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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

QUEM MATOU DELMIRO GOUVEIA?

Autor Gilmar Teixeira

Contatos:
gilmar.ts@hotmail.com ou
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Valor: R$ 30,00 + R$ 5,00 de Frete.

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O PISTOLEIRO VILMAR GAIA - SERRA TALHADA


Nos anos 70, o serratalhadense Vilmar Gaia surgiu para o Brasil como o “Lampião” do século 20. Foi alvo de matérias de várias revistas nacionais e jornais de toda a nação. Criou-se um mito em torno de um rapaz que, assim como Virgolino Ferreira, resolveu vingar a morte do pai, Batista Gaia. Naquele tempo polícia e bandidos se confundiam nas ações e Vilmar resolveu atuar do seu próprio modo. Criou-se até um glamour em torno do personagem, que acabou se tornando um mito.


Vilmar foi preso em 20 de agosto de 1976, na cidade de Ipaú-Mirim (CE). Ele se encontrava na fazenda Quitéria (fotos) quando foi surpreendido pela equipe do então capitão Ferreira dos Anjos, que logo foi elevado ao posto de major. Quem viveu aqueles tempos não guarda boas recordações. O clima era de medo nas ruas de Serra Talhada. Hoje, Vilmar Gaia ainda é alvo de debates em rodas de mesa de bar e vive em paz, na região Centro-Oeste, na companhia da família. Conte alguma história daqueles tempos.


Na foto 2, Vilmar Gaia posa de braços cruzados, chapéu de massa e óculos escuros. Major Ferreira, agachado aos pés de Gaia, posa como se exibisse um troféu. 

Proteção... 3 de Março de 1977, 
Jornal do Brasil


Luta Democrática, 5 de abril de 1975. Velhos costumes ressuscitados... Pano para manga em meu novo livro.


Jornal do Brasil 8 de abril de 1975




Fonte: facebook 

Página: Robério Santos

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Dona Rosa protesta contra prêmio homenageando o cangaceiro Curió


Sensacional matéria: dona de casa faz greve de fome ao ver que o governador homenageou cangaceiro. Sexta-Feira, 14 de Novembro de 1975, nas páginas do Jornal do Brasil.


Fonte: facebook
Página: Robério Santos

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DO CANGAÇO PARA A PASSARELA


O artesão Expedito Veloso de Carvalho, 74 anos, cresceu ouvindo uma história curiosa do pai, um vaqueiro de Inhamuns, sertão cearense, conhecido pelas selas, chapéus e gibões de couro que costurava. Certa noite, ele trabalhava sob um alpendre iluminado por uma lamparina quando um “cabra” surgiu da escuridão e disse:


- Seu Raimundo, o senhor faz umas selas tão bonitas. Se eu trouxer o modelo de uma alpercata (sandália), o senhor faz?

- Rapaz, eu não sou bom nisso não, respondeu ele, tentando fugir do pedido.


O visitante misterioso insistiu um pouco mais. Tirou do bolso um papel todo “escangalhado” e mostrou. Era o modelo de uma sandália de solado quadrado, do tipo que quando a pegada fica no chão não dá pra saber para qual lado a pessoa vai. Pediu que fosse feito no número 39 e, diante da concordância um tanto atônita de seu Raimundo, disse que voltaria depois de 29 dias para buscar o calçado.

O pai de Expedito começou, então, a trabalhar. No prazo marcado, o visitante chegou e, contente com o resultado, encomendou novas mercadorias. Antes de ir embora, perguntou se seu Raimundo sabia para quem era a sandália:

- Rapaz, é pra você mesmo. Foi você quem me pediu.

- Pois não é não. É para o coronel Virgulino.


A descoberta de que a encomenda era para Lampião, o temido rei do cangaço, deixou seu Raimundo apavorado. Tão apavorado que ele nem cobrou pelo serviço. “Meu pai foi se tremendo todo. Ficou até com vontade de fechar as portas e correr. Naquele tempo, todo mundo tinha medo de encontrar com Lampião”, diverte-se Expedito.


A família, unida em uma associação com quase 30 pessoas, que formam o corpo de funcionários, produz, entre 200 e 300 pares de sandálias por mês.

