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sábado, 12 de julho de 2014

PESSOAS MUITO ESTRANHAS

Por Rangel Alves da Costa*

Não acontece rotineiramente, mas nas minhas caminhadas tenho encontrado pessoas estranhas, muitíssimo estranhas. Nesse mundo de hoje, de difíceis convívios, inimizades mesmo sem ser conhecido, arrogâncias, frieza na alma, deseducação e egoísmos exacerbados, encontrar indivíduos que fujam de tais características é realmente difícil de acontecer.

Mas de vez em quando acontece. Daí que todas essas pessoas logo aparentam ser muito estranhas, e quase sempre imaginadas como mentalmente afetadas, de pouco juízo ou portadoras de distúrbios desconhecidos. Aceitemos ou não, basta que alguém fuja dos padrões socialmente estabelecidos para que se tenha como alienado.

Caminhando em direção a uma esquina perigosa pela grande movimentação de veículos, ainda longe avistei alguém levantando a mão para um carro parar e em seguida ajudar uma senhora idosa na travessia. Achei duplamente estranho, tanto pela atitude do jovem como pela atenção do motorista, vez que em situações tais a velocidade do veículo é aumentada ainda mais e quem quiser que ouse passar adiante.

Avistei pessoas passeando pela praça, dialogando com a natureza, sorrindo para os pombos, sentadas ao chão brincando com as folhas mortas, lendo e escrevendo poesias. Que coisa mais estranha, logo imaginei. Num mundo de correia, de afobação, quase sem tempo para olhar por dentro da janela da vida, e aquelas pessoas, jovens e velhos, buscando o silêncio da praça e a paz do entardecer. Desde muito tempo que eu não avistava nada igual. Eu mesmo já havia me esquecido que praça também tem a serventia do encontro consigo mesmo.


Noutros instantes e noutros lugares, acabei avistando pessoas que eu imaginava nem existissem mais. Um senhor tirou o chapéu e fez reverência ao passar por uma senhora. Um rapaz passou com feição alegre, quase sorridente, cumprimentou e seguiu adiante. Uma mocinha descuidadamente trombou num rapaz e em seguida pediu mil desculpas. Alguém procurava uma lixeira para depositar um impresso de propaganda recebido. Outro seguia festivo, cheio de contentamento, cantarolando baixinho uma velha canção de amor. Só acreditei porque vi. Diante da realidade nas formas de conviver, sempre cheias de embrutecimentos e brutalidades, pensei estar em outro lugar e diante de pessoas bem diferentes daquelas que conheço.

Coisa mais estranha naquelas outras pessoas que fui encontrando. Uma mulher colocou a roupa no varal, sentou ao lado numa cadeira de balanço, olhou vagarosamente para o horizonte, derramou duas lágrimas de saudade e depois adormeceu. Um jovem de flor à mão declamava um poema diante de uma bela donzela enrubescida na janela. Um ambulante passou levando um carrinho e oferecendo maçã do amor e algodão doce, e no mote dizia que estava sendo portador de uma pessoa enamorada. Que coisa mais encantadora, achei. O romantismo em tempos de angústias é realmente de se admirar. E que pessoas mais estranhas aquelas que agiam assim.

Eu sempre avistava uma jovem andando apressada, quase em correria. Depois fiquei sabendo que ela se apressava assim para visitar pessoas enfermas e proporcionar-lhes instantes de conforto e carinho. E fazia o mesmo com desconhecidos e enfermos em lugares distantes. Pessoas que agem assim se tornam muito estranhas diante de nós. Não porque fazem aquilo que intimamente nos privamos de fazer nem porque agem com uma brandura e uma espiritualidade que escondemos ou relegamos ao esquecimento, mas porque encontram tempo para fazer o bem. E fazem.

