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sábado, 24 de maio de 2014

Memórias de uma Cabeça Emancipada


Hoje é nada menos que o dia que arrancaram minha cabeça fora com um facão de quase meio metro. Antes, jogaram meu corpo já desfalecido no chão duro e cheio de espinhos. Meu braço esquerdo cravado de balas, meu pulmão esfaqueado e quase todo o sangue já havia saído de meu corpo. Fui arrastado por mais ou menos cinquenta metros pelas pernas, cada risada de um macaco me dava ódio, mas eu estava imóvel. Olhava através de um único olho que me restava, mal dava para ser aberto de tão inchado que se encontrava, mas eu procurava atentamente uma chance de escapar daquele calvário. Ninguém voltou para me socorrer, eu não escaparia.

Engoli sangue, desfaleço pela primeira vez antes dos dez metros iniciais. Começo a sonhar. Entrei no cangaço aos dezesseis anos, por volta do ano de 1928, não porque fui obrigado, mas eu queria muito. Eu ficava vendo jornais velhos que serviam para enrolar mamão na feira de Itabaiana, nele estava estampado o grupo de Lampião em Juazeiro do Norte visitando o afamado Padre Cícero em 1926. Se o santo padre confiava no Virgulino quem seria eu para não fazer o mesmo? Eu fazia armadilhas com grude de jaca para pegar passarinho quando era menino, matava tejú com foice, pegava preá na arataca... as pessoas diziam que eu era gente ruim, mas eu não era, eu era criança. Sou neto de escravos, tenho a pele preta e o sangue nos olhos, aprendi com meu pai a nunca me render. Sou valente, medo só tenho da morte, pois quero viver o suficiente para adestrar meus instintos.

Um dia qualquer, o povo de Itabaiana se alertou, Lampião ia entrar na cidade, ele viria pelo povoado Pé do Veado. As casas se trancaram como que num toque na planta dormideira, o povo se armou, a polícia se alvoroçou, Maria Carreiro montou seu cavalo branco e partiu com espingarda em ombro e eu também queria sair de casa. Era o ano 29, fui pelo quintal que ficava já fora da rua, perto do Tanque da Pedreira e fui de encontro ao bando. Levei um punhal que havia roubado da venda de Sinhozinho Dutra, esta arma servia para cortar fumo para uso próprio, num descuido, passei pela janela e a coloquei na cintura. Este foi meu primeiro delito. 

Vi ao longe o bando arranchado às margens de um riacho. Não pareciam amedrontadores como diziam os mais velhos como forma de punição aos mais jovens. O medo era maior do chefe não me aceitar no bando. Fui em disparada, o grupo se alertou, eu estava sozinho no pasto vazio e seco, sem uma pintinha de rama verde. Um dos cangaceiros mirou sua arma na minha direção e atirou. Não acertou e se tivesse acertado eu não teria sentido, eu estava determinado. Comecei a correr na direção deles e Lampião, em pessoa mirou sua arma, com calma ele disparou. Não me acertou. Estava a cinco metros deles e comecei a gritar.

- Não atire, não entre em Tabaiana, tá cheio de macaco esperando ocêis.
Lampião disse aos comparsas.

- Num mate o minino não, ele pareci tê o corpo fechado e nos trôxe nutiça. Quê qui tu qué?

- Quero í cum ocêis, sô valente mais que Cavalo do Cão!

- Ôxi, o moleque qué virá ômi! Disse Volta Seca, este mais jovem que eu.

Lampião olhou para o horizonte, parou por alguns minutos e respirou. Olhou para trás e disse.

- Eu dêxo tú í cunosco, mais tem qui pasá por uma provação. Leve um biete ao Sinhozin Dutra e ardepois vorte.

Meu coração bateu mais acelerado que sapatilha de dançarino e aceitei a encrenca. Peguei o pedaço de papel dobrado em quatro e corri mais que o vento, meu pensamento era só um: será que o bando estaria no mesmo lugar quando eu voltasse? Será o que tinha escrito no bilhete? Eu nem o abri, pois nem sabia ler mesmo que olhasse as letras. Era um tom indecifrável assim como as línguas estrangeiras a um leigo. 

Cheguei ao centro da cidade, era um sábado, dia de feira, seria fácil encontrar Antônio Dutra. Fui até sua casa, esta que ficava perto do centro que se encontrava vazio, as bancas com os produtos e o povo trancado. Esmurrei na porta do ex intentende e ele não respondia. Talvez por achar que eram os cangaceiros. Resolvi dar um grito e me identificar.

- Seu Tonho, sou eu Mané de Totonho, neto de Zé Preto das Laranjeira.

- Que é que tú qué, muleque?

- Vim ti trazê um biete, é de de Lampião, é ugente.

A janela da casa na rua da Vitória Velha começou a se abrir de fininho, uma cabeça sai e olha para um lado e para o outro na rua deserta. O senhor olha pra mim com um olhar misto de curiosidade e animação, logo estende o braço e me pede.

- Me dá o bilhete. 

- Só dô si ocê mi deixá entrá e lê in vóiz arta.

- Tá bem, moleque desgramado, pode entrar.

Antônio Dutra começa a ler.

