Seguidores

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Lenha na Fogueira ! Ademar ou Benjamim?

Por: Renato Casimiro

Caro Severo,

Você me pede uma opinião sobre o excelente depoimento de Nirez, com respeito à participação de Ademar Bezerra Albuquerque na realização do filme com Lampião. A rigor, não ouvi ali nada do que não seja o restabelecimento da verdade. Nirez tem a seu favor um zelo muito grande por tudo que lhe cerca, seja na fotografia, na música e em todas as suas manifestações de grande memorialista.

Não há dúvida que o seu depoimento procura esclarecer a verdade sobre aquilo que, historicamente, se aceitou como sendo uma ação de Benjamim Abraão.

É perfeitamente factível que as atenções de Ademar Bezerra Albuquerque para não perder a oportunidade de realizar o trabalho, através de Benjamim, sejam verdadeiras e incontestáveis. E nisto o Nirez juntou detalhes fornecidos pelo Chico Albuquerque com grande propriedade para firmar a veracidade das afirmativas. Procurando imagens do Juazeiro antigo, não encontrei em muitos anos uma só que pudesse ser referida ao “fotógrafo” Benjamim. E olhe que ele tinha tudo para fazê-lo, pois no período em que foi secretário do Pe. Cícero, Juazeiro se viu descoberto por uma quantidade enorme de visitantes ilustrados e o dia-a-dia da casa do padre era muito favorável a isto.

 

Efetivamente, este período de Juazeiro e do Pe. Cícero (época em que Benjamim servia à casa do padre) é muito rico em imagens fotográficas e filmes. A propósito destes filmes, reproduzo o texto que apresentei em nosso então jornal eletrônico Juazeiro on line, na sua edição de 18.01.2009, numa coluna denominada Juazeiro, por aí, que ainda pode ser encontrado disponível em http://www.juaonline.info/.

FILMOGRAFIA(I)...
  
Numa consulta à Cinemateca Brasileira (Secretaria do Audiovisual/Minc), São Paulo, localizei dados sobre os filmes realizados pelo sr. Lauro Reis Vidal, durante sua visita a Juazeiro, em 1925. Foram três películas: um filme original, de 1925, e dois outros montados nos anos 1939 e 1955.
FILMOGRAFIA(II)...

O JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO (Infelizmente, a Cinemateca Brasileira não possui este filme), é um documentário inscrito na categoria de curta-metragem/silencioso/não-ficção. O material original foi em 35mm, BP, 16q. Produção de 1925, em Fortaleza, onde foi lançado em 08.12.1925, no Cine Moderno. A produtora foi a Aba Film, de Adhemar Albuquerque, que fez a direção. Sinopses: "Surpreendente filme natural apresentando magníficos aspectos da região do Cariri em que se vêem: Joazeiro, Crato, Barbalha e outros lugares, assim como Missão Velha, Lavras, Quixadá, Ingazeiras, Fortaleza, etc. Impressionante vista do grande açude do Cedro". (Jornal do Comércio, 28.11.1926). "Trata-se de uma bela reportagem cinematográfica do Cariri, zona em que o padre Cícero exerce a sua infatigável atividade e o seu grande prestígio. O Joazeiro, a cidade do padre Cícero, é apresentada em seus diversos aspectos, mostrando o seu progresso, o seu povo, enfim tudo o que ali existe de importante. Além do Joazeiro, o público aprecia outros bonitos pontos do sertão cearense, destacando-se o Crato, Barbalha, Missão Velha e o colossal açude do Cedro, obra grandiosa da engenharia brasileira. De Fortaleza há algumas, como sejam o porto, o passeio Público e o Parque da Liberdade. Há também belos trechos da estrada de ferro e fotografias de Lampião e seu grupo. É um filme digno de ser apreciado. Não fatiga o espectador. Ao contrário, torna-se atraente pela variedade de cenas, que desenrola. Além disto satisfaz uma curiosidade: mostra o maior domador de homens dos sertões, o padre Cícero Romão Baptista, que se apresenta em diferentes cenas, entre o povo que o aclama, em sua residencia trabalhando, abençoando afilhados e romeiros, discursando, enfim de diversas maneiras é ele visto na tela". (Jornal do Comércio, 02.12.1926)

FILMOGRAFIA(III)...

O JUAZEIRO DO PADRE CÍCERO, o segundo documentário, foi realizado em 1939, na categoria de curta-metragem/sonoro/não-ficção, a partir de um material original anterior, em 35mm, BP, com duração de 8min, 220m, 24q. A produção foi de Lauro Reis Vidal, no Rio de Janeiro.

FILMOGRAFIA(IV)...

PADRE CÍCERO, O PATRIARCA DO JUAZEIRO, o terceiro documentário, foi realizado em 1955, na categoria de curta-metragem/sonoro/não-ficção, a partir do material original em 35mm, BP, com duração de 11min, 300m, 24q. A produtora foi a Filmes Artísticos Nacionais, do Rio de Janeiro, e a co-produção foi de Lauro Reis Vidal, tendo como direção Alexandre Wulfes. Por exigência da época, o documentário passou pela censura em 19.01.1955, com o certificado 31942, válido até 19 de janeiro de 1960.


FILMOGRAFIA(V)...