E quantas e tantas pessoas encontro fazendo as coisas mais simples da vida e aos meus olhos parecem tão diferentes e estranhas porque a outra realidade foi cruelmente impondo outra visão. Ora, num mundo de violências, atrocidades, desunião e disputas, onde qualquer olhar pode causar um revide brutal, o encontro com pessoas afáveis e educadas, humildes e singelas, se torna em verdadeira estranheza. Mas que dera andar por aí e encontrar cada vez mais essas pessoas tão enlouquecidas de humanismo.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

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Devaneios que inspiraram lixos literários Seu dotô, pode botar aí, que foi verdade! - Parte I

Por: Ivanildo Silveira

O jornalista baiano, Juarez Conrado (vide foto), na década de 80, escreveu para o Jornal "A Tarde", uma série de 03 reportagens, depois transformada em livro, sobre os últimos dias de Lampião, antes da chacina, que o vitimou, na Grota do Angicos/SE, em 28/julho/1938.

Com base em depoimentos de coiteiros e ex-cangaceiros, em entrevistas com testemunhas oculares, e apoiado em cuidadosa pesquisa, que incluiu visitas ao cenário dos acontecimentos, o jornalista refez os sete dias, os últimos da vida do Rei dos cangaceiros.

Jornalista Juarez Conrado

Uma das reportagens feitas pelo citado jornalista, foi com o grande coiteiro " Manoel Félix" (vide foto, logo abaixo). Esse coiteiro esteve com Lampião, na Grota do Angico, em vários dias, seguidos, inclusive, no penúltimo dia que antecedeu a morte do Rei do Cangaço. 

O grande coiteiro "Manoel Félix"

O coiteiro de Lampião Mané Félix

Nascido e criado em Poço Redondo, de onde jamais se afastou, trabalhando sempre no campo, Manoel Félix um sertanejo calmo e tranquilo, e, certamente, a principal testemunha de tudo o que ocorreu com "Lampião" e seu bando durante os sete dias de permanência na Grota do Angico, onde, surpreendido pela tropa do tenente Bezerra, encerrou, tragicamente, os 22 anos de aventuras pelos sertões de sete estados nordestinos.

Viajou com Lampião

Manoel Félix que já conquistara a confiança de Lampião, teve oportunidade de fazer algumas viagens em companhia do famoso bandoleiro, a última das quais à localidade conhecida como Capoeira, às margens do Rio São Francisco, fato ocorrido após sua chegada à Gruta do Angico.

Em meio à viagem, pegaram uma cabra, do que se encarregou o próprio Manoel Félix, com ela preparando o almoço, já por volta das quatro horas da tarde. Propositadamente, tendo em vista que o encontro se daria à beira do rio, por onde navegavam muitas canoas, 


Maria Bonita e Lampião

"Lampião" permaneceu escondido no mato até o cair da noite, quando foi se avistar com o fazendeiro Joaquim Rizério, com quem fizera as pazes após longos anos de feroz inimizade. O que conversaram ninguém veio a saber, pois a reunião entre ambos foi sigilosa, em local reservado.

Poupava as cobras

Já de retorno à gruta, um fato chamou a atenção de Manoel Félix: a preocupação de Lampião e seu bando em não matarem cobras por mais venenosas que fossem. Disso, aliás, o próprio coiteiro teve provas quando, distraidamente, ia pisando uma cascavel que surgira em meio ao caminho. Pegando de um pau para matá-la, foi impedido por Zé Sereno, que não permitiu, procurando, com muito jeito, fazer com que a cobra retornasse aos matos de onde havia saído.

Em outra oportunidade, quatro ou cinco dias antes da chacina, Manoel Félix, em companhia do seu irmão Adauto, foi até a gruta levar para Lampião certa quantidade de doce de coco, por ele muito apreciado, tendo o cangaceiro, bastante satisfeito, agradecido o presente, logo distribuído em pequenas quantidades com algumas mulheres do grupo, como Maria Bonita, Enedina, Cila, Maria, Dulce e Maria, mulher de Juriti.


José Ferreira dos Santos era um rapazote com aproximadamente 17 anos de idade na época do fato, sendo filho de Virtuosa, irmã de Lampião.

