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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Novidades em Breve

Por Maria Thereza Camargo

Maria Thereza Camargo e Lily no Cariri Cangaço 2013

Como havia prometido ao amigo Manoel Severo que escreveria alguma coisa sobre meu inusitado encontro com a benzedeira de Ipueiras, acontecido no último Cariri Cangaço 2013, em Aurora do Zé Cícero, estou, agora, a dar uma satisfação aos amigos.

Quando contei a Ari; meu filho e também pesquisador do cangaço; que pretendia escrever sobre aquele encontro, por surpresa minha, ele disse-me que, por sugestão de amigos de Farias Brito, ele deveria criar um blog, pois, possui aquele volume  de documentos  - hoje, todo digitalizado - sem divulgá-los, não tinha sentido.  Dai, sua decisão em criar um blog e, para tanto, convidou para escrevemos juntos.  Ele comentaria sobre os documentos de seu acervo, focando um determinado assunto do cangaço, que pudesse ser munição para comentários.

Ele discutiria os assuntos relacionados a determinados episódios contidos nos documentos e eu encaixaria comentários sobre a caatinga, cenário dos acontecimentos, a partir dos dados etnográficos de interesse farmacobotânico, que possuo, resultantes de minhas inúmeras andanças pelo Geopark Araripe, na condição de  turista aprendiz.

Topei a parada.

Então sugeri a ele que fizéssemos comentários sobre os noticiários que chegavam ao jornal O Estado de São Paulo, em tempo real, sobre o ataque a Mossoró, em junho de 1927, envolvendo Ipueiras.  Ele topou. Então, como assinante do jornal pude levantar em seu acervo, as notícias que iam chegando do nordeste em tempo real, resultando no que enviarei a vocês para suas impressões e sugestões.

Grande abraço.
Maria Thereza Camargo
São Paulo 

http://cariricangaco.blogspot.com 
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O cangaceiro Juriti

Manoel Pereira de Azevedo, oriundo do lugarejo Salgado do Melão, chegou ao bando de Lampião, com o nome de guerra JURITI, mas LAMPIÃO, de imediato, quer trocá-lo por Maçarico, mas o recém-chegado cangaceiro rejeita o novo nome por considerá-lo afeminado e impõe a sua vontade de permancer sendo chamado de JURITI.

O capitão, que sempre admirou homens de personalidade e temperamento fortes, não colocou obstáculo ao preito de seu novo comandado e a partir daquele momento passaria para o esquecimento o nome Manoel Pereira de Azevedo para surgir, com todo fulgor, o perverso JURITU.

Era um rapaz de corpo atlético, esguio, louro, cabelos finos, gestos elegantes, boas maneiras, apesar de genioso e perverso ao extremo. A conta criminosa e maldita do cangaceiro de Salgado do Melão foi vasta e adubada com muito sangue e muitas dores.

Tempos depois, já famoso e comentado, JURITI leva para a sua companhia a jovem Maria, uma filha de Manoel Jerônimo, vaqueiro da fazenda Picos.

Vamos encontrar JURITI e sua companheira Maria no coito de Angico, junto com Virgulino Ferreira, no fatídico 28 de julho de 1938. Naquele dantesco acontecimento muitos bandidos, atônitos e sem saber o que estava acontecendo, só pensavam em fugir daquele inferno.

Milagrosamente muitos conseguiram sair daquele inesperado abismo que se abateu sobre o grupo bandoleiro. Milagre que não foi possível para onze companheiros, incluindo o maioral, o grande chefe, LAMPIÃO.

Do contingente que conseguiu se salvar alguns foram baleados. 

A luta para transportar os enfermos foi titânica.

Os que tinham condições de carregar os feridos não pouparam esforço, mostraram que faziam parte de uma família verdadeiramente unida.

Foi com admirável boa vontade e coragem que transportaram seus doentes para locais seguros, onde os mesmos pudessem ser tratados.

Juriti e sua companheira conseguiram escapar e só veio morrer em 1941 em Canindé do São Francisco Sergipe. no estado de Sergipe, na ocasião o cangaceiro foi preso e em seguida foi lançado dentro de uma fogueira, sendo queimado vivo.