Comentários: Observe que fotos de Lampião são referidas em período anterior à sua visita a Juazeiro, em 1926. Algumas das cenas destes documentários podem ser vistas em outras produções recentes, tanto para cinema como para tv. Na ilustração da coluna de hoje, o arquivo do Juaonline apresenta algumas delas, em fotos que foram obtidas por Raymundo Gomes de Figueiredo (anos 50), a partir de fotogramas destas películas. Especialmente sobre esta primeira película, encontro um registro cartorial firmado pelo Pe. Cícero nos seguintes termos:

1931, 13 de novembro - DOCUMENTO DO PADRE CÍCERO CONCEDENDO AUTORIZAÇÃO EXCLUSIVA, AO SR. LAURO DOS REIS VIDAL, PARA EXIBIÇÃO DO FILME" JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO E ASPECTOS DO CEARÁ. "ÍNTEGRA: " Amigo e Sr. Laudo Reis Vidal. Saudações. Consoante os seus desejos, pela presente, dou a V.S. a exclusividade absoluta para exibição e representação cinematográfica em "qualquer parte do país e fora dele" de filme que diz respeito a aspectos deste município ou fora dele, nos quais figure a minha pessoa. Assim autorizado poderá V.S. fazer a exibição de qualquer película authentica que tenha obtido, ou que possa obter, conforme melhormente consulte as suas conveniencias e as aspirações gerais do povo, a exemplo da que já é de sua propriedade. Joazeiro, 13, de outubro de 1931. Ass. Padre Cícero Romão Baptista.(Lo. B-l, N° de Ordem 10, p. 18)

No dia seguinte, o Pe. Cícero faz constar no mesmo livro do primeiro tabelionato uma outra comunicação, reafirmando a concessão do dia anterior e ampliando suas prerrogativas: 1931, 14 de novembro - DOCUMENTO DO PADRE CÍCERO CONCEDENDO AUTORIZAÇÃO EXCLUSIVA AO SR. LAURO REIS VIDAL, PARA IXIBIÇÃO DO FILME "JOAZEIRO DO PADRE CÍCERO E ASPECTOS DO CEARÁ. "Integra: "Amigo e Sr. Lauro Reis Vidal. Local. Reportando-me a minha carta passada onde lhe concedo a exclusividade de minha exibição cinematográfica ficando V.S. com plena autorização por ser o único habilitado a propagar o município de Joazeiro e minha pessoa, através da mesma exclusividade, em todos os tempos, como proprietário do filme "Joazeiro, do Padre Cícero e Aspectos do Ceará" ou outro qualquer filme que possa obter; sirvo-me da presente para juntar as fotografias e documentos que solicitou, em relação separada e por mim assignada, como elementos precisos para a via de propaganda acima citada. Encerrando, cumpre-me, de já, agradecer a sua manifesta boa vontade para comigo, os meus amigos e as coisas do Joazeiro. Saudações. Joazeiro, 14 de novembro de 1931. Ass. Padre Cícero Romão Baptista.( Lo.B-l, N° de Ordem 12, p. 19/20).

Padre Cícero com traje preto

O ano de 1925 foi pródigo para filmagens em Juazeiro. Conhecemos a película realizada em 11 de janeiro, quando da inauguração da estátua ao Pe. Cícero, na Praça Alm. Alexandrino de Alencar; conhecemos a película realizada em setembro, quando da visita da comitiva do presidente Moreira da Rocha; conhecemos a que foi realizada por Ademar Albuquerque/Reis Vidal; mas não conhecemos uma que teria sido realizada por iniciativa do então deputado estadual Godofredo de Castro, neste mesmo ano.

É muito mais provável que Ademar esteja como realizador em todas estas películas e este relacionamento teria servido para oferecer um treinamento mínimo para o que viria anos depois com o filme de Lampião, pois é neste ponto que o testemunho de Chico Albuquerque a Nirez é importante.

Não tenho dúvida em aceitar que Ademar e Benjamim tornaram-se parceiros, sendo este cliente daquele e a quem poderia realizar pelo motivo apresentado por Chico Albuquerque e Nirez, o da confiança de alguém que não o punha, e a seu grupo, em apuros com a repressão policial.

Benjamin Abraão

Embora tenha feito isto, publicamente, em depoimento durante uma edição do Cine Ceará, anos atrás, aproveito a oportunidade para relatar brevemente o que me foi ensejado conhecer desta atividade cinematográfica de Benjamim. No início dos anos 80, eu e Daniel Walker adquirimos uma coleção de fotografias antigas de Juazeiro e alguns pequenos pedaços destas películas que o seu proprietário, Raymundo Gomes de Figueiredo, cidadão juazeirense, mantinha como acervo e no qual se incluíam livros e jornais, e a que deu o nome de Arquivo Benjamim Abraão.

Quando adquirimos e isto foi divulgado pelo Diário do Nordeste, o fato foi relevado como se tivéssemos adquirido o Arquivo “de” Benjamim Abraão. A família de Benjamim, através de seu filho, então residente em Niteroi e comerciante no Rio de Janeiro, Atalah Abraão, instruído por Eusélio Oliveira, resolveu mover uma ação contra nós dois e a levou adiante nas instâncias de Juazeiro do Norte e Fortaleza. Vencemos nas duas e o material nos foi devolvido, anos depois. Mais adiante, numa conversa com o ex-senador da república, José Reginaldo Duarte, cuja família criou nos arredores de Juazeiro, o filho de Benjamim, o sr. Atalah, nos chamou para uma conversa onde algumas coisas foram faladas a respeito da frustração que aquele ato determinou para nós e para a família, sobretudo porque ficou demonstrado que nós não havíamos comprado nenhum roubo, portanto, não éramos receptadores de um acervo, até então procurado.

