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terça-feira, 19 de novembro de 2013

AMANHÃ TEM FESTA

Por Clerisvaldo B. Chagas, 19 de novembro de 2013. - Crônica Nº 1089


O nome do padre Cícero Romão Batista, continua no imaginário e na alma do povo nordestino, muito mais forte do que na época da sua presença na terra. Devoto fervoroso do sacerdote a quem chamo “meu amiguinho”, propus a mim mesmo escrever apenas cem milagres inéditos a ele atribuídos, documentados com pessoas idôneas que alcançaram graças. Suas inúmeras intervenções na minha vida levaram-me, espontaneamente, à cata desses milagres, aqui mesmo em Santana do Ipanema. Com cinco livros na fila de publicações, resolvi também sentir o prazer das pessoas em narrar seus acontecimentos perante o homem do Cariri.


Saio procurando as casas indicadas por outros devotos, realizo entrevistas emocionantes com todos os que se prestam à narração de fatos pessoais atribulados com desfechos deslumbrantes no evocar do filho de Joaquim Romão Batista e de Joaquina Vicência Romana, dona Quinô.

Não tenho data certa para terminar o meu gratificante trabalho, nem para lançar ao público o livro “100 Milagres do Padre Cícero”, inéditos. Vou colhendo devagar através de vibratórias informações, os depoimentos de sinceridade e fé. Impressionante como as pessoas ficam felizes com a minha presença ao narrarem os grandes momentos de sofrimentos e dores. Alguns choram emocionados quando as lembranças medram forte na memória boa. Mas, impressionante também é a felicidade que toma conta do meu interior, ao deixar cada residência com os meus escritos devidamente documentados. O livro que está sendo elaborado, narra cada milagre em uma página, recebendo a devida numeração identificativa. Como essa crônica foi sugerida pelo próprio, assim será definido o lançamento da obra. 

Enquanto isso vai continuando o meu trabalho, possuindo quase um quarto da meta dos cem. Tenho algumas pessoas indicadas para visitas e que elas sempre indicam outras, num trabalho contínuo que apenas exige tempo de quem pesquisa. Portanto, se o leitor tiver alguma graça alcançada através do padre Cícero do Juazeiro e quiser participar desse documentário, é só nos procurar à noite em nosso lugar de trabalho e marcarmos um lugar para colher as informações ou acertar com a nossa residência próxima ao Posto de Saúde São José, perto da Escola Professora Helena Braga das Chagas, Bairro Camoxinga.

Repasso o convite a todos para a grande festa no município de Dois Riachos, na Pedra do Padre Cícero, às margens da BR-316, amanhã, dia 20. Para que esquecer? AMANHÃ TEM FESTA. 

http://clerisvaldobchagas.blogspot.com.br/2013/11/amanha-tem-festa.html

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Carlos Borges de Medeiros



CENTENÁRIO

O homenageado hoje é CARLOS BORGES DE MEDEIROS, ícone da educação do Estado do Rio Grande do Norte. Foi secretário de Estado da Educação (1956/1961), professor, escritor, cirurgião-dentista pela UFPE,  advogado pela UFRN, concluindo o curso de direito com o genro, Jussier Santos na “Turma Liberdade” em 1967. Destacou-se também na política, tendo sido vereador e deputado estadual por dois mandatos. Da sua união com Isaura Marques de Medeiros,”in memoriam”, nasceram quatro filhas: Carmem, Walkíria, Iracema e Marília que geraram treze netos, e dezesseis bisnetos.

HISTÓRICO

CARLOS BORGES DE MEDEIROS nasceu em Mossoró-RN, no dia 15 de outubro de 1913, se estivesse vivo teria completado ontem, cem anos de vida. Era o primogênito do casal Antonio Epaminondas de Medeiros e Maria Borges de Medeiros que geraram também, Albecir “in memoriam”, Maria Consuelo, Ivone e Murilo Borges de Medeiros.

Iniciou a vida profissional como cirurgião-dentista em Recife, e por solicitação de seus pais retornou à Mossoró, para juntos trabalharem pela sobrevivência da família, exercendo a sua profissão em clínica particular durante dezesseis anos e catorze anos, em Natal como titular da Clínica Odontológica do Departamento Nacional de Portos e Vias Navegáveis. Metódico, responsável e ético, foi indicado para compor uma Comissão Examinadora para a seleção de novos profissionais para esta autarquia.

Foi nomeado pelo governo do estado, Professor de Ciências Naturais da Escola Normal de Mossoró e Escola Técnica de Comércio União Caixeiral, ministrando aulas por 30 anos. Também foi professor e diretor dos Colégios em Mossoró: Escola Normal, Escola Técnica de Comércio, Colégio Diocesano Santa Luzia e Sagrado Coração de Maria.

