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sábado, 9 de novembro de 2013

UM INESQUECÍVEL DIA EM POÇO REDONDO

Por: Archimedes Marques

O dia 1º de novembro de 2013, sem dúvida, ficará guardado para sempre na memória dos moradores de Poço Redondo e convidados que ali se fizeram presentes. A data que marcou um ano do falecimento do grande ALCINO ALVES COSTA, apesar de lembrar a todos com tristeza e saudade o passamento do CAIPIRA DE POÇO REDONDO, trouxe festa e alegria para a cidade, aliás, fatos que fazem justiça a esse festeiro e alegre personagem das letras, das canções e do amor, hoje na eternidade e aqui onde viveu a se transformar em vulto histórico, um homem que sempre irradiou paz e harmonia para aqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo.

Cavalhada

O dia contou com alvorada festiva, visitação ao acervo provisório MEMORIAL ALCINO ALVES COSTA, cavalhada, missa especial em intensão da alma do homenageado, apresentação do grupo musical e teatral NA PISADA DE LAMPIÃO e coroando de êxito, já por volta das 23:00 horas, com o lançamento do livro de autoria do seu filho Rangel Alves da Costa intitulado TODO SERTÃO NUM SÓ CORAÇÃO – Vida e Obra de Alcino Alves Costa.

 Cavalhada

A programação teve início às 5:00 horas da manhã com a alvorada festiva seguida da Praça da Matriz até o cemitério local. Uma verdadeira procissão de amigos de Alcino ao som das suas canções e do ribombar dos fogos de artifício fez Poço Redondo acordar mais cedo para reverenciar seu ícone maior. A banda marcial local roncou e bradou com louvor as suas caixas, clarinetes, trompetes, tambores, e demais instrumentos pertinentes, relembrando além das suas canções outras tantas músicas sertanejas tão apreciadas por Alcino, outrora tão tocadas na sua velha radiola em plena Praça da Matriz do seu querido Poço Redondo e tão aplaudidas e repassadas no seu programa SERTÃO, VIOLA E AMOR da Rádio Xingó FM. A visita da caravana de amigos ao seu túmulo gerou outras tantas homenagens não menos emocionantes. 

Cavalhada
 
O memorial provisório montado pelos familiares de Alcino – cujo objetivo principal é transformá-lo em atração turística – está localizado na antiga residência do CAIPIRA DE POÇO REDONDO. Nota-se com alegria e satisfação que o acervo é composto de originais das obras escritas por Alcino, seus manuscritos, suas correspondências, grande coleção de discos em vinil, fotografias, biblioteca (principalmente sobre livros relacionados ao cangaço, sertões e afins), além de objetos pessoais, placas, banners e honrarias recebidas como homenagens dos seus amigos em vida e pós-morte. Muitas particularidades de vida e cultural a se mostrar, principalmente para os mais jovens, em especial para aqueles que pretendem seguir como exemplo o rastro das alpercatas do velho CAIPIRA DE POÇO REDONDO, até então a maior autoridade nascida nessas terras donde tantos filhos enveredaram para o cangaço e donde finalmente tombou o mito Lampião na Grota do Angico. O esforço dos familiares de Alcino para mostrar tudo isso ao público foi grande, entretanto, para que esse acervo provisório se torne permanente como atração principal da cidade, urge da interferência do Poder Público ou mesmo da iniciativa privada.

 Dr. Archimedes Marques na missa com o prefeito
 
Seguindo a programação, por volta das 16:00 horas, a cavalaria sertaneja desse município entoando trechos da famosa CAVALHADA se reuniu defronte a Igreja Matriz. Cavaleiros vistosos enfeitados em vermelho e branco de um lado e azul e branco do outro, com lanças e espadas em imponência sem igual nas suas belas montarias, apresentaram-se ao público como se em disputa de algo estivessem. A cada aproximação da dupla de cavaleiros à entrada da Igreja Matriz, homem e animal se curvavam em devoção formando cena de rara beleza, colocando em delírio o público assistente. Tal apresentação culminou com o aboio entoado do cavaleiro chefe para cantar os feitos do grande homenageado.