O sr. Reginaldo Duarte nos lembrou, inclusive, que por vários anos, encontrando-se diversos rolos de filmes pertencentes a Benjamim (não se sabe se apenas outros que não o relativo a Lampião) num canto da casa, na localidade de Brejo Seco, proximidades do atual Aeroporto Regional do Cariri, guardados em latas...

...a garotada do sítio tomava aqueles rolos e os queimavam durante as festas juninas. Certamente que por conta do material cinematográfico de então, sua queima se assemelhava a uma chuva de prata, coisa que fazia a garotada delirar.

Este é o fim trágico, pelo qual, inclusive tivemos que pagar duramente por uma suspeita descabida, a partir da ignorância e má vontade do então, meu amigo, Eusélio Oliveira, que não se permitiu aceitar o convite para conhecer de perto o que tínhamos comprado. A grande indagação que ficou, como moral da história foi mais uma grande dúvida sobre o que teria feito ou não Benjamim Abraão, como fotógrafo e cinegrafista, aluno de Ademar.

Em tudo o que mencionei antes e do que ouvi, destaco: Sem querer por fogo na fornalha e já pondo, enfatizo o que registra a ficha da Cinemateca, mencionada: Há também belos trechos da estrada de ferro e fotografias de Lampião e seu grupo. Não é interessante que haja estas fotografias tomadas em data(s) anterior(es) a 1926. Observar que no filme com Lampião, Benjamim aparece usando um bornal com a inscrição Aba Film. Nunca houve omissão de que a produtora foi a Aba Film, de Adhemar Bezerra Albuquerque, que (também) deve ter feito a direção, à distância. Por isto, o depoimento de Nirez corrobora com as indicações anteriores de que ele era, efetivamente, produtor, diretor e fotógrafo destas películas em torno de 1925. Entre 1925 e 1936, quando filma Lampião, certamente Benjamim já teria apreendido objetivas e eficientes lições para manejar a máquina. Em mais de 10 anos de relação profissional com Ademar, Benjamim só teria feito isto? A resposta se foi, desgraçadamente, no fogo ingênuo das crianças, em noitadas de São João, nos arredores de Juazeiro do Norte.

Renato Casimiro
http://cariricangaco.blogspot.com
http://www.portaldejuazeiro.com

MEU MARIDO MATOU " LAMPIÃO "

Dona Cyra Britto e o matador de Lampião - João Bezerra

Clique no link abaixo para você ler o que escreveu o pesquisador, colecionador do cangaço: Dr. Ivanildo Alves da Silveira

http://www.orkut.com/Main#CommMsgs?tid=5484912299214426300&cmm=624939&hl=pt-BR

LG Centenário - Bibliografia 2012

Por: Kydelmir Dantas

Caros GONZAGUIANOS.

No ano do seu Centenário, o Rei do Baião teve vários trabalhos publicados, em formatos diversos. Em cordéis foram mais de 60. Segue uma relação de livros, compilada até hoje:

(See attached file: 4 BIBLIOGRAFIA GONZAGUIANA_2012.doc)

Caso esteja faltando algum, favor nos comunicar para atualizarmos os dados.
BIBLIOGRAFIA GONZAGUIANA 2012
Kydelmir Dantas (*)

VIANA, Arievaldo. O Rei do Baião - Do Nordeste para o Mundo. Planeta Jovem. São Paulo. 2012.
ARLÉGO, Edvaldo. Luiz Gonzaga Centenário. Editora Edificante. Recife, 2012.
MATRICÓ, Paulo. Luiz Lua Alegria. Ensinamento. 2012.
VIEIRA, Jonas & KHOURY, Simon. Gonzagão e Gonzaguinha: Encontros e Desencontros. Viaman Gráfica e Editora. Rio de Janeiro. 2012.
ECHEVERRIA, Regina. Gonzagão e Gonzaguinha: uma História brasileira. 2ª edição. Leya. 2012.
LIMA, João de Sousa. Centenário de Luiz Gonzaga e a passagem do Rei do Baião em Paulo Afonso. Paulo Afonso – BA: Fonte Viva. 2012.
DANTAS, Kydelmir. Luiz Gonzaga e o Rio Grande do Norte. Mossoró, RN. Queima-Bucha. 2012.
ÂNGELO, Assis. Lua Estrela Baião: a história de um Rei. São Paulo: Cortez Editora. 2012.
BARBOSA, José Marcelo Leal. Luiz Gonzaga: 100 anos do Eterno Rei do Baião”. Fortaleza-CE. 2012.
HOLANDA, Arlene & VIANA, Arievaldo. O “beabá” do sertão na voz de Gonzagão. Armazém da Cultura. 2012.
MARCELO, Carlos & RODRIGUES, Rosualdo. O Fole Roncou! Uma história do Forró. Zahar. 2012.
ANLIC – Marcos Antonio de Andrade Medeiros (org.). Luiz Gonzaga em Cordel. Academia Norteriograndense de Literatura de Cordel. EDUFRN. 2012.
CASTRO, Maurício Barros de & RODRIGUES, Wesley. Luiz Gonzaga - Asa Branca - O Menino Cantador (HQ).  Retina78. 2012.
ZEPRAXEDI. Luiz Gonzaga e Outras Poesias. Sebo Vermelho, Natal. 2ª edição. 2012.
ARAÚJO, Iramir (org.). Asa Branca – Traços de Canções. Dupla Criação. São Luiz. 2012.
MORAES, Jonas Rodrigues. Sons do Sertão: Luiz Gonzaga, música e identidade. Annablume. Teresina. 2012.
GALINDO, Carlos. Luiz Gonzaga: O Rei do Baião (Palavras Cruzadas). Passatempo. Paulo Afonso-BA. 2012.