Em Natal lecionou nos estabelecimentos: Colégio Visconde de Cairu, Ateneu, Colégio Imaculada Conceição, Instituto Maria Auxiliadora e Escola Técnica de Comércio.

No Salão Nobre do Instituto Geográfico do RN, recebeu o título de Sócio Efetivo no dia 12 de julho de 1978. Foi Membro da Academia Norte Riograndense de Odontologia (sua foto expressa a felicidade desse momento) e da Academia Mossoroense de Letras, além de sócio Fundador da 1ª fase da União Brasileira de Escritores do RN (UBE/RN).

Foi secretário de Estado da Educação (1956/1961) e na política, foi Vereador e Deputado Estadual por dois mandatos.

Foi autor dos livros: O Tempo como Testemunha, volume 1 e 2; Textos de História para Estudantes de Colégios e 90 Anos ( autobiografia ).
*Retrospectiva das suas atuações e obras literárias

COMO PROFESSOR

Papai exerceu o exercício do magistério durante 30 anos com amor e dedicação, a muitas gerações de Mossoró e Natal. Com o seu notório saber,  contribuiu para a formação de profissionais, nas mais distintas áreas. Ainda hoje, somos abordadas, com elogiosas palavras pelos ensinamentos adquiridos, nos bancos das escolas, nas quais nosso pai ensinou, são professores, políticos, ministros de Estado, médicos, dentistas, farmacêuticos, bancários, jornalistas, dentre outros.

Em 1958, teve o reconhecimento pela contribuição no aperfeiçoamento como educador de adultos, no II Congresso Nacional de Educação de Adultos no Brasil, realizado no Rio de Janeiro.

COMO ESCRITOR

Carlos Borges, não intitulou seu livro-ensaio, memória, história, autobiografia, embora que de tudo exista um pouco no corpo do livro. Ao invés disso, preferiu dar-lhe o título exato e breve: “O Tempo como Testemunha”. Sim, testemunha de tudo quanto ocorreu ao longo de quase um século, em que, não só o Tempo, mas por ser testemunha dos fatos e acontecimentos, não presenciado inerme e estálico mas agindo e reagindo, dentro de sua perspectiva e do seu temperamento.

A decisão em publicar este livro, representou uma homenagem, à sua querida Isaura, companheira fiel e inseparável de todo um longo percurso já encaminhado, principalmente nos momentos de alegrias e nas vicissitudes que foram tantas, tão grandes, tão sacrificadas e tão abrangentes; às suas filhas, ao tempo das angústias e ansiedades sentidas que passaram, em circunstâncias várias, que afetaram ou atingiram aos que arcaram, com dificuldades, das responsabilidades ou ônus da militância política, da qual participou por longos anos.

Essa sua primeira obra, foi editada em dois volumes, no ano de 1980. Quando se reportava as mesmas, costumava dizer:- “Que o futuro não esqueça o trabalho que se faz no presente, como esquecido está o trabalho que se fez no passado.”

O segundo livro, Textos da História, foi escrito no ano de 1993, no qual  fez a seguinte dedicatória: “Para a minha esposa Isaura, amiga inseparável e solidária a toda hora, admiro-a no amor e na dedicação a família. As minhas filhas, genros, netos e bisneto, sempre comigo num dia a dia constante, o meu carinho, o meu amor e a minha afeição”.

Aos seus netos, a sua leitura mostrará, no futuro, a representação verídica de um trabalho que foi confiado em ocasiões diversas da sua vida.
A sua longa vivencia no magistério estadual, aguçou-lhe a escrever este livro, com cuidado e a melhor boa vontade de servir ao estudante. Não o escreveu para professores e sim para alunos do ensino médio, com o desejo de ajudá-los, mais uma vez, na busca de subsídios para o seu aprimoramento cultural.

Estas obras, com muito carinho escritas pelo grande homem que foi (inteligente, culto, de grande sabedoria), foram doadas a Biblioteca Pública de Lisboa, Portugal, levadas pessoalmente por sua filha Carmen e seu esposo Jussier Santos, fazendo hoje, parte do seu acervo. Este fato proporcionou, grande alegria ao receber os agradecimentos da biblioteca portuguesa, registrando os volumes ofertados.

NA POLÍTICA

Numa dessas veredas da vida que dirigiam e se estendiam para as mais diferentes direções, nosso pai militou na política durante 15 anos, ocupando cargos e exercendo funções que lhe proporcionaram posições e largos relacionamentos nos meios políticos e sociais.

