Seguidores

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Hoje na História de Mossoró - 13 de Julho de 2012

Por: Geraldo Maia do Nascimento

Em 13 de julho de 1955 dava–se a inauguração do serviço d’Água de Mossoró, com a presença do governador 

[prefe+silvio+pedrosa.bmp]

Silvio Pizza Pedroza e do Engenheiro Saturnino de Brito, chefe da organização construtora.
               
Grande número de pessoas e autoridades esteve presente ao ato, quando o Governador Silvio Pedroza, ao inaugurar importante obra para a cidade de Mossoró, exaltou a personalidade do Governador Dix-sept Rosado, morto quando procurava recursos para empreender o melhoramento que estava sendo entregue ao povo.
Adendo
http://oestenews-natal.blogspot.com.br/2009/11/silvio-pizza-pedroza.html

SILVIO PIZZA PEDROZA, natural de Natal, nascido a 12 de março de 1918. Em 3 de outubro de 1950 foi eleito vice-governador na chapa de 

Ficheiro:Estátua-Dix-Sept-Rosado-Mossoró.jpg

Jerônimo Dix-huit Rosado Maia, tomou nesse cargo em 15 de janeiro de 1951. Em 16 de julho de 1951, com a morte inesperada de Dix-sept Rosado, assume o comando do governo do Rio Grande do Norte, governando até 31 de janeiro de 1956, quando passou o cargo para 


Dinarte de Medeiros Mariz (23/08/1903 – 06/07/1984). Silvio Pedroza faleceu no Rio de Janeiro a 19 de agosto de 1998.

Aos 26 anos, por indicação do empresário João Câmara, presidente do PSD, Sylvio Piza Pedroza* chegou a prefeitura de Natal, sob os olhares desconfiados dos coronéis e dos conservadores, na gestão do interventor Ubaldo Bezerra. Um prefeito que usava roupa esporte e saía em cima de um caminhão fazendo concertos com Oriano de Almeida, em instituições públicas, falando sobre Mozart, Chopin e Verdi era realmente um fato novo. Pelo menos, inusitado para a época.

Sylvio Pedroza resolveu, como prefeito, investir na orla marítima. Natal tinha apenas três praias: Ponta Negra, Praia do Meio e, do outro lado do rio, Redinha. Ele insistiu e construiu a Avenida Circular, um escândalo para a época. Chegaram a chamá-lo até de vândalo. Sylvio iria destruir as dunas. Ele fez as obras e concluiu o trabalho em apenas seis meses, com a ajuda de máquinas americanas no tempo da guerra. Foi sua maior obra em Natal, a qual ficou para o futuro, podendo ter sido a precursora da Via Costeira de hoje. 

Desbravador - Ele destaca outra grande obra sua: “A integração das Rocas à Cidade. Era tido como um bairro marginal, mas que, infelizmente, foi integrado à cidade. Eu me orgulho disso. Abri ruas e avenidas, permitindo essa integração”. Construiu na praça da Jangada o “banco dos namorados”, onde existia um interruptor para apagar a luz nos momentos mais românticos. Ao sair, o namorado podia acendê-la. Somente alguém com mentalidade britânica seria capaz de tal concepção. 

A mentalidade liberal e democrática do ex-governador Sylvio Piza Pedroza apressou o encerramento da sua carreira política promissora. Ao assumir o governo, após a tragédia do rio do Sal, em Sergipe, onde morreu o ex-governador Dix-sept Rosado, em julho de 1951, ele afirmou que o Rio Grande do Norte, a partir daquela data, não estava mais dividido entre vencidos e vencedores. Entre os que estavam no “poder” e os que estavam “debaixo”. Os direitos de todos seriam respeitados, e assim cumpriu a palavra até o final do seu governo. Chegou ao poder com apenas 33 anos, pinta de galã, com formação escolar em Londres, uma mentalidade nova e aberta, na província pacata e tradicional. Sylvio era olhado com desconfiança pelos velhos coronéis, que não admitiam um governador “batendo” pelada na praia, jogando tênis e “puxando” boi nas vaquejadas no interior do Estado. O “menino” de Fernando Gomes Pedroza.


Todos os direitos reservados

É permitida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de
comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.

Autor:

Jornalista Geraldo Maia do Nascimento

SEBO NAS CANELAS, LAMPIÃO VEM AÍ!

