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segunda-feira, 9 de setembro de 2013

TEMPOS DE HONRA E OUTROS TEMPOS

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

TEMPOS DE HONRA E OUTROS TEMPOS

Não era por acaso que o pai, nos tempos idos, orgulhosamente colocava no seu filho o nome de Honestino. Tinha certeza que a sua cria faria jus à escolha. E não só pelo prenome que carregaria, mas também pela honradez caracterizada no sobrenome familiar. E a valorização da família era cultivada como o próprio alimento de sobrevivência. Ora, excetuando-se as sempre existentes ovelhas negras, bastava que o indivíduo fosse reconhecido pelo tronco familiar do qual fazia parte.

Famílias existiam - e certamente ainda respingam aqui e acolá - cuja fama de honradez remontava desde outras raízes, num passado muito distante. Basta a lembrança do nome e não há o que dizer que macule seu valoroso reconhecimento. As velhas raízes, numa lição repassada de pai a filho, preocupavam-se demais com o nome a zelar e por isso mesmo ensinavam aos seus que a honestidade é chave que abre portas e fecha bocas maldosas.

Daí que tantas vezes não precisavam sequer estar presentes para ter pedidos seus atendidos. Fosse à distância que fosse, bastava um rabisco em folha torta ou mesmo um recado por pessoa de confiança que o atendimento seria imediato. Assim para comprar uma boiada ou qualquer coisa na vendinha da esquina. Ademais, não era difícil se ouvir de comerciantes que entregaria a venda inteira se o amigo bom pagador desejasse.


Entre os mais velhos, a palavra dada possuía mais valor que qualquer documento assinado. O compromisso também mantinha a feição de induvidosa obrigação. E tais aspectos prevaleciam tanto nos negócios como nas demais relações cotidianas. Nos idos já empoeirados do tempo, os pais comprometiam até mesmo o futuro dos filhos, pois tantas vezes a infante nem atinava ainda para as coisas do coração e já estava prometida ao menino filho do compadre. Era o destino, em nome da reputação, antecipadamente feito.

Assinar papel ou documento cartorial era uma formalidade quase que desnecessária. Tantas vezes os negócios foram no proseado rotineiro e se transformaram em contrato firmado na força da honra. Ademais, fugir às regras estabelecidas era cair no rol da desconfiança, da negativa às futuras pretensões e do tratamento menos caloroso perante os demais. Tais aspectos envolviam não só os nomes das pessoas como de suas famílias, pois ser filho de alguém honesto, cumpridor dos compromissos e da palavra, presumia ser portador da mesma honradez.

Principalmente nos rincões interioranos, o compromisso e a seriedade prevaleciam até mesmo nos relacionamentos amorosos. Geralmente acontecia que o apaixonado querendo logo casar, porém sem emprego que garantisse o sustento, se bandeava para o sul do país em busca de meios para concretizar seu sonho. Deixava sua namorada ou noiva aguardando o seu retorno. E ela permanecia, sob o manto da decência e integridade, à espera do seu amado. Mas que ninguém experimente fazer o mesmo nos dias de hoje. E pelas razões que somente o traído custa a perceber.

Os exemplos são muitos e felizmente ainda prosperam na peneira dos tempos, ainda que apenas pouquíssimos grãos possam ser recolhidos. Nesse passo, tantos e mais tantos já deixaram de ter lucratividade maior para não desfazer do negócio “apalavrado”. Já ouvi a história de um que as últimas palavras antes do desfalecimento foram exatamente “Prometi deixar a sela e o gibão pro caboclo Tião. Que se cumpra, em nome de minha salvação”.

Em termos políticos também, e como prova de que nem sempre sua prática esteve eivada de vícios e aberrações. Honra política, compromisso, seriedade na escolha do candidato, tudo isso já fez parte de seu percurso. Acaso determinado senhor dissesse que tinha dez votos para oferecer ao candidato, era conta garantida e certa. Podia abrir a urna que os votos estavam lá. Do mesmo modo, diferentemente da prática costumeira de hoje, que nenhum candidato se metesse a besta para oferecer dinheiro em troca de voto. Ouvia o que não queria e recebia nas fuças o que merecia.


