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quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Matéria publicada no jornal Tribuna do Norte: A cartografia poética de Gonzagão

Bené Fonteles, autor do livro que inspirou o filme Gonzaga, De Pai Para Filho,é uma das atrações do Festival Literário da Pipa
Bené Fonteles, autor do livro que inspirou o filme Gonzaga, De Pai Para Filho,é uma das atrações do Festival Literário da Pipa

Câmara Cascudo escreveu na contracapa de um disco de Luiz Gonzaga: "O sertão é ele". Ninguém duvida. O músico, jornalista e escritor paraense Bené Fonteles reforça a importância do ícone nordestino com o livro "O Rei e o Baião", tido como uma obra definitiva para se entender e conhecer mais o legado do músico que pôs a música nordestina no mapa cultural do Brasil no século XX. Bené virá ao Estado para lançar o livro e participar da mesa "Luiz Gonzaga: Uma Poética Musical", dia 24 de novembro, durante o 4º Festival Literário da Pipa (o evento começa dia 22). Ele dividirá a prosa com Marcos Lopes, criador do Forró da Lua, e o pesquisador pernambucano Paulo Wanderley. A assinatura de Cascudo e outros tantos dados foram relacionados no livro - que para ele, faz parte de um processo que ele conduz desde os anos 70, quando conheceu Gonzagão. Seu livro também inspira o filme "Gonzagão: de pai para filho", que estreia próxima semana. Ao VIVER, ele falou longamente sobre seu ídolo e objeto de estudo.

O que você abordará na mesa "Uma poética musical", sobre Luiz Gonzaga, na Flipipa, em novembro?

Desde a importância da lírica nordestina do cordel, aos cultos parceiros de Luiz Gonzaga, como Humberto Teixeira e Zé Dantas, que contribuíram para a construção de uma cartografia poética que abrangia o Nordeste em seus mais ricos costumes e sabedorias, paisagens e ambiências, religiosidade e crendices, situação econômica e política como, talvez, não houve igual na musica popular brasileira. As dezenas de parceiros de Gonzaga deram às suas melodias e recriações musicais um roteiro ou mapa cultural e espiritual do Nordeste que ainda está sendo estudado pelos acadêmicos da área de antropologia e sociologia cultural. Na verdade, em 1947, Gonzaga e Teixeira criam um movimento cultural com uma música manifesto que é "Baião" e trazem do Nordeste para o Sul a música nordestina então desconhecida e uma cultura desprezada que passou a ditar não só uma "dança da moda" mais uma forma de ver e sentir o mundo brasileiro e universal para todo país. Foi num movimento extraordinário, uma "operação inversa" como dizia Sivuca, quando era o Sul que ditava a moda e os ritmos, e ainda dita. A força do arquétipo ou ícone que Gonzaga criou juntando a figura do cangaceiro com o vaqueiro e criando um mixagem cultural única e original, foi o que ficou de forma emblemática. Só Carmem Miranda havia conseguido tal feito com sua baiana estilizada, além do seu talento, carisma e originalidade iguais ao Rei.

Como foi o processo de produção de "O Rei do Baião"? Como surgiu e quanto durou?

A vontade do livro vinha de muitos anos de pesquisa, mas se tornou muito oportuna com a criação do museu Cais do Sertão Luiz Gonzaga, em Recife, e o interesse do Ministério da Cultura em fazê-lo e incentivar através do Fundo Nacional de Cultura a feitura do livro em 2010, sem falar na proximidade do centenário de nascimento de Luiz Gonzaga este ano. Depois de tudo que tinha de discos, livros, filmes, cordéis que fui resenhando, a pesquisa e o tratamento do material iconográfico que levantei em viagens pelo Nordeste, foi importante convidar os ensaístas como Antônio Risério, Elba Braga, Hermano Viana, Sulamita Vieira e Gilmar de Carvalho, alguns com livros de teses de doutourado já publicadas sobre a obra de Gonzaga, sem falar na provocação a vários artistas para criarem obras sobre o Rei e seu universo imagético. Para editar tudo isso não levei nem dois anos, mas a pesquisa venho fazendo desde os anos 70, quando escrevi em 1971 o espetáculo "Luiz Lua, Obrigado!" para o Teatro Universitário da UFC, em Fortaleza, e quando em 1972 comecei minha amizade com Gonzaga, e ele mesmo foi me municiando de material sobre sua obra.

O que te surpreendeu durante as pesquisas para o livro? Houve algo que você ainda não sabia?

