Seguidores

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

O CHAPÉU DE CORISCO

Por: Clerisvaldo B. Chagas, 10 de dezembro de 2012. Crônica Nº 925

O chapéu de Couro

Como muitos pesquisadores do cangaço andam à procura de detalhes, vamos adiantando um caso que talvez interesse. 

A cangaceira Dadá - revistatpm.uol.com.br

Aliás, quando Dadá esteve em Santana do Ipanema, após o cangaço, fez algumas visitas na cidade. Lembro-me que ela esteve na Rua Antônio Tavares, precisamente numa residência defronte a casa de meus pais. A casa pertencia ao senhor Sabino Pereira, pai do conhecido ex-padre Alberto Pereira e que foi o primeiro pároco da Paróquia de São Cristóvão, com sede no Bairro Camoxinga. Naquela ocasião, a vizinhança comentava a visita, mas não tenho certeza se outras pessoas foram como intrusas conhecer a cangaceira Dadá. Da minha casa mesmo, lá não foi ninguém, até porque meus pais eram avessos a essas coisas de valentia. Mas Dadá havia criado fama não apenas por ser uma bandoleira, mas também pelos comentários de coragem e determinação. Em suma, era citada como uma pessoa má e, isso não me despertou, como rapazinho, nenhum interesse em subir os degraus da calçada alta do fazendeiro Sabino Pereira.

João Bezerra - o matador de Lampião - blogdomendesemendes.blogspot.com

No livro publicado por João Bezerra, “Como dei cabo de Lampião”, vamos encontrar um resumo dos combates daquele tenente e sua volante, com os cangaceiros. 

Dadá e Corisco - clerisvaldobchagas.blogspot.com

Entre eles, está o oitavo tiroteio que foi realizado próximo à fazenda São Luiz, contra Corisco, pelo pé da serra da Cachoeira. O livro não fala exatamente em que estado. “Corisco havia deixado o chapéu, onde havia dois contos em moedas, nas correias. Foram feridos: Corisco, nas pernas, Dadá e Jitirana”.

Sílvio Bulhões - maltanet.com.br

Silvio Bulhões, filho de Corisco e Dadá, disse que em um desses dias de visita, entrou na residência onde eles estavam, repentinamente, o soldado Leôncio Siqueira e entregou o chapéu de Corisco a Dadá, falando sobre o tiroteio. Dadá simplesmente disse que aquele não era o chapéu de Corisco, podia levá-lo de volta. Falou até que podia ter sido de outros cangaceiros, citando nomes de dois deles e pronto. 

Desapontado, o então, hoje, sargento Leôncio foi embora levando o chapéu. Quando ele saiu, Dadá virou-se para Silvio e disse: “A ele eu jamais iria admitir que aquele chapéu fosse de Corisco. Mas a você eu falo a verdade: era sim, o chapéu de seu pai”.
(Lampião em Alagoas - inédito).

Numa recente reunião “cultural” ocorrida em Santana, ao perguntarem por que eu não estava ali (não havia sido convidado) o chefinho articulista e manhoso respondeu igualzinho a Dadá com o soldado Leôncio e o CHAPÉU DE CORISCO. 


