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sexta-feira, 5 de julho de 2013

Juazeiro, o verdadeiro Milagre do Padre Cícero

Por:Daniel Walker

Quem melhor descreve a vida do povoado de Juazeiro a partir da construção da Capela de Nossa Senhora das Dores é Amália Xavier de Oliveira. Mas para a organização deste capítulo recorremos também a outros autores, como padre Neri Feitosa e padre Azarias Sobreira, pois eles têm também boas informações. Consta que o padre Pedro Ribeiro de Carvalho, primeiro capelão de Juazeiro, era muito zeloso; cuidava da pequenina população do lugarejo, formada principalmente de pessoas do campo, ensinando-lhes a rezar e a trabalhar. Na época invernosa a população entregava-se aos trabalhos agrícolas; homens e mulheres iam para a roça ocupando-se no cultivo do arroz, milho, feijão, mandioca e algodão.

Após a colheita, as mulheres ficavam em casa desenvolvendo trabalhos domésticos e fiando algodão para tecer a roupa dos maridos e dos filhos que elas mesmas costuravam, pois não havia máquina. Os homens se dedicavam aos trabalhos da Fazenda, alimentação do gado, solta das rezes nos pastos, ordenha, vaquejada, desmancha de mandioca, caça, pesca, etc. Todos ali aprendiam o Catecismo, rezavam e trabalhavam sob a orientação do padre que não permitia a promiscuidade e fazia tudo para evitar a discórdia entre os habitantes. Foi assim, nesta atmosfera de paz e tranquilidade, que viveram os primeiros habitantes de Juazeiro de 1827 a 1833, quando faleceu o padre Pedro cercado do respeito e amor de todos que o conheceram.


 
Amália Xavier de Oliveira

As festas mais concorridas, além das religiosas, eram os casamentos. Eram feitos com grande animação: três dias de festa antes do casamento na casa do pai da noiva ou de outra pessoa que o representasse e três dias na casa da família do noivo, após o casamento; depois destes festejos todos, o noivo tinha o direito de levar a noiva para casa.

Os padres que o substituíram na Capelinha eram também zelosos e piedosos. O povoado ia crescendo; novas casas foram construídas, sempre localizadas em torno da Capela e ao longo das proximidades da margem do rio Salgadinho. Surgiram, então, os primeiros aglomerados: Cacimba do Povo, Rua do Brejo, Feira do Capim, Mercado Velho, Boca das Cobras, Volta, Salgadinho, Mochila, Comboieiro (Malvas).

Com a chegada do Padre Cícero (em 11.04.1872) como capelão e graças a sua dinâmica atuação, já tão difundida nos livros que tratam de sua vida, o pequeno lugarejo sofreu profundas transformações até chegar ao estado em que se encontra hoje. O escritor J. G. Dias Sobreira, em seu livro Curiosidades e factos notáveis do Ceará, informa que quando visitou Juazeiro em 1856, o povoado tinha o seguinte aspecto:

"O povoado, nesse tempo, compunha-se de umas sessenta casas de taipa, umas cobertas de telhas e outras de palha de carnaúba ou de palmeira. A disposição delas não obedecia à regra natural de arruamento. Logo na entrada do povoado, começavam duas fileiras de casas, sem guardar a equidistância, no seu prolongamento. Ao seguir iam elas afastando-se, de modo que, tendo no começo uns vinte metros de largura, terminavam com mais de cem metros  ao chegar à igreja. Não havia  estética nem nexo, naquela formação de arruamento”.     

 
Juazeiro do inicio do século passado

Porém, em 1909, um documento apresentado à Assembleia Legislativa do Ceará, em apoio ao pedido de autonomia municipal para Juazeiro, encontrado por Ralph della Cava nos Arquivos do Colégio Salesiano, informa que antes de se tornar independente do Crato o povoado de Juazeiro já se encontrava em acelerado ritmo de desenvolvimento, graças à ação do Padre Cícero.  Já possuía uma farmácia, um médico residente, um jornal, várias instituições religiosas, como o Apostolado da Oração, fundado pelo Padre Cícero, um escritório de intercâmbio comercial com a capital e uma instituição civil para cuidar do engrandecimento do lugar.

