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terça-feira, 12 de novembro de 2013

Delmiro Rocha e outros temas

Por: Teléscope

 
 Delmiro Rocha e sua esposa Paulina Diniz Rocha foram importantes nomes da cidade

Caro Edilson,   

Grata pelo envio do arquivo sobre este assunto. A História é assim, uma eterna montagem de muita pesquisa séria e metodológica. Inclusive, fiquei interessada, em posteriormente, adquirir o livro do Sr. Micherlany, pois, como ele foi Secretário do cronista Raimundo Soares de Brito, (1920-1912), cronista este que deve ter deixado um arquivo riquíssimo sobre a zona oeste norte riograndense. Com certeza ele deve muitos temas interessantes, sobre Mossoró e zona adjacente, a apresentar-nos.

Mais uma vez, agradeço a gentileza,
Télescope. 

http://blogdetelescope.blogspot.com.br/

Viagem ao Passado

Arquivo Familiar 

O pesquisador Misherlany Goutier lançará, no próximo dia 18, às 19h, na Biblioteca Municipal Ney Pontes Duarte, em parceria com o também pesquisador Fernando Diniz Rocha, o livro Delmiro Rocha: história, origem e descendência.  

A obra, de acordo com Misherlany, surgiu há algum tempo, quando começou a pesquisar acerca de Delmiro. "Há três anos, conheci o dr. Fernando Diniz Rocha, farmacêutico e bioquímico. Fui a sua clínica Dr. Janúncio Rocha, pois o mesmo é meu conterrâneo de Almino Afonso, levado por um sobrinho do mesmo. Naquela ocasião pedi sua ajuda para a publicação de um livro, o que de pronto fui atendido. Nossas conversas se tornaram constantes, e um dia ele me convidou para uma parceria. Queria escrever um livro contando a história das origens de sua família, Diniz Rocha. Aceitei de imediato o convite", destaca Misherlany.  

O livro, segundo ele, traz uma viagem histórica pela Mossoró de antigamente, seus personagens, fatos, cenas do passado que muita gente não conhece, além de ser um trabalho biográfico. "No livro insere-se a árvore genealógica da família, com verbetes biográficos de alguns membros. É um livro informativo sobre a vida do povo paraibano, que veio para Mossoró tentar a sorte enfrentando todo tipo de dificuldade e venceu, conquistando a graça dos mossoroense, e tornando-se filhos da terra de Santa Luzia", explica.  

Ele salienta que trabalhar com pesquisa não é fácil. Além de ser oneroso publicar um livro. "Por parte dos governos não há uma política de publicação de livros, trabalhos acadêmicos, quando o mais correto seria um edital e isso, quando acontece, só fica na palavra, e não na prática. Tenho publicado meus livros com recursos próprios ou ajuda de alguns amigos, mecenas da cultura. Também a pesquisa de campo é um sacrifício, mas dá gosto ver um livro na praça, ser referência e, acima de tudo, se sentir realizado com algo que gosta", fala, frisando que pesquisar em cartórios também é necessário, quando se elabora uma obra desse tipo. "Mas nem todos permitem o acesso. Temos que ir à Justiça para que uma "autorização" faça valer nossos direitos de pesquisador. É uma lastima. Também cobram caro pelos registros. Em alguns lugares como Paraíba - Catolé e Pombal, e Patu, na zona oeste, os tabelião são sempre gentis. Apoiam a ideia do pesquisador e cedem documentos, porque têm uma visão de futuro", salienta.  

MISHERLANY GOUTIER  

Nasceu em Almino Afonso em 5 de junho de 1978, filho de Geraldo Gomes Costa e Maria de Fátima Araújo. Estudou no Projeto Casulo, em Almino Afonso. Em 1985 transferiu-se para Mossoró, onde estudou no Instituto Santo Antônio e no José Nogueira. Com alguns livros publicados, não se cansa de juntar papel e anotações. Interrompeu o curso de Direito, mas pretende retomá-lo em breve.  

Tem os seguintes títulos publicados: "Almino Afonso, nas trilhas de uma cidade", "Os Vitorinos da Caieira", "Lunário Perpétuo", "Retratos de Amigos", "Ramiro Monteiro Dantas - Lamentos e Saudades", e por último recentemente "Um livro de e sobre Rafael Negreiros", em parceria com Paulo, Armando e Elizabeth Negreiros, uma coletânea de artigos e uma biografia do jornalista mossoroense. 