(*) Pesquisador, poeta e cordelista. De Nova Floresta – PB, radicado em Mossoró – RN.


Saudações e um Promissor 2013 a todo(a)s.
Kydelmir Dantas
MOSSORÓ - RN
Fone: (0xx - 84) - 3323 2307


Enviado pelo autor

http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

A passagem do cangaceiro Antônio Silvino por Jardim de Piranhas

Por: Sérgio Augusto de Souza Dantas(*)

Manoel Baptista de Moraes era seu nome verdadeiro. Adotando o cangaço como modo de vida, a fim de vingar o assassinato de seu pai, o pacato sertanejo tornou-se “Antônio Silvino”, o mais famoso cangaceiro antes do aparecimento de Lampião. Sua vida errante começa em fins de 1899 e se estende até a sua prisão, em novembro de 1914.


Em fevereiro de 1901, Antônio Silvino pisou pela primeira vez o solo potiguar. Seguido de perto por uma tropa policial sediada na cidade paraibana de Santa Luzia, o grupo de cangaceiros liderados por Silvino foi pego de surpresa na Fazenda Pedreira, do Coronel Janúncio da Nóbrega, localizada no município de Caicó. O tiroteio, apesar da curta duração, foi intenso e um dos cabras do bando tombou mortalmente ferido próximo ao engenho da propriedade.

Uma década escoa até que Antônio Silvino retorne ao Rio Grande do Norte. De fato, Em dias de janeiro de 1912, o famoso cangaceiro aporta em Jardim de Piranhas, na época uma Vila sem grande expressão econômica, mas integrada aos centros comerciais de Caicó e Catolé do Rocha. Partindo de Jucurutu, Antônio Silvino acompanhado com cerca de uma dúzia de homens bem armados - desceu o leito seco do rio Piranhas. Ao entardecer, acampou com seu séquito para pernoite em um areado próximo ao lugar Piedade.

No dia seguinte, ainda cedo, o pequeno grupo armado adentrava a povoação seridoense. Era dia de feira em Jardim de Piranhas. Por entre o minguado comércio do lugar, os homens do bando se espalharam e recolheram algum dinheiro.

Silvino manteve-se à distância, observando cuidadosamente a Vila. À primeira vista, o lugar pareceu-lhe insalubre e abandonado. Animais vagavam soltos em meio aos feirantes. Prédios sujos, paredes por rebocar, calçadas inacabadas, buracos nas ruas e lixo por toda parte. O “Capitão” ficou indignado com o que viu. Possesso, mandou chamar o Intendente e lhe reclamou com aspereza o péssimo estado em que se encontrava a cidade nascente. Depois lhe exigiu como absoluto senhor dos sertões - providências imediatas para a limpeza das ruas e do casario. Em tom abusado, arengou ao chefe político:

-“Volto aqui em um prazo de onze meses, para verificar se minhas “recomendações” foram de fato cumpridas!”.

As exigências de Silvino logo vieram a público, mas o sertanejo via o bandoleiro com alguma simpatia, já que suas visitas ao rio Grande do Norte tinham invariavelmente uma natureza pacífica.

O jornal 'O Mossoroense', em edição de 13 de março daquele ano, publicou uma interessante nota sobre a reação da população campesina às investidas do bandoleiro ao nosso Estado. O artigo analisava com algum acerto o perfil daquele homem desde muito imerso no submundo do cangaço e as causas geradoras deste:

“Porque Antônio Silvino cavalheirescamente recebe, prodigamente presenteado pelo sertanejo pacífico e inerme, é antes de tudo um verdadeiro expoente, a manifestação exterior e característica de uma enorme diátese social. Ele é assim o sintoma que gangrena o organismo social. Devemos procurar o mal na sua base, procurando suas causas mais remotas”.


Críticas ou comentários jornalísticos não possuíam, entretanto, o condão de concretizar uma efetiva campanha militar com o objetivo de manter o bandoleiro longe do Rio Grande do Norte. Antônio Silvino continuava a transitar livremente pelo Estado. Em verdade, meses depois, estava de volta a Jardim de Piranhas para comprovar, de perto, se suas 'ordens' haviam sido cumpridas. O cangaceiro mostrava-se feliz na oportunidade. A pequena cidade se transformara: casas limpas, ruas organizadas e prédios comerciais pintados.