A zona rural de Juazeiro possuía 22 engenhos de açúcar empenhados na produção de rapadura e subprodutos alcoólicos e cerca de 60 locais equipados para preparar farinha de mandioca. Além do cultivo de arroz, feijão e milho, Juazeiro já se destacava na produção de borracha de maniçoba e algodão. Foi Padre Cícero quem introduziu a borracha no Cariri, na primeira década do século XX. E graças ao seu empenho, o algodão, cuja cultura havia sido quase totalmente abandonada, reapareceu entre 1908 e 1911. Ele chegou a comprar uma máquina de beneficiamento de algodão, movida a vapor. A borracha e o algodão foram os principais responsáveis pelo intercâmbio econômico de Juazeiro com o comércio exportador das grandes casas comerciais da capital cearense, especialmente com a firma francesa Boris Frères e a companhia brasileira de Adolfo Barroso.

Mas o crescimento urbano do povoado foi ainda maior do que sua expansão agrícola. O comércio pulsava com a realização de uma feira semanal, realizada aos domingos em frente à Igreja de Nossa Senhora das Dores. Muitos dos comerciantes tinham imigrado para Juazeiro proveniente de pequenas cidades vizinhas e de outros Estados. Mas a atividade econômica principal do povoado provinha de suas indústrias artesanais de onde saíam uma grande e diversificada produção de produtos utilitários e decorativos, além de produtos religiosos. Tudo se desenvolveu tendo em vista atender às demandas de consumo em ascensão e como uma resposta oportuna à incapacidade das limitadas áreas rurais de Juazeiro para absorver os imigrantes nas atividades agrícolas, de imediato após a chegada.

Dr. Floro Bartolomeu da Costa

Chegando ao povoado, os romeiros, orientados pelo Padre Cícero, trabalhavam na manufatura de vários artigos de uso doméstico confeccionados com matéria-prima local: louças de barro, vasos, panelas, cutelaria, sapatos, objetos de couro, chapéus, esteiras de fibras vegetais, corda, barbante, sacos e outros receptáculos para estocar e expedir gêneros alimentícios. As habilidades manuais do povo e as necessidades do sertão levaram, eventualmente, à fabricação e exportação de instrumentos rurais típicos, tais como, enxadas, pás, facas, punhais, rifles, revólveres, balas e pólvora.

Logo cedo, devido à grande procura de seus produtos, muitos artesãos saíram de suas casas e passaram a produzir em maior escala em oficinas amplas e equipadas de máquinas, localizando-se no centro da cidade para ficarem mais ao alcance dos clientes. Os reflexos do desenvolvimento do povoado estavam bem evidentes nos impostos arrecadados... Principalmente para o Crato. Por isso, o desejo de se tornar independente nasceu. 

Segundo o documento apresentado à Assembleia Legislativa do Ceará, provavelmente organizado por Dr. Floro Bartholomeu da Costa, em 1º de  janeiro de 1909, cuja cópia transcrevemos abaixo: A povoação de Juazeiro, estado do Ceará, tem na presente data: 18 ruas, 4 travessas, etc., com a população de 15.050 habitantes, como se vê abaixo:

Rua Padre Cícero: 2.000 habitantes,
Rua S. Luzia: 1.538 habitantes,
Rua S. Jose: 1.100 habitantes,
Rua S. Francisco: 1.000 habitantes,
Rua S. Antônio: 557 habitantes,
Rua S. João: 603 habitantes,
Rua de S. Sebastião: 552 habitantes,
Rua de S. Pedro: 227 habitantes,
Rua do Rosário: 578 habitantes,
Rua do Perpétuo Socorro: 523 habitantes,
Rua do Cruzeiro: 540 habitantes,
Rua dos Passos: 1.040 habitantes,
Rua da Conceição: 800 habitantes,
Rua das Malvas: 175 habitantes,
Rua Grande do Salgadinho: 1.136 habitantes,
Rua da Cacimba Nova: 480 habitantes,
Praça da Capella de N. S. das Dores: 734 habitantes,
Praça da Liberdade: 345 habitantes,
Travessa de S. José: 287 habitantes,
Travessa de S. Francisco: 250 habitantes,
Travessa da Conceição: 209 habitantes,
Travessa da Rua Nova: 37 habitantes,
Beco do Cemitério Velho: 30 habitantes.

Na relação de profissionais, comércio e pequena indústria, destacamos:
Oficinas de Sapateiros: 20,
Carpintaria: 35, 
Marcenaria: 5, 
Pedreiros: 40, 
Fogueteiros: 15, 
Funileiros: 7, 
Ferreiros: 8, 
Ourives: 2,
Pintores desenhistas: 2, 
Fundição: 1, 
Barbeiros: 3, 
Alfaiates: 3, 
Alfaiates Modistas: 10, 
Padarias: 2, 
Farmácias: 2,
Lojas (Molhados-Mercadorias): 10, 
Lojas (Fazendas-Miudezas): 10, 
Bodegas (Molhados-Bebidas): 20,
Armazéns (Géneros Alimentícios): 10, 
Escolas (particulares, sexo feminino): 12, 
Escolas (particulares, sexo masculino): 6, 
Escolas (públicas, sexo feminino): 1, 
Escolas (públicas, sexo masculino): 1, 
Tipografia: 1,
Igrejas: 2 (uma em construção), 
Cemitérios: 2, 
Bolandeiras Algodão: 1, 
Engenho de ferro para cana: 18, 
Idem, madeira: 4, 

Estação telegráfica, Agência do Correio, Coletoria Estadual, Cartório do Registro Civil, e Serviço de iluminação pública.

Quem poderia imaginar que depois de cem anos Juazeiro seria o que é hoje! Este é o verdadeiro milagre do Padre Cícero!

Daniel Walker
FONTE:http://historiadejuazeiro.blogspot.com.br

http://cariricangaco.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

O que vem por aí! - Quanto ao método de investigação acerca do cangaço

Por Honório de Medeiros
             
Em Setembro, no Cariri Cangaço, se conseguir coletar o restante das informações que eu busco, lanço “Por que Lampião invadiu Mossoró?”

Nesse livro apresento o resultado de uma investigação que culminou na constatação de que existem quatro hipóteses básicas acerca dos motivos pelos quais  houve a invasão. Analiso cada uma dessas hipóteses e mostro os prós e os contras delas deixando, no final, ao critério do leitor, a opção de escolher aquela que considere mais verossímil.

Sem falsa modéstia, considero que se trata de uma boa investigação. Caso fosse jornalista, eu denominaria esse trabalho de “jornalismo investigativo”. Como não o sou, deixo aos que o lerem a tarefa de estabelecer seu enquadramento literário, se for o caso.

Desde o início da minha investigação, chamemo-la assim, eu me propus aplicar com denodo uma máxima, um aforismo, no sentido francês do termo, que expressa uma postura metodológica em relação ao tema investigado.

Seria entediante, talvez, aqui, expor sua matriz filosófica. Registro, entretanto, que ela é corolário da epistemologia de Gaston Bachelard e Karl Raymund Popper que, nesse campo específico, têm mais semelhança entre si do que se possa supor. Pois bem, a máxima é a seguinte: fazemos a investigação avançar não pelas verdades que descobrirmos, mas pelas que refutarmos.
Observem que há uma roupagem retórica na máxima exposta. Tecnicamente deveríamos dizer: “fazemos a investigação avançar não pelas verdades que encontrarmos, mas, sim, pelas pseudo-verdades que refutarmos. Podemos não vir a saber com certeza o que algo é, mas podemos vir a saber com certeza o que algo não é.

