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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Convite


A Paróquia Santuário Santa Rita de Cássia e a Arquidiocese da Paraíba convida o povo em geral para assistirem a missa de ação de graça pela passagem do dia da consciência negra, às 19:00 horas do dia 20 de novembro de 2013 na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, localizada na praça Getúlio. Venha celebrar conosco este ato de fé e solidariedade histórica em nossa terra.

Apoio Cultural:
Rádio Comunitária Educadora FM - 104.9;
COFRAG - COLÉGIO FRANCISCO AGUIAR;
e IESPA/A FACULDADE DO POVO DE SANTA RITA

Francisco de Paula Melo Aguiar - facebook

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CONFERÊNCIA HELENÍSTICA

Por Clerisvaldo B. Chagas, 18 de novembro de 2013. - Crônica Nº 1088



Vivendo na mesma cidade, espiando o mesmo Panema, circundando os mesmos serrotes, fomos pródigos em marcar encontros não realizados. Finalmente na última sexta a Escola Estadual Helena Braga das Chagas, cedeu espaço para três. Marcello Fausto cuida de cangaceiros, Fábio Campos traz reminiscências sob o braço e Clerisvaldo sorri maroto para a excelente reunião. Do novo chapéu mágico de Fábio Campos, brota da carneira seu primeiro livro. Reluz a bela embalagem saída do mundo psicológico do autor e cai nas mãos de Clerisvaldo com mormaço aumentado de autógrafo. Toca-me a homenagem magnífica da capa traseira e da página 74 quando o meu nome ganha o cimo DAS RUAS QUE VÃO, RIO QUE VEM. Vamos reapresentando o passado, focando o presente, bafejando o vidro fosco do futuro. E, novamente a Escola Helena Braga salta à vanguarda no movimento cultural.

Frei Damião,  um personagem do livro Santana do Ipanema, em Cada Canto um Conto.

Colocamos a conversa em dia sob os ruídos da cachoeira literária que nos proporcionou felicidade momentânea e planos futurísticos. Fábio Campos, irmão do meu companheiro de infância Fernando Campos, estreava como poeta em nosso programa Forró da Academia na Rádio Cidade, localizada à Rua Sinhá Rodrigues. Ali estreitamos amizade, quando comecei a acompanhar depois a trajetória do artista ao revelar seu talento para a escrita nos sites da cidade. Logo após, externou seus dotes para o desenho, inspirado nas cavernas guardiãs dos nossos ancestrais. Inclusive, o estilo rupestre adotado por Fábio, marca com realeza a capa do livro da sua estreia no mundo literário.

Ainda é cedo para que eu possa falar informalmente sobre o conteúdo de SANTANA DO IPANEMA, EM CADA CANTO UM CONTO, porém, em breve assim o farei. Diz à prudência que “Sapateiro, não vá além dos sapatos”. A nossa cidade acaba de ser presenteada com essa obra focada em personagens do dia a dia, sobre um passado vitorioso do novo escritor Fábio Campos e mais os toques coloridos da imaginação pródiga que delineia sua alma.

Os muros da Escola Helena Braga, demarcaram a urdidura da trinca para uma ação efetiva pela cultura com os jovens santanenses interessados nas letras. Os três escritores juntos poderão iniciar na próxima sexta, visitas de cortesia ao mundo encantado da Educação. Parabéns, escritor Fábio Campos, pela oferta ao povo alagoano das primeiras águas da cacimba. Você iniciou muito bem a sua carreira literária. Espero ter sido de grande valia para as suas futuras inspirações a simples mais afetuosa CONFERÊNCIA HELENÍSTICA

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A CHAVE DIANTE DO CADEADO

Por Rangel Alves da Costa*

Rangel Alves da Costa

Dependendo do momento, colocar a chave no cadeado significa uma das maiores conquistas da vida. Diversas situações confirmam que não há momento mais comemorado, alívio mais esperado e sensação de vitória do que aquele após sentir que a chave se ajustou ao buraco do cadeado. E indescritível quando a tranca está liberada.

Chegar à casa alta hora da noite, olhar de lado a outro amedrontado, apressadamente buscar a chave para abrir o portão; esbarrar esbaforido diante da porta, vasculhar os bolsos em busca das chaves, e em seguida levar a mão trêmula ao cadeado; saudosamente avistar a moradia e seguir diretamente ao portão de chave à mão. São momentos cruciais na vida de uma pessoa.