ILLMO. SR. CEL. ANTONIO DUTRA DE ALMEIDA
LHE FAÇO ESSA PURQUE SEIO QUE O SR. PODE E NÃO EGNORA. MANDO ESSE BIETE PEDINO QUE ME MANDE CINCO CONTO DE RÉIS E MAIS GUARNIÇÃO PRA MEUS MININO QUE TÃO SE ARMA I MUNIÇÃO, MAIS U QUE NÓS TEM É CAPAIZ DE DERRUBAR MAIS DE CINQUENTA MACACO, INTÃO É MIÓ MANDÁ Ô NÓIS INVADE I NUN DÊXA NINGUÉM DI PÉ. VÔ ISPERÁ COM URGENÇA SUA RESPOSTA.
CAPT. FERREIRA, VULGO LAMPIÃO.

Sinhozinho começou a caminhar para lá e para cá dentro de casa com o bilhete na mão e olhou pra mim. Ele me disse que poderia arrumar o dinheiro no final da tarde e que iria mandar um de seus empregados em uma carroça nas carreiras levar tudo e que dissesse ao capitão que não se avexasse, pois era muito dinheiro e também ele estava sem armamento em sua loja.

Voltei para o povoado, o grupo estava nervoso. Dessa vez fui reconhecido e não atiraram em mim. Mas, por não trazer o dinheiro, Lampião mandou me segurar e arrancou uma rama cipó caboclo que estava enramado numa moita, no mato perto e me deram mais de vinte varadas. Fiquei quase sem o couro das costas, mas não chorei. Eu sabia que ele ia me querer no bando, eu sabia. Quando a surra acabou, Lampião chegou perto e me disse.

- Vá se lavá, se tá cum fome coma tripa assada qui nóis fêz cum farinha. Se alimente, ocê vai cum nóis mostrando o caminho. Vamos invadi Tabaiana Grande si num chega a incumenda.

- Mais Virgulino, Sinhozin vai trazê, num se avexe.

- Minino insolente, quem já se viu fala assim cum capitão. Disse um dos preto como eu, depois soube que era Zé Baiano, o Pantera Negra.

O sol estava morrendo, a noite se empretecendo e o bando de olho em mim como se eu fosse responsável por alguma coisa que viesse a dar errado. Eu sabia que eles me, sangrariam como um bode, matariam e me salgariam como carne seca se as coisas não chegassem como combinado. Por volta das 18h uma carroça aponta ao longe, ela vinha pela estrada e a poeira levantava. Eu estava salvo. Tudo chegou como nos conformes, Lampião não invadiu Itabaiana, seguiram seu rumo, para o norte, e eu fui com eles. Me deram uma das armas, a menorzinha, um chapéu de couro sobressalente que um deles carregava e mandaram que o jovem carroceiro desapeasse o cavalo da e me deram ele. Eu montei com a felicidade de um moleque que pega na teta de uma donzela pela primeira vez. Depois de alguns dias, ganhei a confiança do Capitão, fui aos poucos me tornando um cangaceiro afamado. Todos me conheciam pelo apelido Cavalo do Cão, mas como eu era de poucos amigos, acabei sendo esquecido de minha terra natal.

(...)

Cinco anos depois, já nos sertões da Bahia, estávamos sendo perseguidos por uma volante bem armada. Trocamos tiros e eu estava com um mal pressentimento. Olhei para os lados e não vi mais o bando, o silêncio tomou conta do ambiente. Olhei pra frente e uma figura estranha aparece do nada. Era um homem, todo de preto, roupa rasgada, cara lisa, olhos azuis e pele branca como leite. Causava arrepios. Ele veio em minha direção e me diz.

- Sou o Diabo, vim pegar sua alma. No dia que você entrou para o cangaço selou um pacto comigo, seu corpo sempre foi fechado, nunca soube por que? Mas, você me esqueceu, não merece mais ficar vivo.

- Num querdito nessas coisa do Tinhoso, sô crente no meu Santantônho e ele vai mi protege.

- Quem decidiu foi você, agora morra.

Acordei do transe e recebi uma rajada de tiros no braço, a dor do osso sendo atravessado pela bala quente me fez perder o oxigênio do corpo. Rodei, caí de costas para o chão, senti que se aproximavam algumas pessoas. Rezei para que fossem meus amigos. Vi que não tinha amigos mais. Os soldados me esfaquearam, retiraram minhas vestes, dividiram entre eles. Comemoravam assim como fazia o pescador quando pegava a carpa premiada. Era uma verdadeira caça. 

Hoje é nada menos que o dia que arrancaram minha cabeça fora com um facão de quase meio metro. Antes, jogaram meu corpo já desfalecido no chão duro e cheio de espinhos. Meu braço esquerdo cravado de balas, meu pulmão esfaqueado e quase todo o sangue já havia saído de meu corpo. Fui arrastado por mais ou menos cinquenta metros pelas pernas, cada risada de um macaco me dava ódio, mas eu estava imóvel. Olhava através de um único olho que me restava, mal dava para ser aberto de tão inchado que se encontrava, mas eu procurava atentamente uma chance de escapar daquele calvário. Ninguém voltou para me socorrer, eu não escaparia. O facão corta o ar, atinge o chão, minha cabeça se separa do corpo. Eu morri.

Robério Santos

Membro da Academia Itabaianense de Letras

Fonte: facebook
Página: Robério Santos‎ Lampião, Cangaço e Nordeste

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A LENDA DO SÍTIO PEDRA RICA

Por Clerisvaldo B. Chagas, 23 de maio de 2014 - Crônica Nº 1.195

O pesquisador tem que rodear muito. Pode rodar do centro de Santana do Ipanema via povoado São Félix que fica fora do eixo Santana-Maceió. São doze quilômetros até ali, por uma estrada de terra razoável. Seguindo em frente o curioso percorrerá grotas e grotões pouco habitados, beirando a fronteira com Pernambuco até chegar a uma imensa área de areia branca, onde está o sítio denominado Pedra Rica.