Atual2 do facebook o cangaço

Nota: Este artigo não apresenta o autor, mas me parece ser do escritor Alcino Alves Costa

http://www.atual2.com.br/listar_not_detalhes.php?id=11597
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O Arsenal dos Coronéis Parte II

Por: Fábio Costa

Winchester 1886...

Evidente que os coronéis possuíam muitos desafetos e inimigos devido aos crimes que cometiam e a política acirrada, tinham de manter suas propriedades e rebanhos, bem como se defender dos assaltos de bandoleiros e cangaceiros (que o digam os potes e botijas enterrados e repletos de moedas e joias que aparecem nas histórias de assombração, mudas testemunhas da riqueza desses homens...). Suas casas eram verdadeiras fortificações (já vi uma até com seteiras). Meu finado tio Zeca lá pelos anos 40 trabalhou na fazenda de um rico fazendeiro na fronteira da Bahia/Minas Gerais. Ele me contou que na casa da sede tinham caixas fechadas com dezenas de carabinas Winchester e 8 pistolas Parabellum, além de outras armas curtas!! Para economizar tempo na hora de limpar eles simplesmente jogavam óleo por cima e fechavam a caixa.

 O mosquetão Mauser (e por vezes o fuzil) realmente existia em grande número, inclusive podia ser comprado por encomenda, bastava um telegrama para a FN ou a DWM e caixas destas armas aportariam em Santos, Salvador ou Recife. Fuzis Mauser inclusive, são itens constantes em um catálogo de afamada casa paulista no início do Séc. XX. Fuzis e mosquetões Mausers Oviedo espanhóis aparecem com certa raridade também. Como detentores de arsenais governamentais, diversos fuzis oficiais estavam em sua posse, como os Comblain 11 mm de tiro único (a “combréa” da guerra de Canudos). Estes são citados no combate de Brotas de Macaúbas/Ba de 1914, usados por jagunços do Cel. Militão Coelho. Mas as preferidas mesmo eram as armas de repetição por alavanca (lever action), pois eram leves e rápidas, como são as Winchester (sendo “repetição” uma das alcunhas desta arma, que em diferentes versões, parecia uma praga por aqui), existiam também carabinas Marlin, e outras menos famosas no mesmo sistema.


Cel. Militão Coelho

Carabinas Colt, e Remington por ação de bomba ou deslizante (pump action) também aparecem. Quanto aos fuzis além dos de ferrolho como o Mauser e um ou outro Mannlicher perdido por aqui, aparecem outras armas longas exóticas, mas em menor número, se vendo praticamente um pouquinho de tudo. Os revólveres na sua maioria eram de origem americana (principalmente Colt e SW), além de seus clones espanhóis, sendo que destes os mais famosos eram os populares “H.O.” (o correto é “O.H.” - Orbea Hermanos da cidade de Eibar), mas se encontram muitos outros espanhóis como os Tanques, os Corso, BH, GH. Etc. Etc. Etc. Para mais umas 20/30 marcas espanholas.

 Os revólveres Nagant em calibre 440, de dotação do Exército Brasileiro foram extremamente comuns entre os civis no nordeste do Brasil (e como relíquia até os dias de hoje se acham muitos). Creio que nada impede que alguns deles tenham sido desviados de quartéis na época do coronelismo. Os calibres mais comuns nos revólveres da época eram o 32 SWL, 38 SPL, .44 SW russo, 44-40, e em regiões do mato-grosso o .44 SPL. Evidente que sempre se pode ver algum em calibre mais raro ou exótico. Ouvi falar de pelo menos um exemplar de Colt Peacemaker 1873 em calibre 44-40 que estava e mãos de um rico fazendeiro, arma bem rara por estas plagas. Dentre as pistolas, as alemãs da casa Mauser, notadamente a C-96 de 7,63 mm alcunhada de “caixa de pau” por causa do coldre-coronha de madeira, arma predileta do Cel. Horácio de Matos que febrilmente usou uma nos combates de 1918 em Brotas de Macaúbas/Ba contra o também Coronel Militão Rodrigues Coelho, num entrevero onde quase 500 jagunços lutaram, cavando trincheiras e sitiando várias fazendas e povoados, e desafiando e entrando em combate com uma expedição da Força Pública Estadual que havia ido em socorro de uma das partes.