Ele tinha apenas oito anos quando ouvia o pai contar o relato na oficina, agora na cidade de Nova Olinda, também no Ceará, onde a família vive até hoje. Muitos anos depois, o relato voltaria de sua lembrança, marcado pela chegada de uma mudança radical na vida de toda a família.


O artesão é herdeiro de uma longa linhagem de costureiros de selas de montar iniciada pelo bisavô, que pelo trabalho ficou conhecido como Antônio Seleiro, “sobrenome” que passaria adiante para o filho, Gonçalves Seleiro, e para o neto, Raimundo Seleiro, pai de Expedito Seleiro.

Seu Raimundo morreu em 1971 e, aos 31 anos, o primogênito se viu, de uma hora para outra, responsável pelo sustento dos irmãos, todos bem mais novos, e dos próprios filhos. Naquela época, a família só fabricava as peças para os vaqueiros e, a cada ano, as vendas diminuíam, afetadas pelo fim da tradição da profissão.

Até que um dia, no início da década de 1980, Alemberg Quindins, diretor da Fundação Casagrande, uma premiada organização educativa de Nova Olinda que capacita crianças da região, entrou na oficina com um desafio. Trazia nas mãos uma sandália que foi usada por Lampião e estava em exposição, ao lado de outras peças sobre o cangaço, na Fundação. Perguntou, então, se Expedito conseguia reproduzir o modelo, mas com detalhes, um tipo de rococó nordestino que ele já fazia nos gibões e nas selas.


O artesão se lembrou, então, da história contada pelo pai e, mesmo nunca tendo feito sandálias antes, topou. “Fiz uma bem mais bonita porque sou mais caprichoso”, brinca. O solado era normal, sem o formato quadrado que dificulta o andar. Alemberg gostou e Expedito viu a oportunidade de um novo negócio. Passou a produzir as sandálias de Lampião. A situação financeira melhorou, mas as vendas não decolaram porque sandálias de couro cru já existiam aos montes no mercado. “Eu chegava nas lojas e o povo dizia: ‘Já tenho. Só quero se for bem baratinha’. Eu me obrigava a vender porque precisava, mas não compensava nada, era uma mixaria.”

Desgostoso com o trabalho, mas sem querer desistir, ele resolveu que não venderia mais peças iguais as dos outros. Foi dormir pensando. Levantou às 4h do dia seguinte, começou a desenhar e decidiu que dali em diante só faria sandálias coloridas. Costurou, então, um monte de sapatos e levou para uma “loja bonita, grande”, de Juazeiro do Norte, cidade vizinha a Nova Olinda. Chegou e disse:

- Seu Pedro, trouxe doze pares de sapato para você comprar.

O dono da loja nem abriu a caixa e recusou a oferta.

- Aqui tá tudo cheio de sapato. Não vou comprar, não.

Expedito insistiu:

- Mas, homem, tem um monte de sapato, mas nenhum é igual ao meu.

Seu Pedro olhou meio por cima e, com um certo descaso, disse para ele deixar a caixa num canto, que se vendesse alguma coisa daria o dinheiro para o seleiro. “Era um dia de segunda-feira. Deixei a caixa de sapato lá e peguei um, que estava no capricho mesmo, e botei na tampa. Combinei de voltar na outra segunda-feira para ver se tinha vendido e, se não, pegar os sapatos de volta. Fui embora desgostoso porque chegar em casa sem dinheiro é ruim, né?, lembra ele.

Durante a semana, continuou a produção dos pares coloridos com o que restou do couro que tinha. Até que na segunda-feira, voltou na loja.

- Pronto, seu Pedro, vim buscar meu sapato.

- Não, rapaz, pois eu vendi foi tudo. E quero mais 50 pares, respondeu o comerciante.

Com a pequena oficina, ele não conseguiu atender o pedido, mas foi vendendo para seu Pedro as que conseguia fazer. Foi nesse período que as sandálias multicoloridas de Lampião começaram a fazer sucesso. Alemberg também ajudou a promover o produto, calçando os sapatos em entrevistas para a televisão. Artistas começaram a procurar os calçados e Espedito resolveu diversificar: começou a produzir sandálias da Maria Bonita, um modelo mais delicado em homenagem à mulher do rei do cangaço, bolsas, carteiras, cintos, botas, cadeiras, molduras para espelhos e até luminárias, tudo no couro colorido vivo que virou a marca registrada do seleiro.