Pinturas rupestres da Serra da Capivara, Piauí.

As imediações de uma escola municipal parece ser o ponto de referência de circulação da área. Está bem pertinho do prédio o lajeiro responsável pela denominação de Sítio Pedra Rica que supõe riqueza financeira. Mais fácil, porém, não menos longe é seguir para o local através do município de Dois Riachos, passando pela sede num roteiro de terra branca em melhores condições.

Segundo comentários dos habitantes do lugar, foi enterrado na periferia do lajeiro um tesouro de muitas joias e moedas de ouro, em tempo que ninguém sabe definir. Os moradores são cautelosos, entretanto, diante da pergunta se alguém do sítio Pedra Rica tentou encontrar esse tesouro existe uma apatia ou certo receio de falar sobre o assunto.

Conduzidos por um guia fomos até o local, onde existe no lajeiro uma pedra arqueada para dentro, habitada por ferozes marimbondos. A primeira vista não vimos vestígios de esqueletos, cerâmica, flechas ou outro material naquela parte rochosa, mas a pintura rupestre está presente no teto da pedra, mostrando círculos e outras formas comuns, como as encontradas em outros lugares do Brasil.

Talvez tenha sido a imaginação popular a autora de tantas joias e moedas de ouro que estão enterradas pela região. Os desenhos rupestres despertam o imaginário das pessoas simples do lugar que não percebem que o verdadeiro tesouro são as marcas deixadas pelos nossos antepassados e que irão enriquecer o estudo da História e outras ciências afins. Os vestígios, entretanto, sugerem uma pesquisa mais apurada nas imediações que é assim que se encontra um sítio arqueológico.

Estima-se que existam cerca de 20 mil sítios arqueológicos espalhados por todo território brasileiro. Todos os sítios são considerados, por lei, patrimônio da União, devendo contar com proteção especial, pois fazem parte da história do povo brasileiro e das Américas.

A pequena amostra de pintura rupestre do sítio Pedra Rica pode ser “a ponta de um iceberg” na região ou apenas um caso isolado de passagem rápida de indígenas. Muito mais difícil é considerar a lenda de que aquela pedra fora apenas um ponto de referência para enterro de riquezas por parte de aventureiros. De qualquer modo não ficou ignorada A LENDA DO SÍTIO PEDRA RICA.

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O HISTORIADOR E A VERDADE HISTÓRICA

Por Rangel Alves da Costa*

Há um problema sério - e de difícil resolução - na relação entre o historiador e a História. Assim ocorre porque os historiadores se diferenciam perante o modo como abordam o fato histórico. E infelizmente, no afã de se tornarem os donos da verdade, muitos estudiosos subjugam os próprios fundamentos da História para transformar uma dada realidade naquilo que desejam impor como verdade incontestável, absoluta.

Sem rodeios, necessário que se diga que chega ser absurda a apropriação, ou usurpação, que muito historiador faz de determinados fatos históricos. Mas não que tenha pesquisado, confrontado fontes, estudado a fundo o problema, mas simplesmente porque acha que o seu entendimento é o correto. E está acabado. Assim, pretende se tornar o dono da verdade e, na maioria das vezes, negando qualquer validade às conclusões de outros estudiosos.

Veio-me a ideia de abordar esse tema porque recebi a visita de um historiador, professor universitário, com alguns livros publicados e cuja linha de pesquisa envolve, dentre outras abordagens nordestinas, o cangaço e o messianismo. Conversando sobre uma coisa e outra, espantei-me diante de sua verve contestatória daquilo que já foi escrito, negando as abordagens feitas pelos pesquisadores, sempre acentuando que não foi assim, que é mentirosa tal versão escrita.

Só restou dizer que somente ele sabe de tudo, que é o dono da verdade histórica. Mas nem precisava fazê-lo. Evitando alongar desnecessariamente a conversa e dar ao proseado um contorno mais acirrado, simplesmente afirmei que mesmo aqueles fatos históricos tidos como mais importantes são constantemente revistos, reescritos e trazendo novas conclusões e, por isso mesmo, aquilo um dia escrito como verdade absoluta pode depois perder tal caráter. Ademais, assim acontece em todos os campos do conhecimento, onde as novas pesquisas têm o dom de refutar as investigações anteriores.


Então, ele me dizia ser possuidor de dados e informações que negam o que foi escrito como verdade. No momento recordei o que meu pai Alcino Alves Costa havia escrito na introdução do seu livro “Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico”, tratando exatamente das dificuldades de se obter informações seguras mesmo diante daqueles que tiveram envolvimento com o fato pesquisado. Eis o que escreveu:


“Que tristeza sente o pesquisador quando, todo cheio de esperanças, encontra e conversa com os que participaram dessa odisséia e, decepcionado, vê que cada um dos que presenciou pessoalmente os acontecimentos se conflita e, com uma versão penosamente diferente, conta a sua própria história. Os historiadores, coitados, se perdem nesse emaranhado de contradições”.

Alcino se refere aos próprios envolvidos nos acontecimentos históricos e que, quase sempre tentando direcionar os fatos a seu favor ou porque procuram esquecer ou esconder determinados acontecimentos, acabam distorcendo a realidade. E se os próprios personagens se controvertem diante dos fatos, que se imagine o labirinto em que os pesquisadores enveredam para retratar os acontecimentos com a mais fidelidade possível. E ainda assim não conseguem, pois de repente surge um pretenso suprassumo do conhecimento se arvorando de ser o dono da verdade histórica, como ocorre com o historiador inicialmente citado.