Contendas do Sincorá, Bahia

A contenda (nome inclusive de uma das cidades da região: Contendas do Sincorá, batizada segundo contam em lembrança as freqüentes rixas entre os poderosos nesta área) durou cinco meses, com um saldo de centenas de mortos.Curiosamente a cara e bem feita Mauser C-96 era bem popular no Nordeste. Um aparte deve ser feito ao sistema de municiamento destas armas, que usavam um carregador fixo municiado por uma lâmina, e quando estava cheio com os 10 cartuchos o povo via nele os dentes de um pente, surgindo assim a expressão leiga “pente” usada até os dias de hoje para denominar qualquer tipo de carregador de armas semi ou automáticas. Como as Mauser foram as primeiras semi-automáticas a chegar por aqui, seu nome por muitos anos foi sinônimo de pistola, “fulano tem uma mausa”, se fosse grande era uma “mausona”, se pequena ”mausinha”.

 Fato pouco estudado é que dizem que a Força Pública de Pernambuco usava um clone espanhol das Mauser, a pistola Royal com seletor de fogo automático, sendo inclusive arma das tropas “volantes” que combatiam o cangaço. As pistolas Parabellum mod. 1906 (a maioria do contrato militar brasileiro, raras eram comerciais) e 1908 de 7,65 mm e 9 mm Luger, também foram muito apreciadas, várias fotos de época mostram seu uso, inclusive de variantes raras destes modelos. De outras pistolas se vêem principalmente as Belgas (FN-Browning, Jieffeco, Pieper, e outras marcas menos famosas), e cópias espanholas do tipo Ruby, e americanas a maioria da Colt, aparecem ainda algumas austríacas como as Steyr em diferentes modelos, inclusive as 1911 militares. A maioria esmagadora era em calibres 6,35 mm e 7,65 mm, mas algumas que calçam munições incomuns também são vistas. Raras são as pistolas semi-automáticas inglesas, mas de quase todas as marcas e modelos mundiais se vê um pouco. Espingardas existiam em profusão para a caça, a maioria eram “cartucheiras” belgas, inglesas ou espanholas, sendo que algumas ganharam fama e notoriedade entre a população (como as espanholas Victor Sarasqueta).

A justiça dos coronéis era rápida e brutal, os adversários eram eliminados nas infames tocais emboscadas feitas por jagunços ou pistoleiros “avulsos” contratados para tal fim, quando não eram as escondidas em alguma estrada deserta, eram a luz do dia mesmo para que todos vissem e temessem. Como até o judiciário era engessado pelo poderio político, pouco podia fazer o populacho no caso de uma ofensa perpetrada por um destes poderosos (além dos assassinatos, se ouve falar principalmente em casos de abuso sexual e surras).

 Alguns coronéis no Nordeste e norte de Minas Gerais chegavam até a usar a seu serviço bandos de cangaceiros e bandoleiros, bem como lhe davam guarida e suporte. É fato mais do que sabido que Lampião conseguia seus víveres e munição através de extensa rede de coiteiros, inclusive alguns coronéis, e até com a polícia que o perseguia! Para ilustrar tais desmandos cito certa feita em 1920 e alguma coisa em Vitória da Conquista/BA, quando duas importantes famílias rivais em pleno centro da cidade chegaram, como em um bom western spaghetti que se preze, ao meio-dia a trocar intensa fuzilaria encastelados em suas fortalezas, parando por completo a cidade. Evidente que ninguém foi preso.Com tanto poder assim que peitava governos e desafiou as forças da lei mais de uma vez, só restava a Getúlio “quebrar a espinha dos coronéis”, minar seu poder e evitar obviamente a contra-revolução.

Getúlio Vargas em foto de 1930

Assim, logo após a revolução houve o famoso desarmamento iniciado em 1930, com a promulgação do regulamento 105 (o famoso R-105 do exército nacional, uma lei draconiana que regula a fabricação, o comércio, e a posse de armas de fogo no Brasil, em vigor até hoje com algumas mudanças). As milícias dos coronéis foram dispensadas, chefes políticos presos, humilhados e levados as capitais. Assim foram presos alguns dos grandes coronéis da Bahia como Horácio de Matos (assassinado com um tiro pelas costas em Salvador no dia 13 de Maio de 1931, no Largo 2 de julho, pelo Guarda Civil Vicente Dias dos Santos, num crime de mando segundo consta encomendado pela viúva do Major Mota Coelho), Marcionillo Antônio de Souza (me informa seu bisneto Luiz Fernando, que ele morreu em 1943 aos 84 anos e não aos 75, e que não deixou os 3 filhos do segundo casamento na miséria, isso é uma informação errônea espalhada hoje de forma virtual.), Anfilófilo Castelo Branco de Remanso, dentre muitos outros nomes menos famosos historicamente, mas igualmente poderosos.

