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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

O Fogo de Favella - Pery-Pery, em Juazeiro

Por Rubens Antonio



5 de abril de 1930, no “A Tarde”: 

O combate de Favella narrado pelo commandante da força que destroçou os bandidos.

A emboscada na escuridão da noite - A força responde corajosamente ao fogo - Retiram-se os bandidos sob a pressão da policia.

O famigerado bandido que ha tres annos assola os sertões nordestinos, usando uma velha tactica, caiu na caatinga onde a perseguição é praticamente impossivel.

Damos hoje, como materia muito interessante, a “parte do combate” do tenente Odonel ao coronel Terencio Dourado, commandante das forças em operações, sobre o encontro de Favella.

“Tinha Lampeão desapparecido nas proximidades do Estado de Sergipe, na fazenda Riachão, no dia 27 de dezembro do anno passado. Os destacamentos volantes procurando descobrir o esconderijo, cruzavam as caatingas em differentes direcções, empregando o esforço possivel para não deixal-o escapar.

Por ordem do capitão macêdo, havia eu ido bater nas caatingas de Fonseca, Vacca Branca, Estreito, Lagoinha, Umbuzeiro, Tameberi, Sítio dos Ferreiras, Montanha, Canna Bravinha, Almeida e Borracha, o que fiz sem resultado, visto não ter encontrado vestigio algum dos bandidos.

A 23 d’este, estando eu na Fazenda São Gonçalo, onde havia chegado em noite de 22, recebi uma ligação do sargento Bitú, que se achava destacado em Patamuté, avisando-me de que Lampeão havia surgido na Fazenda Boa Sorte. Mandei incontinente pegar a cavalhada, fiz a ligação com Barro Vermelho e marchei para Juá, contornando a serra da Borracha, pelo lado Oeste por ser velha estrada dos bandidos, e ao chegar na Fazendo Olympio, fui informado de que Lampeão com quatorze caibras alli tinha passado todos a cavallo, ás 10 horas da manhã.

Sem perda de tempo viajei na pista, indo perdel-a ao anoitecer na Fazenda Icó, onde elles deixando a estrada se infiltraram na caatinga afim de difficultar a perseguição.

Bastante desorientado por ter perdido a direcção delles, segui para Cacimba da Torre, onde cheguei muito tarde sem noticia alguma, rasão porque alli pernoitei de 23 para 24.

No dia seguinte (24) procurando descobrir novamente a pista segui para Salta de Pedra, São José e Paredão onde felizmente elles tinham passado ao amanhecer do dia.

Mais animado então por ter encontrado a pista, marchei para Lealdade, Sítio, Caldeirão da Canôa, Caldeirão de Cima e Campos, fazendo n’este ponto pequenoe stacionamento ás 18 horas afim de descançar um pouco a cavalhada, que estava exhauta e faminta.

Depois de uma hora de descanço proseguiu viagem, forçado a marcha um pouco, depois de ter passado pelas Fazendas Mudubim e Boqueirão, onde Lampeão havia pegado o estafeta e queimado a mala, alcancei ás 24 horas a Fazenda Periperi, que dista da cidade de Joazeiro 15 kilometros, onde fui informado pelo sr. Severiano de Tal, que Lampeão alli tinha chegado ás 18 horas, feito quatro cartas aos srs. cel. Miguel Cerqueira, dr. Adolpho Vianna, cel. Ignacio Macêdo e cel. João Evangelista exigindo dinheiro, e viajado ás 20 horas para a Fazenda Favella de onde mandou buscar um cantil de cachaça e uma corrente de ouro, que por esquecimento tinha deixado.

Immediatamente, mandei deitar a cavalhada no pasto, reuni os destacamento, n’este momento já desfalcado devido terem se atrazado cinco soldados que viajavam á pe, procurei um rapaz para me servir de guia, e aos 15 ou 20 minutos do dia 25 viajei para a Favella que dista de Periperi tres kilometros.

O meu destacamento então composto por dezenove homens commigo, bem escalonado viajava, guardando profundo silencio.

Depois de uns trinta minutos de viajem o guia avizou-me de que nós nos aproximavamos de Favella, e tira uma camisa que usava afim de se confundir com a escuridão da noite. Estavamos effectivamente sahindo da referida Fazenda.

O sentinella dos bandidos percebendo a approximação da força faz fogo a curta distancia.

