Seguidores

domingo, 21 de setembro de 2014

LUAS, QUINTAIS E MANHÃS

Por Rangel Alves da Costa*

Não consigo imaginar como seria viver numa dessas metrópoles onde praticamente não se avista o céu, não há chão para se pisar ou vizinhos para um proseado. E mais, creio que seria impossível viver num lugar onde a lua já nasce escondida e percorre a noite entre sombras, não há manhãs com janelas abertas e muito menos quintais. E triste de um povo que não reconhece mais um canto passarinheiro.

Moro em Aracaju, uma capital mediana, onde muitos dizem que a feição de cidade grande ainda não chegou, mas ainda assim já são muitas as consequências do progresso. Os grandes edifícios ainda não tomam conta das paisagens centrais nem as alturas das nuvens estão sempre tomadas de fuligens enegrecidas. Mas não há mais o vento soprando diretamente da barra como noutros tempos, edifícios suntuosos se acumulam por toda margem das águas, o caos urbano vai tornando a cidade pesarosa.

Cidade antes verdejante, com árvores espalhadas pelas ruas e avenidas, contando também com praças aconchegantes, hoje pouco se tem disso tudo. E o que se tem agora é de cortar coração. Os parques nunca foram devidamente conservados e a maioria dos habitantes sequer sabe como ter acesso, as praças praticamente abandonadas, as ruas desapossadas de seus moradores. Eis que o trânsito aracajuano é um dos mais terríveis e perigosos que possa existir sobre a terra. Nem pelas calçadas as pessoas estão em segurança.

Um dia haveria de ser assim, mas a verdade é que houve um rompimento voraz entre a cidade de aspecto e clima interioranos e esta que forçadamente se moderniza. Logicamente que aos poucos desapareceriam as ruas das vizinhanças, os arvoredos sombreados onde os velhos amigos se encontravam, as calçadas festivas pelas comadres se reunindo para falar da vida própria e muito mais da dos outros. Os meninos correndo atrás de bola, brincando soltos na vida, logo serão avistados somente em fotografias. Infelizmente, o presságio do real, do visível.


Houve um tempo do leiteiro deixando o leite na porta, da vendedora oferecendo queijo de quintal, galinha de capoeira, doce de coco e bolos de muitos sabores. Houve um tempo de janelas e portas abertas, de cadeiras nas calçadas, de pessoas passando acenando um bom dia ou boa noite. E também um tempo de quintais, de pomares, de ervas medicinais, de animais de estimação, de cajueiros, papagaios e varais. Obedecendo a lógica do progresso, tudo foi sendo transformado e agora resta somente a nostalgia de um tempo onde viver era infinitamente mais prazeroso.

Atualmente é o tempo do medo, da violência, do assombro, da preocupação acerca de tudo. Ao entardecer ou anoitecer poucos ainda se atrevem a colocar cadeiras nas calçadas para se refrescarem do calor da luta, quase ninguém faz mais caminhadas pelos arredores do bairro onde mora, até mesmo as portas e janelas não são mais abertas para a entrada de um sopro bom. Logo estranhos passam, olhares desconhecidos começam a rondar, passos se aproximam para tirar o sossego, quando não ameaçam tirar o patrimônio e a vida.

Ruas de pessoas desconhecidas, de caminhantes embrutecidos, arrogantes, parecendo avistar inimigo em qualquer um que esbarre. Ruas dos carros que passam velozes, violentos, amedrontadores, e das motocicletas que de repente surgem como se sopradas por turbilhão. E triste de quem estiver à sua frente, pois o respeito do motoqueiro para com o trânsito e os pedestres é o mesmo que o do fugitivo com a polícia no encalço. Simplesmente vai passando por cima de tudo, machucando, ferindo, causando danos irreparáveis.

Diante do jardim que se transformou em lixeira, do sossego que se transformou em constante temor, não há como não sentir saudade dos tempos idos. Mesmo que digam que o passado já cumpriu seu destino ou mesmo que o saudosismo nada mais é do que se esquecer de abrir as portas para o tempo novo, ainda assim ninguém pode negar o bem que faz o simples fato de saber que as cidades, as pessoas e as situações, um dia foram muito mais humanas e acolhedoras. E somente assim perceber que o homem e a cidade de hoje não foram sempre assim tão insensíveis e vorazes.

