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segunda-feira, 21 de julho de 2014

ASSINATURAS DE CANGACEIROS...


Muitos cangaceiros, após deixarem a vida do fuzil, passaram a ser pessoas trabalhadoras e honestas. A maioria estudou, e sabia, pelo menos assinar o seu nome. (Voltaseca Volta)

Foto do acervo do pesquisador Robério Santos

Numa cortesia do grande escritor Antonio Amaury de Araújo e Marcelo Rocha, acima, FOTO das assinaturas dos cangaceiros: BALÃO; CRIANÇA; ILDA RIBEIRO (SILA ); ZÉ SERENO. - (Voltaseca Volta)

Foto dos cangaceiros que assinaram a lista:


O cangaceiro Balão estava na Grota de Angico na madrugada de 28 de Julho de 1938, quando as volantes policiais mataram 11 cangaceiros e por acidente, um volante policial.


Criança era companheiro da cangaceira Adelaide, que era irmã da cangaceira Rosinha de Mariano. Adelaide faleceu de parto e a Rosinha, segundo a pesquisadora Juliana Ischiara foi morta a mando de Lampião, por não ter obedecido uma de suas ordens.


Sila e Zé Sereno estavam na Grota de Angico na madrugada de 28 de Julho de 1938, quando os policiais resolveram exterminar o bando de cangaceiro de Lampião. 

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LAMPIÃO E MARIA BONITA: UM AMOR

Por Rangel Alves da Costa*

Não se trata aqui de traçar um percurso histórico do relacionamento amoroso, da união verdadeiramente conjugal entre Lampião e Maria Bonita, suas causas e consequências. Nada disso. A historiografia já trata muito bem sobre aquele encontro, aquele olhar, aquela paixão pela esposa revoltada do sapateiro.

Contudo, não há como deixar de observar nesse compartilhamento ungido no amor e na dor feições do destino, do acaso, do cumprimento aos desígnios divinos para sua existência e continuidade em situações tão adversas. Somente os grandes amores têm o dor de vencer as barreiras mais difíceis que lhes são impostas.

Pois bem. Não é todo dia que um cangaceiro, tendo por moradia as caatingas sertanejas e bebendo água no oásis ressequido da esperança, correndo de um canto a outro no encalço do inimigo ou sendo perseguido, vá ter tempo para as coisas do coração. Uma mulher sempre faz falta a um homem, em qualquer situação, mas seria impensável que um bicho do mato fosse sentir amor à primeira vista pela “mulata da terra do condor”.

As tais linhas tortas nas quais Deus escreve certamente que eram aqueles caminhos arenosos e espinhentos, cheios de labirintos e ladeados por inimigos que um dia o Capitão achou de percorrer nas suas andanças. Se soubesse que o inimigo estava mais adiante, entrincheirado numa moita à espera da aproximação, ainda assim nada impediria esse caminhar. Ora, os passos do destino são sempre para frente.

Então ele seguiu adiante em busca desse destino sem jamais imaginar que naquela vastidão de secura e pobreza iria encontrar sua bem amada, a mulher que logo seria o gás na sua chama de lampião. E que doravante seria sua companheira não somente das coisas do amor, mas também nas lutas tenebrosas de todos os dias, desde o acordar ao curto adormecimento debaixo da lua.


E aquela bela mulher agrestina, tão bonita como toda Maria, ferida no amor por um casamento conturbado com um artesão sertanejo, por que sentiu o coração amolecer quando olhou nos olhos da tão temida figura, simplesmente o rei das caatingas e mandacarus, o homem que fazia quase todo o sertão ajoelhar-se aos pés? Por medo, por desatino, por loucura, maluquice ou coisa parecida? Tudo destino, tudo fadário e sina, o acaso unindo o impossível para que aquelas linhas tortas pudessem ser lidas.


Não há que se pensar diferente. O bicho brabo do mato, o feroz cangaceiro, aquele que muitos imaginavam não ter sentimentos e muito menos guardar esperanças de amor por uma mulher, de repente encontra uma bela sertaneja, porém comprometida, ainda casada na honra do povo sertanejo. Esse inusitado, num verdadeiro emaranhado difícil de ser entendido, só pôde ser desalinhavado e justificado quando ela, sem temer a língua dos outros nem o futuro, colocou a aliança de sol e a grinalda de espinhos de quipá.