Considerou a mudança na paisagem da comunidade como uma 'conquista', a qual o marcou pelo resto da vida. Não se cansava de contar e recontar a história onde quer que fosse.

Após sua soltura, em 1937, o velho cangaceiro passou a circular de forma amistosa pelos locais onde estivera mais de duas décadas antes. Nos vários locais em que esteve, repetiu com prazer o episódio ocorrido em Jardim de Piranhas.

Na cidade pernambucana de Bom Jardim, por exemplo, onde passou alguns dias em 1939, narrou exaustivamente o episódio. Exagerava o enredo. Contava aos circunstantes que deu 'ordens expressas' ao Intendente para tornar a cidade agradável aos visitantes. Usando um tom de “dono-do-mundo”, Silvino repetia:

-“Mandei chamar o Prefeito e outras pessoas e dei-lhes um prazo para mandarem limpar e caiar todos os edifícios. Dei-lhes onze meses para solucionar o caso. Decorrido certo tempo, voltei à cidade e quase não reconheci. Transformação geral. Linda e catita mesmo”.

E abria um largo sorriso, ao recordar-se do fato pitoresco. Ao final, invariavelmente, perguntava aos presentes: -“Não foi melhor assim?” e tornava a sorrir.


No início da década de 40, Antônio Silvino vem pela última vez ao Rio Grande do Norte. Visita Serra Negra, Caicó e mais uma vez - Jardim de Piranhas, a cidade que o marcara. Desta feita, foi hóspede da Sra. Emília Aladim de Medeiros. Durante o tempo em que esteve na cidade, sempre era olhado com um misto de medo e curiosidade. Diariamente, após o café-da-manhã, colocava sua cadeira na calçada do pequeno hotel e ali passava horas contemplando o vai-e-vem das pessoas do lugar.

Em certa ocasião, um cidadão conhecido por Nonato, parou para uma breve conversa. Não conhecia, decerto, o temperamento irritadiço de Antônio Silvino. Quis iniciar uma palestra amistosa e brincou:

-“Capitão, cadê o ouro que você ganhou dos fazendeiros”?

A resposta grosseira soou de imediato:

-“Fiz uma corrente e amarrei no rabo da sua mãe!”.

A vida sofrida o fez amargo. Nos últimos meses de vida Silvino vivia calado, pensativo, distante. A única pessoa em Jardim de Piranhas a quem dava atenção era o Doutor Abílio Medeiros ou Dona Emília, sua hospedeira. 

Certa vez relembrou - em tom arrogante - como a cobrar antiga dívida:

-“Fiz um grande benefício a esta terra! Passando certa vez por aqui, achei as casas muito sujas. Fui ao Prefeito e dei um prazo para limpa-las. Pouco mais tarde voltei e achei a cidade limpa!”.

Antônio Silvino faleceu em 28 de julho de 1944 em Campina Grande, Paraíba.

Enquanto cangaceiro, a muitos matou, muitas vezes de forma fria e arbitrária. Porém, foi justo e bondoso com inúmeros sertanejos. Provavelmente ninguém jamais conhecerá, de fato, quem foi este famoso antecessor de 'Lampião'. É possível que suas atitudes contraditórias fiquem para sempre sem uma explicação plausível. Sua personalidade será eternamente um paradoxo.

Fonte: Revista Jardimemfesta 3ª Edição, setembro/2007 | Texto: Sérgio Augusto de Souza Dantas 

(*) Sérgio Augusto de Souza Dantas É Juiz de Direito em Natal e autor dos livros LAMPIÃO E O RIO GRANDE DO NORTE A HISTÓRIA DA GRANDE JORNADA e ANTÔNIO SILVINO: O CANGACEIRO, O HOMEM, O MITO.

http://www.jarlescavalcanti.com

LAMPIÃO CHEGOU

Por: Clerisvaldo B. Chagas, 27 de dezembro de 2012. Crônica Nº 937

Ao completar60 anos de fundação o Tênis Clube Santanense faz parte do patrimônio histórico de Santana do Ipanema e a ele também, à semelhança de Luís Fumeiro, dei-lhe uma página na História de Santana e foto de 2006, data da minha pesquisa. No próximo dia 19 de janeiro (sábado), estaremos lançando dois livros naquele clube, “Lampião em Alagoas” e “Negros em Santana”.


O primeiro da autoria de Clerisvaldo B. Chagas ─ que já vai para sua 18ª obra literária ─ e Marcello Fausto que estreia como parceiro.


O segundo, “Negros em Santana”, de Clerisvaldo, Marcello e Pedro Pacífico Vieira Neto, impresso na Grafpel. “Lampião em Alagoas” é um livro editado pela Grafmarques e que vai levar o leitor ao mundo de cangaceiros e forças volantes por quase quinhentas páginas com revelações surpreendentes. Mais de sessenta fotos sobre o tema em nosso estado ilustram as páginas escritas de forma acadêmica, obedecendo à cronologia que oferece conforto ao leitor mais exigente. O livro não faz apologia a cangaceiro e procura o equilíbrio constante da primeira à última página. Os autores, logo após as palavras iniciais, apresentam o palco completo aonde irão se desenrolar as cenas entre polícia e bandidos.