Foi Vereador à Câmara Municipal de Mossoró, em 1946, pela legenda UDN. Foram passos de uma carreira política, em gestação, tentando se inteirar dos problemas mais necessários e reivindicados.

Como Deputado, em duas legislaturas, pela mesma legenda partidária, 50/54 e 58/62, procurou sempre integrar e conhecer mais de perto os meandros ou o serpear da problemática política, a confiança e a esperança dos que votaram e nele acreditaram.

Nosso pai também teve durante o seu mandato como deputado estadual, importante influencia, na conclusão da construção da BR 405 que liga Mossoró a Luiz Gomes, no alto do oeste potiguar. Ele considerava como o seu maior trabalho exercido, pelo fato dessas obras estarem paralisadas, sendo o seu empenho alcançado, junto ao DNOCS e Ministério da Viação e Obras Públicas. Segundo ele, este trabalho tão persistente, tão perseverante, valeu o seu mandato.

Papai também tinha o dom da oratória, e a todos impressionava com os seus discursos, geralmente de improviso, em ocasiões tais como: durante o sepultamento do Governador Dix-sept Rosado, nas campanhas políticas para vereador e deputado, na posse do Bispo de Mossoró Dom Eliseu Simões e em tantos outros inteligentes pronunciamentos.

NA FAMÍLIA

Nosso pai chegou aos noventa anos, sempre na companhia da sua família que o cercava com carinho, amor e cuidados. No dia de seu aniversário de 90 anos, em 15/10/2003, foi organizado um almoço festivo no “Versailles Recepções”, de propriedade de sua filha Marília e seu genro, Ronaldo Melo. Uma festa linda e inesquecível!

Ele muito feliz, ao receber os seus queridos familiares e amigos. O seu discurso foi entretanto, um resumo de sua vida, com prenúncios de despedida como se vê nas citações abaixo:

Aos convidados presentes, ele dedicou a sua autobiografia “90 Anos”. Papai inicia a sua retrospectiva com o agradecimento: “Uma dádiva de Deus chegar a esta idade” – Já sinto os sintomas da velhice: apatia, indolência, falta de energia, impassividade, ociosidade e estafa. Sempre estivemos conscientes das nossas limitações. Educamos nossas filhas nos melhores colégios, demos assistência, desvelo e carinho. Hoje, vivem felizes. Isso, vale tudo para mim, neste resto de vida que Deus dá”.

Sempre afirmava que na família, a mãe participa com 60% na convivência, na educação da familiaridade e no trato diário com os filhos. Ao Pai cabe 15%; a escola, 10%. O restante distribui-se pela TV, rádio, amigos, cinema e leitura.

Declarava sempre que:- “na nossa casa, graças a Deus, reina uma luz permanente e um clarão perseverante. Ali desabrochou o sentimento da criança até alcançar a adolescência. Como é melancólico, a família que não conversa com cordialidade”.

Expressava sempre que: -“a minha Família, é um pedaço da minha vida, me acompanha e me assiste a todo instante. Não sei o que seria de mim se não tivesse uma família amiga e compreensiva, solidária e carinhosa; unida, afável, gentil, cortes, agradável e aprazível. Isaura, filhas, genros, netos e bisnetos formam um conjunto comunicativo, harmonioso e humano. Vejo-os todos os dias, alegra-me sua presença. A intimidade do lar não depende do conforto, mas sim da certeza de ser amado. É o que existe entre nós.

Esses lindos depoimentos, nos faz sentir confortadas e amadas, pelo que representamos na vida do nosso pai.

Papai, você sempre foi respeitado e amado. Os seus conselhos ainda são lembrados e nos fazem muita falta. Que Deus abençoe o seu Espírito, dando-lhe muita Paz e Luz.

Nosso pai ficou viúvo em 2004 e dois anos após, faleceu no Hospital São Lucas, com a assistência de todas nós, ao seu leito, deixando uma saudade enorme em nossos corações.
*Suas filhas:
Carmen, Walkíria, Iracema e Marília

Fonte: http://jornaldehoje.com.br/author/erika-nesi/ de 17/10/2013

Enviado pelo pesquisador José Edilson de Albuquerque Quimarães Segundo

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OBRA DE ADRIANO MARCENA GANHA BLOG DE ALUNOS DA UFPE


 OBRA DE ADRIANO MARCENA GANHA BLOG DE ALUNOS DA UFPE 


Enviado pelo o escritor Adriano Marcena

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O deleite de Volta Seca - O Pasquim encosta na parede O "Jésse James" do nordeste - Parte VIII



Ziraldo - A batalha da Serra Grande, por exemplo, que tinha 600 contra 90, como foi?
– Não, ali, num tinha 90, não. Nós tinha 39 homens.