Pude confirmar a imensa generosidade de Gonzaga com as pessoas ao seu redor, incluindo desconhecidos. Deu mais de 400 sanfonas e ajudou Deus e o mundo. Ouvi muitos "causos" verdadeiros e emocionantes. Descobri imagens que ainda permaneciam inéditas ou pouco conhecidas e revelamos um Gonzaga com mais força poética e influência cultural do que imaginávamos. O livro usa o belo pretexto e sua imagem icônica para revelar um Nordeste ainda não todo conhecido e sempre muito fascinante.

Como era a sua relação com a música de Luiz Gonzaga e com o próprio?


Desde menino meu pai cearense me aplicava a música do Rei. Morei no Ceará da minha infância a juventude e não tinha como não ouvir, principalmente nas festas juninas. Quando conheci Gonzaga, em 1972, era para levar a ele o texto do espetáculo que escrevera e recortes de jornais alusivos a este. Fiz a primeira entrevista da minha vida, e foi com ele; criou-se uma imediata empatia que durou até o fim da sua vida. Fiz o projeto do Museu do Baião em Exu no começo dos anos 80, em 83 ele gravou no meu disco "Benditos" um aboio que é uma benção. Devo a ele tanta coisa que o livro e a exposição que montei "O imaginário do rei - Visões sobre o Universo de Luiz Gonzaga" em Recife, Salvador, Fortaleza, João Pessoa e agora vindo a Brasília, ainda é muito pouco. Sou coordenador do Ano Luiz Gonzaga e ainda podemos fazer muito além do centenário para que sua obra e o Nordeste sejam reconhecidos com todas as suas potencialidades.


Está prestes a ser lançado o filme "Gonzaga - De pai para filho", de Breno Silveira, sobre a relação de Luiz com Gonzaguinha. Qual sua expectativa em relação ao filme?


A melhor possível. Breno é muito bom diretor e Chambinho, que fez um dos Gonzagas, me disse que Breno deu o livro "O Rei e o Baião" para todo mundo do elenco como fonte de inspiração. Isto me deixou feliz, pois fiz o livro para inspirar outras realizações e agradar a quem ama Gonzaga e aprofundar a quem pesquisa sobre sua obra.

O quanto a identidade cultural nordestina deve a Gonzagão nos últimos 50 anos? Em que isto se nota?

Em tudo e mais alguma coisa. Ele influenciou de cabo a rabo, não só pelos compositores que se seguiram, mas pelos costumes nordestinos que sua musica propagou pelo país. Quando ele apareceu, nordestino era chamado pejorativamente de "baiano", "paraíba", "ceará". Ele deu outra dimensão cultural a este povo exilado no Sul pelas agruras das "vidas secas", elevou as potencialidades culturais máximas da cultura de um povo. Ele foi o cantor do exílio. Estes exilados propagaram sua musica no Sul ao se identificarem com toda a cartografia que ele assimilou, traçada por seus geniais parceiros. Não houve ninguém que fez tanto pela identidade cultural de uma região.

Como a obra de Gonzagão ultrapassou o Nordeste e influenciou a música brasileira em geral?

Pela via da indústria fonográfica, que ascendia, e a febre do rádio que consumia o país e mudava paradigmas como faz a televisão há décadas e agora a Internet. Gonzaga soube criar uma imagem icônica com uma sensibilidade e esperteza únicas, que deu cara relevante ao Nordeste e reforçou a identidade cultural brasileira como nunca. Gonzaga, uma "entidade universal brasileira", como preferia Mário de Andrade. Câmara Cascudo escreveu a pedido de Gonzaga um texto para a contra capa de um de seus discos, e disse: "O sertão é Ele". Precisa mais?

O que você acha do atual estado do forró?

O que está no mercado é um estado de forró em estado grave. Coisa de UTI estética. Plastificou-se, perdeu a raiz ancestral e a poética musical dos mestres. Deixou de ter a formação clássica instrumental criada por Gonzaga, para agradar um gosto duvidoso musical e temático. Mas tem tanto guardião de seus mistérios e potências, que continuam a cultuar o estado original e recria-lo como o fazem o gênio absoluto de Dominguinhos, a nova geração com Targino Gondim e muitos outros que dão gosto e sabedoria  a herança de Seu Luiz que continua viva e ainda vai dar muito fruto e festa. Aliás, não gosto muito desta palavra forró, o que ele fazia e eles fazem, é música da melhor qualidade, não é um estilo, nem uma escola, é 'Música Universal Brasileira' que pode ser sentida e dançada em Nova York e Quixadá, com o mesmo jeito e sabor.