Nesse dia, havia chegado um sobrinho de Lampião, chamado de “José” – de 18 anos, a fim de integrar-se ao bando, tendo "Lampião" encarregado o coiteiro de comprar na feira de Piranhas/AL, do outro lado do rio, a mescla para preparar o bornal do jovem, o que, entretanto, não chegou a acontecer, como veremos mais adiante.

Lampião esperava “Corisco e Labarêda”

Conquanto nada lhe dissesse diretamente, porque com ele não conversava sobre assuntos internos do grupo, Manoel Félix ouviu de Lampião, na véspera de sua morte, estar na expectativa da chegada de Ângelo Roque, o "Labarêda", que fora a Jeremoabo, e de Corisco, que se encontrava do outro lado, em Alagoas.

O cangaceiro Zé Sereno


Embora a conversa sobre esses dois bandoleiros fosse com Zé Sereno, Manoel Félix sentiu por parte de Lampião certa preocupação ante a demora dos mesmos, preocupação que o levou a conjecturar sobre um possível encontro com as volantes, hipótese logo descartada porque, segundo disse, "se fosse macaco a gente já tinha sabido".

Até às 18 horas do dia 27/julho/1938, véspera da morte de Lampião, quando deixou a Grota, Manoel Félix não registrou a chegada de nenhum dos dois celerados, confirmando-se depois que se encontravam ausentes no momento do cerco pela tropa do Tenente João Bezerra.

CONTINUA...

Um abraço a todos, 
Ivanildo Silveira
Natal/RN
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A pisada de Lampião em Sergipe - Capela

Capela

A literatura cangaceirista narra, com uma grande riqueza de detalhes, a visita de Lampião á cidade de Capela, distando esse município, apenas 70 kms de Aracaju, capital do estado de Sergipe. A visita indesejável ocorreu no dia 25 de novembro de 1929.

Após visitar e fazer escaramuças na cidade sergipana de Nossa Senhora das Dores/SE, o rei vesgo do cangaço, se apropriou de alguns poucos veículos existentes nesse lugarejo, e junto com sua malta, algo em torno de 15 cangaceiros, se dirigiu á cidade de Capela.

Ao se aproximar dessa última urbe, o rei do cangaço mandou emissário ao então intendente (cargo de Prefeito), Sr. Antão Correia Andrade, conhecido por "Correinha", com o seguinte recado:

" Diga ao major Correinha (irmão do Chefe de Polícia/SE - Dr. Heribaldo Dantas Vieira) que se quizé qui eu entre em paz venha até aqui, se não vié eu entro com bala e a rapaziada ".

Em seguida, partiu o emissário, voltando em companhia do intendente. Após confabulações com seu interlocutor, Lampião entrou na cidade de Capela/SE, por volta das 20:00 hs, antes, porém, mandou cortar os fios de comunicação. Os cangaceiros do estado-maior de Virgulino: Moderno, Ezequiel, Arvoredo, Volta Seca, Mourão, Gavião, Zé Baiano e outros valentes, tomaram posição, em pontos estratégicos.

Cine Capela, foto: cortesia de Sérgio Dantas.

Lampião foi até o "Cinema Municipal de Capela", acompanhado de alguns cabras, e do intendente. Ao chegarem no local, foi grande o alarido, tendo os espectadores sido dominados pelo pavor, impossibilitados de fugir. Na ocasião estava sendo exibido o filme "Anjo da Rua ", com a atriz Janet Gaynor.

A projeção foi interrompida. O rei do cangaço advertiu a todos que não corressem. Era um cinema simples, com banda de música que tocava no intervalo. Os músicos tocaram com beiços trêmulos, uma valsa triste e desafinada.

O telegrafista Zózimo Lima.

Na sala de projeção, avista-se o telegrafista Zózimo Lima*, e previne-lhe de que não dê notícia de sua entrada na cidade, sob pena de ser sangrado. Do cinema, Lampião sempre acompanhado do intendente, e do telegrafista Zózimo foi até a estação da estrada de ferro, utilizando 3 automóveis, dos 4 tomados em Nossa Senhora da Dores.