CLERISVALDO B. CHAGAS – AUTOBIOGRAFIA
ROMANCISTA – CRONISTA – HISTORIADOR - POETA

Clerisvaldo Braga das Chagas nasceu no dia 2 de dezembro de 1946, à Rua Benedito Melo ( Rua Nova) s/n, em Santana do Ipanema, Alagoas. Logo cedo se mudou para a Rua do Sebo (depois Cleto Campelo) e atual Antonio Tavares, nº 238, onde passou toda a sua vida de solteiro. Filho do comerciante Manoel Celestino das Chagas e da professora Helena Braga das Chagas, foi o segundo de uma plêiade de mais nove irmãos (eram cinco homens e cinco mulheres). Clerisvaldo fez o Fundamental menor (antigo Primário), no Grupo Escolar Padre Francisco Correia e, o Fundamental maior (antigo Ginasial), no Ginásio Santana, encerrando essa fase em 1966.Prosseguindo seus estudos, Chagas mudou-se para Maceió onde estudou o Curso Médio, então, Científico, no Colégio Guido de Fontgalland, terminando os dois últimos anos no Colégio Moreira e Silva, ambos no Farol Concluído o Curso Médio, Clerisvaldo retornou a Santana do Ipanema e foi tentar a vida na capital paulista. Retornou novamente a sua terra onde foi pesquisador do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Casou em 30 de março de 1974 com a professora Irene Ferreira da Costa, tendo nascido dessa união, duas filhas: Clerine e Clerise. Chagas iniciou o curso de Geografia na Faculdade de Formação de Professores de Arapiraca e concluiu sua Licenciatura Plena na AESA - Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde, em Pernambuco (1991). Fez Especialização em Geo-História pelo CESMAC – Centro de Estudos Superiores de Maceió (2003). Nesse período de estudos, além do IBGE, lecionou Ciências e Geografia no Ginásio Santana, Colégio Santo Tomaz de Aquino e Colégio Instituto Sagrada Família. Aprovado em 1º lugar em concurso público, deixou o IBGE e passou a lecionar no, então, Colégio Estadual Deraldo Campos (atual Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva). Clerisvaldo ainda voltou a ser aprovado também em mais dois concursos públicos em 1º e 2º lugares. Lecionou em várias escolas tendo a Geografia como base. Também ensinou História, Sociologia, Filosofia, Biologia, Arte e Ciências. Contribuiu com o seu saber em vários outros estabelecimentos de ensino, além dos mencionados acima como as escolas: Ormindo Barros, Lions, Aloísio Ernande Brandão, Helena Braga das Chagas, São Cristóvão e Ismael Fernandes de Oliveira. Na cidade de Ouro Branco lecionou na Escola Rui Palmeira — onde foi vice-diretor e membro fundador — e ainda na cidade de Olho d’Água das Flores, no Colégio Mestre e Rei.

Sua vida social tem sido intensa e fecunda. Foi membro fundador do 4º  teatro de Santana (Teatro de Amadores Augusto Almeida); membro fundador de escolas em Santana, Carneiros, Dois Riachos e Ouro Branco. Foi cronista da Rádio Correio do Sertão (Crônica do Meio-Dia); Venerável por duas vezes da Loja Maçônica Amor à Verdade; 1º presidente regional do SINTEAL (antiga APAL), núcleo da região de Santana; membro fundador da ACALA - Academia Arapiraquense de Letras e Artes; criador do programa na Rádio Cidade: Santana, Terra da Gente; redator do diário Jornal do Sertão (encarte do Jornal de Alagoas); 1º diretor eleito da Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva; membro fundador da Academia Interiorana de Letras de Alagoas – ACILAL.


Em sua trajetória, Clerisvaldo Braga das Chagas, adotou o nome artístico Clerisvaldo B. Chagas, em homenagem ao escritor de Palmeira dos Índios, Alagoas, Luís B. Torres, o primeiro escritor a reconhecer o seu trabalho. Pela ordem, são obras do autor que se caracteriza como romancista: Ribeira do Panema (romance - 1977); Geografia de Santana do Ipanema (didático – 1978); Carnaval do Lobisomem (conto – 1979); Defunto Perfumado (romance – 1982); O Coice do Bode (humor maçônico – 1983); Floro Novais, Herói ou Bandido? (documentário romanceado – 1985); A Igrejinha das Tocaias (episódio histórico em versos – 1992); Sertão Brabo CD (10 poemas engraçados).


Até setembro de 2009, o autor tentava publicar as seguintes obras inéditas: Ipanema, um Rio Macho (paradidático); Deuses de Mandacaru (romance); Fazenda Lajeado (romance); O Boi, a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema(história); Colibris do Camoxinga - poesia selvagem (poesia).


Atualmente (2009), o escritor romancista Clerisvaldo B. Chagas também escreve crônicas diariamente para o seu Blog no portal sertanejo Santana Oxente, onde estão detalhes biográficos e apresentações do seu trabalho.