Heróis da resistência

Trocando em miúdos, o que quero dizer é o seguinte: a nossa preocupação, na investigação, deve ser muito mais no sentido de excluir o entulho que nos afasta da compreensão do fato. Quanto mais entulho afastarmos, mais próximos estaremos de nosso objetivo.

No que diz respeito à invasão de Mossoró por Lampião, assim procedi, preocupado, principalmente, com a hipótese que atribui à ganância de Lampião e Massilon a realização do ataque. Essa hipótese é a mais corriqueira, é aquela sacramentada pelo senso comum.

Em todas as hipóteses acerca dos supostos motivos da invasão, portanto, também apliquei o que denominei de crítica metódica, para afastar as pseudo-verdades que embaraçavam a compreensão da realidade por trás das aparências.

Ou seja, busquei, firmemente, encontrar e apontar irregularidades, incongruências, desarmonias, inverossimilhanças, tudo quanto me permitisse desconstruir, refutar cada uma das hipóteses existentes em relação à junho de 1927, para ser possível alcançar alguma luz no fim do túnel.

Há uma forma, uma maneira, um meio de aplicar a crítica metódica, que passa pela utilização de uma técnica do jornalismo investigativo aliada à utilização de alguns critérios de natureza lógica. Nada complexo e que não possa ser manejado por qualquer pesquisador.

Assim cheguei ao resultado que o livro apresentará. Não concluo, entretanto. Deixo em aberto. É uma obra aberta. Isso por uma razão muito simples: meu trabalho não é científico, no sentido estrito do termo, vez que não foi possível colher provas que sustentassem uma teoria.

 
Lampião escrevinhando.

Há indícios, e muitos. Há o trabalho de relacionar esses indícios, dar-lhes unidade, coerência, criar uma malha de conteúdo indagativo e explicativo razoavelmente bem tecida, que talvez seja o que de valioso exista no trabalho a ser apresentado.

Para o futuro pretendo usar esse mesmo método no que diz respeito ao estudo das causas do surgimento do cangaço. Há várias teorias quanto a essas causas. Uma delas, facilmente refutável, aponta como causa do surgimento do cangaço a luta de classes.

Voltando ao tema da mesa-redonda, penso que devemos tentar o estudo dos fatos do cangaço em uma perspectiva mais densa, mais apropriada academicamente, como está sendo feita aqui e agora. E somente podemos fazê-lo se tivermos essa preocupação com o método da investigação.

Isso por várias razões, dentre elas evitar que o estudo do cangaço suscite comentários como o que recebi, recentemente, após ser postado um texto meu acerca da realização da mesa-redonda de Sousa em um dos maiores blogs do Rio Grande do Norte, do jornalista Carlos Santos, que nos gratifica hoje com sua presença.

O comentário dizia o seguinte, textualmente: “Em pleno século 21 ainda se fala de um coisa tão irrelevante e inexpressiva! Tantos assuntos importantes a serem questionados. Esse tipo de assunto é para ser apagado da história diante a sua insignificância”.

Um absurdo, mas a ignorância gera esse tipo de juízo de valor.

Jararaca "despretobranquizado" pelo amigo e pesquisador Rubens Antonio.

Então, para concluir, creio que devemos criticar, no bom sentido, os métodos ou a falta de métodos, no estudo dos fatos do cangaço, para ultrapassarmos, de vez, sua folclorização, no sentido negativo do termo, e esse viés preconceituoso, em relação ao tema, por parte de parcela da academia e da população.


E, mais para o futuro, quem sabe evitarmos que se dê guarida, pelo menos no seio das pessoas mais esclarecidas, a bizarrices como as do homossexualismo entre cangaceiros ou o heroísmo de Lampião.

Pescado no: http://honoriodemedeiros.blogspot.com
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