A família, unida em uma associação com 22 pessoas que formam o corpo de funcionários, produz entre 200 e 300 pares de sandálias por mês.

Em 2006, ele foi convidado para fazer os calçados que a grife Cavalera usou no desfile de verão da São Paulo Fashion Week e causou burburinho no mundo da moda. Virou queridinho também entre os figurinistas de novelas e filmes, onde se tornou referência quando se retrata o cangaço. Às vezes, um ou outro artista famoso aparece de surpresa na oficina e a loja que ele abriu do outro lado da rua para organizar as vendas virou parada obrigatória dos guias turísticos da região, que trazem carros cheios, inclusive com estrangeiros.

O sucesso, no entanto, não o deslumbra. Apesar das reiteradas propostas que recebeu para montar uma fábrica de sapatos, ele não quer abandonar a manufatura. Muito menos Nova Olinda. No próximo mês de outubro, Espedito inaugurará em um anexo da oficina o Museu do Couro, que contará a história dos vaqueiros, da cultura nordestina e das peças usadas na região, incluindo a primeira sandália feita para Alemberg e a máquina de costura manual, que era do avó dele, onde o pai teria feito a peça para Lampião.

“O que eu acho bom na vida é isso aqui. É por isso que eu tenho 74 anos, mas só tenho mesmo é 18. Porque eu só faço o que eu gosto. Se der para eu ganhar 1.000 reais eu ganho. Se não der, eu ganho 100. Eu quero ficar do jeito que eu comecei. A vida só é boa quando você se conforma com ela.”

Artigo escrito por Talita Bedinelli para o El País

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PADRE IBIAPINA EM CRATO

Por Armando Rafael
 
Padre Ibiapina

Em Agosto próximo deverá acontecer, na cidade de Crato, um simpósio comemorativo aos 150 da passagem do Padre Ibiapina pelo vale do Cariri. O evento será promovido pela Diocese de Crato/URCA/Universidade Federal do Cariri–UFCA, em parceria com as secretarias de cultura das Prefeituras de Crato/Barbalha e Missão Velha. O Cariri muito deve à ação do Padre Ibiapina.

Cearense de Sobral, o Pe. José Antônio Pereira Ibiapina, teve um carreira brilhante como advogado, delegado de Polícia, Deputado Federal. Largou tudo isso com mais de 50 anos para ser ordenado sacerdote e começar um imenso trabalho missionário, percorrendo mais de 600 km pelos estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Sempre de batina, a pé ou a cavalo, pregava, aconselhava e levava o conforto por meio da palavra para o povo sofrido do sertão nordestino. Organizou missões, construiu capelas, igrejas, açudes, cacimbas, poços, cemitérios, hospitais e chegou a fundar mais de vinte Casas de Caridade para moças órfãs carentes, onde elas recebiam educação religiosa e moral, aprendiam a ler, escrever e trabalhos domésticos, além de terem assistência à saúde.

Sobre o Padre Ibiapina assim se expressou Gilberto Freyre, no prefácio do livro de Celso Mariz, “Ibiapina, um apóstolo do Nordeste”, 1980: [...] Ibiapina foi realmente uma enorme força moral a serviço da Igreja e do Brasil. [...] exemplos como o do padre Ibiapina – que, sozinho, fundou e organizou vinte casas de caridade nos sertões do Nordeste – se impõem aos brasileiros como grandes valores morais. [...]

Armando Rafael - Crato, Ceará
Fonte:http://blogdocrato.blogspot.com.br/

E em Março...

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Se você gosta de ler histórias sobre "Cangaço" clique no link abaixo:

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“O GLOBO” – 07/11/1958 - PARTE VI

Material do cervo do pesquisador Antonio Corrêa Sobrinho

ASSIM FALOU VOLTA-SECA... - COMO SE FORJA UM CANGACEIRO

A “JUSTIÇA” DE LAMPIÃO

O Rei do Cangaço Gostava de Dizer-se Justiceiro – O Caso de Taboca – Repercutiu Mal no Bando o Castigo de Pau d’Arco – Respeito à Mulher e às Crianças.