Tinhamos cahido, portanto, na emboscada que elles haviam preparado afim de aguardar o regresso do portador que tinha ido a Joazeiro ou a chegada de qualquer força, exactamente o que aconteceu.

O sargento Adherbal com alguns soldados heroicamente respondem o fogo no flanco esquerdo, emquanto eu procurei desalojar alguns bandidos que estavam no flanco direito, o que não me foi muito difficil visto, n’este interim, ter irrompido forte tiroteio quasi a retaguarda dos bandidos que todavia foi de um effeito extraordinario, não obstante ser um pouco affastado do local.

Era o tenente João Candido que neste momento tão critico, mesmo ignorando a minha presença, como eu a delle, me soccorria, pois os bandidos que brigavam no flanco direito passaram logo para oe squerdo e quasi por cima d emim. No momento em que elles procuravam reunir-se aos demais asseclas, ouvi alguem me chamar, não tendo, entretanto, respondido devido achar-me n’uma posição difficil. Era o bravo e abnegado soldado Israel Martins Benicio quem me chamava por ter de se retirar da lucta com alguns companheiros conduzindo o sargento Adherbal, que se achava gravemente ferido, e não queriam me deixar. Os bandidos já reunidos e entrincheirados n’uma parede de Pedra, no flanco esquerdo continuavam brigando, deixando de quando em quando ouvir gritos e improperios. Passei, então, para o flanco esquerdo onde encontrei brigando, desassombradamente, alguns contractados; entretanto os bandidos percebendo que a acção dos atacantes tomava certa tenacidade fugiram para o Serrote chamado da Favella, terminando assim o combate que talvez não tivesse durado vinte minutos. Tudo ficou envolto em profundo silencio.

Demorei-me um pouco no local, e como não visse pessôa alguma, encaminhei-me para meu acampamento em Periperi, cuja direcção ignorava visto ter luctado em differentes posições.

Viajei com a presumpção de que fosse effectivamente para lá, o que verifiquei momentos depois não ser verdade devido a dois bandidos terem me chamado:

- “Companheiro espere ahí”

Deitei-me e esperei julgando mesmo que fossem soldados, quando ao clarão do relampago divulguei pelos chapeus que não eram soldados fiz fogo.

Travamos ali ligeira escaramuça e elles espavoridos fugiram. Mas orientado por saber a direcção dos bandidos, viajei, alcançando o acampamento ás duas horas da manhã, onde já encontrei feridos gravemente o sargento Adherbal de Medeiros Borges e o contractado José Domingos dos Santos, este com dois tiros e tendo o seu fuzil inutilizado por balas.

Ao chegar, o soldado Israel me disse já ter feito uma ligação para Joazeiro pedindo medicamentos para os feridos e mandando dizer que eu não tinha apparecido até então, julgando-me morto, talvez. Ao amanhecer do dia, após o combate de onde coletaram trasendo-me um lenço perfumado, côr de rosa, dois canecos de flandres e uma lata, systema cantil, deixados pelos bandidos.

Terminando devo dizer-vos que o sargento Adherbal portou-se como todo e qualquer militar deve portar-se, isto é, com bravura, sangue frio e dedicação ao lado dos seus companheiros e da ordem. Ainda são dignos de vossa atenção o soldado Israel Benicio, e os contractados Jacintho Porphirio da Cruz, Antonio Francisco de Moraes, José Domingos dos Santos e Francisco Lopes, já pela bravura demonstrada na peleja, já pela abnegação pura que tiveram como o sargento Adherbal. Cidade de Bomfim, 30 de Março de 1930.

a) 2° Tenente ODONEL FRANCISCO DA SILVA, commandante do destacamento volante.”


Localização das fazendas e área provável de dispersão do combate.

Feridos no combate: 3° sargento Adherbal de Medeiros Borges e soldados Calixto Eleuterio e José Domingos dos Santos.




29 de março de 1930, no “Boletim Geral Ostensivo da Força Publica do Estado da Bahia”:

EXCLUSÃO POR FALLECIMENTO E PROMOÇÃO POST-MORTEM

Por ter fallecido, na madrugada de hoje, no H/F., em consequencia dos ferimentos recebidos em combate contra o grupo “Lampeão”, seja excluido do 2° Btl. o cabo d’esq. Calixto Eleuterio.