 Familiares de Alcino Alves Costa na missa
 
Não demorou e então chegou a hora da tão esperada missa, o ponto culminante de toda essa orquestração, uma linda e emocionante missa mais que especial, espetacular, que durou cerca de três horas, tal qual o número de pessoas que homenagearam em falas, cantos e versos o velho amigo Alcino Alves Costa, o doce e carinhoso caipira de Poço Redondo, o verdadeiro guardião da história e da cultura do sertão. A beleza da missa que se aquilatava com a ornamentação sertaneja e banners em homenagem a Alcino apostos no interior da Igreja, sem dúvida, encantou a todos os presentes que superlotou o sacrossanto recinto.  Que momento sublime foi ver o Padre Mário Sergio sempre sorridente em cadeira de rodas como celebrante principal da missa em homenagem ao seu grande amigo Alcino!... Uma sensação indescritível, principalmente em saber que esse homem iluminado, mesmo não estando mais prestando os serviços sacerdotais na Paróquia de Poço Redondo, rompeu uma distância de aproximadamente 200 quilômetros, a partir da cidade de Neópolis, onde ainda atua na sua árdua missão de arrebanhar ovelhas em Cristo, retornou à sua saudosa Matriz especialmente para tornar essa data num evento sem igual em todo o sertão sergipano, não só pela celebração da missa que também teve a participação não menos eloquente do Padre Murilo, mas principalmente por ter sido ele o mentor da ideia desse evento que objetiva também colocá-lo no calendário municipal como festividade oficial. O Padre Mário Sergio chegou no dia anterior para ver a sua semente plantada e já florescida, sem dúvidas um homem superior, um ser divino que irradia luz, paz e amor, adorado indistintamente por todos. A celebração da missa parece ter sido encantada, ele falava sorrindo de felicidade e esse sorriso contagiava a todos os presentes, as tantas palavras tão usadas e reprisadas noutras missas (por vezes cansativas) desta feita pareciam palavras mágicas, palavras que entravam no subconsciente dos atentos assistentes suavemente, transmitindo verdadeira harmonia.  O alegre sermão desse sacerdote certamente ficará eternamente guardado no coração de cada pessoa ali presente. Franqueada a palavra para o público demonstrar o seu contentamento, demonstrar a sua homenagem ao Mestre Alcino, de logo, de inopino, inteligentemente a cidadã Elane Lima Marques (minha esposa), aproveitando a presença do Prefeito Roberto Araújo na Igreja e sabedora de uma possível demolição relacionada a um prédio onde hoje funciona parte do mercado da cidade para a construção de uma praça em seu lugar, disparou a solicitação em apelo para que o Poder Público desistisse desse intento e nesse mesmo prédio se construíssem o CENTRO DE CULTURA E ARTE ALCINO ALVES COSTA, fato que fez com que a ideia fosse aplaudida de pé por todos. Emocionado, o Prefeito demonstrou interesse na proposta e até falou que também pretende construir ainda na sua administração o TEATRO ALCINO ALVES COSTA. O número de pessoas que consternavam as suas homenagens ao grande Alcino parecia interminável, mas cada um ao seu estilo, e o melhor, nada cansativo, pois além de tudo tais participações eram do estilo sertanejo, no mais estilo tão propalado pelo próprio homenageado. E assim a missa se prolongou por horas, mas que pareciam minutos tal qual a beleza de tudo e de todos os homenageadores. Agradecidos, familiares de Alcino também prestaram homenagem a certos amigos do CAIPIRA DE POÇO REDONDO. Para finalizar as homenagens fora apresentado ao publico o excelente vídeo construído pelo seu grande amigo do movimento Cariri Cangaço,  Ivanildo Silveira.

Após a missa houve a apresentação do grupo de dança e teatro NA PISADA DE LAMPIÃO, algo maravilhoso, de tirar o chapéu: todos muito bem caracterizados de cangaceiros, dançando xaxado, cantando musicas sertanejas e bem desempenhando os seus dotes teatrais em supostas estórias de Lampião e, tudo isso regado de farta comida típica da região para os presentes. Nessa mesma ocasião, ali mesmo na Praça, em uma tenda bem caracterizada a caráter sertanejo, o escritor Rangel Alves da Costa, lançava com sucesso o seu livro TODO SERTÃO NUM SÓ CORAÇÃO – Vida e Obra de Alcino Alves Costa.

Um dia realmente inesquecível, sem dúvida uma festividade que teve a feição e o jeito sertanejo de Alcino. Teve gente que certamente o viu passeando por lá todo contente, em meio ao seu povo, sorridente, de camisa de malha listrada e de sandálias havaiana nos pés, simples, livre, leve e solto como ele sempre foi...