Certamente que na sua decisão de acompanhar para a vida e a morte o rei dos cangaceiros, já imaginou a dimensão das durezas e dos sofrimentos que iria encontrar pela frente e por todo lugar. E o que pode ser mais forte do que a vida em constante perigo, vivendo cercada de inimigos, quase sem tempo para reconhecer-se na existência, senão o amor? Somente o amor, a entrega absoluta ao Capitão, tornaria suportável aquele lar debaixo do sol e da lua, adornado de espinhos e manchado de sangue.

Se há que se escolher, entre os dois, aquele que verdadeiramente permitiu que todo esse amor acontecesse, sem dúvida que todo o mérito caberia a ela, Maria Bonita. Eis que desafiou o seu tempo e rasgou o véu tradicionalista da história para acompanhar o seu homem pelos caminhos incertos. E se há que se escolher aquele que lutou para que o amor não fosse sendo diminuído pelas durezas da estrada, este foi Lampião. Este soube obedecer ao coração, buscou ter tempo para a guerra e para o amor, para tê-la sempre ao seu lado até que a morte enfim chegasse.

E depois de mais 
um dia de luta e aflição, certamente que o Capitão ainda guardava tempo para convidá-la a sentar no alto do morro, lá mais próximo da lua sertaneja, e dizer a sua Maria sempre bonita: “Só sei o que é vitória nessa luta sem fim quando volto pra os seus braços”.

E é por isso que a poesia canta: “Virgulino Ferreira, o Lampião/ Bandoleiro das selvas nordestinas/ Sem temer a perigo nem ruínas/ Foi o rei do cangaço no sertão/ Mas um dia sentiu no coração/ O feitiço atrativo do amor/ A mulata da terra do condor/ Dominava uma fera perigosa/ Mulher nova, bonita e carinhosa/ Faz o homem gemer sem sentir dor/ Mulher nova, bonita e carinhosa/ Faz o homem gemer sem sentir dor...”.

Poeta e cronista
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A cultura na pousada trilha do Velho Chico, Piranhas, Alagoas.

Por João de Sousa Lima

A pousada Trilha do Velho Chico, em Piranhas, Alagoas, realizou um grande evento cultural e contou com as participações de artistas de várias cidades. Segui de Paulo Afonso com as filhas Stéfany e Letícia e com os amigos Edson Barreto, Elaíde, Evelin, Luiz Alberto, Nildinha, Marcos de Carmelita e Silvana.

Foi um grande momento cultural regado a feijoada e boa música.

Luiz Alberto, Nildinha e João de Sousa Lima
Luiz, João de Sousa Lima, Flávio e Edson
Nildinha contagiou a plateia com sua bela voz



Jaqueline sempre presente






Stéfany e Letícia

A presença de Izael



Enviado pelo escritor e pesquisador do cangaço João de Sousa Lima

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Pavão Misterioso

Desculpa-me fugir um pouco do assunto!

Só para você ver o que a natureza é capaz de fazer.

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PADRES E CANGACEIROS - AMIGOS x INIMIGOS


Lampião:....foi inimigo, mato. Não pergunto a quem. Só respeito nesse mundo, Padre Ciço e mais ninguém.

Muitas batalhas, sangue e crueldade contra os considerados inimigos. Mas, para o cotidiano manchado de violência e intolerância na conhecida história do cangaço, a Sexta-feira da Paixão também era santa e, sempre que possível, dia de pausa e de reza com o bando. Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, (1898-1938) tinha, sim, o seu lado beato, e muito apego aos princípios do catolicismo. Esta faceta curiosa de um dos bandidos mais famosos do Brasil integra estudos inéditos do pesquisador Antonio Amaury Côrrea de Araújo, autor de seis livros sobre cangaço. “Ao contrário do que possa parecer, não houve nenhuma tentativa dos historiadores de proteger a imagem da Igreja no contato com os bandoleiros. O que há é desconhecimento mesmo”, constata o estudioso.

Renegada pelo tempo, assim como a história do cangaço, nessa foto posam lado a lado bandoleiros, soldados e padres

O trabalho, que está para ser publicado, assinala os aspectos contraditórios da personalidade do bandoleiro, responsável pelo extermínio de famílias inteiras como os Gilo e os Quirino. Embora apreciasse ser tido como “bandido social”, e chegar a ser biografado em vida como uma espécie de Robin Hood sertanejo, Lampião jamais o foi. Nunca hesitou em aliar-se a alguns dos mais reacionários coronéis nordestinos, como a família Malta, em Alagoas, integrada pelos antepassados da ex-primeira-dama Rosane Collor. Em algumas ações, para ganhar a simpatia da população, entretanto, agiu como se fosse um homem com uma certa preocupação social ao dividir o produto dos roubos com o povo humilde.