Com a chegada do trem, os passageiros começaram a saltar, calmos. Ao saberem da presença do Rei do Cangaço, o desembarque se transformou numa debandada. Um soldado que vinha de Aracaju, foi abordado por Lampião, que arrebatou-lhe o fuzil, tirou as balas e disse que ele tinha sorte, pois se fosse da polícia baiana, o sangraria, ali mesmo.

Como contribuição, o caolho do cangaço estabeleceu que a cidade contribuiria com a importância de 20 contos de réis. O prefeito, no em tando, salientou que os habitantes de Capela eram pobres, se achavam desprevenidos, estavam atravessando três anos de seca. Nisso, foi atendido, tendo a importância sido reduzida para 06 contos de réis. O próprio chefe de polícia (delegado), Pedro Rocha quem fez a coleta entre os que dispunham de posse. Entregue ao cangaceiro Moderno, esse colocou o montante no bolso, sem contar.

O chefe do cangaço deu ordens a seus subordinados para que andassem livremente pela cidade, mas que ficassem atentos ao apito para a retirada estratégica. Na loja do comerciante Jackson Alves de Carvalho, Lampião adquiriu Roupas, capa de borracha e uma pistola parabellum, sendo dito o seguinte:

"Eu carrego comigo três coisas: coragem, dinheiro e bala..."

Por onde andavam os cangaceiros eram acompanhados de uma grande legião de admiradores, encantados com as histórias de suas façanhas e vestimentas esquisitas.

Por seu turno, o padre José Cabral esteve com os delinquentes que a ele se curvaram pedindo benção. Foram aconselhados a deixarem aquela vida.
Lampião recebeu das mãos do comerciante Jackson Alves Carvalho, com dedicatória, o livro "Vida de Cristo".

Cerca das 23:00 horas, Lampião desejou telefonar para o chefe de polícia da capital (Aracaju), Sr. Heribaldo Vieira. A ligação não pôde ser completada, em face da hora.


Lampião desejou conhecer o "brega" (cabaré) de Capela, pois essa cidade gozava da fama de ter mulheres decaídas bonitas em abundância. Ele foi recebido pela prostituta "Enedina", a quem obsequiou, após o " coito", com 70 mil réis. Enquanto vadiava, dois cangaceiros davam guarda á entrada e saída do lupanar.

No salão de bilhar (jogo) situado na Praça do Mercado, o Rei vesgo do Cangaço, deixou, em uma das paredes, o seguinte aviso:

Capela - 25-11-29
Salvi. Eu cap.m Virgolino Ferreira
Lampeão
deixo Esta Lca. para o officiá qui parçar
Em minha perceguição, apois tenho Gosto que
Voceis me persigam. Descupe as letra qui sou
Um bandido como voceis me chama pois eu não
Mereço, Bandido E voceis que andam roubando
e deflorando as famia aleia porem eu não tenho
este costume todos me desculpe a gente a quem odiar?
Aceite Lças. do meu irmão Ezequiel Vulto Ponto Fino e
do meu cunhado Virginho Vulgo Moderno

Por volta das 03 horas da madrugada, Lampião convocou os demais cangaceiros, com três silvos de apito, tendo deixado Capela, nas mesmas viaturas em que haviam chegado. No caminho, trocaram os automóveis por cavalos. A polícia sergipana, na capital, havia sido avisada, mas não conseguiu chegar a Capela, senão às 07 hs da manhã do dia seguinte.

