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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

CANGAÇO E CANGACEIROS: HISTÓRIAS E IMAGENS FOTOGRÁFICAS DO TEMPO DE LAMPIÃO - Lampião em Juazeiro – O “Cangaceiro Emérito”

Revista de Histórias e Estudos Sociais

Por Marcos Edílson de Araújo Clemente*
Universidade Federal do Tocantins – UFT
marceddilson@yahoo.com.br

[...] era magro, bem proporcionado, de estatura mediana, pele escura e cabelos fartos e pretos. Sua vestimenta, do tipo comum, incluía um chapéu de feltro simples (sem os enfeites na aba virada para cima como os cangaceiros geralmente usavam) e um par de alpargatas de couro, do tipo usado pelos vaqueiros da região. Ao redor do pescoço,  usava um lenço verde, preso por um anel de brilhante. Mais seis anéis de pedras preciosas – um rubi, um topázio, uma esmeralda e três  brilhantes – enfeitavam seus dedos, símbolos irônicos das chamadas profissões liberais no Brasil... Estava armado com um rifle, uma pistola e um punhal de quase quarenta centímetros de comprimento. Como protótipo de um cangaceiro, Lampião estava bem enfeitado e bem armado.

[...] compenetrado de suas responsabilidades e da fama de seu nome não abandonou um momento o seu mosquetão lendário: sentado em um tamborete, apegado à arma homicida, chapéu na cabeça, cobrindo os cabelos longos, pretos e lisos, óculos e anéis doutorais [...] Lampião, nesta atitude, dá assim a impressão de um Buda chinês. Coube ao fotógrafo Lauro Cabral fotografar Lampião. Cabral propôs-lhe fotografar, prometendo que “dentro de oito dias seria conhecido em todo o Brasil”. As fotografias foram tiradas dias depois em Juazeiro quando Lampião e os cangaceiros “se prepararam exclusivamente para isso”. As imagens fotográficas foram distribuídas à imprensa nacional e o próprio Lampião teria distribuído essas fotografias à população de Barbalha, segundo noticiou O Nordeste:

“[...] apareceram aqui photografias de Lampeão, ostentando duas cartucheiras, que se cruzam sobre o peito, um lenço sobre o pescoço”. Fotografou-se Lampião ao lado de irmãos e irmãs, entre os quais os que já viviam em Juazeiro, compondo-se uma espécie de retrato de família. Entre fotografias e entrevistas, Lampião projetou múltiplas  imagens: chefe guerreiro, homem apegado à família, moralizador dos costumes, vingador de honra, legalista. A imprensa local denunciou estes “clichês”: “Lampeão lá esteve como trimphador; e, como requinte de civilização e de estética, [...] fazendo-se photografar em várias attitudes clássicas de cangaceiro emérito”.

Sobrado onde Lampião esteve hospedado no Juazeiro do Norte

A estada em Juazeiro teria servido para refinar a imagem do cangaceiro, pois ele conhecera o sabor da fama, estivera em contato direto com o povo, com fotógrafos, com jornalistas e autoridades. Depois de 1926, Lampião cuidaria dos pormenores cenográficos de sua aparência, estilizando a indumentária com chapéus de couro decorados com medalhas, correias recobertas com peças de ouro, alforjes bordados com requinte, longos punhais. Ao lado do terror como força de imagem pública, a estética do cangaço que o consagrou, fazendo-se reconhecer ao público. 

http://www.revistafenix.pro.br/PDF13/DOSSIE_%20ARTIGO_13-Marcos_Edilson_de_Araujo_Clemente.pdf 
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O TOK DE HISTÓRIA ESTÁ NO FACEBOOK!

Por Rostand Medeiros
 
Recentemente o professor do Instituto de Ciências Matemáticas e de Compuração (ICMC) da Universidade de São Paulo (USP), José Fernando Rodrigues Jr., fez o seguinte comentário “O Facebook é atemporal. Antigamente, se uma notícia fosse veiculada, por rádio ou TV, e não fosse assistida, era difícil conseguir acesso àquela informação, já nas redes sociais as informações ficam disponibilizadas por tempo indefinido e, inclusive, podem ser contextualizadas em momentos temporais específicos, pois elas, de maneira mais organizada que a Internet em geral, oferecem a linha do tempo no perfil de seus usuários, onde cada informação tem um momento no tempo”.

Seguindo este pensamento agora o Tok de História também está no Facebook!

O canal interativo de postagem de informações vai contar as publicações do nosso blog, onde você também poderá curtir e comentar publicações, tirar dúvidas e enviar sugestões.

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Rostand Medeiros é historiógrafo e pesquisador do cangaço

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Patos e a Revolução de 1912


Com relação a esse movimento existem discordâncias entre historiadores sobre os verdadeiros heróis e bandidos. Sabe-se que o Presidente Hermes da Fonseca insuflava as “derrubadas” e Pernambuco como o Ceará, havia caído ou estavam prestes a isso. O Coronel Rego Barros foi a Taperoá prometendo apoio maciço do Exército e se forma o complot com Augusto Santa Cruz e Franklin Dantas no centro, a família de Valdivino Lobo no Oeste e Cunha Lima no Brejo. Os últimos falharam cientes, talvez, de que Epitácio Pessoa havia conseguido do mandatário maior a desautorização do militar.