Padre Cicero

Mas a devoção de Lampião à Igreja, principalmente ao padre Cícero Romão Batista, o Padre Ciço (1844-1934), era fato. Vingativo e cruel diante dos perseguidores, aos quais chamava de “macacos”, revelava-se manso e humilde frente a sacerdotes. Seu lugar-tenente Cristino Gomes da Silva Cleto, o Corisco, um dos mais temidos chefes de bando, tinha comportamento similar. A veneração chegava a tal ponto que Corisco, conhecido como Diabo Loiro, deu um dos filhos, Sílvio Hermano Bulhões, para ser criado pelo padre José Hermano Bulhões. Vários sacerdotes, como o padre José Kherle, pároco de Vila Bela (atual Serra Talhada, no Pernambuco), terra natal de Lampião, tentaram tirá-lo da vida de crimes. Outros, como os padres de Mossoró, Rio Grande do Norte, o combateram, revelando dotes de estrategistas.

Com o Padim, contra Prestes

O padre Cícero foi protagonista do mais famoso encontro de Lampião e seu bando com representantes da Igreja Católica, em 1926, em Juazeiro do Norte (CE). Escondido na caatinga, o bandoleiro recebeu carta em que o líder religioso o convidava para uma conversa. Durante o encontro com o padre-coronel, Lampião recebeu a patente de ‘capitão’ dos Batalhões Patrióticos para enfrentar a Coluna Prestes, movimento revolucionário que cruzava o sertão infligindo derrotas humilhantes às forças que a perseguiam. Depois de armado, fardado e municiado com o que havia de mais moderno, o cangaceiro e seu grupo desistiram da empreitada após pequenos combates com patrulhas da Coluna. Ao perceber que sua patente não seria reconhecida pelos inimigos, Lampião decidiu voltar à vida de crimes – sem perder o contato com sacerdotes.

Ao que parece, era mesmo conflituosa a mente do bandido acusado de mais de cem crimes de morte e do sertanejo religioso que respeitava o poder temporal da Igreja, a honra das moças e a valentia dos inimigos. Os encontros entre Lampião e seu bando e os padres sempre tiveram algo de pitoresco, muito diferente dos combates com os militares, que integravam as chamadas volantes. Virgulino andava com escapulários e santinhos pendurados no pescoço. Os cangaceiros usavam também rezas fortes que acreditavam protegê-los dos inimigos. Quando da morte de Lampião e Maria Bonita, em 1938, na Grota de Angico, em Sergipe, foram encontradas várias dessas orações.

“Meus avós não fugiam à regra de religiosidade dos sertanejos. Quando entravam na igreja a primeira coisa que faziam era tirar o chapéu em sinal de respeito”, observa Vera Ferreira, neta de Lampião e Maria Bonita. “O fato de eles terem sido fora-da-lei não invalida a influência da família católica em sua criação.”

Em rápida conversa com o padre Emílio de Moura Ferreira, na fazenda Engenho, em Sergipe, no ano de 1929, Lampião respondeu da seguinte forma ao questionamento do sacerdote que o aconselhava a abandonar a vida de crimes: “Quá, seu padre, o governo me persegue, mas os macaco não me mata porque sô um pé de dinheiro. A vida só é boa pra macaco e bandido”, afirmara, confessando que corrompia policiais para ter sossego. Dizia, também, que o desaparecimento dos bandidos não interessava aos policiais.

A história do padre Francisco César Berenguer, pároco de Monte Santo, na Bahia, tem outra matriz. Decerto julgando-se muito esperto, o sacerdote, que se encontrou com Lampião em Cumbe, no interior baiano, teve de contar com a ajuda de colegas para escapar da morte. O cangaceiro pediu que o padre lhe cedesse o Ford de sua propriedade para transportar o bando até a vizinha cidade de Tucano. Nas proximidades de Algodões, Berenguer simulou um problema mecânico no carro. Os oito cangaceiros acabaram passando para um caminhão de propriedade do também padre José Eutímio. Dias depois, Lampião ficou sabendo que o padre Berenguer estava se gabando de tê-lo ludibriado. Sem perda de tempo, fez chegar ao sacerdote a seguinte ameaça: “padre Berenguer, no dia em que a gente se encontrar, vou ensinar o senhor a enganar Lampião”. Graças à intervenção do também religioso Zacarias Matogrosso, o sacerdote escapou da vingança terrível do líder cangaceiro.