FERNANDO DINIZ ROCHA  

Nasceu aos 22 de abril de 1937, em Almino Afonso. Estudou no Grupo Escolar Clodomir Chaves. Fez o exame de Admissão no Colégio Diocesano Santa Luzia (CDSL), atingindo o primeiro lugar, para cursar o ginasial; em seguida, pediu transferência para Escola Normal de Mossoró, onde terminou o curso. Neste período serviu o Tiro de Guerra 188, em Mossoró. Mais tarde deslocou-se para Natal, matriculando-se no Atheneu Norte-rio-grandense, concluindo o curso científico. Ingressou na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), cursando inicialmente Farmácia, depois Bioquímica, concluindo-o em 1967. 

DELMIRO ROCHA  

Delmiro Alves da Rocha Maia nasceu em Catolé do Rocha, filho de tradicional família daquele burgo os Maia e os Rocha, também os Diniz; inicialmente foi comerciante e dono de propriedades, sendo conceituado em sua terra, mas o destino lhe pregou peças e um dia por questões políticas teve de abandonar o torrão e veio para Mossoró a convite de Jerônimo Rosado, seu parente. Casou-se com Paulina Diniz, em 1888, de cujo enlace deixou uma prole de 16 filho, dentre eles comerciante, bacharéis e políticos; foi também Delmiro intendente por duas vezes em Mossoró, sendo considerado uma das personalidades de grande prestígio na cidade. Faleceu em Mossoró em 1926, e sua mulher em 1923. Dentre os seus filhos podemos citar: Thiers Rocha, que foi político cafeísta; Elzo Rocha, dr. Janúncio Rocha, médico; dos netos ei-lo: Nevaldo Rocha fundador do Grupo Confecções Guararapes (Lojas Riachuelo) e Fernando Diniz Rocha, coautor do livro, todos de merecido destaque.  

Em 1971 contraiu matrimônio com Salizete Bezerra, nascida aos 30 de novembro de 1938, farmacêutica; especialista em cosmetologia, no Rio Grande do Sul; professora da Uern, aposentada; filha de José da Rocha Bezerra e de Maria da Conceição Martins Bezerra. Em Mossoró participou das primeiras reuniões para criação da Escola Enfermagem, juntamente com os doutores Clóvis Miranda, Antônio Gastão de Medeiros, Antônio Luz, Leodécio Néo, e outros, sendo um dos fundadores ao lado de sua esposa Salizete Bezerra (esta diretora da entidade no período de dez anos) da mesma instituição. Foi reconhecido pelo MEC como professor de Bioquímica da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, sendo autorizado a lecionar a disciplina de sua formação. O casal também foi responsável pela instalação do campus da Uern em Patu. Ajudou a criar na Escola da Enfermagem o Laboratório de Análises Clínicas, quando a escola ainda funcionava no Seminário Santa Teresinha, cujo laboratório passou a ser chamado Dr. Fernando Diniz Rocha, numa homenagem ao seu criador; Dr. Fernando Diniz e dra. Salizete também foram homenageados com seus nomes em duas salas na Escola de Enfermagem (UERN).  

Iniciou-se na maçonaria em 1982, galgando todos os postos em loja, proferindo incontáveis templos de estudos; Venerável da Loja Jerônimo Rosado; fundador das Lojas Manoel Reginaldo da Rocha (Pau dos Ferros), Amâncio Dantas (Mossoró), Sebastião Vasconcelos (Mossoró), 30 de Setembro (Mossoró), Loja Universitária (Mossoró); responsável pela formação de Corpos Filosóficos; foi assessor especial de grão-mestre Estadual, delegado da 2ª Região da Maçonaria Norte-rio-grandense, secretário de Interior e ritualística; candidato a grão-mestre Estadual, gozando de grande conceito e respeito em toda Maçonaria do Rio Grande do Norte, sendo considerado o "espelho da maçonaria em Mossoró", permanecendo na ativa. Galgou o Grau 33, que se refere ao Topo da Escada de Jacó; sócio das cinco lojas existentes em Mossoró, pertencentes ao Grande Oriente do Brasil.  

http://www.gazetadooeste.com.br/cultura-viagem-ao-passado-16004

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O deleite de Volta Seca - O Pasquim encosta na parede O "Jésse James" do nordeste - Parte II


Ziraldo - Você andava trabalhando, vendendo doces, carregando água... Quando que houve a decisão de você procurar o homem? Ou foi por acaso? Conta pra gente cumé que foi.