O livro “Negros em Santana” é uma síntese da presença negra na sociedade cabocla do município, história semelhante a tantas outras do sertão nordestino e que nunca foram escritas. No primeiro livro, a história cangaceira acontecida com inúmeros fatos em Santana do Ipanema, jamais foi conhecida pela juventude atual das nossas escolas. Os ataques de Lampião a muitas fazendas do município, a fundação do Batalhão para combater o cangaço, as cabeças decepadas que chegaram à cidade, a resistência contra Virgolino, as entregas dos cangaceiros remanescentes, nomes de cangaceiros santanenses e alagoanos, ações que partiram de Santana... Nada, nada disso foi dito aos nossos jovens estudantes, completamente leigos no assunto. Santana do Ipanema é citada e mostrada dezenas e dezenas de vezes, coisas que irão causar um impacto muito grande em quem não conhecia nem de longe a participação da cidade de várias formas em ações na época da espingarda.


Estamos abrindo hoje a fase dos comerciais que irão levar à noite do dia 19 de janeiro o cangaço ao Tênis Clube Santanense quando uma festa complementará a outra. Demorou, mas LAMPIÃO CHEGOU.



CLERISVALDO B. CHAGAS – AUTOBIOGRAFIA
ROMANCISTA – CRONISTA – HISTORIADOR - POETA

Clerisvaldo Braga das Chagas nasceu no dia 2 de dezembro de 1946, à Rua Benedito Melo ( Rua Nova) s/n, em Santana do Ipanema, Alagoas. Logo cedo se mudou para a Rua do Sebo (depois Cleto Campelo) e atual Antonio Tavares, nº 238, onde passou toda a sua vida de solteiro. Filho do comerciante Manoel Celestino das Chagas e da professora Helena Braga das Chagas, foi o segundo de uma plêiade de mais nove irmãos (eram cinco homens e cinco mulheres). Clerisvaldo fez o Fundamental menor (antigo Primário), no Grupo Escolar Padre Francisco Correia e, o Fundamental maior (antigo Ginasial), no Ginásio Santana, encerrando essa fase em 1966.Prosseguindo seus estudos, Chagas mudou-se para Maceió onde estudou o Curso Médio, então, Científico, no Colégio Guido de Fontgalland, terminando os dois últimos anos no Colégio Moreira e Silva, ambos no Farol Concluído o Curso Médio, Clerisvaldo retornou a Santana do Ipanema e foi tentar a vida na capital paulista. Retornou novamente a sua terra onde foi pesquisador do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Casou em 30 de março de 1974 com a professora Irene Ferreira da Costa, tendo nascido dessa união, duas filhas: Clerine e Clerise. Chagas iniciou o curso de Geografia na Faculdade de Formação de Professores de Arapiraca e concluiu sua Licenciatura Plena na AESA - Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde, em Pernambuco (1991). Fez Especialização em Geo-História pelo CESMAC – Centro de Estudos Superiores de Maceió (2003). Nesse período de estudos, além do IBGE, lecionou Ciências e Geografia no Ginásio Santana, Colégio Santo Tomaz de Aquino e Colégio Instituto Sagrada Família. Aprovado em 1º lugar em concurso público, deixou o IBGE e passou a lecionar no, então, Colégio Estadual Deraldo Campos (atual Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva). Clerisvaldo ainda voltou a ser aprovado também em mais dois concursos públicos em 1º e 2º lugares. Lecionou em várias escolas tendo a Geografia como base. Também ensinou História, Sociologia, Filosofia, Biologia, Arte e Ciências. Contribuiu com o seu saber em vários outros estabelecimentos de ensino, além dos mencionados acima como as escolas: Ormindo Barros, Lions, Aloísio Ernande Brandão, Helena Braga das Chagas, São Cristóvão e Ismael Fernandes de Oliveira. Na cidade de Ouro Branco lecionou na Escola Rui Palmeira — onde foi vice-diretor e membro fundador — e ainda na cidade de Olho d’Água das Flores, no Colégio Mestre e Rei. 
Sua vida social tem sido intensa e fecunda. Foi membro fundador do 4º  teatro de Santana (Teatro de Amadores Augusto Almeida); membro fundador de escolas em Santana, Carneiros, Dois Riachos e Ouro Branco. Foi cronista da Rádio Correio do Sertão (Crônica do Meio-Dia); Venerável por duas vezes da Loja Maçônica Amor à Verdade; 1º presidente regional do SINTEAL (antiga APAL), núcleo da região de Santana; membro fundador da ACALA - Academia Arapiraquense de Letras e Artes; criador do programa na Rádio Cidade: Santana, Terra da Gente; redator do diário Jornal do Sertão (encarte do Jornal de Alagoas); 1º diretor eleito da Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva; membro fundador da Academia Interiorana de Letras de Alagoas – ACILAL.
Em sua trajetória, Clerisvaldo Braga das Chagas, adotou o nome artístico Clerisvaldo B. Chagas, em homenagem ao escritor de Palmeira dos Índios, Alagoas, Luís B. Torres, o primeiro escritor a reconhecer o seu trabalho. Pela ordem, são obras do autor que se caracteriza como romancista: Ribeira do Panema (romance - 1977); Geografia de Santana do Ipanema (didático – 1978); Carnaval do Lobisomem (conto – 1979); Defunto Perfumado (romance – 1982); O Coice do Bode (humor maçônico – 1983); Floro Novais, Herói ou Bandido? (documentário romanceado – 1985); A Igrejinha das Tocaias (episódio histórico em versos – 1992); Sertão Brabo CD (10 poemas engraçados).