Um abraço a todos.
IVANILDO SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Natal/RN
 **Imagens e texto reproduzidos do 
blog: lampiaoaceso.blogspot.com.br
**Postagem original feita por Kiko Monteiro em seu Blog lampiaoaceso.blogspot.com.br, em 14/03/2010.
Postagem da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 16 de julho de 2013.
http://grupominhaterraesergipe.blogspot.com.br/2013/07/a-pisada-de-lampiao-em-sergipe-capela.html

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A literatura de cordel e a escrita do cangaço

Por Nadja Claudino
Nadja Claudino

O cangaço desperta paixões. Sempre. Ontem e hoje. Algumas pessoas não conseguem entender como homens e mulheres que desafiaram as leis, cometeram crimes podem ser tratados com admiração pelos estudiosos do tema. Por isso são comuns os questionamentos. Polêmicas são levantadas. Livros e folhetos de cordel sobre o cangaço se esgotam nas livrarias. Todo mundo tem uma opinião sobre os cangaceiros. A favor ou contra, para o bem ou para o mal.

Muitos são os fatores para isso. O modo de vida, ações de forte crueldade, os aspectos místicos, a indumentária dos cangaceiros.  E mais, a atitude de homens que, mesmo sem tomar parte nos combates, lançaram um olhar poético sobre a vida no cangaço.  O olhar do cordelista. Cangaceiros como Antônio Silvino, Sinhô Pereira, Jesuíno Brilhante e muitos outros foram cantados em versos. Suas proezas valorizadas pelos cordelistas, que davam à vida de aventuras dos cangaceiros o sabor da valentia, da anedota, do inusitado. E do heroico.


Já o discurso oficial, representado pelos jornais do litoral, enxergava no cangaço um retrocesso em um mundo em busca da modernização. Assim, palavra de ordem no começo do século XX era: civilização. Nos jornais do sul do país e do litoral nordestino os cangaceiros tinham seus crimes enumerados, a crueldade exacerbada numa linguagem jornalística cheia de adjetivos nada elogiosos: feras, bandidos, facínoras, bestas, irracionais, famigerados assassinos. Nos versos populares, muito ao contrário, os cangaceiros apareciam fortes, lutando por justiça, vingando a família ofendida, a honra, o esbulho da propriedade, massacrados, românticos.  Viravam heróis na literatura de cordel. 

Os cordelistas contemporâneos ao fenômeno do cangaço viviam no campo de operações, onde os cangaceiros se movimentavam, ouviam as histórias protagonizadas por eles e suas vítimas. O sertão era um lugar conhecido, próximo. Era o seu lugar. O cangaço para os versejadores populares não assumia o aspecto apenas da violência irracional. Para esses poetas do verso popular, o cangaço aparecia como mais uma faceta da violência do homem nordestino. O cordel é uma escrita com um discurso intrinsecamente ligado à violência, pois elege assassinos, cabras, jagunços, capangas como representantes da valentia e da masculinidade, símbolos de um Nordeste insubmisso.


O cordelista criava histórias de coragem, valentia, destemor e honra quando procurava as especificidades de cada cangaceiro. Ao inventá-las davam vida e identidade a pessoas que longe do território do cordel eram representadas como seres desviantes, socialmente inadaptados ao mundo, selvagens que precisavam ser extintos para que o sertão se libertasse de suas mazelas. 

Ao usar linguagem artística em versos rimados e ritmados, o cordel trabalha com elementos como o heroísmo, a religiosidade, com presença muito forte na vida do sertanejo.  O conhecimento oriundo do cordel não ficava restrito somente a pessoas letradas. Um folheto podia ser lido por uma única pessoa e transmitido a muitas outras através da recitação dos versos. O conhecimento irradiava-se, por esse meio, para as populações carentes de acesso fácil à informação.

Da integração do cordel com a população nordestina, o cangaço e os personagens que o compõem, principalmente os mais famosos como Lampião e Maria Bonita, foram tantas vezes descritos em versos impregnando diversas imagens que calaram fundo no imaginário do povo nordestino. O cangaço, através dos folhetos de feira, tomou assim uma dimensão romântica e poética. 

Nadja Claudino
Licenciada em História pelo CFP/UFCG

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A família se reencontra em Natal Por:Manoel Severo

Sérgio Dantas, Múcio Procópio, Manoel Severo e Ivanildo Silveira

Por várias vezes destacamos neste mesmo espaço a importancia com  que consideramos esta grande família Cariri Cangaço. Na verdade esta página do cariricangaco.com é antes de tudo um grande ponto de encontro; de idéias, de histórias, de controvérsias, de homens, de mulheres, de amigos, de almas. No último sábado vivemos mais um momento com esse forte sentimento de congraçamento e celebração.