Na História, a verdade acaba com o próprio acontecimento, com o seu desfecho. Após isso, mesmo ainda no calor dos acontecimentos, impossível a descrição fidedigna e a contextualização absolutamente verdadeira do fato. Elementos são acrescentados, outros esquecidos ou não citados, e ainda outros que chegam para florear e permitir grandiosidade ao feito. E a cada novo escrito sobre o mesmo fato novas nuances surgirão, tanto para negar ou que foi descrito ou para acrescentar situações ainda desconhecidas. Dessa maneira a história vai ganhando percursos os mais diversos e diferentes possíveis, tornando-se até mesmo como algo que, de tanto ser manipulado e transformado, pode ser tido como pura inventividade.

A cangaceira Sila esposa do cangaceiro Zé Sereno

Desse modo, que me desculpe o nobre amigo escritor e historiador, creio ser um exercício de arrogância e presunção alguém querer se apresentar como o dono da verdade dos fatos e acontecimentos passados. E não adianta dizer que tem testemunhos que comprovam os fatos de forma totalmente diferentes, vez que até mesmo Sila, falecida ex-cangaceira e companheira de Zé Sereno, prestou diversos depoimentos completamente contraditórios.

O cangaceiro Zé Sereno esposo da Sila

Assim como na vida pessoal e social, a humildade deve ser também uma característica sempre presente no ofício do historiador. Que imagine que os escritos e as pesquisas dos demais historiadores não estão completos como deveriam, mas não simplesmente afirmando que tal descrição é mentirosa ou fantasiosa. Ademais, não basta afirmar, é preciso provar. E é preciso que traga ao conhecimento da sociedade sua irrefutável verdade histórica, algo que verdadeiramente duvido.

Poeta e cronista

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ENTERRO DO BRAÇO E CABEÇA DO CANGACEIRO " CORISCO"


Após permanecerem expostos, por quase 30 anos no Museu Nina Rodrigues - Salvador, O BRAÇO DIREITO E A CABEÇA DE CORISCO, FORAM SEPULTADOS NO CEMITÉRIO QUINTA DOS LÁZAROS - 

VEJAM ACIMA, FOTO DA URNA FUNERÁRIA EM QUE SE ENCONTRAVAM AS PEÇAS...

Fonte: facebook
Página Voltaseca Volta

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O cangaço desmistificado -

Por Aldo Gama - Aldo Gama

Livro analisa a história do fenômeno do banditismo que assolou o nordeste brasileiro
   
Seja nas xilogravuras dos cordéis, nas canções populares, no cinema ou na literatura, os cangaceiros habitam o imaginário dos brasileiros até os dias de hoje. Histórias de revolta contra os desmandos das oligarquias e as péssimas condições de vida dos pobres do sertão nordestino costumam caminhar lado a lado com relatos de crimes de extrema crueldade. Lampião, o cangaceiro mais famoso, é, por vezes, descrito como um tipo de Robin Hood ou como aquele “que invade os lares, levando a toda parte sofrimento e morte”, como dizia um anúncio da época.

Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, o  historiador Luiz Bernardo Pericás, autor de Os Cangaceiros, apresenta uma série de argumentos que buscam desmistificar o fenômeno que atingiu seu apogeu nas décadas de 1920 e 1930, durante o reinado lampiônico. 

Brasil de Fato - O contexto de injustiça social, com o controle do aparato policial e judiciário pelas oligarquias, não justificaria a leitura de que o cangaço foi uma espécie de guerrilha popular?

Luiz Bernardo Pericás - A forma de luta dos cangaceiros era, certamente, baseada em técnicas de guerrilha. Na década de 1930, jornalistas e oficiais das volantes chegaram a chamar os cangaceiros de “bandidos-guerrilheiros”, o que mostra que a associação é factível. Boa parte dos bandos era certamente de origem popular. Mas temos de nos perguntar o que significaria dizer “guerrilha popular”. Ou seja, os bandos tinham estrutura hierárquica, nos quais as lideranças, por vezes, eram de estratos mais altos da sociedade sertaneja e davam a tônica da atuação do grupo. Esses “chefes” de grupos não tinham nenhum objetivo de mudar a situação social da região, nem de aliar-se às camadas mais pobres do sertão nordestino. Alguns líderes do cangaço eram “coronéis”, descendentes de membros da Guarda Nacional e de latifundiários, e aliados de parte da elite local. Eles viam a massa anônima do cangaço como seus “empregados”. E estes, consideravam as lideranças como “patrões”.Houve muitas diferentes motivações para o ingresso no cangaço, mas é possível que nenhuma destas tivesse como objetivo lutar por câmbios “revolucionários”.

Nunca houve qualquer intenção de mudança social por parte dos cangaceiros. Só no cinema e literatura, ou seja, em obras de ficção. Obras, em geral, produzidas a posteriori, e utilizando o cangaceiro como símbolo de luta política, como metáfora da insurreição do homem do povo contra o regime vigente. Na verdade, os cangaceiros praticavam crimes hediondos, repetidamente. Seus crimes, em geral, não eram circunstanciais. Ou seja, o cangaço acabava tornando-se um meio de vida, no qual, por anos seguidos, indivíduos cometiam crimes como torturas, sequestros, roubos e assassinatos.