Até setembro de 2009, o autor tentava publicar as seguintes obras inéditas: Ipanema, um Rio Macho (paradidático); Deuses de Mandacaru (romance); Fazenda Lajeado (romance); O Boi, a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema(história); Colibris do Camoxinga - poesia selvagem (poesia).

Atualmente (2009), o escritor romancista Clerisvaldo B. Chagas também escreve crônicas diariamente para o seu Blog no portal sertanejo Santana Oxente, onde estão detalhes biográficos e apresentações do seu trabalho.

(Clerisvaldo B. Chagas – Autobiografia)

http://clerisvaldobchagas.blogspot.com.br/2012/12/lampiao-chegou.html

Se você gosta de ler histórias sobre "Cangaço" clique no link abaixo:

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

LUIZ GONZAGA E O RIO GRANDE DO NORTE


Autor: Kydelmir Dantas


Já está à venda na LIVRARIA NOBEL

Avenida Senador Salgado Filho, 1782 - Lagoa Nova  - Natal - RN
CEP - 59022-000
Fone: (0xx) - 84 - 3613-2007

Parceiros potiguares
com verbetes:

Celso da Silveira, Chico Elion, Henrique Brito, Elino Julão, Frei Marcelino, Jandhuy Finizola e Severino Ramos.

Parceiros e intérpretes potiguares
com verbetes:

Ademilde Fonseca, As Potiguaras, Carlos Zens, Coral da Petrobras Mossoró, Khrystal, Marina Elali, Meirinhos, Mirabô Dantas, Nenem do Baião, Orquestra Sinfônica da UFRN, Orquestra Sanfônica de Mossoró, Paulo Tito, Roberto do Acordeon, Terezinha de Jesus, Trio Irakitan, Trio Mossoró, VINA e Zé Lima.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Colégio Sete de Setembro, 1904.

Colégio Sete de Setembro, 1904

Em 1900, o último ano do Século XIX, Mossoró-RN tinha sete escolas municipais, sendo 2 na cidade, e as demais, nos seguintes bairros: Porto de Santo Antonio, Alto da Conceição (ex-Macacos), São Sebastião, Taboleiro Alto, e Santana (Upanema). Diante da carente oferta educacional no município, surgiu em, 07/09/1900, o primeiro estabelecimento de ensino secundário, o Colégio Sete de Setembro que funcionou até 1904, com ampla repercussão educacional. O fundador deste Colégio foi o Prof. Antonio Gomes de Arruda Barreto (1857-1909), natural de Pedra Lavada-PB, e em 1897, fundou em Brejo do Cruz-PB este Colégio Sete Setembro, porém, a convite do seu conterrâneo, o farmacêutico e empresário, natural de Pombal-PB,  

Jerônimo Rosado - jotaemeshon-saaguarn.blogspot.com

Jerônimo Rosado, (1861-1930), já fixado em Mossoró-RN, transferiu em 1901, o referido colégio para esta cidade. Não existem referências sobre questão da gratuidade do ensino ofertado por este Colégio, mas certamente foi um estabelecimento de caráter privado e pago, uma vez que a cidade de Mossoró apresentava uma boa renda per capita e atrativos econômicos que estimulavam a vinda de imigrantes a estabelecerem-se nesta praça.

O Colégio Sete de Setembro localizava-se, na rua que era conhecida como Alto do Pão Doce, por ali se fixar em um dos seus ângulos uma saliência territorial, onde depois foi construído o referido Colégio, em frente à Praça Antonio Souza Machado. Na Sessão de 04/11/1901, a rua passou a chamar-se Rua Desembargador Dionísio da Filgueira, e assim permanecendo até a presente data. 

Em 02/03/1901, a cidade ganhou mais um educandário secundário, para alunos do sexo masculino,  de caráter privado e pago, voltado para a elite econômica local e adjacente, o Ginásio Diocesano Santa Luzia que funciona até hoje, com a denominação de Colégio Diocesano Santa Luzia.

Colégio Diocesano Santa Luzia - Em 1965

Pelo registro fotográfico pode-se notar que a maioria dos alunos que se encontram em frente ao Colégio Sete de Setembro são do sexo masculino, não obtive informações se este educandário seria destinado a ambos os sexos. Estabeleci a data de 1904, pois este Colégio funcionou até 1904, e também, como pode-se verificar, ainda não havia postes para iluminação elétrica, pois só apareceriam a partir de 1916, data que a cidade recebeu iluminação de energia elétrica. Considero que o provável autor desta fotografia haja sido João da Escóssia Nogueira, pelas mesmas razões que apresentei para esta outra fotografia.

Contudo, é conveniente salientar que a administração de Alberto Maranhão centrou na política de expansão do ensino no RN, criando, nas décadas de 1910 e 1920, por todo o interior do estado,  os Grupos Escolares voltados para a população de baixa renda. Estas escolas transmitiam o conhecimento de forma acadêmica, e portanto nunca foi uma escola cara, e por isto pôde existir e até multiplicar-se em períodos de grande pobreza social. 