(Clerisvaldo B. Chagas – Autobiografia)

http://clerisvaldobchagas.blogspot.com.br/2012/12/14_9.html

Semana dedicada ao rei do baião Luiz Gonzaga e Câmara Cascudo -- o prefaciador da primeira biografia do compositor e cantor, por Zé Praxedi - ao amigo Kydelmir Dantas

João da Mata Costa
O professor João da Mata Costa reúne acervo sobre Dom Quixote e São Jorge, em mostra que integra o projeto Privado é Público.
http://tribunadonorte.com.br

A terra é exsicada

E ele o nosso rapsodo
O chão partido curtido
Por cactáceas
Ser tão forte de
Beatos e cangaceiros
Milagres de Santa Luzia
Cantadores, sanfonas, violeiros
E Juazeiros
Salve meu Sertão
Luiz
Lua
Gonzaga
de Pai a Fio e Vô
respeita
Januário
Gonzagão
Gonzaguinha

Câmara Cascudo

A relação do polígrafo Câmara Cascudo com a música dos vaqueiros, modinheiros e cantadores populares é visceral e perpassa toda a sua obra.  Um pianeiro tocador de ouvido.   Essa sua faceta foi explorada inicialmente pelo escritor potiguar e tocador de violino Gumercindo Saraiva, que escreveu um livro  sobre o musicólogo Cascudo; “Cascudo um Musicólogo Desconhecido” (1969). Gumercindo também foi compositor e compôs com o poeta vaqueiro Zé Praxedi a modinha “Minha Natal”. Zé Praxedi  escreveu  em versos a primeira biografia do Rei do Baião.  O livro pioneiro do poeta norte-rio-grandense foi publicado há 60 anos e reeditado em edição facsimilar pelo Sebo Vermelho de Natal – RN, em 2012.  O livro “Luiz Gonzaga e outras poesias” do Zé Praxedi teve o prefácio de Luiz Gonzaga  e  apoio  do vice-presidente da República, o potiguar João Café Filho. Foi publicada pela Continental Artes Gráficas, de São Paulo - SP, em 1952.  José Praxedes Barreto – o Zé Praxedi - nasceu na Fazenda Espinheiro, Angicos (RN), em 15 de novembro de 1916 e faleceu no Rio de Janeiro em 16 de março de 1982. Compositor, intérprete, escritor, poeta, radialista, cordelista e jornalista.  Atuou muito tempo na famosa Rádio Nacional, onde apresentava  o programa “Sertão é assim”, título de um outro livro escrito com sua pena matuta.
  
Cascudo escreveu: “o que ele disser é diretamente nascido das melhores águas e da mais pura das fontes populares. Está impregnado no sentido, na essência, do sangue da tradição popularesca.”  
O livro do Poeta Vaqueiro é composto de vários poemas, com destaque para “Luiz Gonzaga.”

"Meu nome é Luiz Gonzaga,
Não sei se sou fraco ou forte,
Só sei que graças a Deus,
Té pra nascer tive sorte,
Após nasci em Pernambuco
Fanmôso Leão do Norte.

Nas terras de Novo Exu,
Da fasenda Caiçara,
Im novecentos e dôze,
Viu o mundo a minha cara.

No dia de Santa Luzia,
Purisso é qui sô Luiz,
No mêz qui Cristo nasceu,
Purisso qui sô feliz.”

O SERTÃO É ELE

A relação de Luis da Câmara Cascudo com o Rei do Baião, Luiz Gonzaga nascido no dia de Santa Luzia, não ficou só nesse registro antológico.  Em 1973, o musicólogo Cascudo escreve um texto primoroso para a contracapa do LP “Luiz Gonzaga”.

Luiz Gonzaga é uma legitimidade do sertão. Sua inspiração mantém as características do ambiente poderoso e simples, bravio e natural, onde viveu. Não imita. Não repete. Não pisa rastro de nome aclamado. É ele mesmo, sozinho, inteiro, solitário, povoando os arranha-céus com as figuras imortais do Nordeste, ardente e sedutor, fazendo florir cardeiros e mandacarus levantando o mormaço dos tabuleiros através das cidades tumultuosas onde permanece.