Jaguar - E do outro lado?
- 600 e lá vai fumaça.


Ziraldo - Então, conta o episódio desde o começo.
- De manhã, nós saímos do Serrote Pelado, cedinho. Aí descemos e tal, e ele disse: "Olha, vamos descer, vamos pra aquela fazenda e na fazenda nós vamos tomar um leite de manhã e vamos subir pra serra, vamos descansar na serra". Na serra tem um caldeirão de água, por baixo não tem nada, uma seca danada mesmo. Aí nós fomos. Quando nós chegamos em baixo, na fazenda, tomamos leite, botamos queijo dentro do embornais e toda essa coisa. E se municiamos, né? Aí, saímos justamente pra serra. A serra tem uma entrada que entra e tem outra que sai.


Ziraldo - Era tudo a pé, ou a cavalo?
- A pé.

 
Ziraldo - O bando não andava a cavalo, não, né?
- Andava, andava a cavalo, andava de carro, andava de tudo. Mas tinha estrada que não podia andar.


Millôr - De carro o que é que você chama, carro de bois ou automóvel?
- Não, é automóvel. Aí, quando chegamos embaixo eles apontaram. Aí ele disse: "Olha, já vem eles lá". Aí eles vinham de lá pra cá, e nós seguimos justamente pra serra.


Jaguar– Eles vinham a pé também?
– A pé também. Aí, quando nós subimos na Serra a serra ê um beco apertado pra subir, e descer é do outro lado. Ele subiu, mandou um outro bocado pra outra bocona, essa era enorme. Aí, lá em cima, ele disse: "Bom, agora vai dez homens pra lá e fica o resto tudo aqui, e um bocado, vai lá em cima na serra, mata um boi e vai cuidando de comida, que nós vamos esperar eles subirem". Nós à vontade, só esperando eles botarem a cara pra subir. Quando eles subiram, ele disse: .'Deixa eles chegarem bem pertinho, num começa a atirar, não. Deixa eles vim mesmo, deixa eles encostarem mesmo na medida, que aí, não tem saída pra eles mesmo." Aí, quando eles subiram, que vinha aquela linha toda, ele disse: "Agora!" Aí, botamos: pou, pou, pou. Eles também: pou, pou, pou! Ora, mas pra quem tava atirando lá do meio dos infernos, parece que a bala lá até pro céu, só pra zuada mesmo, mais nada.


Ziraldo - Vocês tavam em cima e eles embaixo...
- Nós tamos em cima, só tome. Ai, era nego caindo só. Quando foi mais ou menos uma três horas da tarde, eles já tavam se entregando. Umas três horas mais ou menos de fogo cerrado mesmo. Eles começaram a se entregar um por um. Ele só fazia perguntar: "Tá com fome? Tá com sede? Então vai lá, come e bebe água". Ai, ele chegava iá: "Como é, já comeram, já beberam água"? E eles falava,: "Ah, sô capitão, vou com o senhor"! Ele dizia: "Não, eu num quero que vocês vão comigo, não. Eu quero que vocês, vão pra outro canto". E aí, matava mesmo. Tudo que chegasse era pegar e matar.


Ziraldo - Dava comida, dava bebida e matava!
- Dava comida e dava água. Dizia ele que era pra num morrer com sede.

Jaguar - Num teve caso de um macaco passar pro bando; não? Nunca?
- Não.


Jaguar - Nesse dia vocês fuzilaram quantos? Quantas baixas?
- Bom, eu acho que Iá acabaram tudo. Mas saiu um sargento com um tenente - o Manoel Bento(Benício)- que, aliás, foi um homem que lutou muito mesmo contra Lampião. Tanto, que ele falou que foi a maior covardia do Bezerra fazer o que fez com o Lampião. Lampião era homem pra morrer brigando no campo, lutando. Aí é que era bacana mesmo. Mas a covardia que eles fizeram... Então, aconteceu Isso tudo.

 

Ziraldo - Quem enterrava esses homens mortos em combate? Deixava tudo morto lá?
- Ficava lá, uai!

 

Millôr - O número de baixas...
- Bom, escapou muito pouco.

 

Ziraldo - Cê acha que morreram uns duzentos?
- Morreu mais.

 

Ziraldo - E do bando, morreu algum?
- Nem arranhão.

 

Jaguar - Você nunca foi ferido, não?
- Já, já.

 

Millôr - Essa batalha é mais uma demonstração do temperamento pacífico do povo brasileiro...
 