O tempo não volta, nada mais será como antes, é verdade. Mas nem tudo está perdido. Felizmente a lua ainda é avistada imponente nas noites aracajuanas, o céu azulado é festa no olhar durante o dia, alguns vizinhos ainda se arriscam ao anoitecer pelas calçadas. Nos bairros mais distantes ainda se encontra um aspecto interiorano, de ruas sem asfalto e meninos desnudos correndo de canto a outro, mas pela pobreza e o esquecimento dos poderes públicos, e não porque seja bom viver assim.

Somente nas distâncias, como na região sertaneja de onde eu vim, ainda é possível encontrar algumas belezas que tanta falta fazem na cidade grande. Ali ainda pedaços intocados da natureza, ali a lua tão imensa e bela a cada anoitecer, os quintais quase se unindo à mata e cheios de plantas, arvoredos, bicho ciscando no chão, poleiros armados ao redor. As roupas esquecidas nos varais e amanhecendo úmidas pelo sereno da noite. E logo a manhã, aquela janela aberta que é mais que um chamado à vida, mas a própria razão do viver.

Quem dera ter sempre luas, quintais e manhãs. Não apenas avistar algum clarão lá em cima, não apenas abrir a porta de trás e avistar alguma planta em pé, e não somente despertar porque amanheceu. E sim ter a lua imensa sem que os edifícios impeçam sua visão, ter quintais sem que o cimento petrifique o sublime, ter manhãs sem que a janela aberta tudo traga, menos o sol.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

VEJAM A ATUALIDADE DESTE TEXTO, PUBLICADO HÁ 87 ANOS.


“DIÁRIO DA MANHA” – 16/01/1927 - ENDEMIA SOCIAL

Por Alfeu Rosas

Quem traçar, por minguadas que sejam, impressões do nordeste brasileiro, não se pode furtar à apreciação da praga insidiosa do “cangaceirismo”.

Este fenômeno de criminalidade atávica tem sido mal estudado por indivíduos que fazem, momentaneamente, da censura uma arma política contra os seus desafetos.

Do mesmo modo, os governos quase nunca procuram se inteirar dos males físicos ou psíquicos dos seus administrando nem lhes curar tais enfermidades. A preocupação do mando duradouro, nesta feliz temporariedade do Regime; a noção do governo patriarcal que cuida, afetuosamente, dos membros da família, das propinas gostosas e das prebendas de vulto, vedam a certos dirigentes o trato desses problemas capitais.


Preliminarmente – o sertão é conhecido pela parcimônia, ou melhor, pelo emprego inadequado da sua justiça, havendo, com pequenas exceções, dois pesos e duas medidas para o mesmo caso.

A Natureza rude do meio ambiente forra o animal das suas impiedades características. O homem é, ali, um revoltado; mas que, pensando nos momentos de fartura, nas invernias paradisíacas, que fazem esquecer as estiagens diabólicas das grandes secas, se apega ao torrão natal, só emigrando quando se torna o único sobrevivente dos arredores. Já de si temerário e impulsivo, vibrando ao rudimentarismo dos seus instintos de bárbaro, o sertanejo não se identificou ainda com a noção de justiça dos civilizados. E, como a deusa vendada nem sempre é cega para não ver quem fere, mas muitas vezes não se vê para não ferir o afeiçoado da política, essa desigualdade mais acirra ainda a odiosidade dos vaqueanos.

Tenho em mente dois casos típicos de chefes de bando do Nordeste. Estes, como os de Mussolini, na Itália; de Romanetti, na Córsega; de Mandrin, na França; de Roob Hood, na Inglaterra; dos narrados por Schiller, na Alemanha, foram o consequente de injustiçamentos.

Deixo de citar, nominalmente, aqueles nordestinos para não aumentar a triste celebridade desses heróis do trabuco. Essas duas criaturas, tornadas malévolas, eram pacatos lavradores. Certo dia assassinaram-lhes os pais. As autoridades da região, interessadas no apadrinhamento dos matadores, não tomaram a menor das providências para a punição dos delinquentes. Eis aceso o facho da vingança, que dentre os próprios homens cultos também se inflama. Cometeram, em represália, o primeiro crime de sangue.

Refugiaram-se nas selvas. Repeliram os perseguidores. Constituíram o seu bando sinistro. A sociedade tornou-se sua inimiga mortal. Estavam, assim, na defensiva.