Fui menino do Sertão, 1909 – 1913. Tenho na memória o timbre das grandes vozes infatigáveis, ímpeto das guerrilhas no açodamento dos “crescendo”, nasalamente infalível na modulação para fechar na dominante. Sertão sem rodovias, luz elétrica, gasolina. vaqueiros, cantadores, romeiros do São Francisco do Canindé, Juazeiro, Santa Rita dos Impossíveis. Poeira heroica das feiras e vaquejadas. Viola do rojão de dois- por- quatro, sanfonas de oito baixos, pobreza milionária na emoção irradiante, inexplicável alegria das coisas suficientes.

Luiz Gonzaga é um documento da Cultura Popular. Autoridade da lembrança e idoneidade da convivência. A paisagem pernambucana, águas, matos, caminhos, silêncio, gente viva e morta. Tempos os idos nas povoações sentimentais voltam a viver, cantar e sofrer quando ele põe os dedos no teclado da sanfona do feitiço e da recordação.


Não posso compará-lo a ninguém. Luiz Gonzaga é uma coordenada humana que as ventanias urbanas fazem vibrar sem modificação. Não é retentiva, artificialismo, sabedoria de recursos mentais "aproveitando” o Sertão. Ele próprio é a fonte, cabeceira e nascente de suas criações. SERTÃO É ELE, como a Bretanha está no bretão e a Provença em Mistra.  Bem logicamente, a sua terra muda a fisionomia pela mão de ferro do Progresso. Técnicas, maquinas, combustíveis, sonhos novos. Mas, pelo lado de dentro, o Homem não muda, como a sucessiva aparelhagem em serviço do seu interesse. Luiz Gonzaga, presta-nos, a nós, devotos das permanentes culturas brasileiras, a colaboração sem preço de uma informação viva, pessoal, humana.

Sanfoneiro do Sertão, brasileiro do Brasil, os que amam terra e gente nativa te saúdam na hora em que tua voz se eleva, vivendo a sensibilidade profunda da tu´alma sertaneja ...

Enviado pelo poeta, escritor, pesquisador e sócio da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
Kydelmir Dantas

Lembrar e escrever, não é só querer...(convite Livro)


O GECC (Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará) informa:

Lançamento do livro Lembrar e escrever, não é só querer memórias do ex-volante Neco de Pautília dia 21/12/2012 no Espaço Cultural João Boiadeiro em Floresta-PE. (convite anexo).

Enviado pelo capitão Jorge Alfredo Bonessi, pesquisador e sócio da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Convite lançamento LUIZ GONZAGA EM CORDEL = em Natal-RN



Caro(a)s amigo(a)s,

Segue, em anexo, a capa do livro LUIZ GONZAGA EM CORDEL. 
Lançamento: 13/12/2012 na Livraria Nobel da Salgado Filho (em frente ao Hospital Walfredo Gurgel)
hora: 19:00. 
Por favor divulguem na mídia (rádio, TV, jornais e onde mais for possível). 
                                                                                                                              Um abraço,
                                                                                                                                      Marcos Medeiros.

Enviado pelo poeta, escritor e pesquisador do cangaço: 
Kydelmir Dantas

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Currais Novos na vida de Chico Pereira


Por: Volney Liberato(*)

“Desde o dia em que um desconhecido foi morto pela polícia na estrada de Currais Novos, espalhou-se pelo sertão, vaga mas persistente, a suspeita de que ali morrera outro que não Chico Pereira”.

(Padre Pereira – Vingança, não!).

Derna do tempo d'eu menino”, quando a escritora pernambucana Aglae Lima de Oliveira respondia sobre “Lampião” no Programa J. Silvestre, na extinta TV Tupi, que eu comecei a me interessar, a ler e a pesquisar sobre o cangaço – e isso já vão mais de 30 anos.

Tempos depois, ao passar pela BR 226, quase a entrada da cidade, deparei-me com um cruzeiro erguido para sinalizar o local onde morreu o cangaceiro paraibano Chico Pereira. 


