianças, por que aqui ficaram? Perguntou Virgulino. E o pobre Lazarento, quase chorando de sua dor física e d’alma respondeu-lhe que ela não o tinha abandonado e que mesmo assim ele não teria para onde mandar seus filhos.


Aqui encontramos a outra face do violento e destemido Rei dos Cangaceiros. A misericórdia rugiu forte em seu coração e ele saindo da cabana chamou um de seus cabras, que veio cauteloso de medo. Lampião retirando duas cédulas que passou à mulher dizendo: Prepare os meninos agora mesmo, que eles vão ser entregues ao meu padrinho no Juazeiro. E olhando para o cangaceiro, disse-lhe que levasse aquelas duas inocentes almas à casa do padre Cícero, lá no Ceará. E embrenhou-se novamente com seu bando, noite a dentro, sem tocar no pote e nem na caneca d’água do leproso. Nessa retirada, não comportava seu grito de guerra "Mulher Rendeira".


Essa é uma das estórias que encontramos quando nos aprofundamos na vida e nos atos da história de Lampião, O Rei do Cangaço, - ( Lampião - Nertan Macêdo - pgs 72-73) que em um episódio como esse, mostrava sua outra face, como que querendo redimir-se perante o criador. Imitava ao filho de Deus, mal comparando como se diz no sertão. Não curava, mas ajudava os cegos, aleijados e outros que tinham doenças terríveis como a lepra. Tudo dependia de sua outra face.


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