- Eu num procurei ele. Teve um sujeito que - já depois de eu ter saído da companhia de meus irmãos, minhas irmãs - abusou de minha irmã. Então, eu fui lá saber o que tinha havido. Uma irmã mais velha que eu tinha, que quase foi minha mãe de criação, chegou pra mim e disse: "Olha, meu filho, isso não é caso de você nem saber. Papai é um homem velho e vamos ver como é que vai dar isso, sem ele nem saber". Eu digo: "Não, o papai deve saber". Os meus irmãos mais velhos já eram casados. Uns já não estavam mais lá, e uns não tavam sabendo de nada. Bom, então eu mesmo vou saber. Aí fui saber dela o que tinha havido. Ela não quis dizer. Aí chegou outra irmã, e disse que tinha acontecido assim, isso, essas coisas e o sujeito era casado. Ai eu cheguei pra ela e disse: "Olha, nós vamos hoje avistar o delegado". 

Millôr - Isso foi em Itabaiana, né?

- Aí ela disse: "Não, eu não vou". Aí eu disse: "Mas vai". Aí cheguei para o delegado - que era aliás compadre do nosso pai, compadre Zezé Reis - e disse: "O compadre, aconteceu isso assim com minha irmã, e eu queria que o senhor tomasse uma providência." Ele aí disse: "Eu vou mandar chamar ele". Aí eu disse:"Mas o senhor vai mandar chamar ele, seu Zezé? Isso é caso do senhor mandar chamar? O senhor devia era buscar logo ele. O senhor como delegado podia buscar logo ele." Aí ele disse: "Eu vou mandar buscar logo ele."  

Millôr - Você tinha que idade nessa época?

- Tinha 10 para 11 anos. O sujeito chegô lá - negrão forte e tudo. Aí, ele disse: "Pronto seu Zezé, eu estou aqui, o senhor mandou prender; eu não sei por que". Ele disse: Não,você deve saber. Essa menina aqui, você é responsável por ela, pelo que aconteceu". 

Millôr - Que idade tinha a menina na época?

- 16 anos. Aí ele disse pro delegado: "Olha, eu vou dizer pro senhor: eu num vou casar com égua" .Com égua?! Eu olhei e esperei que o delegado diria. Aí o delegado disse: "Bom, então você vai embora e depois mando te chamar procê me dar esse depoimento certinho". Aí eu olhei pro delegado, olhei, Olhei, as lágrimas me veio nos olhos e pensei: "Mas, cumé que pode? Tá certo?" Aí eu fui diretamente para casa; Num tem nada não. A. justiça aqui quem faz sou eu mesmo. Ninguém vai fazer nada não. E o meu irmão disse: "Mas o que, meu irmão"? Eu disse: "Nada, não se incomoda". Então eu fui, comprei uma facazinha, que naquele tempo se chamava "salva - vida" e amolei. Ele disse: "Onde ce vai"? Eu disse: "Eu vou ali, eu vou ali que eu vou acertar o negócio hoje. O delegado não agiu, eu vou agir." Aí fui. Quando cheguei, encontrei ele, que ia entrando num armazém. Quando ele entrou no armazém, disse assim: "Eu quero um charuto "Sperdieck" e bota um conhaque "Macieira" que eu quero tomar.   
Millôr - Isso era de dia ou de noite?

- Podia ser uma hora e meia da tarde. Aí, quando ele pegou o charuto e bebeu o conhaque, quebrou o charuto e botou na boca, eu disse assim: "Você vai botar na boca. Mas num vai fumar porque você não viu mulher parir égua." Aí eu encostei nele. Encostei, ele de sopapo em mim. Eu saindo fora, ele de sopapo e eu saindo fora. Na hora eu me esqueci da faca, nem da faca eu me lembrei. Eu só me livrando dele, aí eu piso numa casca de manga e escorreguei. Aí ele disse: "Bom, sopapo num pega em você, não. Mas faca pega." Ele tirou uma faca e me deu uma facada debaixo da costela. Ainda hoje há uma marca. Aí, quando eu levantei, ouvi dizer: "Num mata o menino". A rua já tava cheia de gente: "Num mata num mata". E eu tô lutando com ele. Ai, aconteceu que eu levantei e dei uma cabeçada nele. Eu levei a cabeça, e ele botou a faca nas costas. Quando botou a faca, ele se entregou e eu botei nele...

Ziraldo - Onde, na barriga?

- Opa, em cima do umbigo dele. Ele nem saiu do lugar. 

Ziraldo - Ele era.muito mais alto do que você?

- Ah, era! Ele era forte. Aí, ele todo ensangüentado, um disse: "Olha, corre que a polícia vem ali". Aí, eu entrei numa casa, e uma moça ficou lavando o sangue. Eu tava sangrando igual uma rês sangrada. Aí sai, trepei em cima de um umbuzeiro. E tô vendo lá o bichão estirado pela rua. Mas o sangue descia muito. Aí, eu pensei: "Bom, a vida é essa mesmo". Saí, e atravessei uma maré.