Atualmente, pela falta de seriedade nos compromissos e até pelo negócio abjeto que se tornou a política, não se confia mais nem em eleitor da própria família e muito menos daquele que recebeu qualquer tipo de ajuda para votar. Aliás, é fato corrente que é mais fácil confiar no estranho àquele que foi devidamente pago para votar ou que alardeia o voto e aplaude o candidato. Por isso que o candidato honesto demais, mesmo que jamais consiga sair vitorioso em qualquer eleição, jamais deixa de ter seus votinhos. E precisamente de parte daqueles que receberam dinheiro do outro.

Hoje em dia, certamente que as peneiras terão pouco uso por falta de honestidade para peneirar. Mesmo funil de boca larga dificilmente encontra quem queira se arriscar. Não que a honestidade e os honestos tenham desaparecido, mas o próprio convívio no meio social carregado de desonestidades, improbidades, imoralidades e descaramentos,  acaba produzindo efeitos nefastos à honra e integridade naqueles que tentam se preservar.

Mas felizmente ainda persistem aqueles cujo nome logo remete às melhores virtudes. E nem a morte apaga as marcas do caráter, pois verdadeira relíquia em tempos de fragilidades éticas e morais.

Rangel Alves da Costa, nascido em 1963, é natural de Poço Redondo, no Alto Sertão Sergipano do São Francisco. É advogado e escritor, e reside em Aracaju. Já publicou os seguintes livros: Estórias dos Quatro Ventos (crônicas), Memória Cativa – O Sertão em Prosa e Verso, Sertão - Poesia e Prosa, Tempestade (romance), Ilha das Flores (romance), Evangelho Segundo a Solidão (romance), Desconhecidos (romance), Todo Inverso (poesias), Já Outono (poesias), Poesia Artesã (poesias), Andante (poesias), O Livro das Palavras Tristes (crônicas), Crônicas Sertanejas (crônicas), Crônicas de Sol Chovendo (crônicas), Três Contos de Avoar (contos), A Solidão e a Árvore e outros contos (contos), Poço Redondo – Relatos Sobre o Refúgio do Sol, Da Arte da Sobrevivência no Sertão, Estudos Para Cordel (prosa rimada sobre o cordel). Participou também da coletânea Gandavos - Contando outras histórias. Possui outros livros prontos para publicação, dentre os quais Nas mãos de Deus: um romance de injustiça e Entre a Ficção e a História - O Cangaço Imaginário. Colabora com artigos para o Jornal do Dia, de Aracaju. Diversos sites também publicam seus textos.

Poeta e cronista
blograngel-sertao.blogspot.com

Se você gosta de ler histórias sobre "Cangaço" clique no link abaixo:

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Luiz Gonzaga - A Morte da Galinha

www.vejajueiro.com.br

A Morte da Galinha

Quando eu fazia faculdade de Engenharia Civil, conheci um cidadão do Crato - Ceará (não lembro o nome dele agora, mas o apelidávamos de "Ceará").

Ele me contou que um tio dele comprou uma fazenda que era de Luiz Gonzaga, e Gonzagão vendeu com tudo que tinha dentro: algumas cabeças de gado, algumas aves, etc.

No meio dessas aves, havia uma galinha, pela qual, segundo o "Ceará", Gonzaga tinha grande estima!


O interessante é o seguinte: no dia 02 de agosto, de 1989 (data da morte de Luiz Gonzaga) essa galinha amanheceu morta, sem vestígio algum da "causa-mortis".

"Tadinha", - dizia sempre o bom "Ceará" -, "a bichinha morreu foi de tristeza mesmo, sêo moço! E essa vida, sem Gonzagão, por acaso, vale a pena?..."

Pior é que a galinha tava certa!


Contribuição: João Neto - Recife – PE

http://www.luizluagonzaga.mus.br
http://blogdomendesemendes.blogspot.com