Padres inimigos

Outro sacerdote marcante para a vida de Lampião foi o alemão José Kherle. Claro, de olhos azuis, o religioso foi o primeiro a manter contato com o bandoleiro, ainda no começo de sua carreira criminosa. Persistente, Kherle não se cansava, com sua fala enviesada, de aconselhar Virgulino e seus irmãos a controlarem seus instintos. Na ocasião, Lampião e os demais integrantes da sua família já estavam em guerra declarada com os vizinhos Saturnino, seus primeiros inimigos.

Já o padre Artur Passos, de Sergipe, tido como ranzinza e disciplinador, em sua vez de dar de cara com o bandido chamou-o de todos os nomes de que se lembrava. Calmamente, Lampião lhe pediu autorização para assistir a uma missa, o que foi concedido, desde que o bando deixasse as armas fora. O rei do cangaço assistiu à celebração ancorado na sua pistola alemã Parabellum, e seus cabras carregavam os fuzis e revólveres. E o padre saiu sem nenhum arranhão do episódio.

Se encontraram pela frente sacerdotes dispostos a tirá-los do cangaço reconduzindo-os, de volta à sociedade, os bandoleiros também toparam com padres-guerreiros que os enfrentaram ou incentivaram outras pessoas a combatê-los. O caso mais famoso foi o do padre Luiz Mota e o cônego Amâncio, que ajudaram, com a pregação religiosa e apoio moral aos combatentes, a conferir a Lampião a maior de suas derrotas: o ataque frustrado a Mossoró (RN), em 1927. “Os padres visitaram as trincheiras onde estavam os defensores da cidade e, pedindo ajuda a Deus e a Santa Luzia, protetora da cidade, estimulavam a resistência”, conta o pesquisador Araújo.

Logo na entrada do rei do cangaço e seus homens na cidade, os sinos das igrejas começaram a tocar, nervosamente. Como especialistas no assunto, os padres chegaram a opinar na correta instalação de trincheiras e não se cansavam de arengar os moradores. “Coragem, rapaziada, que a vitória vai ser nossa”, diziam. Do alto da torre da igreja, atiradores despejavam uma chuva de balas sobre os bandoleiros. Na contenda, Lampião perdeu dois homens: Colchete, morto em combate, e Jararaca, baleado alguns dias depois e enterrado vivo. O segundo hoje é venerado como santo.

Nem a morte os separa

Cruel e valente como o chefe, Corisco, morto em combate com os soldados de José Rufino dois anos depois de Virgulino, deu muitas mostras em vida de seu apego à religião. A maior de todas, sem dúvida, foi oferecer o filho, Sílvio Hermano Bulhões, para ser criado pelo padre José Hermano Bulhões, de Santana do Ipanema (AL). Corisco jamais chegou a conhecer pessoalmente o sacerdote. Sílvio foi entregue ao padre com 9 dias de idade. Hoje com 67 anos, vive em Maceió e prepara um livro para contar a história de sua vida.

Mesmo antes de entregar o filho ao padre, Corisco e Dadá haviam protagonizado outra história interessante no trato com os religiosos. Certa noite, o padre José Bruno da Rocha, de Porto da Folha (SE), recebeu de um morador de fazenda um pedido para dar a extrema-unção a um moribundo. A cavalo, o sacerdote acompanhou o homem. Ao chegar na fazenda, próxima à cidade, não encontrou nenhuma pessoa à beira da morte, mas Corisco e Dadá, o segundo casal mais famoso do cangaço. Sem oferecer resistência, José Bruno casou os dois.

Quando da adoção, a carta enviada por Corisco ao padre José Hermano, relembra Sílvio Hermano, continha muitos traços de religiosidade. “Padre, receba o nosso filhinho. A madrinha dele é Nossa Senhora e o padrinho é o senhor mesmo”, escreveu o bandoleiro. “Apesar de viver em um meio de total violência, papai fazia questão de manter seus princípios religiosos”, comenta Sílvio. Dadá, que o filho conheceu somente aos 18 anos, revelou que Corisco, assim como Lampião, mantinha o hábito de rezar no fim da tarde.

