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segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Convite


Para rememorar os 68 anos de morte do beato José Lourenço e remanescentes da comunidade do Caldeirão.
 
Data: 12/02/2014 (quarta-feira) - Horário: 17h.
 
Local: Capela do Perpétuo Socorro em Juazeiro do Norte/CE.

Fonte: ONG Beato José Lourenço
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Eu Não Estou Aqui



Por: Renato Casimiro
Jonasluis, Manoel Severo e Renato Casimiro

A recente celebração do centenário de morte da beata Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo (Joazeiro: *24.05.1862; +17.01.1914) teve como um dos momentos mais simbólicos a cerimônia na qual a beata teria nova sepultura. Consultado sobre a placa que encima o local, sugeri uma paráfrase ao epitáfio do grande poeta Mário Quintana: “Eu não estou aqui!” A isto, acrescentaríamos: “Aliás, eu estou aqui!” Tal aconteceu, e assim está lá. 

Moveu-me o intento, felizmente aceito, de que com isto ainda mais nos lembraremos com frase tão emblemática, não só a memória poética, mas a certeza da ressurreição e da imortalidade da alma. De outra sorte, ao agregar o “eu estou aqui”, queremos firmar o nosso entendimento de que Maria de Araújo, por exemplo e vida, especialmente ao longo de amplo período de esquecimento, e da violência cometida, está ali, sim, pois não é admissível a negação de um derradeiro palmo de terra para o seu “repouso eterno”. 

Beata Maria de Araujo

O caso de Maria de Araújo, visto pela intolerância clerical de sua época, levou a infeliz a se tornar este ser histórico que se arrasta pelos séculos, como uma mulher sem túmulo. Até 22.10.1930, sabia-se que seus restos mortais estavam ali, na entrada da Capela do Socorro, ao lado direito, ao pé da parede, em modesto túmulo registrado em foto da época. Naquela data o ato violento, autorizado pelo Diocesano de então, converteu-se em crime hediondo perante os olhares do Patriarca e, ao tempo, pela indignação de cidadãos honrados, de povo e estudiosos que se deixaram ficar reflexivos sobre a triste sina deste infortúnio. Estranho é que, passados tantos anos, a homenagem aceita pela própria Igreja do Cariri se faz sob o mesmo clima marginal de então, ao pé do muro da Capela, mas agora externamente. 

Cabe a esta mesma Igreja esclarecer a este povo o que foi determinado há 83 anos. Se o vigário José de Lima o fez mediante imposição do diocesano, pode ser que haja correspondência ou algum relatório. Contudo, o único documento competente, firmado em cartório (03.12.1930) pelo protesto de cidadãos juazeirenses, assegura que ali já não encontrava quase nada, a não ser uns poucos resíduos do caixão, do crânio da beata, de sua vestimenta e adornos, postos em um vaso de vidro, mas também sem indicação de destino. Quanto ao procedimento instruído pelo vigário, é pouco provável que tenham posto em algum outro túmulo, mas aberto uma outra vala, sem qualquer identificação para o futuro. 


Sabe-se que até fotógrafo integrava o grupo que inspecionou o local após a violação. Mas, caprichosamente não há uma só imagem a propósito do interesse dos protestantes. Na comemoração do centenário, a própria Igreja do Cariri, reconheceu a mártir, lhe deu vivas e proclamou suas virtudes e heroismo. Mais que isto, é dever desta mesma Igreja, já que recentemente se preocupou com isto, proceder a uma “busca arqueológica”, não em jazigos autorizados do campo santo, mas no ambiente da Capela, exatamente no local tão reconhecido, o da sepultura original. Qual é a angústia e o escrúpulo prevalentes? Sem dúvida, a pauta existente na Sagrada Congregação e que nos remete à expectativa de uma revisão de todo o processo, com a ansiosa espera por uma reabilitação, também deverá ensejar, obrigatoriamente, um novo olhar de piedade cristã sobre a serva tão fiel.    

Renato Casimiro

Fonte: http://colunaderenato.blogspot.com.br

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CANGAÇO E CANGACEIROS: HISTÓRIAS E IMAGENS FOTOGRÁFICAS DO TEMPO DE LAMPIÃO - Fotografia e História


Marcos Edílson de Araújo Clemente*
Universidade Federal do Tocantins – UFT
marceddilson@yahoo.com.br


Detalhemos a fotografia. Maria Bonita sentada, pernas cruzadas, cabelos cuidados, tom sereno, segurando dois cães em pose fidalga. O equipamento alemão – máquina Ica de última geração, da Karl Zeiss, 35 mm, contendo um maço de filmes  Gevart Belgium – focaliza Lampião que está ao lado dela, em pé, olhos fixos na câmera, tendo em mãos um exemplar de um jornal, provavelmente A Noite Ilustrada.

A imagem fotográfica sugere uma imagem de Lampião como leitor e mais especificamente leitor de Noite Ilustrada. Sugere ainda possíveis relações do fotógrafo Benjamin Abrahão com a imprensa do Rio de Janeiro, haja vista a existência de outras fotografias em que Lampião aparece segurando um exemplar de O Globo. Aliás, desde o século XIX havia se instalado entre os fotógrafos a prática de se fotografar pessoas que portavam às mãos algum objeto, inclusive livros. Percebe-se a encenação em ambiente natural, a pose seguida das representações para a posteridade, plena de sentido e recursos cenográficos. Esta foto fornece pistas da relação dos cangaceiros com o mundo dos negócios e da comunicação, indicando que o documento fotográfico esconde atrás de si uma história cuja intencionalidade deve ser esclarecida. 

Donde a necessidade de analisá-lo como monumento e como documento. Enquanto monumento, a fotografia é uma escolha das forças atuantes no real, uma herança do passado; enquanto documento, é uma escolha efetuada pelo historiador. 

Marc Ferro propõe partir das imagens, mas “[...] não procurar somente nelas exemplificação, confirmação ou desmentido de um outro saber, aquele da tradição escrita. Considerar as imagens tais como são, com a possibilidade de apelar para outros saberes para melhor compreendê-los”.32

A análise das imagens fotográficas requer a distinção entre os conceitos de iconografia e de iconologia. A análise iconográfica inventaria o conteúdo das imagens em seus elementos icônicos formativos. A análise iconológica, por sua vez, busca o significado intrínseco do documento fotográfico e refere-se à realidade interior, o significado intrínseco de uma imagem. Para ultrapassar o realismo fotográfico é necessário desenvolver as análises iconológicas, levando-se em conta as representações

32 FERRO, Marc. O filme: uma contra-análise da sociedade? In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. (Dir.). História: Novos Objetos. Tradução de Terezinha Marinho. Rio de Janeiro: Francisco Alves, p.
203. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais
Outubro/ Novembro/ Dezembro de 2007 Vol. 4 Ano IV nº 4
ISSN: 1807-6971
Disponível em: www.revistafenix.pro.br
18 e as práticas culturais construídas em torno delas e por meio delas. Para o caso das imagens fotográficas do cangaço, vimos que diferentes sujeitos atuam com representações distintas nos processos de produção, reprodução e recepção das imagens. 

http://www.revistafenix.pro.br/PDF13/DOSSIE_%20ARTIGO_13-Marcos_Edilson_de_Araujo_Clemente.pdf
Revista de história Estudos culturais
 

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