O restaurante Mangai na cidade de Natal foi palco de mais um  encontro desta família de vaqueiros da história. Com a presença de quatro conselheiros Cariri Cangaço: Manoel Severo, Honório de Medeiros, Ivanildo Silveira e Múcio Procópio; e ainda dos confrades, Mestre Sérgio Dantas, João Simplício, o inigualável jornalista e escritor Franklin Jorge e Jomar Henrique; vivemos momentos ricos e marcantes, pontuados por reflexões, impressões e constatações daqueles que dedicam boa parte de suas vidas à pesquisa da temática "Cangaço", e ainda tivemos o privilégio de contar com as presenças; via celular; de nossos companheiros, Ângelo Osmiro, Aderbal Nogueira e Carlos; afinal festa é festa, e não é todo dia que se pode reunir essa turma da pesada.

Manoel Severo, Franklin Jorge, Honório de Medeiros e Jomar Henrique

Sem dúvidas o assunto da noite, além de um ensaio sobre o formato e o planejamento para o Cariri Cangaço 2012; uma vez que acabamos tendo uma informal reunião do Conselho; versou sobre as controvérsias assumidas pela temática, quando lamentamos o tamanho do prejuízo para a pesquisa séria e para as gerações futuras, apartir de obras literárias sem nenhum critério, beirando a irresponsabilidade. Diferentes olhares, diferentes versões, isso tudo é suportável dentro do dinamismo da construção da verdade histórica, entretanto o que acabamos vendo no mercado literário é uma assustadora proliferação de "obras caça níquel", sem nenhum rigor histórico, fundamento ou embassamento minimamente aceitáveis e compromisso com a verdade, e quem perde é a história.

O encontro foi marcado também por maravilhosas e providenciais "provocações", sob  batuta de Honório de Medeiros. Foram provocados o pesquisador e colecionador, Ivanildo Silveira, a enfim... colocar em livro o resultado de seu espetacular acervo e trabalho, e ainda sob provocação também de Honório ao grande pesquisador e escritor Sérgio Dantas, a edição de seu vasto e criterioso trabalho sobre Cristino; o Diabo Louro do Cangaço; o Corisco, segundo na hierarquia do reinado do sertão... Bem, agora é com os dois, vamos em frente! Não perdemos por esperar.

Ivanildo Silveira e Múcio Procópio
João Simplício e Sérgio Dantas
Honório de Medeiros

Confraria Rio Grande do Norte e Ceará, com novo encontro marcado para Dezembro...

A noite sem dúvidas foi de extrema importancia uma vez que criou mais uma possibilidade de estreitar relações entre essa grande família, e já temos um novo encontro Cariri Cangaço/GECC e o Grupo de Natal, para o mês de Dezembro, é só aguardar, certamente todos estão convidados.

Manoel Severo

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CONSIDERAÇÕES SOBRE ISAÍAS ARRUDA, O MENINO CORONEL DOS SERTÕES.

Por: João Tavares Calixto Jr.
Isaías Arruda de Figueiredo.

Nasceu Isaías Arruda de Figueiredo (Cel. Isaías Arruda) aos 6 de julho de 1899 na Vila d'Aurora. Era filho de Manoel Antônio de Figueiredo de Arruda e Maria Josefa da Conceição (naturais de Aurora, casados aos 30 de junho de 1896). (Livro de Registro de Matrimônios da Paróquia Menino Deus, 1896-1911, p.33).
     