Contudo, muitas vezes as chaves foram esquecidas em algum lugar, ou mesmo não são aquelas as que servirão para abrir aqueles portões. Fatos assim, e mais corriqueiros do que se imagina, fazem o mundo desabar para qualquer um. E mais angustiante ainda quando as chaves são aquelas, a pessoa tudo faz para encontrar a ideal, mas não tem jeito de alguma delas encaixar.

Mas não pode ser, pois tenho certeza que a chave é esta mesma, diz a pessoa aflita. Talvez seja porque preciso colocar um pouco de graxa no fenda do cadeado, mas a chave é esta aqui, afirma a pessoa com aspecto de desilusão. Eis, então, o cerne da questão: a expectativa do encaixe da chave ao buraco do cadeado.

E num determinado momento, na hora precisa, sob pena de muita coisa acontecer se a tranca não for liberada. Até pode soar como questão irrelevante, como algo que não merecesse qualquer explanação, mas, como será demonstrado, é fato de suma importância na vida de um ser humano. Ademais, a chave diante do cadeado pode servir de metáfora para muitas outras situações. 

 

O tempo passa, o medo se expande, a pulsação aumenta, a necessidade de encontrar a chave ideal acaba complicando ainda mais; uma quase entra, mas nada de encaixar. Procura outra e mais outra, olha de lado, já está entrando em desespero, e nada de acertar a chave. Dá vontade de derrubar tudo, de puxar o cadeado para o lado de fora, de fazer qualquer coisa para resolver a situação. Mas nada acontece.

Suspira, transpira, pede calma a si mesmo, faz mais uma tentativa, agora mais calmamente. A chave vai entrando certinha, deslizando, porém emperra em qualquer coisa. Não é essa. Mas não pode ser, pois sempre usou essa para abrir. E as mãos suadas e trêmulas fazem nova tentativa. Essa nem coube no espaço. Talvez seja essa. Tem de ser essa. Não há outra. Vai colocando, cuidadosamente, no buraco e...

Mas situações desesperadoras também podem ocorrer quando a chave é única e somente aquela serve para abrir o cadeado. E já está até envelhecida de tanto fazer tal procedimento. Contudo, ainda assim não é garantia de abrir a porta na primeira tentativa. Ademais, pelo envelhecimento pode causar uma consequência pior: quebrar lá dentro. E agora, quando a rua está totalmente deserta, não haverá como encontrar um chaveiro, e o sujeito começa a sentir uma necessidade imperiosa de visitar o banheiro?

Problema ainda maior surge quando o contorno da chave já está se encaixando, mas eis que um barulho faz a pessoa olhar de lado e a chave cai de sua mão. E pelo lado de dentro, num lugar difícil de ser alcançado. Contudo, deixar a chave ideal cair e mais distante do que o imaginado, talvez vá além dessa mera divagação a respeito da importância do encaixe da chave no momento exato que o sujeito tanto precisa.

Eis que o fato da impossibilidade de alcançá-la, ainda que visível, já provocou situações verdadeiramente angustiantes. Muitas pessoas já se entalaram nas grades dos portões enquanto tentavam alcançar o objeto, sem falar naquele que entrou no carro e derrubou o muro com portão e tudo. E depois disso percebeu que não estava com a chave da porta. Então começou a chorar feito criança desmamada.

São questões realmente difíceis de resolver. Mas situação ainda mais complicada pode acontecer. Já ouvi falar de um sujeito que bebeu um pouco mais, errou de casa e tentou a todo custo abrir um portão alheio. E até hoje chora toda vez que se lembra do policial abrindo tranquilamente o cadeado do cubículo na delegacia e ordenando que entrasse.

Poeta e cronista
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O deleite de Volta Seca - O Pasquim encosta na parede O "Jésse James" do nordeste - Parte VII



Sérgio Cabral - O nome dos dez primeiros integrantes do bando, você se lembra? Quando você chegou, se lembra bem da escalação do time?
- Lembro.

 
Ziraldo - Tinha uma hierarquia? Tinha o Lampião e depois?...
 

...Jaguar - Tinha um chamado lugar-tenente?
- Tinha, tinha aqueles que promovidos, vanguarda, retaguarda, linha de frente. Tinha os que eram promovidos por ele. Bom, então, tinha Corisco, Zé Baiano, Luiz Pedro, Virgino, Mariano, Cirilo, Antônio Desgraça, Labareda...

 

Millôr - Eu queria saber duas coisas. Primeiro, como é que Lampião falou da sua primeira participação em combate? Ele aprovou e disse: "Você, foi bem, menino"! Foi isso?
- Aprovou.