Considerando que o mesmo foi um valente que tinha a noção exacta do seu dever e soube cumpril-o, promovo-o ao posto de 3° sargento post-mortem.

12 de abril de 1930, no “Boletim Geral Ostensivo da Força Publica do Estado da Bahia”:

ELOGIO – PROMOÇÃO

Tendo no dia 25 do mes proximo findo o Snr. 2° Tenente Odonel Francisco da Silva, commandando um destacamento volante, dado, no municipio de Joaseiro, na fazenda Favella, um combate contra grupo de bandidos chefiados por Lampeão, verifica-se da parte do combate que o referido official lançou-se no encalço do referido grupo com verdadeira persistencia e tenacidade, como patentemente fica provado pela hora em que se deu o combate, isto é, aos 15 ou 20 minutos daquelle dia, e ainda mais qu soube se conduzir no combate com sangue frio e coragem.

Elogio, portanto, o Snr. 2° Tenente Odonel Francisco da Silva e os soldados Israel Martins Benicio, Jacintho Porphyrio da Cruz, Antonio Francisco de Moraes e Francisco Lopes, que mais se distinguiram no combate.

Promovo ao posto de cabo d’esquadra o soldado Israel Martins Benicio, não só por ser bravo como tambem pelo espirito de iniciativa que revelou.

Enviado pelo professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio


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O Lobisomem e o coiteiro de Lampião

Por: Jairo Luis


Entremontes

Pedro Rodrigues Rosa, conhecido por Pedro de Cândido, era uma figura bastante conhecida  quando o Capitão Virgolino Ferreira  andava pela região do Baixo São Francisco  nos anos de 1930 quando se conheceram  por intermédio da famosa família Félix da cidade de Poço Redondo.

Pedro de Cândido era irmão de Augusta casada com Júlio Félix, um dos coiteiros de maior confiança de Lampião na região, daí  surgiu uma relação de negócios que aos poucos se transformou em grande amizade entre o  capitão cangaceiro e o fazendeiro coiteiro oriundo do belo povoado de Entremontes, localizado ás margens do rio São Francisco.

Pedro Barbosa, Sonia Jaqueline e Manoel Severo na fazenda Remanso

Manoel Severo e Jairo Luiz em Piranhas 

Por ironia do destino coube a Pedro de Cândido juntamente com seu irmão mais novo, Durval, levar as forças policiais até a Grota de Angico no fatídico dia 28 de julho de 1938, no que culminou na morte de Lampião, Maria Bonita e mais nove cangaceiros além do bravo soldado Adrião Pedro de Souza. Após a morte de Lampião, o ex-coiteiro Pedro de Cândido assumiu o posto de subdelegado de Piranhas destacando no Distrito de Entremontes  substituindo  o seu irmão José Rodrigues Rosa  conhecido por Zezé de Cândido.

Exatamente no dia 22 de agosto de 1941  após  uma noite de farra no Centro Histórico de Piranhas,  Pedro de  Cândido decide  visitar uma amante na localidade conhecida como Canto situada próxima a vila de pescadores, corria um boato que um lobisomem estava a aterrorizar  a cidade e todos moradores estavam com muito medo da fera enigmática e até então invencível. 


Mas naquela noite de sexta-feira, 22 de agosto de 1941, um jovem de nome Sabino decidiu após uma conversa com amigos que estavam em um bar que acabaria de vez com o lobisomem, o encontro entre o jovem piranhense e  o lobisomem  se deu as escuras  na localidade Canto, com apenas um golpe fatal no peito da fera o jovem Sabino  o matou e saiu correndo gritando para todos “ Matei o lobisomem, matei lobisomem !!!”.

Todos moradores apavorados e bastante curiosos saíram  de suas casas  para ver logo o fato ocorrido, coube ao telegrafista da Rede Ferroviária, Sr. Waldemar Damasceno , pegar uma lanterna e revelar a verdadeira identidade do terrível lobisomem  para todos ali presentes, para surpresa geral o lobisomem revelado ali era o famoso coiteiro Pedro de Cândido.

Envolto numa capa preta de tecido jazia o corpo de um dos homens que levou para o túmulo um dos maiores segredos da história,  a morte de Lampião.

Jairo Luiz Oliveira - Turismólogo, Pesquisador, Escritor
Conselheiro Cariri Cangaço
Idealizador da Rota do Cangaço
Piranhas / Alagoas

http://cariricangaco.blogspot.com.br
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