Outras homenagens ao centenário de Gonzagão chamaram sua atenção?


Antônio Nóbrega fez um belo espetáculo unindo musica e dança que já percorre o Brasil; Chico Cesar esta fazendo um belo show com o Quinteto de Cordas da Paraíba que também viaja; Elba Ramalho está preparando um espetáculo baseado no livro "O Rei e o Baião"; Alceu Valença gravou um CD só com repertório de Gonzaga; lançou-se uma caixa com tres CDs "100 anos de Gonzagão" com 50 gravações inéditas de vários interpretes recriando suas canções; relançou-se o tão esperado livro "Vida de Viajante - A saga de Luiz Gonzaga", de Dominique Dreyfus, a melhor biografia do Rei; muitos de seus discos estão sendo relançados pela gravadora a preços populares; dia 30 de outubro a Revista Bravo! em São Paulo entregará seu grande premio com homenagem especial a Gonzagão; dia 5 de novembro, Dia Nacional da Cultura, a Presidência da Republica e o Ministério da Cultura entrega a Ordem do Mérito Cultural em homenagem principal a Gonzaga. A Funarte criou este ano o Prêmio Centenário Luiz Gonzaga que inclusive fui um dos ganhadores. E muitas coisas ainda estão a acontecer que nem sabemos, embrenhadas pelo sertão nordestino, feitas com amor e admiração pelo seu verdadeiro Rei.

Extraído do blog do Neto
http://afnneto.blogspot.com.br/

O túmulo do cangaceiro Jararaca


O túmulo de José Leite de Santana - o cangaceiro Jararaca que é localizado em Mossoró, no Cemitério São Sebastião, nos últimos dias apareceu uma mancha  na placa de acrílico a qual se lia uma mensagem. 

Mas isso foi causado por alguns fieis, sem nenhuma maldade, colocaram velas sobre-a, fazendo com que a parafina derretida escorresse e penetrasse entre o túmulo e a placa. Não foi vandalismo, apenas quem colocou a vela talvez não imaginou que isto poderia acontecer. 

Lembrei-me de retirar a placa para fazer uma limpeza, mas temi, com medo de ser acusado de vandalismo, já que eu não sou funcionário do cemitério.  

Falando aos escritores Kydelmir Dantas e Antonio Vilela de Sousa aconselharam-me que eu falasse com um dos funcionários do cemitério, que com certeza seria facilitada a limpeza na placa de acrílico.

Ainda nesta semana irei tentar convencer um dos funcionários para que a limpeza ao túmulo do cangaceiro seja feita.

José Leite de Santana - o cangaceiro Jararaca - foi o segundo facínora a perder sua amada vida aqui em Mossoró, no dia 13 de Junho de 1927. Este foi baleado, preso e dias depois foi covardemente assassinado pelos policiais da época. José Leite de Santana era pernambucano da cidade de Buíque.

Aqui em Mossoró três cangaceiros repousam no mesmo cemitério, sendo eles: Colchete, morto no momento da invasão de Lampião a Mossoró. Jararaca e o cangaceiro Asa Branca, mas este último faleceu de morte natural, no ano de 1981. O seu túmulo aparece na foto por traz do túmulo do cangaceiro Jararaca. 

http://blogdomendesemendes.blogspot.com 

Convite do lançamento do meu novo livro

O autor do livro:  "Eu não sou herói-A história de Emil Petr". Rostand Medeiros

 Amigos e amigas,

Com satisfação e alegria envio


o convite do lançamento nosso novo trabalho


"Eu não sou herói-A história de Emil Petr".

O evento ocorrerá no dia 31 de outubro de 2012 (quarta-feira), ás 19:00, no Iate Clube de Natal. 

A edição deste nosso livro ficou a cargo da Editora Jovens Escribas, tendo a frente o editor e autor Carlos Fialho.

Convido todos vocês que batalham pela história a visitarem o nosso blog TOK DE HISTÓRIA e conhecerem mais deste nosso livro.

Um abraço a todos e gratos pela atenção.