Sílvio Bulhões filho de Corisco e Dadá

Na casa do pai de criação, no entanto, o assunto cangaço era um tema tabu, sobre o qual ninguém falava. Depois de adulto, Sílvio teve uma grande oportunidade para retribuir o carinho dos pais biológicos, que o salvaram da morte certa nas difíceis condições de vida na caatinga ao entregá-lo ao padre Bulhões. No fim da década de 70, ele liderou uma campanha, enfim vitoriosa, para enterrar as cabeças de Lampião, Maria Bonita, Corisco e mais um grupo de cangaceiros. Diretor do Museu Etnológico da Bahia, o médico e pesquisador Estácio de Lima queria manter as cabeças para pesquisas.

Depois do enterro coletivo das cabeças, o crânio de Cristino Gomes da Silva Cleto, o Corisco, foi retirado de um carneiro (espécie de urna) e enterrado em um túmulo da família. 

Dadá assistindo a retirada dos ossos de Corisco

Algum tempo depois, Dadá, cujo nome verdadeiro era Sérgia Maria da Conceição, deu-lhe um enterro de highlander ao levar para o cemitério Quinta dos Lázaros, em Salvador, os ossos do marido retirados de uma cova em Miguel Calmon (BA). Os ossos e a cabeça foram novamente reunidos e enterrados juntos.

Fonte: Sindicato dos bancários do Estado de São Paulo !


Fonte: facebook
Página: Adauto Silva

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DAS PÁGINAS DO CANGAÇO

Por Rangel Alves da Costa*

Ninguém duvida da vida difícil que era a cangaceira. Aqueles homens e mulheres da caatinga não levavam outra vida senão andando, correndo, se arrastando de canto a outro. Ora, com a volante no encalço, sem tempo de repouso maior e confortável em qualquer coito, não podiam se dar ao deleite da despreocupação.

No cangaço era tudo muito rápido, muito apressado, apenas no tempo necessário para as investidas, os assaltos às povoações, os confrontos com as forças inimigas, as visitas aos coronéis e aos amigos sertanejos. Mesmo nos coitos tidos como seguros, naqueles onde podiam contar com fiéis coiteiros ao redor, os apetrechos sempre estavam prontos para a partida no instante seguinte. Bastava o recebimento de notícia ou um mau pressentimento e a cangaceirama levantava acampamento rumo a mataria.

Ademais, impossível não viver apressadamente quando a volante nunca estava muito distante. E nesse passo eram avistados ora num canto ora noutro. De Jeremoabo seguiam pra região de Carira, de Nossa Senhora das Dores seguiam para Capela, de Canindé seguiam em direção a Poço Redondo, de Poço Redondo rumavam em direção às terras baianas, e assim por diante. Mas nunca fazendo itinerários muito previsíveis, sob pena de serem alcançadas na curva seguinte.


Mas a verdade é que Lampião não gostava muito de entrar nas cidades, só o fazendo para os ataques ligeiros. Somente quando mantinha amizade numa povoação e confiava no anfitrião é que se demorava para um regabofe mais apurado. Em Poço Redondo, por exemplo, na casa de seu amigo China do Poço (meu avô), não só dividiu a mesa com o Padre Arthur Passos como assistiu missa na igrejinha local. Ele e grande parte dos acompanhantes.

A cangaceirada também não desprezava uma festança forrozeira, mas não era em todo salão que as armas eram baixadas. Acaso sentisse segurança numa povoação, logo mandava providenciar um sanfoneiro para alegrar as durezas da vida. Tremendo, assustadas, as mocinhas eram convidadas a dançar, e todas quase sufocadas pela mistura de suor, perfume forte e cachaça. O cangaço era tão chegado a uma descontração festeira que gaitas ecoavam naqueles coitos debaixo da lua grande. E então os pares se juntavam em bailados catingueiros.

Mas tudo muito rápido, muito ligeiro. Não era possível permanecer além de o tempo necessário em qualquer lugar. Os olhos inimigos estavam por todo canto, não se podia confiar em ninguém. Ademais, por onde passavam sempre deixavam rastros e notícias sempre primorosos para os inimigos. Por isso que partiam como haviam chegado, sempre de surpresa, surgindo de repente, como manda a velha estratégia de não ficar de corpo aberto em tempo ruim ou lugar desconhecido.