Por: Clerisvaldo B. Dantas - Crônica Nº 819

Publicamos a peça teatral ainda virgem, intitulada “Sebo nas canelas, Lampião vem aí!”. A referida peça vem como anexo no livro paradidático, recentemente publicado, “Ipanema um rio macho”, com início à página 68. A peça é dividida em três atos e se concentra em alguns momentos filosóficos e de decisões de Virgolino. Após a apresentação com direito a cantador-repentista, tem início o primeiro ato com Lampião sendo entrevistado e interrompido por outras cenas. O segundo ato representa uma força volante em perseguição aos cangaceiros, inclusive tendo em seu quadro um rastejador. Finalmente o terceiro ato tem final surpreendente. “Sebo nas canelas, Lampião vem aí”, é ficção baseada na realidade de atos do cangaceiro mais famoso. Sua reprodução e/ou apresentação tem direitos autorais. Qualquer pessoa que quiser apresentar a peça, dirigida a maiores, pois, apesar de ser humorística tem cenas de violência, contatar o autor no seu E-mail pessoal, apresentado no blog. Essa peça foi escrita há cerca de vinte anos e estava engavetada. Eis uma amostra grátis como brinde aos nossos leitores:


Lampião – Então é você o famoso Zé Furão? Cabra da moléstia! O mió rastejador do Nordeste passou-se pras banda da Poliça... O que foi que eu fiz cronta você, mode andar me perseguindo?... Eu perdoo tudo na vida, seu Zé Furão, mas inspetor e rastejador, não!

E Virgolino pega um facão que traz à cinta desde o início, com a outra mão joga fora o chapéu do prisioneiro, puxa-o pelos cabelos até cobrirem-se nos bastidores. Maria de Déa fica passeando no palco. Depois Lampião retoma trazendo a cabeça de Zé Furão pendurada pelos cabelos (sem o facão) atravessa o palco devagar e grita da entrada do lado oposto:

Lampião – Bolacha! Jogue essa porcaria pros cachorro de Corisco!

Depois Lampião volta-se para Maria Bonita, enxugando as mãos ao longo da calça: - Santinha chame o sanfoneiro e o pessoal pra cá. Mande tocar uma coisa bem animada.

Ouve-se o som de forró bastante alto. Entra em cena Maria Bonita que começa a dançar com Lampião. O casal de cangaceiros anônimos, também.

Próximos lançamentos previstos para agosto: “Negros em Santana” e “Lampião em Alagoas”.

http://clerisvaldobchagas.blogspot.com.br/2012/07/sebo-nas-canelas-lampiao-vem-ai.html

Primeiro Código de Postura da Vila de Mossoró - 12 de Julho de 2012

Por: Geraldo Maia do Nascimento

Em 15 de março de 1852, através da Lei Provincial de nº 246, o povoado de Santa Luzia de Mossoró passou a categoria de Vila. Essa medida estabeleceu a criação da Câmara, emancipando-se politicamente da cidade de Açu. O primeiro governante a assumir a Intendência da Vila de Mossoró foi o Pe. Antônio Freire de Carvalho, cargo esse equivalente ao de Prefeito, para o período de 1853 a 1856. Entre as realizações desse período, destacamos: a criação de um distrito de paz na povoação de São Sebastião, atual Gov. Dix-sept Rosado, uma cadeira de primeiras letras para o sexo masculino, também na mesma povoação, criação de uma mesa de rendas provincial e a fundação, a 2 de fevereiro de 1855, da irmandade de Santa Luzia. Foi também nesse período, que através da Resolução nº 305, de 18 de julho de 1855, foram aprovadas as primeiras posturas da Câmara Municipal da Vila de Mossoró. Era um documento bastante rígido, que disciplinava a convivência dos moradores da vila, prevendo multa e prisão para quem deixasse de observar os seus artigos.
Com relação a edificação de novos prédios, previa:

Artigo 1º - Pessoa alguma poderá levantar casas, ou qualquer edifício dentro do quadro da vila sem licença da Câmara, e assistência do fiscal, obtendo bilhete de aforamento do terreno, afim de ser este alinhado; os contraventores sofrerão a multa de 6$ rs., ou 8 dias de prisão.

Artigo 2º - As casas, que se erigirem, terão as portas com 10 palmos de altura e 5 de largo; a frente com 14 de altura, e as calçadas com 6 de largura, sendo umas e outras de pedra ou tijolo; os contraventores sofrerão a multa de 10$000 rs., ou 4 dias de prisão.

Artigo 3º - As ruas terão entre si a distância de 60 palmos, os becos e ruas travessas 30, e os quintais, além de serem de tijolo ou madeira, terão de comprimento até 80 palmos; os contraventores sofrerão a multa de 8$000 rs., ou 4 dias de prisão.

Artigo 4º - Os proprietários e inquilinos desta vila, serão obrigados todos os anos no mês de agosto a mandar limpar o terreno das frentes e dos fundos dos quintais de suas casas. No espaço de 3 braças, deixando nesta limpa o capim, sob pena de 2$ rs. De multa ou 4 dias de prisão.

Com relação a assuntos de ordem geral:

Artigo 11º - Igualmente proíbe-se cães e porcos soltos dentro da vila, ficando o fiscal incumbido de matá-los em correição.

Artigo 13º - Toda a pessoa que consentir em sua casa jogos proibidos, entrando neles filhos, fâmulos ou escravos, será multada em 4$ rs., ou sofrerão 8 dias de prisão, e os jogadores recolhidos à cadeia por 24 horas.

Artigo 18º - Os lojistas, taberneiros, donos de açougues e lavradores, são obrigados a ter pesos e medidas aferidas na forma do padrão da Câmara, e verificada a falsidade deles, pagarão os donos das medidas ou pesos 4 $ rs., de multa, ou 2 dias de prisão.