Em 15/11/1908, pelo Decreto 108, o Governador Alberto Maranhão criou, em Mossoró,  o Grupo Escolar 30 Setembro,  primeiro grupo escolar instalado no interior estado. O Grupo iniciou o seu funcionamento em 12/05/1909, e o seu primeiro diretor foi o Prof. Lourenço Gurgel do Amaral. O Grupo Escolar 30 de Setembro funcionava ao lado da Escola Normal. O curso primário tinha a duração de 6 anos, com 10 cadeiras (disciplinas), que ao final fornecia o diploma de estudos primários superiores. Não tive sucesso em obter informações sobre o local de funcionamento do Grupo Escolar, mas, parece-nos que permaneceu no local do Colégio Sete de Setembro.

Governantes local/nacional em 1904 - Presidente da República: Rodrigues Alves. Legislatura: 1902-1906; Governador do RN: Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão. Legislatura: 1900-1904; Em Mossoró-RN: Presidente do Conselho:Antonio Filgueira Filho. Vice: Francisco Tavares Cavalcanti. Intendente: Vicente Praxedes da Silveira Martins. Mandato do Conselho: 1902-1904; Padrão Monetário vigente: Réis.

Citarmos as fontes é respeitar quem pesquisou e dar credibilidade ao que escrevemos. Teléscope.
Fontes:  BRITO, Raimundo Soares de.Ruas e Patronos de Mossoró (Dicionário), Vols I e II, Coleção O Mossoroense, Fundação Vingt-un Rosado, setembro de 2003;  CASCUDO, Luís da Câmara. Notas e Documentos para a História de Mossoró, Coleção O Mossoroense, Fundação Vingt-un Rosado, 4a. Edição, maio de 2001; COSTA, Andréa Virgínia Freire. Lugares do passado ou espaços do presente? Coleção O Mossoroense, Fundação Vingt-un Rosado, Mossoró-RN, abril de 2009; Centro de Memória-TRE-RN; Hemeroteca Pe. Sátiro; Memorial do Ministério Público do RN; Fonte do arquivo fotográfico P&B.

http://telescope.zip.net

O cangaceiro Moreno


O cangaceiro Moreno

Antônio Ignácio da Silva (Tacaratu, 1 de novembro de 1909 — Belo Horizonte6 de setembro de 2010), mais conhecido pela alcunha de Moreno, foi um cangaceiro pertencente ao bando de Lampião e Maria Bonita. Após a morte deste, fugiu de Pernambuco e adotou o pseudônimo de José Antônio Souto, fixando-se em Minas Gerais. Foi um dos integrantes do bando com maior longevidade, e um dos últimos a morrer.[1][2]

Filho de Manuel Ignácio da Silva (o Jacaré) e Maria Joaquina de Jesus, Antônio perdeu o pai na adolescência, quando este foi morto pela polícia nas proximidades de São José do Belmonte, em uma suposta queima de arquivo. Exerceu a profissão de barbeiro, mas seu desejo era ser soldado da polícia. O sonho terminou quando foi preso e espancando por policiais de Brejo Santo, após ser acusado injustamente de roubar um carneiro. Libertado, matou o homem que o denunciou, que seria o verdadeiro ladrão.[3]

Foi contratado por um proprietário rural para defender sua fazenda do ataque de cangaceiros, mas terminou integrando-se ao grupo de Virgínio, cunhado de Lampião, de quem tornou-se amigo. Na década de 1930 casou-se com Durvalina Gomes de Sá, a Durvinha. O casal teve um filho, que não pôde permanecer com o bando, pois seu choro poderia denunciá-los. A criança foi deixada então com um padre, que a criou.[1][3][4]

Os penúltimos facínoras a deixarem o cangaço - Corisco foi o último

Moreno era conhecido por não gostar dos rifles de repetição americanos, muito usado na época e ter, a sua disposição, um mosquetão.[3]

Dois anos após a morte de Lampião, o casal fugiu para Minas Gerais. Por precaução, Moreno passou a chamar-se José Antônio Souto, e Durvalina tornou-se Jovina Maria. Estabeleceram-se na cidade de Augusto de Lima, e prosperaram vendendo farinha. Tiveram mais cinco filhos, e mudaram-se para Belo Horizonte no final da década de 1960.[5]

Ainda com medo de serem descobertos e mortos, mantiveram o passado em segredo até para os filhos. A situação manteve-se até meados da década de 2000, quando a existência do primogênito foi revelada. 

Encontrado em 2005, Inácio Carvalho Oliveira pôde finalmente reencontrar seus pais biológicos. Só então é que a família conheceu a história do passado no cangaço; Durvinha morreu pouco tempo depois.[2][4][5]

Deprimido com a morte da esposa, a saúde de Moreno passou a ficar cada vez mais debilitada. Ele morreu no dia 6 de setembro de 2010 em Belo Horizonte, aos 100 anos de idade. Durante o sepultamento foi realizada queima de fogos de artifício, a pedido do próprio Moreno, que pensou que nunca teria uma cova; o temor de morrer como um cangaceiro, de capitado e com o corpo deixado no mato, não o abandonou nos 70 anos que manteve seu disfarce.[2][5]

http://pt.wikipedia.org/wiki/Moreno_(cangaceiro)