Rostand Medeiros

http://tokdehistoria.wordpress.com



Foi Silvino... O Rei do cangaço antes de Lampião

Por: Paulo Goethe
O cangaceiro Antonio Silvino

No dia 16 de janeiro de 1907, o Diário registrou que os cangaceiros estavam preocupando as autoridades. Aterrorizando os sertões estava o bando de Antonio Silvino. Forças policiais da Paraíba e do Rio Grande do Norte foram mobilizadas para perseguir o grupo.  O capitão Carlos Formel informou, através de carta, que estava no encalço dos cangaceiros. Durante todo o mês, o jornal divulgou notícias sobre a atuação das volantes. Ao longo das décadas seguintes, o combate ao cangaço seria um tema comum no cardápio de assuntos oferecidos ao leitor.


No primeiro registro do ano, o Diário sinalizava que um dos companheiros de Antonio Silvino havia sido preso no interior de Pernambuco. “Perseguido pela força volante, apresentou-se, há poucos dias, ao delegado de Bom Jardim, o celebre cangaceiro Barra Nova. Durante o tempo em que fez parte do grupo desse facínora, tornou-se celebre pelas suas perversidades. Em São Vicente, na ocasião de um ataque do grupo, foi Barra Nova quem atirou no sargento José Pedro, subdelegado local. Actualmente ele está recolhido á cadeia de Bom Jardim, devendo ser em breve transportado para a casa de detenção”.



Antes de Lampião, ele era o cangaceiro mais famoso e seu apelido mais conhecido foi “Rifle de Ouro”. Nascido no dia 2 de dezembro de 1875, em Afogados da Ingazeira, Manoel Batista de Morais entrou para a história como Antonio Silvino. Durante 16 anos, driblou a polícia, praticou saques e assassinou inimigos, mas era tratado pelos poetas populares como um “herói” por respeitar as famílias.
Ainda jovem, integrou o bando liderado por seu tio, Silvino Aires Cavalcanti de Albuquerque. Com a prisão deste em Custódia, assume o comando e muda o nome e sobrenome, homenageando o parente.
Antônio Silvino entrou para o cangaço aos 21 anos de idade, com o irmão, Zeferino, depois da morte do pai, Batistão do Pajeú, em plena feira de Afogados da Ingazeira, em dia 3 de janeiro de 1897. Procurado pela polícia, Batistão ousou entrar na cidade no dia mais movimentado da semana e foi alvejado por um tiro de bacamarte disparado por Desidério Ramos, desafeto e contratado pelo coronel Luís Antônio Chaves Campos, chefe político local.

Silvino e o irmão juraram vingar a morte do pai, assaltando e matando todos os que colaboraram com o mandante do crime. “Para o sertanejo não havia Justiça. Se um parente era morto, de imediato lhe sobrevinha o ‘direito’ de pôr termo à vida do assassino. Por vezes, essa vingança implicava em cruzar um punhal à cintura, portar rifle e munição, usar um chapéu de couro de aba batida. A cada crime não punido pelas instituições policiais e judiciárias, em regra, lançava-se a semente de um futuro bandoleiro profissional”, narra Sérgio Augusto de Souza Dantas emAntonio Silvino: o cangaceiro, o homem, o mito, uma das mais completas biografias sobre o “Rifle de Ouro”.


Mesmo tendo participado de um ataque à usina Filonila, em 1899, no qual resultou na morte de uma menina de 13 anos, filha do coronel Antônio dos Santos Dias, a fama de Antonio Silvino apenas cresceu como “bandido cavalheiro”. Em 1903, o Jornal Pequeno, do Recife, publica a sua foto. No ano seguinte, Francisco das Chagas Batista lança o cordel A canção de Antônio Silvino, que teve grande vendagem.


A invencibilidade de Silvino terminou no dia 28 de novembro de 1914, quando ocorreu o seu último tiroteio com a polícia. Atingido no pulmão direito, conseguiu se refugiar na casa de um amigo e disse que ia se entregar. Da cadeia de Taquaritinga seguiu, dentro de uma rede, até a estação ferroviária de Caruaru, onde um trem especial da Great Western o levou para o Recife. Uma multidão o aguardava na Casa de Detenção, atual Casa da Cultura.
Antonio Silvino tornou-se o detento número 1.122, condenado a 239 anos e oito meses de prisão. Em 4 de fevereiro de 1937, depois de vinte e três anos, dois meses e 18 dias de reclusão, foi indultado pelo presidente Getúlio Vargas.
Na foto acima, ele é o de chapéu e bengala. O ex-rei do cangaço morreu em 30 de julho de 1944, em Campina Grande, na casa de uma prima.

Paulo Goethe, 44 anos, no Diário de Pernambuco de 1990 a 1997 e desde 2001.

http://lampiaoaceso.blogspot.com