 Millôr - Mar?

- É, maré, ponta de mar.

 Ziraldo - Quando a água sobe vira maré; quando ela desce fica seco.

- É isso mesmo. 

Ziraldo - Você atravessou nadando?

- É, e todo ensanguentado, já fraco... 

Millôr - Itabaiana é zona do mar?

- Não, é distante.

 Ziraldo - Mas tem umas entradas de mar?

- É, tem aquelas entradas de mar. Aí, eu fui direto pra casa todo sangrando. Minha irmã disse:"Mas o que que houve"? Eu disse: "Num quero nem saber. Você vai lá, vê se o revólver do pai tá, e traz aqui". Ela foi e disse: "Tem, mas tá sem bala .Eu disse: "Cê vai lá na loja. do tio Ozinho Dutra e diz a ele que o papai mandou pegar uma caixa de bala, uma caixa de bala 38".

 Millôr - Você estava sangrando o tempo todo?

- Tava sangrando. O sangue descendo e eu lavando com sal e tudo e não havia nada que parava. Aí, ela foi lá e chegou com uma caixa de balas, e eu disse: "Olha, eu vou embora. Porque eu sei que a Polícia já vem ai atrás de mim. O que eu tinha de fazer eu já fiz. Um dia, se não morrer, eu apareço". Aí, ela começou a chorar e eu disse: "Num chora, nem nada. Se chegar alguém aqui, cê diz que eu não passei e disse pronto, mais nada. Aí, desci e fui embora, me despedi dela. Na gaveta só tinha dois cruzados. Foi isso o que eu levei: dois cruzados. E me joguei no mundo.

Aparício - Dois cruzados correspondiam a quanto, naquela época?

- Ah! Muita coisa, comprava muita coisa. O que eu comprava com dois cruzados naquela época, hoje com dez contos eu não compro. 

Millôr - Era uma moeda grande assim, né?

- Era, um níquel.  

Ziraldo - Quer dizer que era como uns vinte, trinta contos no bolso.

- Não, não...  

Millôr - Dava pra se alimentar quantos dias?

- Uma semana, uma semana dava folgado. Aliás, com um vintém a gente comprava 4 bisnagas, dessas que a gente hoje.

 Millôr - E dois cruzados eram quantos vinténs?

- Um tostão era dez vinténs. Então, eu peguei o revólver com as balas. Uma irmã, minha namorava lá com um soldado chamado Miguel Lagoa, sujeitão alto. Então, quando ele soube do negócio, foi o primeiro a se prontificar para ir atrás de mim.  

Ziraldo - Bom amigo esse pra família...

- É. Ele disse: "Não, eu vou atrás dele. Num vou deixar maltratar ele. Eu mesmo prendo ele e trago". Então, eu saí, e cheguei num lugarzinho chamado Mangabira. (Macambira) Desci umas moitas e parei pra descansar. Daí a pouco, lá vem ele atrás de mim, ele e mais um outro, a cavalo atrás de mim. Quando eles deram comigo, apontaram de longe. Ai, ele disse: "Ô Antônio, para aí". Eu disse: "Num vou esperar nada"... 
Millôr - Antônio é o seu nome?


- É. Aí ele disse: "Espera que eu quero falar com você". Aí, o outro que estava com ele, disse assim: "Atira logo que ele é criminoso". Eu disse: "Atire logo"! E eu "aproveitei" ele. 

Ziraldo - "Aproveitou" ele na bala... E o outro?

- É, atirei no outro também.  

Ziraldo - Cumé que o outro chama?

- Miguel Lagoa.  

Ziraldo - O nome do primeiro, do crioulo que você matou?

- Ah, esse eu não sei.  

Ziraldo - Mas ficou lá também? Acertou?

- Acertei.  

Jaguar - No cunhado?

- É... No que queria ser meu cunhado, o Miguel Lagoa. Foi esse que recebeu o negócio, o outro correu. E eu não tinha nada pra fazer, fui atrás dele e ele disse: " Ah, num me mate não, não acaba de me matar..." E eu disse: "Não, matar eu num vou matar, não. Mas essa arma eu vou levar". Aí, eu apanhei a arma dos dois, amarrei na cintura, outra no ombro e sai arrastando. 

Millôr - Você deste tamanhozinho assim...