JÁ FALEI da vaidade de Lampião, mas cabe ainda mais alguma coisa a respeito, pois duas coisas eram fortes nele: a vaidade e a maldade. Ele gostava de se sentir importante, e era muito comum dizer que o “o governo mandava na capitá”, mas ele era “o governo do sertão”. Não dizia apenas, tinha plena convicção disso. Sentia-se mesmo como o “Interventor do Sertão”, o maior homem daquelas regiões.

Referi no capítulo anterior que Lampião gostava de fazer justiça, mas justiça à sua moda, tal como lhe ditava a sua complexa consciência. Vou contar um caso terrível a que assisti e que servirá para fortalecer a minha afirmação de que Virgulino gostava de ser “justiceiro”.

O SEDUTOR DE TABOCA

FOI no interior de Sergipe, na Taboca, uma fazenda de gente amiga de Lampião. O fazendeiro gostava muito de Virgulino e este nutria grande estima por todos da casa. O bando estava nessa época com 45 homens, e já fazia alguns anos que Lampião não aparecia por aquelas paragens.

Quando chegamos, o dono da fazenda estava triste. Era pai de três moças, uma das quais se casara. Casara mal, pois o marido, terrível “conquistador”, acabara por seduzir uma das cunhadas e fugira para sempre do local. Depois que ele desapareceu, deixando a cunhada e abandonando a mulher com um filho por nascer, vieram a saber a boa bisca que era o rapaz, pois já havia seduzido várias moças e não se emendava. Seu mal eram as donzelas.

O fazendeiro contou o caso a Lampião, que, após ouvi-lo, perguntou: “Quer que eu mate esse sem-vergonha?” O bom homem não queria tanto, limitando-se a responder: “Matar, não, seu capitão, mas se fosse possível dar uma surra...”

Lampião pensou um pouco e disse: “Deixe ele comigo. Eu vou fazer um serviço bom com ele... Eu pego ele, deixe comigo...”

E o bando partiu alguns dias depois. Lampião ouvira o nome do homem e o guardara muito bem na memória. Guardou tanto que, seis ou sete meses depois, e passadas tantas coisas, tanto combate com os “macacos”, tantas novidades, ainda se lembrara do nome do homem. Eu é que não me lembro mais.

O ENCONTRO

ESTÁVAMOS num pequeno povoado quando, ao interrogar um estranho, o bando foi de repente interrompido por Lampião, que estava perto: “Como é mesmo o teu nome, paisano?” O homem repetiu o nome. Lampião até ardilosamente insistiu: “Antão você é genro do meu cumpadre...” e foi por aí afora, até que identificou bem o homem. Era o sedutor da cunhada, que, a essa altura, já estava assustado. Lampião disse ironicamente: “Mas antão você é o tal... o conquistador que eu estava procurando...” E sorriu, naquele seu sorriso terrível. Era a maldade calma que estava em cena, era o verdadeiro Lampião. “E a tua mulher? Você não presta! Mexeu com a tua cunhada... Eu já tenho a tua informação há tempos... Há muito tempo que quero te encontrar. Eu prometi fazer um serviço, e vou fazer... Vou te castrar!” O homem ficou apavorado. Não me lembro de ter visto ninguém tão assustado. Era um homem com menos de trinta anos, bem apessoado (como todo bom conquistador), e estava branco como cera. Lampião continuava a martiriza-lo: “Faz de conta que você é um boi magro que eu tenho no meu pasto... Você, inteiro, não pode engordar... Depois... um boi quando é bão assim como você a gente tem que castrar...”

O homem não se mexia, olhos arregalados, sem ousar dizer nada. Abriram um círculo grande, de uns três metros de diâmetro, e os “cabras” todos (45 homens) estavam vigilantes.

Lampião, depois de muito debochar, mandou que as mulheres se afastassem, tanto as do bando como as do povoado, e decidiu: “Vou te castrar! Despe-te!”, berrou Lampião. O homem obedeceu, conformado. Lampião sacou de um canivete e correu o dedo pelo fio, a fim de se certificar de que estava amolado. Não estava, conforme verifiquei depois e ele mesmo disse mais tarde. Mas cortava, e era o bastante. E aproximou-se do homem, que agora estava com a cabeça arriada, tremendo covardemente de medo.