E cometiam essas atrocidades indistintamente, tanto contra alguns “coronéis”, como também contra policiais e contra o próprio “povo” pobre local. Há muitos relatos de torturas e assassinatos cometidos por Lampião, Zé Baiano e outros contra “trabalhadores”, “cassacos”, “agricultores”, gente comum do povo, sem nenhuma piedade ou remorso. Não havia identidade de classe entre os cangaceiros e a população mais pobre. Na prática, Lampião preferia se relacionar com “coronéis” e “políticos”, do que com o “povo” sertanejo. 

A violência das tropas oficiais e das volantes não justificaria a simpatia da população pelos cangaceiros? 

As tropas volantes eram, em grande medida, mal preparadas e mal treinadas. Recebiam pagamentos irrisórios. Seus soldados, em boa parte, eram homens da mesma região e da mesma origem étnica e social dos cangaceiros. Ou seja, gente da mesma “massa e encarnadura”, como disse, certa vez, um conhecido comentarista do tema. Se um jovem cometia algum crime contra outra família e entrava no cangaço, era muito provável que algum parente daquele atacado ou assassinado ingressasse nas volantes para perseguir e punir seu rival. E vice-versa. Há casos de cangaceiros que abandonaram o cangaço e se tornaram policiais, assim como soldados das volantes que largaram a polícia e se fizeram bandoleiros.

A situação, ali, era relativamente fluida quando se tratava especificamente da atuação de cangaceiros e volantes. As tropas volantes, de fato, podiam ser tão ou mais violentas que os cangaceiros, agindo com extrema agressividade e arbitrariedade, e isso quiçá fizesse com que parte da sociedade sertaneja se voltasse para os bandoleiros como símbolos da luta contra as autoridades. Por outro lado, os cangaceiros eram tão violentos que a população, em geral, tinha pavor deles. Várias vezes ocorria que, ao ouvir o boato da aproximação de cangaceiros em algum lugarejo, os moradores locais saíam correndo em disparada, desesperados. A maior parte da população sertaneja, na verdade, não se tornou nem parte das volantes, nem integrante de bandos de cangaceiros.  Em realidade, o povo ficava num fogo cruzado entre esses dois grupos.  A população era de trabalhadores e, em geral, não tinha interesse em ingressar no banditismo ou na polícia, a não ser que tivesse de se proteger dentro de uma dessas “organizações” ou que as utilizasse como meio de vingança contra entreveros, normalmente, familiares. 

O PCB tentou, de fato, recrutar os cangaceiros?

Na década de 1930, o PCB e o Comintern iriam discutir a possibilidade de cooptação e utilização dos cangaceiros na luta revolucionária no Brasil. Um documento do escritório sul-americano do Comintern de 1931, por exemplo, já mencionava os cangaceiros nesse sentido, e outro, do Comitê Executivo da Internacional Comunista, indicava mais explicitamente que “o PCB deve empenhar-se na tarefa de estabelecer contatos mais estritos com as massas de grupos de cangaceiros, postar-se à frente de sua luta, dando-lhe o caráter de luta de classes, e em seguida, vinculá-los ao movimento geral revolucionário do proletariado e do campesinato no Brasil”. Na 3ª Conferência de Partidos Comunistas da América Latina e Caribe, em Moscou, em 1934, o chefe da delegação brasileira, Antônio Maciel Bonfim (o “Miranda”), faria um relatório completamente irreal da situação no campo brasileiro, insistindo que “os partisans cangaceiros estão chamando à luta, estão unindo os camponeses pobres na sua luta por pão e pela vida... Na província da Bahia, somente, os partisans representam um destacamento de aproximadamente 1,5 mil homens, armados com metralhadoras, equipados com caminhões”. Tudo isso, como se sabe, não correspondia à realidade. Alguns acreditavam que os cangaceiros poderiam, inclusive, adotar o programa da ANL (Aliança Nacional Libertadora), e há até mesmo documentos da ANL sugerindo a cooptação de cangaceiros. Mas isso não ocorreu. Ao que consta, apenas um cangaceiro teria se filiado ao PCB, ou seja, não houve sucesso do partido em arregimentar os bandoleiros para a luta revolucionária.

Por que Lampião tornou-se o símbolo do cangaço? 

Se não fosse por Lampião, provavelmente não estaríamos falando, hoje em dia, do cangaço da mesma forma.  Ele foi o mais importante de todos os bandoleiros, sem dúvida nenhuma. É só recordarmos dos outros líderes do cangaço. Quem se lembra, na atualidade, de Jesuíno Brilhante? Ou de Sinhô Pereira, o primeiro chefe de Lampião? Em geral, apenas os estudiosos do tema. Sinhô Pereira, por exemplo, teve uma atuação mais limitada, uma carreira episódica de crimes. Abandonou definitivamente o cangaço em 1922, foi para Goiás e depois, para Minas Gerais, onde mudou de vida. Antônio Silvino, o primeiro “rei dos cangaceiros” foi ferido no tórax em 1914, se entregou à polícia e foi preso. Já Lampião nunca abandonou o cangaço, nem se rendeu. Nunca foi preso. Acabou a vida como líder cangaceiro. Seu bando, no auge, em meados da década de 1920, chegou a contar com 120 homens. Chegou a ter vários subgrupos, que se uniam ao bando principal quando requisitados, uma espécie de “confederação” de cangaceiros, da qual ele era o chefe inconteste. Lampião atuou por mais de duas décadas, num território enorme, em sete estados nordestinos.  Em seu bando, a partir da década de 1930, também havia mulheres, crianças e animais de estimação, o que deu outra aura para o cangaço.
Toda a estética associada ao cangaço nas artes plásticas e no cinema vem principalmente do período lampiônico, especialmente nos anos 1930, com uniformes e chapéus extremamente adornados (verdadeiros trabalhos artísticos). É bom lembrar que nos anos 1920 e 1930 a mídia estava mais desenvolvida, o rádio, as revistas, os jornais e o cinema divulgavam fotos e histórias de Lampião e seus asseclas. Benjamin Abrahão chegou a filmar Lampião e seu grupo.  Ou seja, há até mesmo imagens em movimento do “rei dos cangaceiros”. Os bandos lampiônicos tinham uma vida social que incluía música, danças, “esportes” e festas com muita bebida, o que também ampliou a imagem daqueles bandoleiros.  A ferocidade e agressividade dos bandidos dos grupo de Lampião eram notórias, e as práticas de torturas, “sangramentos” e assassinatos com requinte de crueldade eram muito mais significativos do que nos períodos anteriores, certamente.  Não houve um cangaceiro tão inteligente e hábil “politicamente” como Lampião, alguém que conseguisse construir uma rede de apoio de coiteiros tão eficiente, que teve relações com tantos “coronéis” importantes e que atuou num território tão dilatado, por tanto tempo. Por estes e outros motivos, Lampião foi, incontestavelmente, o rei dos cangaceiros. 