Outro motivo – o do acoitamento de criminosos pelos proprietários de latifúndios. Estes o fazem de indústria. Têm nos trabalhadores recrutados na leva dos criminosos os verdadeiros servos da gleba, que não reclamam, que não se insurgem, preferindo, razoavelmente, o eito, de sol a sol, às grades da enxovia pestilencial. E o patrão asilador tem naqueles indivíduos prestimosos mandatários para todas as suas vinganças.

Essas criaturas, assim acolhidas, no entretanto, estão aptas a cometer o segundo, senão o terceiro crime.

Fugirão à primeira oportunidade que se lhes apresentar para o seu ingresso no bando salteador.

Há fazendeiros, também, que se dão ao esporte de manter e adestrar um pequeno exército de bandoleiros. Muitos dos quais se acham, hoje, operando sob a sua responsabilidade, nos sertões do Nordeste, fizeram a sua aprendizagem na Escola de Guerra de certos proprietários. Como querem os teoristas que, com essa tolerância e com esse incentivo dos senhores de grandes latifúndios, se extirpe o “cangaceirismo”?

Já se disse que o problema era demasiadamente complexo. E se não exagerou nessa afirmação.

Afora as populações pobres que protegem e facilitam a fuga desses delinquentes, pois são por estes beneficiadas, há ainda os protetores forçados desses salteadores. São os pequenos proprietários que não dispõem de armas suficientes para repelir a invasão. E se a polícia não lhes pode montar guarda à fazenda, com a continuidade necessária à sua segurança, como denunciar ou negar abrigo ao bando criminoso, se este pode, de supetão, voltar à carga?

Na generalidade os governos perseguem essa forma de criminalidade endêmica, à sua erupção; mas, indiretamente, a fomentam.

Consentem na prática de injustiça pelos seus mandatários. Sabem quais são os grandes asiladores de delinquentes. Conhecem os que guardam dentro das muralhas dos seus castelos os peões do “cangaço”. Mas, escravizados à politicalha do partido a que pertencem, não querendo perder as propinas decorrentes do lugar de destaque à mesa do banquete orçamentário, cruzam os braços e, camarariamente, discreteiam com os autores intelectuais do crime.

Preferem, assim, curar da moléstia, quando podiam usar preventivamente, de meios profiláticos que evitassem o surto ameaçador. Eis o que penso sobre o chamado “cangaceirismo”. Este se não vencerá à ação das brigadas policiais.

O seu foco continua inexpurgado. Manter-se-á, logicamente, enquanto se não debelar, sem considerações pessoais ou partidárias, a causa eficiente do mal.

São esses, pois, os motivos primários que congregam os grupos criminosos no Brasil.

Cabanos, balaios, chimangos, jagunços ou cangaceiros são variantes da mesma criminalidade atávica que se perpetua aos incentivos de poderosos, do sentimentalismo doentio e dos injustiçamentos.

Alfeu Rosas

Fonte: facebook
Página: Do pesquisador do cangaço Antônio Corrêa SobrinhoCangaçofilia

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

"Sinhô" Pereira, O Mestre de Lampião!

Por Raul Meneleu Mascarenhas

Esse foi o homem que chefiou Lampião quando esse entrou em seu bando porque queria vingar seu pai que tinha sido assassinado.

Corria o ano de 1919 e Sebastião Pereira ouviu os conselhos de Padre Cícero Romão Batista para largar o cangaço. Atendendo o convite 'Sinhô' Pereira decidiu sair do cangaço. Mas sua primeira tentativa não foi bem sucedida e ele voltou e reassumiu seu bando.

Em 1923 (1922) fez outra tentativa e desta feita deixou comandando o grupo, seu melhor e fiel homem: Virgolino Ferreira da Silva, o famoso Lampião que viria a se tornar o Rei do Cangaço.

Leiam reportagem do jornal O Globo de 2 de setembro de 1971 onde o ex-cangaceiro em entrevista fala de seus velhos tempos. Muita curiosidade satisfeita para os pesquisadores do cangaço.





http://meneleu.blogspot.com.br/2014/09/sinho-pereira-o-mestre-de-lampiao.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com


O Coroné Pereira está muito bem


Cheguei da residência do coroné (coronel) Pereira talvez faz 10 minutos, e a recuperação do coroné tem sido uma maravilha, e nem parece que está cirurgiado de safena.

Parabéns coroné Pereira, logo, logo você estará administrando as suas atividades.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com
http://minhasimpleshistorias.blogspot.com
http://sednemmendes.blogspot.com
http://mendespereira.blogspot.com 

Dadá a cangaceira, esposa de Corisco, o Diabo Louro!