CASTIGO

FEITA a “operação”, Virgulino, ainda não satisfeito, ordenou: “Senta!” O homem sentou-se no chão, ou deixou-se cair sentado. Dos seus olhos corriam lágrimas entrecortadas de soluços de dor. Lampião prosseguiu: “Vou fazer uma mossa na tua orelha, para quando te encontrar saber que tu és o meu boi...” E tirou um pedacinho da orelha do infeliz. Em seguida, dirigindo-se a um fazendeiro que, por sinal, não lhe era muito simpático, falou: “Leve esse homem. Trate bem dele. Bota água fria na ferida e depois um bife bem quente. Quero ele vivo! Vivo, ouviu bem? Vivo!!” E com a fisionomia carregada, concluiu: “Se eu souber que ele morreu, volto aqui e não escapa um! Mato todo o mundo!”

Estava feita a “justiça” ao terrível D. Juan dos sertões, que, aliás, ainda vive na Bahia, gordo e pacato. Os leitores hão de estranhar que um homem se deixe castrar assim desamarrado, sem reagir, conformado, enfim. Mas o fato sucedeu, e não foi a primeira vez que assisti a cenas dessas. Há muita gente covarde neste mundo. Já vi homens passarem por momentos piores e nenhum deles reagia.

Cada vez me convenço mais de que ser valente é uma coisa difícil, que requer, antes de tudo, não ter amor à vida.

É preciso acrescentar ainda que ninguém deu a menor importância a esse fato. Os “cabras” assistiram ao “espetáculo” sem se impressionarem, como se fosse algo rotineiro...

Tampouco Lampião era de se impressionar com os crimes que praticava. Nem mesmo se referia a eles, parecendo que o assunto terminara onde devia terminar. Era o seu senso de “justiça” que falava mais forte.

TRAIÇÃO

LAMPIÃO não gostava de ser traído. Quem o enganasse e caísse em suas mãos, dificilmente escapava. O traidor, então, ainda que a traição não fosse com ele, nunca ficava sem punição. Aconteceu certa feita um caso que iria bem contado neste capítulo. Foi uma traição, ou, pelo menos, o que Virgulino julgava traição.

Nós havíamos dado um combate à volante, em Pau-d’Arco, interior da Bahia. O bando tinha naquela ocasião uns 56 homens, mas, apesar de ter sido forte o tiroteio, não perdemos ninguém. A refrega fora à noite, e o fato é que conseguimos nos afastar dos soldados.

Depois de muito andar, fomos dar numa fazenda, cujo proprietário tinha mulher e dois filhos. O bando estava faminto e a fazenda vinha a calhar. Há dias não comíamos nada que prestasse e eu, confesso, até milho cru comi. Chegando à fazenda, portanto, a alegria foi imensa. Matamos e comemos toda a criação do fazendeiro, inclusive dois bois. Todo o mundo saciado, Lampião chamou o casal e, recolhendo quinhentos mil réis de cada um, juntou mais cinco contos de sua parte, entregou-lhe, dizendo: - “Aqui está mais do que nós comemos. Com este dinheiro vocês poderão comprar muita coisa e cobrir os prejuízos. Mas, atentem bem: não digam à volante, quando ela passar, que eu estive por aqui. Ouviram? O casal concordou, e Lampião, antes de partir, reforçou a recomendação: “Se vocês falarem qualquer coisa, volto e não fica ninguém vivo!”

De nada valeu a recomendação, pois mais adiante quase fomos dizimados pela força volante, perdendo vários “cabras”. Lampião, diante das baixas, ficou intrigado, pois não costumava enganar-se, e ele se julgava seguro quando fomos surpreendidos pelos “macacos”. Bem informado como era, não tardou a saber que o casal o havia denunciado. E soube mais detalhes, pois fora a mulher quem metera na cabeça do marido procurar as autoridades e dizer que Lampião estivera na fazenda, comera e bebera e, ainda por cima, nada pagara.

A VOLTA

NÃO preciso perder tempo em dizer que Lampião voltou ao local... Chegamos de surpresa, um mês depois, isto após afastar com artifícios os soldados das proximidades. O casal, depois do capturado, como todos os que caíam nas mãos de Lampião, estava com o pavor estampado nos olhos.