É correto afirmar que a morte de Corisco determina o fim do cangaço?

Desde 1935 (ano do Levante Comunista) até 1938 (massacre do Angico), vários cangaceiros conhecidos  foram assassinados. Em 1938, Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros são assassinados e decapitados após o Massacre da Grota do Angico. Ou seja, a partir de 1935 a intensidade do combate ao banditismo sertanejo aumenta, e após 1937, pode-se dizer que seria decretado o fim do cangaço. Na prática, o assassinato de Lampião em 1938 representou, de fato, a eliminação do cangaço como fenômeno social, como um elemento de forte presença cultural e criminológica no ambiente sertanejo. A partir daí, muitos bandos se rendem, se entregam às forças policiais. Foi assim com os bandos de Pancada e de Vila Nova, em Alagoas.  O próprio Corisco, iria se decidir por abandonar o cangaço.  Mas em sua fuga, perderia a vida pelas mãos do tenente Zé Rufino.  Corisco era um dos mais importantes chefes de subgrupos, se autodenominava “Chefe dos Grandes Cangaceiros”. Por isso, simbolicamente, muitos consideram seu assassinato, em 25 de maio de 1940, o fim do cangaço, já que ele foi o último líder importante a perder a vida. 

O avanço tecnológico foi determinante para o fim dos cangaceiros? 

São muitos os motivos para o fim do cangaço.  Entre as diferentes variáveis, o fator tecnológico certamente conta, ainda que seu peso seja relativo.  O cangaço iria terminar mesmo sem a superioridade dos equipamentos da polícia.  Mas, de fato, o armamento utilizado pelas forças policiais nos anos 1930, e principalmente após o Estado Novo, fez alguma diferença. Vale lembrar também que as tropas começaram a utilizar o rádio para se comunicar.  E que muitos soldados das volantes transitavam no sertão em caminhões, o que lhes dava maior velocidade e mobilidade na região. 

É possível traçar algum paralelo entre a atuação dos cangaceiros com os jagunços e pistoleiros que atuam nos dias de hoje?

Os jagunços e pistoleiros são contratados de políticos e potentados rurais, são assassinos a soldo, por vezes, solitários, que matam, em geral, de tocaia.  São, normalmente, desprezados pela população, vistos como “paus mandados”, como covardes.  Já os cangaceiros andavam em bandos, eram nômades e, mesmo que pudessem receber apoio e proteção de coiteros poderosos, não eram assalariados de ninguém.  Podiam até fazer “serviços” para “coronéis”, mas eram, em geral, “autônomos”, não tinham patrão.  Eles também não matavam pelas costas, de tocaia, escondidos. Enfrentavam os inimigos frente a frente, combatiam forças policiais, mostravam bravura.  Assim, enquanto os pistoleiros até hoje são vistos como indivíduos desprezíveis no meio sertanejo, os cangaceiros gozam de maior prestígio. Como diria Câmara Cascudo, “o sertanejo não admira o criminoso, mas o homem valente”. Na visão de muitos, os “crimes” daqueles bandoleiros seriam algo “secundário” se comparados à valentia, bravura e coragem dos cangaceiros diante das adversidades, das agruras do sertão, das perseguições e dos combates. Por isso, há uma distância muito grande entre esses tipos de indivíduos. Além disso, o cangaço apresentava uma “organização social” muito peculiar.,

http://www.brasildefato.com.br/node/6182

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Jornal de Alagoas, 9 de novembro de 1938


Quem era o bandido que não foi identificado no sucesso de Angicos.

Quando a força policial sob o comando geral do capitão João Bezerra, no feliz reencontro de “Angicos”, fulminou o facínora “Lampeão” e os mais temíveis de seus asseclas, um dos cangaceiros não fora identificado.

Surgiram até, comentários em torno do bandido desconhecido, pensando algumas pessoas que se tratasse de um aventureiro que houvesse se incorporado ao grupo sanguinário do “Rei do Cangaço”.

Assim, por muito tempo ficou constituindo uma interrogação a identidade do mesmo. Entretanto, agora, chegam ao nosso conhecimento informações a respeito do famigerado desconhecido, enfim sua identificação.