Depois disso, ao visitar o Museu do Acari (onde funcionou a antiga Cadeia Pública), vi a foto do citado cruzeiro, com uma outra foto de Chico Pereira, aí comecei a nutrir a curiosidade de ler o livro “Vingança, não! - Depoimento sobre Chico Pereira e Cangaceiros do Nordeste”, 5ª ed. Rep's Gráfica e Editora – João Pessoa / PB – 2004, de F. Pereira Nóbrega (Padre Pereira), filho do cangaceiro Chico Pereira, que naquele quase amanhecer do dia 28 de outubro de 1928, pereceu macabramente, exatamente no KM 177 da hoje rodovia BR 226, próximo a cidade de Currais Novos, pelas mãos de uma escolta policial, que tinha no comando nada menos do que o famigerado então Tenente Joaquim de Moura.

A escolta era ainda composta pelo sargentos Luís Auspício e Feliciano Tertulino, sendo o “chofer” o sargento Genésio Cabral de Lima. O livro citado, na época, era difícil, pois até hoje só foram feitas cinco edições do mesmo, e é esta última que encontra-se em minhas mãos hoje, que me foi entregue pelas mãos de um companheiro também pesquisador, a quem agradeço que, dia 08 de Janeiro, colocou-lhe sobre a minha mesa, no Detran. Ali estava mais de 20 anos de espera, por aquele que, um dia, seria o delator da verdadeira história da morte do cangaceiro Chico Pereira, nos “aceros” de Currais Novos.

A história se inicia quando Chico Pereira, paraibano de Sousa, já envolvido numa questão de vingança familiar e já andando debaixo da “canga”, é acusado – injustamente, segundo relatos da época – de ter, junto com um pequeno bando, assaltado uma propriedade, na Rajada, de Joaquim Paulino de Medeiros, o legendário coronel Quincó da Ramada. Chico foi preso na Paraíba e recambiado para a detenção de Natal, onde responderia juri no Acari.

No dia 28 de Outubro de 1928, a escolta que o recambiava algemado para o Acari, comandada pelo Tenente Joaquim de Moura, estanca a poucos quilómetros da entrada de Currais Novos, numa parte da estrada de terreno elevado, tirando-o da carroceria e o golpeando a coices de fuzil. Já no chão, ferido de morte, o Tenente Moura ordena ao sargento Genésio para precipitar o carro sobre o corpo de Chico Pereira, numa altura de alguns metros, o que fez com que o corpo fosse esmagado em algumas partes (cabeça e abdómen).

Os participantes da escolta passaram então a ferirem-se mutuamente, para fazerem crer que realmente tinham sido vítimas do desastre que vitimou fatalmente somente o preso. Enquanto eram “atendidos” em Currais Novos, o corpo de Chico Pereira era levado para a Cadeia, na então Rua do Rosário (hoje Vivaldo Pereira), onde permaneceu exposto á visitação pública até a hora do seu sepultamento, que ocorreu lá pelas 21 horas, no Cemitério Público de Santana, em cova hoje não mais identificada.

A verdade é que Chico Pereira jamais havia posto os pés em Currais Novos, e quando o fez foi tão somente por alguns minutos, que separaram a sua vida da sua morte. Pisou no solo curraisnovense o tempo necessário para permanecer de pé e receber as coronhadas de fuzil que o vitimou e ser também vítima de um plano macabro, e por que não dizer “político”.

O advogado de Chico Pereira, em Natal, era ninguém menos do que João Café Filho, o criador de dezenas de sindicatos na capital, e que por isso ganhou a pecha de “comunista”. Era plano de Café Filho acompanhar a escolta, de seu carro, de Natal ao Acari, para assim ter certeza da integridade física do seu constituído. Mas, uma pessoa do seu relacionamento, alertou-o: “Se a polícia vai mesmo matar Chico Pereira, pelo caminho, não vai deixar testemunhas sem farda. Na certa você morrerá também”. Café então retornou para Natal.

No dia seguinte, lá pelas 10 horas da manhã, recebe telegrama narrando-lhe o “desastre” e a morte “acidental” do seu constituído. O Tenente Moura era “pau-mandado”, como se dizia, do governo do estado, que tinha Juvanal Lamartine no poder. O coronel Quincó era gente grande no dinheiro e na política regional, influente nas eleições de voto de cabresto e possuidor de curral eleitoral nutrido. Por isso, gente grada aos interesses da burguesia instalada no comando do poder estadual.