Era de tarde, e entramos na casa sem que nos percebessem. Frente a frente com os dois “traidores”, Virgulino falou: “Mas então os dois sem-vergonha estão de novo em meu poder...” E dirigindo-se à mulher: “A você, não matarei, porque é mulher. Mas teu marido vai morrer!” A mulher do fazendeiro olhava-o estupefato, sem nada dizer. Mas Lampião prosseguiu: “Mas, mulher faladeira... tu vais tomar uma lição que nunca mais esquecerás...”

E depois de meditar um pouco, mandou que dois “cabras” raspassem a cabeça dela, o que foi feito rapidamente, deixando o crânio reluzente. A mulher não era bonita, e de cabeça raspada mais esquisita ficou. Estava horrorosa! A seguir, Lampião mandou a infeliz despir-se inteiramente. Ela obedeceu prontamente, fincando tal como veio ao mundo. O bando todo olhava intrigado aquele espetáculo diferente e grotesco, tal seja o de contemplar uma mulher careca e, ainda por cima, desnuda.

O EXEMPLO

AQUILO era o começo da vingança de Virgulino, que em seguida mandou trazer dois cavalos. Num deles mandou montar o marido, no outro, a mulher, sendo que esta ia na frente. O povoado ficava perto da fazenda e Lampião mandou que o casal desfilasse, impondo que todos os moradores contemplassem aquele quadro triste.

A mulher ia cabisbaixa, o homem, indiferente, talvez certo de que teria pouco tempo de vida. Quando o cortejo passava em frente a uma casa, Lampião dizia: “Esta mulher é uma faladeira. Vou matar o marido dela e quero que vocês saibam que a língua não adianta a ninguém. Quem fala demais sempre morre cedo”.

Durou quase uma hora a humilhação, até que, no centro do arraial, Lampião resolveu acabar com aquilo. Mandou primeiro que desmontassem o marido e o trouxessem até ele. Assim foi feito e, sacando do parabélum, deu um tiro na cara do infeliz, sem deixar de dizer o seu clássico: “Vai-te pros infernos, cão!” O homem caiu morto instantaneamente, com uma bala entre os olhos, e a mulher, sempre de cabeça baixa, prostrada, nem se mexeu.

Lampião então ordenou que a desmontassem e, dando-lhe uma chicotada nas costas, mandou que ela se pusesse a andar e não olhasse para trás. A mulher obedeceu sem reagir, como sempre, e atravessou nua o povoado, sem se importar que a observassem. Nem chorou sequer.

CARÁTER NORDESTINO

POR incrível que pareça, “cabras” não gostaram do que Lampião fez, o que serve para demonstrar o que é o nordestino, mesmo quando está atolado no crime, como nós. Eu também, como meus companheiros, achei que Lampião havia exagerado, mandando a mulher despir-se. Houve mal-estar no bando, que comentou o fato por muito tempo.

Bem curioso é o sertanejo... Um homem foi castrado e ninguém ligou. No entanto, despir uma mulher em público teve péssima repercussão. Deve ser o remanescente do pudor, que sempre persiste no coração de um nordestino...

Lampião, entretanto, não ligou muito o fato e, se não voltou a fazer o mesmo com outra mulher, é porque não tornou a apresentar-se oportunidade. Ele faria o mesmo novamente, já que matar uma mulher não era de seu feitio. Posso mesmo afirmar que Lampião nunca assassinou gente de saia, nem tampouco crianças. Esse respeito pela vida das mulheres, nunca cheguei a compreender. Admitia que se “ferrassem” as que usavam vestido curto e cabelo cortado, mas nunca matá-las.

E não é dizer que não fosse homem dado a conquistas. Antes de conhecer Maria Bonita, gostava de vez em quando de galantear uma mulher, mas fazia-o com comedimento. Da mesma forma com que bebia, pois se bebia bem, jamais alguém o viu bêbado. Tal comportamento é que lhe granjeava grande autoridade moral sobre o bando.

Depois de Lampião unir-se a Maria Bonita, nunca mais se aproximou de outra mulher, nem mesmo quando ela se afastava do bando para dar à luz em casa, ou quando queria simplesmente visitar os pais. Lampião foi de uma fidelidade a toda prova a Maria Bonita.