Archimedes Marques, Delegado de Polícia em Sergipe, colecionador, pesquisador e escritor do cangaço. Conselheiro do Movimento Cariri Cangaço. archimedes-marques@bol.com.br

Enviado pelo o autor Dr. Archimedes Parques

http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

Cariri Cangaço na Transilvania !

Por: Luiz Zanotti

Caro Severo,

semana passada proferi palestra na Universidade Sapientia da Transilvania sobre o Ricardo III dos clows de Shakespeare ambientada no sertão nordestino.

Como homenagem eu vestia a camisa do Cariri Cangaço e dei uma "little briefing" a respeito da importância do 
sertão na cultura brasileira.

Abraços fraternos de
Luiz Zanotti

http://cariricangaco.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

SANTO ANTÔNIO DAS QUEIMADAS-BAHIA - LAMPIÃO EM QUEIMADAS - 1929 - PARTE III


A MATANÇA NO QUARTEL DE QUEIMADAS EM 1929.

Eram 18:30 horas, aproximadamente. Depois de embolsar o dinheiro extorquido, Lampião resolveu liquidar os soldados que estavam presos, o que fez covardemente, com o maior sangue-frio, do lado de fora da cadeia, na calçada de cimento que, por algum tempo, conservou a mancha vermelha do massacre. Foram tirados do xadrez, um a um, e cada qual de per si receberia um tiro de mosquetão na cabeça e era, logo após, sangrado barbaramente.

Lampião, pessoalmente, realizou a execução, auxiliado por outros cabras, dentre os quais se salientou Volta Seca que sangrava as vítimas depois de baleadas e que, após a chacina, ainda andou publicamente lambendo a lámina do punhal ensanguentado, reclamando que o padrinho Lampião só lhe dera quatro macacos para sangrar. Labareda diz, em seu relato, que Volta Seca o que fez foi por ordem de Lampião que tinha que ser obedecido. Diz também, que ele tomou parte no massacre igual com os outros, juntamente com os grandes do cangaço.

Segundo depõe Labareda, quando Lampião deu ordem para a matança dos soldados, houve tiros, e muita gente correu pensando que tinha irrompido uma "brigada". Acrescenta ele que uns dois macacos morreram de "fazer gosto", enquanto os outros esmoreceram. Só pediam para viver. Houve o caso de uma anspeçada, homem carregado de filhos, que chegou a se ajoelhar e rogar que não o matasse porque ele daria baixa da polícia. Lampião não o poupou, dizendo-lhe: - " Quando eu encontro macaco da Bahia, mesmo que esteja com os dedos furados de rezar rosário, eu não perdôo". E executou o pobre homem que tinha uma família numerosa de nada menos de nove filhos.

Nome dos Mortos:- Soldados: Olímpio de Oliveira; Aristides G. de Sousa: José Antônio Nascimento; Inácio Oliveira; Antonio José da Silva; Pedro Antônio da Silva e anspeçada Justino N. da Silva.

Fonte:( Nonato Marques. in Santo Antônio das Queimadas. pag.142


Evaristo Carlos da Costa- sobrevivente da chacina de Queimadas em 1929 - foto do acervo do professor e pesquisador do cangaço Rubens Antonio

Não foi tarefa das mais fáceis conseguir entrevistar o sargento Evaristo, aos 85 anos de idade, vivendo modesta e anonimamente na cidade de Santaluz, único sobrevivente daquela chacina. todos os seus amigos, mesmo os mais íntimos, sabem-no um homem ainda profundamente abalado pelos acontecimentos trágicos e inesquecíveis daquela antevéspera do natal de 1929. Pr outro lado, Evaristo se acha bastante enfermo, com sérios problemas circulatórios e cardiovasculares. conseguir fotografá-lo, por exemplo, foi uma dificuldade que durou meses.

Ter escapado das garras de Lampião e seus facínoras com vida deixou-o, além de traumatizado, com forte complexo de culpa, já que todos os seus comandados foram massacrados friamente, às suas vistas, sem que ele nada pudesse fazer. A partir daquele dia o sargento Evaristo se tem terminantemente recusado a abordar o assunto: nunca deus entrevista a jornalista, jamais recebeu em sua casa estudioso do fenômeno cangaço, em tempo algum permitiu que alguém tocasse no assunto, mesmo de leve, mesmo indiretamente. E todos que com ele convivem sabem-no um homem reservado, criterioso, sistemático, a ponto de não permitir brecha para que aqueles fatos sejam ventilados. Considero, pois, uma façanha não propriamente o ter entrevistado, mas conseguir que ele, de propósito, aceitasse repassar o assunto. tive de apelar para velhas amizades de família - do meu avô e do meu pai ele foi amigo íntimo.