Mas, se a morte de Chico Pereira se deu, involuntariamente, em Currais Novos, a do Tenente Joaquim de Moura, por ironia do destino, também. Anos mais tarde, já nos anos 40, o já então Coronel Joaquim de Moura vem a Currais Novos, sob pretexto de participar de uma festa numa fazenda avizinhada á cidade. Mas o verdadeiro motivo da estada do coronel Moura em Currais Novos, segundo me relatou o saudoso Euzébio Hipólito de Azevedo, carnaubense, octogenário, que conheceu o Coronel Joaquim de Moura de perto e privou de sua amizade, que o motivo da sua vinda a Currais Novos era para se “acertar” com uma certa mulher – casada – oriunda de uma família “importante” do município, que havia tido um caso com ele na capital.
Como o coronel apaixonou-se pela tal mulher, veio disposto a tudo, até ameaçando matar o marido dela, caso ela não aceitasse juntar-se a ele. Pela tarde, o coronel Moura sente-se mal e é acometido de um ataque cardíaco, vindo a falecer. Contou-me ainda Euzébio que, seu corpo foi vestido com a farda da Polícia - mandada buscar em Natal ás pressas - numa casa de esquina, que depois pertenceu a Severino Maroca, na atual Rua Dix-Sept Rosado (hoje residência de Maria José Mamede Galvão). O destino fatal uniu as duas personagens: Chico Pereira e Joaquim de Moura. Vítima e algoz, ambos finando-se em Currais Novos, em épocas diferentes, numa cidade em que ambos não tinham a menor relação.

O capítulo que trata da morte de Chico Pereira, em Currais Novos, é intitulado “O Morto que Ninguém Chora”, e é escrito de uma forma, digamos, poética, dada a verve do autor, que não conhecia Currais Novos, mas a descreveu tão bem, como resultante dos depoimentos, que mais parecia um curraisnovense contemporâneo dos fatos, descrevendo a vida e os costumes da nossa comuna, naquele distante e fatídico 1928.

Quem passa diariamente por aquele trecho da Maniçoba, talvez não perceba esta capelinha lá existente, a esquerda da Rodovia BR 226, sentido Currais Novos-Natal. Foi o exato local que o cangaceiro Chico Pereira foi assassinado quando vinha responder júri no Acari. E o pior é que Chico Pereira morreu inocente, pois nenhum crime seu foi constatado pela justiça norte-riograndense.

Ruínas do casarão pertencente a Chico Pereira de Nazarezinho, Situado no sítio Jacu, município de Nazarezinho, encontra-se, infelizmente em ruínas.

(*) Volney Liberato é filho de Currais Novos, Seridó - RN. Bacharel em Administração pós-graduado pela UFRN; repórter pela Oficina de Jornalismo "Genival Rabelo"; pesquisador do cangaço, história regional e cultura popular.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Semana dedicada ao rei do baião - SÃO JOÃO GONZAGUIANO

Por: Kydelmir Dantas(*)

As festas joaninas ou juninas, no Brasil, passaram a ficar mais alegres a partir da década de 1940, do séc. XX, com a presença das músicas apresentadas por LUIZ GONZAGA e seus parceiros. Desde a clássica OLHA PRO CÉU (José Fernandes - Luiz Gonzaga) até QUADRILHA CHORONA (Luiz Gonzaga - Maranguape), com a participação de Chico Anysio, são mais de vinte músicas que ‘celebram’ o São João brasileiro.  


Não se concebe as festas de Santo Antônio, São João e São Pedro, principalmente no Nordeste do Brasil, sem as quadrilhas, polcas e marchinhas, na voz do Rei do Baião ou em regravações de seus mais fiéis seguidores. São João só é bom com Luiz Gonzaga. Ainda mais vivo no seu centenário!

(*) Pesquisador de Nova Floresta – PB, radicado em Mossoró-RN. Poeta, escritor e sócio da SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do CCangaço.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Convite = Livro de Frederico Pernambucano de Mello = BENJAMIN ABRAHÃO


CONVITE


Lançamento do livro Benjamin Abrahão: 
"Entre anjos e cangaceiros"
Autor: 
Frederico Pernambucano de Mello
Data: 
13 de Dezembro de 2012
Local:
Livraria Cultura - Recife-PE.