Mas não foi esse amor que o fez ser sempre magnânimo com as mulheres. Os que o conheceram antes de entrar no cangaço diziam que ele sempre respeitou as mulheres e as crianças. Era, talvez um dos poucos predicados que esse homem possuía, entre tantos defeitos.

No próximo capítulo: Massacre em Queimada

CONTINUA...

Fonte: facebook
Página: Antônio Corrêa Sobrinho

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O CORONEL JOSÉ PEREIRA LIMA E A FAZENDA ABÓBORAS.


O Coronel Braz Nunes de Magalhães foi proprietário por herança, da fazenda Abóboras. Alguns anos mais tarde o Coronel Marçal Florentino Diniz, de Princesa Isabel – PB adquiriu por compra para explorar a pecuária.

Alexandrina, filha do Coronel Marçal, contraiu matrimonio com José Pereira Lima. Este havia abandonado os estudos universitários para assumir a direção política de Princesa Isabel – PB, em virtude do falecimento do pai.

O Coronel José Pereira Lima foi deputado estadual na Paraíba por 16 anos. Era um fidalgo no trato com as pessoas e elegante no modo de se vestir. Amigo e correligionário de Epitácio Pessoa, então Presidente da República, fez parte da comissão de recepção ao Rei Baldoino, da Bélgica, que veio participar, em 1922, das comemorações do centenário da Independência do Brasil.

Por razões ligadas a distribuição de vagas para deputado federal, José Pereira rompeu com o governador da Paraíba o Dr. João Pessoa. 

As hostilidades foram inevitáveis, mas o caudilho reagiu contando com o apoio do Presidente da Republica, Washington Luiz que lhe mandou armas e munição para uma revolução civil que deporia o Governador.

Foram recrutados homens em todo sertão. Creio que Vila Bela lhe mandou o maior contingente, porque algumas lideranças locais apoiaram-no incondicionalmente. O município de Princesa foi transformado em “território livre”.

Com o assassinato do Governador João Pessoa em Recife, o Coronel José Pereira ficou em pânico. Retirou-se de Princesa, esteve na Fazenda Abóboras em Serra Talhada, escondeu-se em uma furna da serra do Mucuitu e dali se transferiu para o estado de Alagoas.

Providenciou um burro com carga de redes, mudou o nome para Antônio Pedro, atravessou o rio São Francisco em uma canoa, chegando à cidade de Santo Antônio da Glória na Bahia.

Refeito das angústias dos primeiros meses, deu rédeas ao burrico, seguindo trilhas ao arrepio das águas do São Francisco. Viagem penosa, porém chegou com vida às proximidades de Santa Maria da Boa Vista. Outra vez usando canoa alcançou as barrancas pernambucanas do “Velho Chico”.

Desejava chegar ao engenho Roncador, em Barbalha – CE, do Coronel João da Cruz, cujo genro José Bezerra Leite era seu amigo desde o tempo em que morava em Triunfo. Ao apertar a mão de Bezerra Leite respirou aliviado. Diz o autor: “Eu conheci pessoalmente o quarto do Coronel naquele engenho. Ambiente bucólico e saudável onde só lhe faltou o aconchego da família”.

Depois da anistia que lhe foi concedida, José Pereira chegou a Serra Talhada, onde construiu uma confortável residência e lá recebia os seus melhores amigos do tempo da “revolta”.

Como houvesse avalizado, em Princesa Isabel, perante uma empresa de combustíveis, os negócios de um amigo que falira, revendedor de gasolina e óleo, José Pereira teve seus bens arrestados (embargados) para cobrir o valor do aval. Os imóveis e benfeitorias foram praticamente destruídos, em face do abandono a que ficaram relegados.
Posteriormente, a empresa perdeu em última instância judiciária uma ação indenizatória de CR$4.440.000,00.

O Coronel foi ao Rio de Janeiro receber o cheque desse valor.

Em seu retorno a Pernambuco foi surpreendido por uma crise aguda de apêndice, e como não resistiu à infecção generalizada, faleceu em Recife.

Do livro: Serra Talhada 250 Anos de História, 150 anos de Emancipação Política.
De: Luiz Lorena

Adquirido no: facebook

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