Fonte: facebook
Página: Paulo George‎ Cangaço Paraiba

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Um bandido de menos – prisão de “Revoltoso“ - Jornal: A Tarde, edição de 18/08/1933


Um bandido de menos – prisão de “Revoltoso“ - Jornal: A Tarde, edição de 18/08/1933. Desse modo, está identificado mais um cangaceiro, na famosa foto da fazenda jaramataia - no estado de Sergipe.

Fonte: facebook
Página: Voltaseca Volta.

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Lampião em Canindé do São Francisco - Sergipe


No dia 05 de Janeiro de 1932, Lampião invade a cidade de Canindé do São Francisco no Estado de Sergipe, com 32 cangaceiros, deixaram uma marca de destruição. Com a ajuda de um coiteiro, Lampião fez as volantes acreditarem que o seu bando estavam no lugar Pias do Felipe, com a saída das forças, começou o ataque. Residências foram incendiadas, inclusive a delegacia, e moradores foram espancados. Ao saírem de Canindé Lampião e seus homens se dirigiram-se para esconderijos nas localidades da região.

Fonte: facebook
Página: Paulo George

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Geminiano Luís Sarmento - o Cabo Grilo


Geminiano Luís Sarmento - o Cabo Grilo

Cabo grilo fazia parte da volante de Ten. João Bezerra, e ficou na retaguarda no combate de Angicos/SE, tendo chegado ao local, depois da morte dos cangaceiros.

Em entrevista ao pesquisador "Vilela", assim se pronunciou o Cabo Grilo:

"Eu cheguei depois das mortes (Lampião...). Eu fui enterrar os corpos uns quatro dias depois. Os corpos podres, fedendo feito á porra. Quartorze dias depois, fui desenterrar novamente... (por ordem do Ten. José Lucena)..."


Fonte: facebook
Página: Paulo George

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Porto da Folha - Sergipe


No município de Porto da Folha (SE) existia a fazenda Lagoa de Crauá de João Domingos que também era coiteiro de Lampião e Zé Sereno. Numa certa feita os cabras tiveram um tiroteio com as volantes de Zé Rufino e Cabo Besouro. Dentre mortos e feridos Novo Tempo foi alvejado no braço e logo retirado do campo de batalha e colocado no mato pelos seus amigos. Após o combate os cangaceiros fogem sendo avisado por Zé Sereno que tal cabra não se encontrava entre eles. Novo Tempo andou vagando uns dois dias pelas caatingas sergipanas procurando auxilio, já tendo seu ferimento do braço em lastimável estado inclusive com larvas e inchaço causando fortes dores.

Leônidas, o filho da dona da fazenda Pedra D’água foi quem avistou Novo Tempo se aproximando de tal fazenda, gravemente ferido e começou a cuidar do cabra a base de creolina pois as larvas (varejeiras) já se espalhavam pelo corpo todo e logicamente se concentrando no braço lesado que inclusive já cheirava mal. Após este tratamento inicial Novo Tempo pede um cavalo e mesmo ferido parte com destino a fazenda Cuiabá com grande dificuldade durante dois dias no mato.

As moscas varejeiras retornam ao ferimento do cabra e mais larvas surgem em tal lesão, já no sexto dia resolve procurar socorro na fazenda Pau Preto de Antônio Carvalho grande coiteiro sergipano. Novo Tempo encontra um vaqueiro da fazenda chamado Antônio José quase sem força e o mesmo se prontifica para ajudá-lo levando-o até um lugar no mato bem fechado e tirando o revólver 32 do próprio Novo Tempo encosta o cano da arma no ouvido do pobre cangaceiro e dispara. Quando o falso coiteiro ia começar a rapinagem dos bens de Novo Tempo chega Juriti e Balão.

Esses dois cangaceiros vieram devido aos tiros que ouviram e perguntaram para Antônio o porquê do tiro e também por Novo Tempo. O coiteiro mentiroso falou aos cangaceiros que foi uma cobra que acabara de matar e que Novo Tempo estava ali próximo, vale lembrar que esses dois cabras vaziam parte do sub grupo de Zé Sereno, que como já se sabe era cunhado de Novo Tempo, e que este chefe de cangaceiro tinha mandado várias patrulhas para tentar encontrar seu cunhado.

Os dois cabras foram em busca de Novo Tempo e o coiteiro aproveitou e montou seu cavalo e fugiu para a fazenda Santa Filomena também de Antônio Carvalho pois sabia que ali se encontrava seu patrão. Juriti e Balão ao chegar no lugar indicado pelo coiteiro já pensava em levar o cadáver do amigo mas quando Alçi chegou não encontrou o corpo do cangaceiro só sangue fresco no local e marcas de alguém que se arrastara pelo mato feito cobra. Mais adiante os cabras encontraram Novo Tempo saciando sua sede.

Os cabras pegaram o amigo e foram pegar seus cavalos e perceberam que o coiteiro não mais estavam ali. Novo Tempo mais morto que vivo foi levado para a fazenda Mandassaia onde era o coito de Zé Sereno sendo tratado pelo próprio cunhado se alimentando apenas de alimento liquido. Dias depois Zé Sereno pergunta para Novo Tempo: 

- O ferimento do braço foi na fazenda de João Domingos e esse buraco na cabeça?

Novo tempo não conseguia se expressar direito devido a lesão na cabeça mas conta ao cunhado tudo o que aconteceu com Antônio José, o coiteiro traidor. Quando Antônio José chega na presença de Antônio Carvalho e conta todo o ocorrido, o coiteiro-mor diz:

- Você se meteu em desgraça pois saia dela, de sua família eu cuido, mas para você não dou um tostão furado.