- Eu me considero um homem protegido por Deus- afinal consegui escapar tanto das garras dos bandidos como da própria justiça que me julgou após a chacina de Queimadas. fui acusado de dessídia, de negligência, de ter feito pouco caso do perigo que Lampião representava para aquela comunidade estava sob minha proteção. Respondi a um inquérito que me deu muitas dores de cabeça. Por todos os lados eu só escutava a palavra: " culpado". Houve até quem sugerisse que eu deveria me suicidar. Mas suicidar por que? Eu fora poupado pela proteção Divina, minha hora não havia chegado, como é que me davam um conselho estúpido daquele? Foi, graças a Deus e a habilidade de dois grandes advogados- Gilberto Valente e Nestor Duarte- que fui absolvido...por unanimidade. na verdade eu não entendia porque me acusavam de negligente: eu não tinha realmente conhecimento da presença do bando de Lampião naquela zona. a última notícia que me chegara aos ouvidos era de que o grupo se achava lá pros lados de Capela, em Sergipe. Como é que eu poderia imaginar que eles chegariam de repente em Queimadas?

- No dia seguinte que estive à mercê dos bandidos não avreditei escapar de jeito nenhum com vida. Eles não chegaram a me maltratar, mas um deles por mais de uma vez sussurou juntinho de mim: " mais tarde o galo vai cantar nos deus ouvidos". E aquela desgraça ocorreu justamente ba vespera de eu viajar para Salvador, a fim de ir buscar o soldo dos soldados que, naquela época, recebiam seus vencimentos na capital, por meu intermédio.

- Quando foi concluído o inquérito a que o senhor respondeu?

- Em 1931. Fui (e repito) absolvido por unanimidade. E ainda ganhei um elogio de Auditoria, através do major Alcebíades Calmon de Passos. Disse ele:" Quem lhe absolveu não foram os advogados, nem os jurados, nem ninguém. Foi a sua própria conduta de 21 anos de comportamento sem jaça".

- Como militar, onde o senhor serviu?

- Em Camaçari, Belmonte, Conceição do Coité (2 vezes), Santaluz, Itiúba, Senhor do Bonfim, Juazeiro, Casa Nova, Barra (2 vezes), Carinhanha, Rio Branco (antigo urubu, hoje Ubatinga), Barreiras, Nova Soure, Cipó, Monte Santo. Andei por este mundo afora jogado de um lado para o outro, feito bola em campo de futebol. O caso é que eu sempre fui muito rebelde a certo tipo de autoridade autoritária. Estive ainda em Queimadas e em Santo Antonio de Jesus...

Para Nilton Oliveira, 52 anos, casado, negociante da cidade de santaluz, o sargento Evaristo é um homem metódico, até certo ponto arejado, iste é, um homem com hábito comum de leitura. Além de ser uma criatura muito bem relacionada na cidade de Santaluz, tendo ali exercido a profissão de comerciante varejista de gêneros alimentícios durante décadas, o que deixou por força da idade.

Em Santaluz o sargento Evaristo por duas ou três vezes exerceu o cargo de delegado de polícia, posição que desempenhou com dignidade e zelo. Como amigo- finalizou - é um homem dotado de qualidades exemplares.

Para Hiran Carvalho Barreto, 43 anos, casado, atual prefeito de Santaluz, o sargento Evaristo é uma pessoa " com quem mantenho os mais estreitos e íntimos laços de amizade e companheirismo, por ser excepcionalmente honesto, leal, homem de palavra, caráter incomum".

As atividades atuais do sargento Evaristo se resumem em ler diariamente a biblia ( continua crente fervoroso Batista), receber amigos em sua casa para prosa amena sobre os diversos problemas atinentes ao país, à Bahia e á sua comunidade. Ele confessa não passar sem ouvir, todas as manhãs, " O Trabuco", pela Rádio Bandeirante de São Paulo, apresentado pelo veterano e cáustico Vicente Leporacem não deixando de ser, sobretudo, um homem profundamente solitário. 

Nota: O sargento Evaristo faleceu pouco tempo depois de haver sido publicada essa reportagem. 

CONTINUA...

Fonte: (Nonato Marques. Santo Antonio das Queimadas. pag.155/156) 

http://santoantoniodasqueimadas.blogspot.com.br/2012/01/lampiao-em-queimadas-1929.html 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com