Foi batizado aos 30 de julho do mesmo ano pelo Pe. João Carlos Augusto, tendo como padrinhos Antônio Leite de Oliveira (solteiro) e Maria Joaquina da Conceição (casada). (Livro de Registro de Batismos da Paróquia do Menino Deus de Aurora, 1897-1904, p. 80),
     
Convolou núpcias no primeiro dia de setembro de 1920 na Igreja Paroquial da Vila d’Aurora com Estelita Silva, natural de Fortaleza, tendo como testemunhos a Raimundo Antônio de Macêdo e Manoel Gonçalves de Araújo. (Livro de Registro de Matrimônios, Paróquia do Senhor Menino Deus de Aurora, 1909-1922, p. 177).
     
Em seu registro de habilitação de casamento civil, anotado pelo Tabelião José do Valle Júnior aos 15 de agosto de 1920, observam-se informações sobre sua esposa: Era filha adotiva do Tenente Manoel Gonçalves de Araújo, e estava sob sua guarda a seis anos. Era, entretanto, filha natural de Francisco Saturnino da Silva, residente em Fortaleza, e Idalina Silva, já falecida. Casaram-se civilmente os contranubentes, igualmente ao matrimônio da Igreja, no dia primeiro de setembro de 1920, às dezessete horas, na casa de Zabulon da Silva Câmara Filho (CALIXTO JÚNIOR, J. T. Venda Grande d'Aurora, Fortaleza, 2012).

Autos dos proclames do casamento civil de Isaías Arruda de Figueiredo e Estelita Silva (Cartório da Vila d'Aurora, 1920. Fonte: Arquivo Público do Estado do Ceará)
     
Em perfeita consonância com a práxis vigente de sua época de existência, inseriu-se Isaías Arruda na prepotente atuação sociopolítica regional, marcada pela incursão do poder privado dos coronéis. Eram estes os senhores supremos dos feudos nordestinos, detentores do voto do cabresto e responsáveis pelas famosas eleições a bico de pena, onde até defuntos votavam. Trapaças e moléstias sociais que hoje ainda remanescem, apesar de diminuídas as proporções, são oriundas deste famigerado tempo da República dos Coronéis ou Coronelismo, a chamada República Velha.  

Bosquejando sobre as passagens deste notável personagem do cenário coronelístico nordestino, delegado de polícia em Aurora, assim como Prefeito municipal de Missão Velha, transcrevemos o que exara Joaryvar Macêdo em Império do Bacamarte (Fortaleza, 1990, p. 225): "Improvisado o coronel Isaías Arruda em poderoso chefe político de Missão Velha, se o juiz não se submetesse às suas ordens, ele o escorraçava, e ao oficial de polícia, intolerante com os desregramentos, mandava assassinar". 

 Casa de Isaías Arruda em Missão Velha, CE (Foto: lampiaoaceso.blogspot.com)
     
Algo depois de funestos episódios que lhe marcaram a curta vida, polêmica e tumultuada, ocorreu-lhe o assassinato aos 4 de agosto de 1928, na pedra da Estação de Trem de Aurora, vindo a falecer 4 dias depois. No Livro de Registros de Óbitos da Paróquia de São José de Missão Velha (1926-1930, p.136), deparamo-nos com o assento referente ao seu falecimento:
  
"Aos oito dias do mês de agosto de mil novecentos e vinte e oito, na sede da Freguesia de Aurora, foi assassinado Isaias Arruda com vinte e oito anos de idade, casado com Estelita Arruda. Seu corpo foi sepultado nesta Villa. Para constar mandei lavrar este assento que assino. O Vigário Horácio Teixeira". 
     
Da calçada, onde caíra baleado, Isaías foi transportado para a residência de Augusto Jucá. No dia seguinte foi assistido pelos médicos Antenor Cavalcante e Sérgio Banhos, mas estes pouco puderam fazer no sentido de salvar a vida de Isaías, que terminou falecendo no dia 8 de agosto, pelas 6 horas da manhã (...). (GONÇALVES, Amarílio Tavares. Aurora, História e Folclore, Fortaleza, 1993, p.131). 

Estação Ferroviária de Aurora, onde Isaías foi assassinado pelos irmãos Paulinos em 1928.
     