Este coiteiro ainda ficou escondido pelo mato algum tempo, mas não aguentando volta para sua casa na Fazenda Pau Preto. Zé Sereno chega em tal fazenda pega o Judas e o leva para o mesmo lugar onde tentou matar Novo Tempo, penduram Antônio de cabeça para baixo e começa a balançar o corpo do coiteiro e no vai e vem os punhais são usados pelos cangaceiros de Zé Sereno que matam Antônio José desta forma. Muito tempo depois logo após as entregas Sereno disse ao cunhado:

- Cunhado, você não está estranhando este caroço no pescoço

Novo Tempo responde: 
- Estou sim...

Zé Sereno então diz que é a bala de Antônio dos Pau Preto e pergunta se Novo Tempo quer que ele extraia a bala com o consentimento do cunhado Zé Sereno pega uma faca de lâmina bem afiada derrama cachaça e extrai a bala que entrou pelo ouvido e que cujo projétil o corpo estava rejeitando.

Vale ressaltar que Novo Tempo morreu de velho em algum lugar de Minas Gerais.

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Página: Paulo George

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A fazenda Quirino, no povoado São Francisco, Macururé, Bahia era coito de cangaceiro


A fazenda Quirino, no povoado São Francisco, Macururé, Bahia, era um dos coitos do bando de Lampião e principalmente reduto dos cangaceiros nascidos entre Macururé, Brejo do Burgo, Santo Antonio da Glória e Chorrochó. Entre eles Gavião, Azulão, Esperança, Cocada, Zé Sereno, Zé Baiano e Gato. No povoado São Francisco a mãe de Esperança, dona Andressa, tinha terras por lá, porém ela residia na Várzea da Ema. O comandante de volante que destacava na Várzea da Ema era Antonio Justiniano e dois dos soldados que ele comandava eram irmãos de Esperança: Vicente, apelidado de Medalha e Ananias. A fazenda pertencia a Ludugero, tio do cangaceiro Esperança.Esperança, Cocada, Pancada e Gavião, encontravam-se acoitados próximo ao sítio Quirino. Dentro de um cercado os cangaceiros catavam imbu quando chegou o dono do terreno e Cocada o prendeu e depois o soltou. O sertanejo correu e foi avisar policia do encontro que teve com os cangaceiros.

Dona Andressa sempre que precisava ir ver suas criações no São Francisco tinha que pedir autorização ao comandante do destacamento e foi em uma dessas viagens que ela travou diálogo com o contratado Reginaldo que lhe sugeriu pedir para que Esperança se entregasse que nada lhe aconteceria, de preferência que ele trouxesse a cabeça de um companheiro que sua vida tava garantida. Andressa levou o recado ao filho que mesmo relutante acabou cedendo aos apelos da querida mãe. Reginaldo mandou roupas novas de mescla azul para Esperança. O cangaceiro ainda relutante disse a mãe que não tinha coragem de se entregar e a mãe saiu triste.

Era março de 1933, no coito encontrava-se Esperança, Cocada, Gavião e Pancada. Esperança chamou Cocada para irem pegar água em um caldeirão ali próximo. Os dois seguiram na direção do caldeirão. Diante quando chegaram ao caldeirão sentaram-se e ficaram conversando. Cocada limpou sua arma e depois pediu a arma do amigo para ele limpar e Cocada entregou seu mosquetão. Esperança limpou, colocou uma bala na agulha e detonou. O cangaceiro com o impacto do tiro caiu uns dois metros de distância e sem saber de onde tinha partido o disparo pediu socorro:

- Me acode Esperança, não deixe os “MACACOS” me matar!

Esperança pegou o facão da marca jacaré, partiu na direção do moribundo e o degolou ainda com vida. Pegou os bornais, armas, a cabeça do cangaceiro e foi se entregar a policia.Na Várzea da Ema ele se entregou as autoridades, contou detalhes da morte que fez, denunciou os coitos dos cangaceiros na região. Com dez dias depois foi encaminhado para a cidade de Uauá, onde o capitão Manoel Campos de Menezes que o livrou da prisão e o incorporou na volante policial do tenente Santinho como contratado . Ficou sendo o corneteiro do grupo. Trabalhou em Jeremoabo e faleceu tempos depois na cidade de Juazeiro, Bahia.

Fonte: facebook
Página: Paulo George

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Arlindo Grande: Ex coiteiro de Lampião


Arlindo Grande: Ex coiteiro de Lampião Arlindo residia no povoado Várzea, entrada do Raso da Catarina e foi nessa localidade que ele conheceu Lampião e seu grupo. Era um menino de 7 anos deparou-se com Lampião, na estrada. Este lhe pediu que subisse na lomba do seu cavalo e o levasse até sua casa. Lá o rei do cangaço conheceu seu avô João da Várzea e seus pais Quinca e Aristéia, e a partir deste encontro a sua residência passou a servir de coito, e era sempre um dos lugares preferidos pelos cangaceiros para realizarem os famosos bailes.

O velho Arlindo lembrava com saudade que Lampião vinha semanalmente para descansar. "Toda vez que ele chegava tinha festa: Matavam-se animais e o Cangaceiro que gostava de forró, logo organizava o baile".

Ele foi casado com dona Nina, irmã do cangaceiro "Bananeira". Faleceu na madrugada de 10 de setembro de 2012 Arlindo Grande, o maior vaqueiro da região de Paulo Afonso e um dos grandes coiteiros de Lampião.

Fonte: facebook
Página: Paulo George

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