...Jaguar - E como foi o seu ferimento?
- Foi em batalha. Mas essa foi de noite. Nós tava dormindo quando eles atacaram. Eu levantei, chovendo muito, de noite, ninguém via nada. Só via chuva relâmpago e mais nada. Aí, a gente olhava eles assim... 

 

Sérgio Cabral - Vocês estavam dormindo ao relento, ou debaixo de uma pedra?
- Nós tava no relento, Quer dizer, o Lampião mesmo tava dentro de casa, na fazenda. Mas os outros mesmo é que não quiseram. Eu mesmo, nunca gostei disso não. Nunca gostei de dar sopa assim não.

 

Sérgio Cabral - Você dormia, mesmo com chuva e tudo?
- Com chuva, mas a chuva começou depois, quando começou o tiroteio. Eles cercaram a casa...

 

Aparício - Isso foi onde?
- Foi em Santa Rosa, Bahia. Todo esse negócio foi lá na Bahia. Só a de Serra Grande é que foi lá pro Pernambuco. Mas o resto foi tudo em Bahia, Bahia foi que mais teve esse negócio. Aliás, eu vou dizer uma coisa. Olha, o medo faz coisa, o medo faz tudo. As vezes, o camarada na cadeia dele, cheia de presos, e gente que diz: "Bom, fulano é um criminoso bárbaro". Mas num é. É porque, justamente, um homem forte, que eu tô vendo que não vou ganhar nas mãos, que é que eu vou fazer? Vem em cima. Eu vendo que vou morrer, logo to tirando ele fora do mapa.

 

Ziraldo - Instinto de defesa.
- É uai, eu tenho que me defender: Então, tem isso que eu digo. É por isso que as cadeias tão cheias. Outros não têm quem briga por eles. Vai lá, fica toda vida. Morre lá, porque num tem quem chore por aquela pessoa.

 

Millôr - Volta Seca, você viveu essa vida toda até ser preso. Você foi preso com 14 anos. Naquela época já tinha cinema?
- Mas era mudo.

 

Millôr - Mas você ia ao cinema?
- Ia.

 

Millôr - Mesmo no bando do Lampião você saia?
- Não, não, Bom, nós fomos uma vez, em Capela de Aparatuba. (Japaratuba)

 

Ziraldo - Que filme era?
- Eu num lembro, porque nós chegamos lá de noite e Lampião foi logo cortando os fios do telefone e tudo. E nós fomos assistir o filme. Assistíamos o filme e ficava dois sentinelas na porta, e o resto tava tudo apreciando.

 

Ziraldo - Era bom o filme?
- Ah! Era bom.

 

Ziraldo - O que é que o Lampião fazia, o que é que ele queria, ou ele só fugia da polícia? Ele atacava as fazendas, vingava as coisas que ele queria vingar, ele botava fogo nas fazendas? O que é que o bando fazia quando num tava sendo perseguido pela polícia?
- Tava descansando, brincando, conversando, dançando, fazendo bane. Porque quando nós tava com 90 homens a gente mandava mesmo: "Pode dizer a eles que nós estamos aqui". 

 

Jaguar - Mas baile com quem, só de homens?
- Não, de mulher também. Porque no lugar que nós chegava não corria ninguém. Mas quando dissesse: "A polícia vem aí". Não ficava ninguém do bando. Mas num ficava ninguém mesmo. 

 

Jaguar - Cê tava contando o seu ferimento. Tava dormindo, começou a chuva, vieram atacar...
- Pois é, aí nós começamos a brigar. Mas quando deu noite, a gente só via um quando o relâmpago vinha. Então, foi aí que eu fui baleado.

 

Jaguar - Onde?
- Eu fui baleado aqui no braço.

 

Jaguar - Quase no mesmo lugar da facada, né?...
...Ziraldo - Quem te socorreu foi o próprio pessoal do bando?
- Foi. 

 

Ziraldo - Quem tirou a bala foi Lampião mesmo?
- Foi, foi ele mesmo. Ele tirava com a tesoura.

 

Millôr - Mas esquentava a tesoura?
- Não, nada disso.

 

Millôr - Na raça, né?
- É. Ele ia ali, colocava no buraquinho, triscava. Ia olhando, ia olhando... Quando achava, empurrava mais pra dentro, agarrava e trazia.

 

Aparício - Conta-se também que ele ajudava, muita gente, né?
- O Lampião ajudava multa gente, protegia. O que ele não gostava mesmo era desses, como se diz, caguete. Esses lingudos, tudo que vê, eles querem bater com a língua.
 
CONTINUA...

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