Assim, era no meio do mato, baixando num coito e noutro, cruzando as veredas espinhentas, despontando assustadoramente nas malhadas das fazendas, que o bando vivia sertões adentro. E tantas vezes em grupos separados no mesmo lugar. Quando as forças baianas e pernambucanas seguiram no encalço do bando até a região da Fazenda Maranduba, em Poço Redondo, e em número de homens muito maior que o de cangaceiros, a chacina final só não se deu porque Lampião havia separado seus cabras. E cada pequeno grupo debaixo de um umbuzeiro. Quando a volante imaginou haver cercado o bando inteiro, já estava cercada pelos outros grupos de cangaceiros. E foi assim que ocorreu uma das maiores vitórias de Lampião.

Contudo, parece incontestável que o bando aproveitava ao máximo cada instante de repouso em meio às caatingas ou nos coitos. Os retratos não deixam mentir, e neles uma constatação interessante: parece ter havido um salão de beleza acompanhando a cangaceirama. Brincadeira à parte, mas quem olhar com atenção as fotografias com aquelas mulheres todas bem penteadas, com traças e trançados trabalhados à mão, com cabelos e mechas cuidadosamente arrumados, brilhosos, não há que pensar diferente. Como Maria Bonita conseguia posar, ali no meio do mato, com cabelo tão bem penteado que mais recorda uma artista hollywoodiana de outros tempos? Uma verdadeira Greta Garbo cabocla.


Os retratos mostram uma Maria Bonita verdadeiramente bonita. Não tão bela como Lídia, Dulce, Sila ou Enedina, mas de uma beleza realmente sertaneja. Não era alta nem de rosto fino, angelical, mas de olhar e um sorriso de Monalisa que justificam o desejo amoroso despertado em Lampião. Mesmo com meias compridas e grossas até acima dos joelhos, logo se vê que suas pernas são cheias, bem torneadas, bonitas. E fotografava extremamente bem. Mas como possuía a cara um pouco arredondada, sempre posava com o rosto virado um pouco de lado, de modo a se mostrar mais afinada, deixando sobressair seu olhar sensual, seu sorriso meigo, seu cabelo se dobrando sobre a fronte.

Que bela mulher a cangaceira. E que bonita a Maria.

Poeta e cronista
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Vídeos - o cangaceiro Antonio Silvino






Fonte: Youtube

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Três cangaceiros abatidos

Por Antonio Carlos Melo
Este senhor da foto (Manezinho Grande) era o dono do local que acontecia a festa, ele tocou viola para os cangaceiros nesse dia.

Alto sertão de Sergipe, município da cidade de Gararu, à margem do rio São Francisco; lá no Poço da Volta, ou Palestina, a minha avó Odete, nascera onde fora criada, onde conhecera e casara com meu avô Antonio Mariano de Aragão, onde nascera a mamãe e todos os meus tios e tias, por parte da mamãe.

Em 1937, na casa dos meus bisavôs, Manoel e Izaltina, lá no Poço da Volta, ou Palestina, em uma noite de São João (24 de junho), havia uma grande festa junina, e de súbito, chegaram cabras de Lampião, houve um grande transtorno, em seguida, chegara a volante, ou os policiais que combatiam Lampião e seus cabras, 

Áurea, Gorgulho e Mané Moreno

três cabras de Lampião foram assassinados, entre eles, uma mulher de um deles, estava grávida, lá, todos três juntos, foram sepultados, em uma vala. Nenhum dos participantes da festa morrera, e nem ficara ferido”.

Depoimento de um dos bisnetos de Manoel Joaquim de Aragão (Manezinho Grande), o senhor Antonio Carlos Melo. 

Fonte: facebook

Nota blogdomendesemendes: - "Segundo o escritor Alcino Alves Costa em seu livro "Lampião Além da Versão Mentiras e Mistérios de Angico", o cangaceiro que foi assassinado na noite de 24 de junho de 1937, juntamente com Áurea e e seu companheiro Mané Moreno foi o Cravo Roxo, e não o Gorgulho. Ele ainda afirma que no momento do ataque feito pela volante aos cangaceiros que dançavam no momento, Gorgulho conseguiu fugir e logo desistiu da vida cangaceira, voltou para sociedade".  

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