 O desarmamento levado a cabo na década de 1930 foi bem profícuo na Bahia, sendo apreendidos nas fazendas e cidades da região da Chapada Diamantina (as famosas “lavras”) segundo consta cerca de 30.500 fuzis!!!, 376 kg de munição, 236.000 cartuchos, 2 fuzis-metralhadores e 2 máquinas de recarga de munição (creio que provavelmente eram as máquinas de carregar os pentes dos fuzis metralhadores FMH, pois não se praticava recarga naquela época). Os números certamente parecem absurdos, mas deve-se lembrar que não havia uma legislação rigorosa a época restringindo tipos de armas, nem tampouco havia controle sobre as importações e o comércio. Via de regra os coronéis importavam de maneira direta com encomendas nas grandes casas que vendiam armas de fogo ou a caixeiros viajantes (inclusive muitos sírios e libaneses apelidados indevidamente de “turcos”) que levavam estas armas e munições de porta em porta. Há até relatos confiáveis que dão conta de coronéis que possuíam além de boa louça inglesa, metralhadoras Lewis, da mesma origem, bem como de outros modelos.

 Só do Cel. Horácio de Matos e seu clã, as tropas do governo tiraram 3.000 armas longas de tipos variados, além das armas curtas (pistolas e revólveres, até mesmo as “facas de ponta” foram apreendidas). A chapada era um local pródigo - muito antigamente - para se “garimpar” e achar armas raras. Da Região de Maracás/Ba, sob a influência de Marcionillo, dois batalhões federais recolheram cerca de 2200 armas longas e curtas, e 50 mil cartuchos. 

De Vitória da Conquista-Ba, fui informado em conversas com moradores mais antigos que conheceram de perto aquela época violenta (o chamado “tempo do carrancismo”) onde a “política” terminava seguramente em tiros, que se retirou um caminhão e um automóvel lotados de armas de fogo variadas apreendidas. Um velho armeiro me falou certa feita que trabalhando como encanador, ao entrar num porão de tradicional família conquistense na década de 70, achou num canto ao lado da tubulação de ferro, um caixote de munições de diversos calibres, totalmente “zinabradas” (oxidadas), e certamente imprestáveis.

 Exemplos que corroboram a lenda corrente de que quem não queria perder sua arma a enterrou em porões ou em locais seguros, onde a “gente do governo” não andava. Cito um velho revólver S & W DA nº 3 cal. .44 totalmente carcomido que se achou no porão de uma antiga fazenda que foi de uma “coronela”, localizada próximo ao sul da Bahia, bem como outro achado embrulhado em um couro em MG, ou uma carcomida carabina FN-Mauser 1922 enterrada no mesmo estado. Há boatos até de uma metralhadora pesada (Hotchkiss 1914) abandonada em uma fazenda de MG pela coluna prestes, bem como de fuzis achados em diversos locais de MG, SP e RS, todos abandonados por revolucionários ou tropas governamentais.

Pelotão da morte na cidade de Jequié na Bahia em 1930 em ação desarmamentista. As pilhas são de carabinas Winchester e pistolas garruchas.

O coronelismo foi uma chaga. A marca viva de uma época de desigualdade social e econômica, de violência, de impunidade, de atraso e falta de cultura, onde a maioria da população era vítima de homens que manipulavam a sociedade a seu bel prazer através de uma política baixa, interesseira, corrupta e descompromissada socialmente... Peraí! Mas de que época afinal estamos falando, do início do Séc. XX ou do XXI ? MUDA BRASIL!!!! 

Fábio Costa

Cortesia: Ivanildo Silveira - Conselheiro Cariri Cangaço
Fonte:http://vitrinedaarmaria.blogspot.com.br/2010/02/o-arsenal-dos-coroneis.html


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