Por Raul Meneleu Mascarenhas

Dadá a cangaceira, esposa de Corisco, o Diabo Louro!

CLIQUE NA IMAGEM PARA LER
 ou 
AUMENTE O ZOOM DE SUA TELA
Matéria do jornal O Globo de 1973





http://meneleu.blogspot.com.br/2014/09/dada-cangaceira-esposa-de-corisco-o.html
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

(Tibúrcio de Souza Lima, Cangaceiro Antônio Silvino e a minha avó)


Tibúrcio foi um grande proprietário de terras do Seridó a sede da fazenda era no Sítio Algodão Município de parelhas RN. Algumas vezes o cangaceiro Antônio Silvino passou na casa dele, pois se escondia no Riacho da Goela da onça no Sítio do mesmo e passava sempre na casa grande para pegar queijos e outras coisas.

Casa Grande de Tibúrcio Sítio Algodão, Parelhas - RN, onde Antônio Silvino e seu Bando tinha parada certa e onde acontecia o encontro da minha avó bem jovem com os filhos de Tibúrcio.

A minha avó materna foi contratada mesmo sendo uma senhora casada muito jovem para ser mulher de todos os filhos desse homem (6), pois da primeira família dois dos filhos sofreram com doenças sexualmente transmissíveis, um morreu e outro ficou cego.

O primeiro filho de Tibúrcio que morreu de doenças sexualmente transmissíveis Severino Ramos(Raminho)

São muitos detalhes, a história é longa não vou relatar mais aqui porque está sendo transformada num curta metragem, (pegando algumas dicas de Hilton Lacerda, roteirista do Baile Perfumado, para mostrar o lado que muitos não conhecem, porque Maria Felismino do amor divino (Minha avó) sempre foi tratada ao longo dos tempos como uma promíscua e nunca foi contado o que existiu por trás disso tudo.


Para finalizar esse homem era 15 anos mais velho que Antônio Silvino, a minha avó sempre falou das vezes que viu Antônio Silvino e da maneira como tratava as mulheres com respeito, quando viu ele ela tinha entre 11 e 13 anos. Morreu em 1994 aos 94 anos.

Esse homem foi coiteiro, uma espécie de coronel, muitas terras e até hoje 20 anos depois da morte da minha avó, ainda sentimos o efeito de um plano sujo de quem tinha boas condições de vida e quem se sujeitava a certos planos, por não ter onde morar.

Fonte: facebook
Página: Hellyo Viturino

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Cruz do sertanejo Zé Nogueira assassinado por Antonio Ferreira

Por Geraldo Júnior
Foto cedida gentilmente por: Robson Nogueira

Cruz que marca o local exato em que foi morto Zé Nogueira, assassinado por Antônio Ferreira, irmão de Lampião, no ano de 1926.

Lampião e seu irmão Antonio Ferreira

Essa cruz feita de madeira de aroeira foi colocada neste local, três dias após o assassinato, e ainda hoje permanece intacta marcando o local em que ocorreu um desfecho triste, dentro da história do cangaço de Virgulino Ferreira.

Obs.: Esta cruz está localizada em frente a famosa Serra Vermelha, palco de grande batalha entre forças policiais e cangaceiros.

Nas quebradas do sertão...

Fonte: facebook
Página: Geraldo Júnior‎ O Cangaço

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Lampião: Envenenado ou morto a tiros?

Por Raul Meneleu Mascarenhas

Uma das estórias da morte do cangaceiro Lampião gira a respeito de uma tese que Virgolino Ferreira foi envenenado pela comida que seu coiteiro tinha levado ao bando que se alojara na Grota do Angico. Essa tese é combatida pelos principais biógrafos de Lampião.

Lampião e Maria Bonita

Abaixo reproduzo matéria do jornal O Globo de 1975.




No livro 'A derradeira gesta: Lampião e os Nazarenos guerreando no sertão',  o autor registra na página 156 o seguinte comentários:


A mistura perversa dos pensamentos e ações de cangaceiros, coronéis, jagunços, volantes e coiteiros desaguou naquele fatídico dia nas caatingas circuncidantes das barrancas do Velho Chico, a triste sina desse homem considerado por uns um bandido e por outros herói.



neleu.blogspot.com.br/2014/09/lampiao-envenenado-ou-morto-tiros.html

http://blogdomendesemendes.blogspot.com