- É... Cheguei na frente, tinha uma fazenda chamada Aricuri e o cara me disse: "Escuta, você quer me vender esse fuzil"? Eu disse: "Vendo". Ele: "Eu lhe dou 200 mil réis". Eu não sabia quanto custava, nem nunca tinha usado aquilo. Vendi: 200 mil réis. Aí, quando cheguei na frente, um outro fazendeiro me disse assim: "Olha, eu te dou um rifle com cem balas e ainda te dou 300 mil réis pelo fuzil." Eu digo: "Tá bom". Aí, eu cheguei na frente e digo: "Bom, o cara não me deu nada, só me deu 200 mil réis nesse." Eu disse: "Não, eu quero 500 mil réis; e me dá logo". Ele olhou assim. E eu disse: "Olha, quem tá perdido todo caminho não vai pra casa. Eu num tenho mais liberdade na vida, num tenho mais sorte na vida. A minha vida é essa mesmo". Ele aí foi lá, apanhou os 500 mil réis e me deu.

 Millôr - Os outros dois ficaram onde, o Miguel Lagoa e o outro?

- Aqueles ficaram pra lá, o outro correu.

CONTINUA... Viúva ampara Volta Seca

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DOIS ÍCONES E UM AFANO

Por: Clerisvaldo B. Chagas, 12 de novembro de 2013 - Crônica Nº 1084


Encoberto até o pescoço no mar da Geografia, percorrendo a biblioteca de uma antiga escola, quase caio de costas. Nunca havia ouvido falar naquele livro que ao retirá-lo da estante, alisei estupefato e carinhoso a sua capa. “Geografia da Fome”, mas que novidade seria aquela? Ao ler o livro o impacto foi grande, tanto pela profundidade do conteúdo quanto pela apresentação literária que gruda os olhos no papel. Depois, muitos anos depois, o nome “Josué de Castro”, o autor, foi pontilhando aqui, acolá, timidamente, para hoje mostrar ao mundo inteiro que sua obra é feita de ouro em pó e resiste bravamente ao tempo.

Fonte: (Revista Língua Portuguesa)

Na época da minha descoberta, tive vontade de gritar para todos sobre o livro. Dentro da minha escola, falei da grandiosidade da obra de Josué.

Atualmente várias pessoas bebem dessa fonte, a exemplo de Susana Souto, pesquisadora e professora da Universidade Federal de Alagoas, UFAL. Podemos apreciar uma síntese da ilustre pesquisadora, na revista “Língua Portuguesa”, pág. 34, editada em outubro deste ano, quando ela diz:

“Saber e sabor partilham o mesmo étimo. No entanto, nem sempre vêm associados em textos científicos. Há uma visão disseminada, segundo a qual esse tipo de texto não precisa ter qualidades estéticas. Mas nem todos os cientistas têm essa visão. Muitos dedicam tanto tempo à coleta de dados e às reflexões sobre os resultados de suas pesquisas, quanto à elaboração dos seus textos.

Este é o caso de Josué de Castro (1908-1973), médico e pesquisador pernambucano, autor que se notabilizou ao publicar Geografia da Fome (1946), trabalho traduzido para mais de 25 idiomas. Josué assumiu vários cargos públicos, atuou como representante do Brasil na ONU e teve seu nome duas vezes incluído na lista do Prêmio Nobel da Paz.

Infelizmente seu nome figurou também em outra lista: a dos que perderam seus direitos após o golpe militar de 1964. Josué foi então condenado ao exílio, do qual não conseguiu retornar, após inúmeras tentativas. Cada vez mais abatido pela saudade do Brasil, faleceu em 1973. Seu enterro ocorreu no cemitério São João Batista no Rio de Janeiro e foi noticiado em pequenas notas pelos jornais da época, sem foto (proibida pelos censores da ditadura). Hoje, quando o Brasil discute seu sistema de saúde pública, passados mais de 30 anos de sua morte, lemosGeografia da Fome e ainda ficamos comovidos com a elaboração sofisticada de quadros terríveis da desigualdade social, compostos com palavras pensadas, e mais, sentidas, em sua plasticidade, em sua sonoridade”. E encerra Susana, a pesquisadora da UFAL: “Ouvimos ainda o grito de Chico Science, em sua canção-homenagem a esse pesquisador atento às contradições do país: ‘Ó, Josué, eu nunca vi tamanha desgraça/quanto mais miséria tem, mais urubu ameaça’.

Ah! Mais um reconhecimento a esse ícone Josué de Castro, o que me faz lembrar outro admirável mestre da Geografia, Aziz Ab’Saber. Retornando ao segundo parágrafo, logo o livro Geografia da Fome, criou pernas e, quando à biblioteca retornei, nem rastro Josué deixou. DOIS ÍCONES E UM AFANO. 

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