Salienta-se que no dia 12 de agosto do mesmo ano, regressava de Aurora a Fortaleza, o Delegado Virgílio Gomes, que havia sido incumbido de instaurar inquérito sobre o assassinato de Isaías. A respeito, foi provocado por vingança à morte de João Paulino, o chefe dos irmãos Paulinos, família de espírito de luta aguerrido, que, por anos consecutivos, fizeram do município de Aurora, assim como de suas cercanias, aterrorizado. Era estrondosa a rixa entre os seus integrantes e os "Arrudas", de Isaías Arruda de Figueiredo.

Grupo armado de Isaías Arruda (Foto: cariricangaco.blogspot.com) 

Referências Bibliográficas:
CALIXTO JÚNIOR, J. T. Venda Grande d'Aurora. Expressão Gráfica, Fortaleza, 2012.
FATOS HISTÓRICOS - Portal da História do Ceará, IN: www.ceara.pro.br-menuhistoriaverbete,php
GONÇALVES, A. T. Aurora, História e Folclore. IOCE, Fortaleza, 1993.
MACEDO, J. Império do Bacamarte. Casa José de Alencar, UFC. Fortaleza, 1990. 

http://lavrasce.blogspot.com.br/2013/05/consideracoes-sobre-isaias-arruda-o.html

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Grota do Angico terá Unidade de Conservação ampliada

Publicado por: Mário Santos 

A Superintendência da Codevasf em Sergipe finalizou mais uma etapa do processo de aquisição de uma área de Caatinga para ampliação da Unidade de Conservação do Monumento Natural Grota do Angico, no município de Poço Redondo, Alto Sertão do estado.

Em vistoria realizada junto com a Administração Estadual do Meio Ambiente de Sergipe (Adema), no mês de abril, foi aprovada uma área de 85,3 hectares,  anexo área à área da Unidade de Conservação mantida atualmente pelo governo do estado. A Codevasf deverá investir R$ 181 mil na aquisição do terreno, que em seguida será doado ao estado.

A aquisição da área servirá de compensação ambiental da Codevasf pela implantação do perímetro irrigado Jacaré-Curituba entre os municípios de Poço Redondo e Canindé de São Francisco.

Da Redação do Portal ANS
Com informações da Ascom /CODEVASF

http://www.amanhecernosertao.com/2014/06/grota-do-angico-tera-unidade-de.html

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Getúlio Vargas em Sergipe

Por Robério Santos

Getúlio Vargas chega a Sergipe para Inauguração da Ponte de Pedra Branca em Laranjeiras/SE. Postagem original na página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE. Há relação entre Getúlio e o Cangaço?



" - Foto histórica: Maynard, Juarez Távora (atrás), Getúlio Vargas e José Américo de Almeida (ministro). Foi Getúlio Vargas que deu o golpe final no cangaço, exigindo dos seus interventores (após o golpe), a cabeça de Lampião. Para isso, também contribuiu com recursos de ordem financeira e material. É por aí..."



" - Aprecie a imagem abaixo e tire suas conclusões. Antônio Silvino foi cobrar a 'contribuição' que deu para o fim de Lampião".


Adendo - http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Antônio Silvino (ou Manoel Baptista de Morais nasceu em Ingazeira, no Estado de Pernambuco, no dia 02 de Novembro de 1975, e faleceu em Campina Grande, no Estado da Paraíba, no dia 30 de Julho de 1944, na  casa de uma prima. Era filho do cangaceiro Francisco Batista de Morais e Balbina Pereira de Morais. Entrou para o cangaço em 1896, juntamente com o irmão Zeferino, após a morte do pai, o bandoleiro Batista do Pajeú. Antonio Silvino também era chamado de "Rifle de Ouro".

Tornando-se o prisioneiro número 1122, da cela 35, do Raio Leste da antiga Casa de Detenção do Recife, teve comportamento exemplar. Em 1937, é libertado através de um indulto do presidente Getúlio Vargas.

Rosa Freire disse:


" - Getúlio um gaúcho porreta, sou muito fã dele"

 Fonte: facebook

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