 

Millôr - Segundo, como é que surgiu o seu apelido de VOLTA SECA?
- Lampião mesmo disse: "Olha, de agora em diante, o seu nome de Antônio desapareceu. O seu nome agora é VOLTA SECA. Nenhum chama mais pelo nome". 

 

Ziraldo - Por quê?
- Ele não queria mais que chamasse pelo nome. Porque a Polícia, depois que soubesse, por exemplo, fulano, Antônio dos Santos, está com Lampião, eles iam atrás da minha família. Iam espancar a minha família. Ia bater, ia matar e essas coisas todas.

 

Ziraldo - E porque VOLTA SECA?
- Eu era franzino mesmo, e todos que chegavam eles botavam apelido. Num tinha motivo nenhum. Todo que chegavam eles botavam apelido.


Grupo de Lampião, na fazenda Jaramataia/SE em 1929.
"Volta Seca", ainda menino, é o primeiro da direita p/ esquerda, na fila da frente:

Jaguar - Só para disfarçar.
- Só pra disfarçar.

 

Ziraldo - Ele te tratava assim como um pai? Você era um menino, ele tinha por você um certo carinho, ele dispensava a você um tratamento de garoto?
- Ele dispensava. Por exemplo ele sabia que eu não podia carregar muito peso e mandava que os outros me ajudassem a carregar o meu...

 

Ziraldo - Havia algum de idade mais ou menos igual a sua?
- Teve um só.

 

Jaguar - Depois de você, quem era o mais moço?
- Mais moço não tinha nenhum não.

 

Jaguar - Tinha algum de 16, 17 anos?
- Tinha de 16, 17, 18. A turma dele era tudo...

 

Ziraldo - O mais velho era o Corisco?
- Não. Tinha o Antônio Desgraça, que era mais velho que o Corisco. Tinha o Cirilo, que era irmão do... Justamente esse que eu num falei, que era irmão do Antônio Desgraça - (Antonio de Ingrácia) Tudo era rapaziada nova, mas tinha velho também.

Jaguar - Qual era o mais bravo; o mais destemido, vamos dizer?
- Era tudo uma coisa só. Agora, tinha sempre um que era mais perverso.

 

Millôr - O Corisco era perverso?
- Nunca era tanto, não. O mais perverso que tinha lá era o Gato e o Zé Baiano. Eles eram perversos. Sempre andavam vigiados pela gente pra não fazer perversidade. Sempre tinha um ali, que era promovido pra tomar conta. Por exemplo, tava com dez homens. Aqueles dez homens, eu tava com responsabilidade, porque se eles fizessem alguma coisa mal feita, o chefe vinha era em cima de mim.

 

Millôr - Havia punição?
- Havia, havia punição e dura. Os outros viajavam e eu ficava amarrado. Eu fiquei um dia todinho amarrado, sem direito a descer do animal. Todo mundo lá, almoçando, brincando, e eu lá, no animal.

 

Millôr - Tinha disciplina, né?
- Tinha, havia disciplina.

 

Ziraldo - Você era um menino. Você não tinha, às vezes, vontade de brincar? Às vezes subia numa árvore, o Lampião o surpreendia jogando pedra numa árvore?...
- Não, não importava não.

 

Aparício - Eles aderiram ao Lampião? Eles foram ao encontro do Lampião ou o Lampião chegava e convocava?
- Bom, muitos era o seguinte: eles às vezes cometiam um crime, a policia dava em cima. E sabe, corria daqui, corria dali e eles ficavam sabendo do Lampião e corriam pra lá, se apresentavam: "Capitão, o seguinte é esse; eu matei um cara assim e tal, e não tenho outro recurso a não ser o senhor e tal". E ele dizia: "Multo bem, tamos aqui".

 

Jaguar - Ele aceitava todos, ou tinha uma espécie que não aceitava?
- Só tinha uma espécie que ele não aceitava: era ladrão. Olha, se ele chegasse num comércio e tivesse 10, 12 presos, ele soltava todo mundo. Dizia: "O que foi que você fez"? "Ah, eu matei, num sei o que...". Ele dizia: "Sai". O outro: "Ah, eu matei também". Ele: "Sai". E chegava pro outro: "E você, tá aqui por que"? O outro: "Ah, tinha uma moça que eu violei, num sei o que..." Ele dizia: " Ah, então você deve ficar aqui. Cê ia gostar que fizessem o mesmo com sua irmã"?