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Semana dedicada ao rei do baião - Luiz Gonzaga

Por: Dideus Sales

Luiz Gonzaga por Dideus Sales

Nosso torrão nordestino
Cantou em suas canções
Em belas composições
De Humberto, Zé Marcolino,
Zé Dantas, Zé Clementino,
João Silva, da verve franca,
Gonzaga, teu canto arranca
A tristeza do matuto.
Não nasceu substituto
Pro cantor da Asa Branca.

Em 1946 voltou pela primeira vez a Exu (Pernambuco), e teve um emocionante reencontros com seus pais, Januário e Santana, que há anos não sabiam nada sobre o filho e sofreram muito esse tempo todo. O reencontro com seu pai é narrado em sua composição Respeita Januário, em parceria com Humberto Teixeira. . Texto retirado da Wikipédia e foto de Fernando Assumpção.

http://cordeldesaia.blogspot.com.br

Semana dedicada ao rei do baião - DERNA DE 1912!

Por: Kydelmir Dantas


DERNA DE 2012!


É LUA, é sol, é sertão,
É caatinga, fauna e flora.
É a maior expressão
Do Nordeste, mundo afora.

É sanfona, triângulo e zabumba,
É luz para os que aí estão.
Vaquejada, Cantoria e Boi-Bumba,
XAXADO, Xote e BAIÃO.

É a MISSA DO VAQUEIRO,
As festas de São João.
ASSUM PRETO, BOIADEIRO,
É ave de arribação.

É a saudade presente;
No SANGUE DE NORDESTINO.
É ASA BRANCA, no céu,
Que cumpriu o seu destino.

É recordação que vive,
Em todos trabalhos seus.
Que inspira teus seguidores,
SANFONEIRO DO POVO DE DEUS!


Nova Floresta – PB
28.06.1994

http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Ecos de Canudos no Cangaço


Depoimento de Edmar Rocha Torres

“O meu pai, Emar do Prado Torres, foi o engenheiro civil responsável pela abertura de estrada na região de Canudos, entre 1930 e 1932. Como a região estava infestada por cangaceiros, e era muito perigoso o trabalho, meu pai precisou prevenir-se... Dos cento e vinte trabalhadores contratados, vinte eram para proteção... Eram jagunços, que se revesavam em dois turnos, dia e noite, dez a dez... Às vezes com alguns a mais...

E some a isto, na verdade, que todos os trabalhadores estavam armados com seus fuzís... Isto é... Eram, na verdade, mosquetões... Acontece que, considerando a insegurança da área, o interventor, que havia adquirido os mosquetões apreendidos quando da revolta de São Paulo, da década de 1920, mandou distribuir entre os trabalhadores... Estavam, assim, todos armados... E o chefe deles era Pedrão, que tinha lutado em Canudos, e aparece, inclusive citado por Euclydes da Cunha...

Outro que lutou em Canudos, como líder, mas não apareceu nos relatos, foi Canário... Este também, com Pedrão, coordenava os jagunços.

O exército mandou uns oficiais especialistas em tiro para dar treino aos matutos... mas, quando chegaram lá, viram que os matutos eram, na verdade, jagunços formados e que entendiam de armas até muito mais que eles... E eram muito bons mesmo de pontaria e manejo... Aí, pros... oficiais bons de tiro... acabou virando um passeio e até mesmo aprendizado para eles próprios...

O chefe da obra, engenheiro Emar do Prado Torres, 
então com cerca de 25 anos de idade, aparatado para eventual defesa da obra.

O Pedrão usava dois punhais... Um era aquele grande, atravessado na cinta... Outro era o pequeno, muito afiado também, que ele mantinha preso aqui, na coluna, abaixo do pescoço, nas costas, porque dificilmente alguém revistaria ali... Ele prendia com uma espécie de emplastro... Se mandassem levantar as mãos, ele, com as mãos na nuca, estava com elas pertinho da arma... Quando as obras estavam para acabar, o Pedrão o deu ao meu pai...