Em 24 de maio de 1912, a cidade de Patos foi invadida, às 02:00 horas da tarde, por um bando indisciplinado de 496 cabras armados, a serviço de Franklin Dantas e Augusto Santa Cruz, adeptos da candidatura do Coronel Rego Barros ao Governo do Estado. De todos os atos praticados pelos revolucionários paraibanos esse foi o mais grave, uma vez que além de atacar o comércio os invasores roubaram dinheiro e jóias. Lojas foram saqueadas, os instrumentos da banda destruídos, os fios do telégrafo cortados. Apenas 16 soldados, comandados pelo Alferes Ramalho, se encontravam no local, os quais fugiram amedrontados com o contingente de malfeitores, fortemente armados.

Augusto Santa Cruz

A única reação esboçada contra os revoltosos ocorreu na torre da Igreja da Conceição, sustentada por Dedé César, Heráclito Porto, José Alcides Ribeiro, Chico Pintor e Manoel Tauá. Saíram tiros, ainda, da casa do Coronel Miguel Sátyro, dados pelo cabo José Batista, Alexandre Enéas e o sargento Quininho. 

Os saques, os roubos e as depredações ficaram a cargo do Negro Vicente, Júlio Salgado e outros. Um dos mais prejudicados no episódio foi o comerciante José Jerônimo de Barros Ribeiro. Algumas residências foram obrigadas a abrigar muitos dos revolucionários e ao deixar a cidade, em 12 de junho, os cabras deram banho em seus cavalos com perfumes importados roubados das prateleiras dos estabelecimentos comerciais 

Esse movimento provocou várias discordâncias entre dois historiadores: Nelson Lustosa Cabral que taxou os seus integrantes de criminosos no livro “Paisagens Sertanejas”, e José Permínio na publicação “Retalhos do Sertão”, que através de crítica contundente, inverteu os escritos do conterrâneo, atribuindo assassinatos e destruições a acerto de contas em fatos paralelos: “Era recente o crime de morte praticado por Meirinha, neto de Roldão Meira e José Jerônimo de Barros Ribeiro, contra José Paulo, membro da família Montenegro. Os irmãos da vítima, inconformados com o crime sem punição, vinham no grupo e arrombaram a casa comercial do avô do assassino que não foi executado inapelavelmente por não estar presente. Já a casa de molhados, pertencente a Josias Álvares da Nóbrega, foi danificada pelo seu inimigo, Joaquim Monteiro. Quanto ao estabelecimento de massas alimentícias do seu saudoso pai, de nada me lembro; é possível tenha razão o ilustre escritor, mesmo porque, não era brincadeira arranjar ração para quatrocentos homens, e as bolachas do Major Xixi eram tão gostosas...”. 

Patos no estado da Paraíba

No intensivo tiroteio o velho Francisco Caetano amarrou um pano branco na haste do seu guarda-sol, aberto em frente às balas, com a calma e tranquilidade que sempre lhe fora peculiar. Desceu a Praça da Igreja Velha e foi ao encontro do Dr.Franklin Dantas, seu amigo, que se encontrava próximo ao rio Espinharas e intercedeu pela cidade e os rapazes cercados na torre, ainda resistindo, sendo atendido com a ordem de cessar fogo e reconhecido como o grande herói da luta.

Dizendo-se admirado com o comportamento ordeiro dos mais de 400 homens, sem nenhuma disciplina militar ou qualquer preparo bélico, intitulando-os de revolucionários ao invés de bandidos e citando entre mortos e feridos apenas um Jerico, o escritor José Permínio Wanderley, não conseguiu esconder sua indignação e revolta em meio ao comportamento de Nelson Lustosa Cabral, lhe dirigindo as seguintes indagações: “Por que o memorialista, tão candente e fantasioso na exposição dos fatos atinentes à revolta de 12, com sua dialética possante, sua inteligência privilegiada, sua memória feliz, não profligou os desmandos, as perseguições, o terror mesmo, implantados em nossa terra pelo então capitão Augusto Lima e sua volante? Por ventura não se lembrou da prisão absurda do Tenente Leôncio Wanderley, homem inofensivo, às caladas da noite, na fazenda de seu venerando pai, só pelo crime absurdo de ser cunhado do Dr. Franklin Dantas? E a perseguição pertinaz ao velho Miro Dantas, filho do primeiro prefeito de Patos, homeopata caridoso e manso, culminando com o suplício incrível de um agregado impelido a comer cigarros de fumo bruto, tudo pelo nefando crime de ser Mira membro da família Dantas? E as surras diárias por qualquer bagatela? E o assassinato frio, desumano, dentro da cidade, do mestre Felinto? E a prisão e sevícias de Francisco Queiroz?” 
 

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