 

Jaguar - Justiça, né?
- Ah! Era tudo "E você, o que foi que fez?" O cara dizia: "Eu roubei". Aí ele dizia: "E, então você devia morrer".

 

Ziraldo - Escuta mas o Lampião não seqüestrava uma cidade inteira, num levava uma cidade inteira? Como é que ele não gostava de ladrão?
- Ele não fazia isso. Quando Lampião ia entrar numa cidade, ele mandava uma carta para, por exemplo, o prefeito, para o grande dali. E queria entrar na paz, e queria que mandasse uma importância pra ele, porque ele não podia trabalhar.

 

Jaguar - Cumé que era aquela famosa, frase dele?
- "Amando, vivendo e querendo bem". Bom, no entanto, era isso o que ele fazia. Então, mandavam dizer que ele podia entrar, que não havia perigo de polícia. Ele entrava e não apanhava um alfinete, não senhor.

 

Aparício - E a munição, como é que ele obtinha munição?
- Ah! Isso era mais fácil do que a comida. Munição espirrava de tudo quanto era lugar. 

 

Jaguar - Mas agora, e esse negócio de pegar uma fazenda de coronel inimigo dele, e botar fogo. Isso eles andaram fazendo, né?
- Fez, fez porque ele merecia. 

 

Ziraldo - Traidor, né?
- Traidor. Ele merecia que ele fizesse isso. Pois cumé que eu sou seu amigo e o senhor com falsidade comigo? Então, num tava certo.


Jaguar - Qual foi assim, a batalha, o momento mais forte que você enfrentou quando estava no bando?
- Bom, batalha, toda ela é perigosa. Mas eu assisti diversas: Massaranduba (Maranduba), Lagoa do Mel, Pau de Colher, Santa Rosa...

Jaguar - Por exemplo, qual foi a maior de todas, assim, em número de combatentes?
- Bom, isso foi em Serra Grande.

 

Jaguar - Qual foi a primeira batalha que você viu, que morreu gente do seu lado?
 - Do meu lado, eu só lembro que só morreram três, em Massaranduba, na Bahia. Divisa de Sergipe com Bahia. (Sergipe com Alagoas).

 

Jaguar - Por que essa batalha foi tão difícil? Tinha muita gente do outro lado?
- Tinha muita gente do lado deles. Era muita gente, era uns seiscentos e poucos pra brigar com 90.

 

Jaguar - Vocês foram surpreendi\dos por eles ou já esperavam?
- Perfeito, nós já esperávamos.

 

Millôr - A história conta que Lampião chegou a ter mais de 200 homens. O máximo que você pegou foi 90.
- Não, eu peguei até 120.

 

Ziraldo - Escuta, por que é que eles sempre perdiam! Afinal de contas, eles eram profissionais, né? E sempre 600 contra 90, e eles perdiam. Falta de moral da tropa, não tinham estratégia, técnica de batalha?...
- Né não. O seguinte era eles: quando eles chegavam, e não encontrava a gente, os próprios colegas mesmo matavam um ao outro. E depois diziam que era Lampião.

 

Millôr - Por quê?
- Porque ficavam tão apavorados que, se no momento passava um colega deles na frente, eles saiam soltando bala a torto e a direito.

 

Ziraldo - A gente chama isso no futebol de marcar gol contra, né?
- É. Gol contra. Então, é esse o caso. Olha, eu vou contar pra você um caso que se deu no Raso da Catarina. Nós viajando de tarde, e sabia que eles vinham atrás. Bom, então, chegamos lá, naqueles cupins. No meio do caminho, Lampião disse assim: "Olha, vamos botar aqui uns dez cupins, botar umas barcas ali em cima e acender fogo no meio. Quando eles vierem aí, eles vão atirar nos cupins, achando que é a gente. E aí nós vamos ver o caso deles.

 

Sérgio Cabral - É só por causa disso que o homem ganhava todas...
- Então, nós fizemos aquilo. Acendemos o fogo e fomos pra frente. Aí, lá vem eles. Quando chegaram, eles num quer saber, num viu ninguém, mas viu fogo e viu aquele negócio parecendo uma pessoa, que era o cupim, né?


Ziraldo - Espantalho, né?
- É. Aí, eles passaram fogo. Pou, pou, pou. Nós num demos um tiro, ficamos só na risada. E eles atirando. No dia seguinte, tinha oito mortos.

 

Ziraldo - Isso foi onde?
- No Raso da Catarina.

CONTINUA...


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