 Punhal de Pedrão - atualmente no acervo do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, 
doado por Edmar Rocha Torres.


Ele tinha um auxiliar terrível, famoso entre os outros jagunços... Era o “Gato”... Ele chegou até o meu pai indicado por Manoel Novaes. Tina um cabelo alourado longo, olhos muito azuis. Ele disse:

- O seu Manoel Novaes pediu para eu proteger o senhor.

Ele tinha ido para lá também porque onde ele estava antes fora jurado de morte. Era muito brabo... Ele sabia das coisas... porque também era de Serra Talhada, em Pernambuco... E todo mundo sabia dele e se pelava de medo e respeito... E ele era mesmo terrível... Só colocavam ele para missões de muita violência... Isto a tal ponto que ele não confiava em ninguém... Tanto fazia que sabia que estava marcado para morrer... Então, quando dava a janta, ele mesmo preparava as coisas dele, com todo cuidado, e comia... Pegava uma rede e sumia... Somente aparecia na manhã...

Na escuridão, caminhava, conforme ele disse depois ao meu pai, por cerca de dois quilômetros, em uma direção qualquer, escolhida para aquela noite... e que jamais repetia no todo... Então, por uns quinhentos metros, procurava uma situação em que ele pudesse pendurar a rede e ficar o mais escondido possível...

Acima, grupo de jagunços de um turno de defesa em construção de estrada, próximo a Canudos, em 1931. O segundo de pé, da esquerda para a direita é o chefe do grupo, o jagunço Pedrão, um dos líderes da Guarda Católica da rebelião de Antonio Conselheiro. Tendo sobrevivido ao drama de Canudos, emprestou sua experiência na liderança de jagunços contra os cangaceiros.

De pé, na frente, o jagunço apelidado "Gato", tido como dos mais sagazes e violentos do grupo. Na mesma foto, à direita, um oficial do exército, enviado para dar instrução de uso das armas, mas que percebeu ser tal completamente desnecessária, em função do conhecimento dos jagunços.

Era ele o responsável pela segurança do meu pai, quando ele ia buscar o dinheiro para pagar as despesas da empresa, os funcionários e os jagunços...

Quando a obra acabou, meu pai pediu ao oficial responsável que as armas ficassem com os sertanejos. Colocou que eles poderiam ser alvo de vingança, por suas participações naquela defesa da estrada. Como não eram fuzis tombados, mas os tomados de São Paulo, o militar concordou, pegou os recibos de empréstimo e rasgou na frente do meu pai.

Quando tudo acabou, o Gato sabia que estava marcado e que se ficasse ali morreria... Aí, o meu pai trouxe o Gato para Salvador, e deu ele começou a trabalhar como um pacato jardineiro na casa da minha tia... Quem visse nem acreditaria quem ele era e do que era capaz...

Finalmente... um irmão dele que trabalhava em Santos, com um negócio daqueles transportes antigos... lotação... para empresas... chamou Gato e ele foi... Nunca mais se soube dele...

Nem mesmo o nome real do Gato eu sei... O mais terrível dos jagunços na imposição do regime de defesa contra os cangaceiros na empresa, sob a liderança do Pedrão... Deste jeito... que bando de cangaceiros atacaria, ali, e quando? Nunca...

O meu pai, deitado na rede, aproveitando a presença desse cabra de Conselheiro, ia lendo a história do livro “Os sertões”, e ele, o Pedrão, sentado no chão, perto, ia dizendo se estava certo ou errado... Meu pai achou que ele era fidedigno, pois teve ocasiões que Euclydes creditou vitória aos jagunços e ele desmentia dizendo que tinham perdido tal e tal confronto... Ninguém mente contra si mesmo...

Finalmente, o Pedrão foi esmirrando... Veio a Salvador tratar de um câncer na faringe... e o meu pai que o apresentou aos médicos que poderiam ajudá-lo... Finalmente, voltou para morrer na terra dele... Acabou tão mal... Carregado numa gamela...

Pedrão, já idoso, com Manuel Ciríaco,
dois guerrilheiros em Canudos.

 www.cangaconabahia.blogspot.com.br
http://lampiaoaceso.blogspot.com