Artigo 19º - São pesos e medidas da Câmara;

§ 1º - vara e côvado, segundo o padrão geral

§ 2º - Terça na razão de cinco tigelas ordinárias e proporcionalmente meia quarta, quarta, etc.

§ 3º - Meio quartilho, metade e contra-metade, segundo o padrão geral.

§ 4º - Meia libra na razão de $360 rs., em dobrões: uma libra, 2 libras, proporcionalmente.

Artigo 23º - É proibido lançar-se animais mortos, ou outra qualquer cousa de natureza corruptível, nas ruas desta vila, alagoas, poços e cacimbas, sob pena de 4 $ rs., de multa, ou dois dias de prisão.

Nem a igreja estava fora do Código, pois no mesmo previa:

Artigo 5º - O administrador dos bens patrimoniais de Santa Luzia desta vila mandará, no mês de agosto, limpar no espaço de três braças, os matos que estiverem em roda da igreja, sob pena de ser multado em 4$ rs., todas as vezes que faltar a sua obrigação.

Artigo 24º - É igualmente proibido dar-se ritos a qualquer hora dentro da vila e povoações do município, salvo nas festividades da igreja, devendo em um e outro caso proceder licença da autoridade respectiva. Os contraventores sofrerão 4$ rs., de multa ou 2 dias de prisão.

Foi esse, em resumo, o primeiro Código de Postura sancionado por Bernardo de Passos, presidente da Província do Rio Grande do Norte, por S.M. o Imperador a quem Deus guarde, etc., no Palácio do Governo do Rio Grande do Norte na cidade do Natal, com data de 18 de julho de 1855, trigésimo quarto da Independência e do Império.

Todos os direitos reservados

É permitida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de
comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.

Autor:

Jornalista Geraldo Maia do Nascimento


http://www.blogdogemaia.com/imagens/seta.jpg

O inimigo nº 02 de Lampião - Coronel "Zé" Lucena

Por: Luiz  Nogueira Barros (*)
 José Lucena de Albuquerque Maranhão -De grande perseguidor de cangaceiros à politico

Vou ao cemitério visitar o túmulo de minha mãe. Estou em Maceió e sou adulto. Na saída pergunto para um funcionário: 

– Aquele é o túmulo do coronel Lucena?

Ele me diz que não sabe, que trabalha ali faz pouco tempo. Fico a me lembrar de que o coronel foi prefeito de Maceió *(1953-1955). E de que o seu túmulo foi uma homenagem da Prefeitura, ao tempo do prefeito Sandoval Caju.


E mais: que morrera humilde e sem riquezas. E logo um frio percorre o meu corpo. E os ventos - tais os da infância - me transportam aos anos quarenta. Estou em Santana do Ipanema. 

A cidade se confunde com as minhas lembranças. O velho Quartel da Polícia Militar enche o meu olhar. Nele funcionava o "Comando de Caça a Lampião", que tinha como comandante o coronel Lucena. Tipo forte, cabelos ondulados, boca pequena, nariz fino, corado e sempre alegre, ele encarnava o mito da coragem. Fora disso, era o homem venerado e de quem jamais se colocou em dúvida a honestidade de princípios.


E de súbito, vejo-me na formatura do curso primário tendo o coronel como nosso padrinho, fato sobre o qual até bem pouco eu ainda tinha uma fotografia. Depois o coronel está abraçado com "Seu" Carola, dono da maior farmácia da cidade, brincando o carnaval acompanhado por uma multidão de foliões, entrando em todas as casas da cidade e recebido como um rei. 

Um rei para o qual as famílias preparavam comidas e bebidas. Mas os dois foliões não bebiam. Os seus acompanhantes, pessoas simples do povo, é que se fartavam. O que valia era a alegria de receber o coronel e o seu inseparável amigo de carnaval. Percorrendo ruas e ruas o coronel a todos prestigiava tornando os carnavais tranquilos.

Mas o coronel Lucena não era o único mito da cidade. Ele dividia o privilégio com o padre Bulhões. Um era o poder material e outro o poder espiritual. Coronel Lucena, no Monumento – parte alta da cidade. E padre Bulhões, no Camoxinga – parte baixa da cidade.

Assim, eles estendiam um arco de proteção sobre toda cidade. Um dia o tenente Porfírio, homem valente, tornara-se suspeito de que se preparava para formar um bando de cangaceiros. Já houvera morto uma esposa, segundo suspeitas. A desculpa fora simples: encontro casual com grupos de cangaceiros, tiroteio e etc. Saíra-se bem com a justiça. Mas haveria de matar outra esposa de nome Durvalina, refugiando-se no Camoxinga. Todos sabiam que cangaceiros não agiam nas terras de Senhora Santana. E o coronel Lucena mandou-lhe ordem para comparecer ao quartel, através de seus dois soldados de confiança, Artur e Zé Pereira. Mas tenente Porfírio debochou: 

 – Digam ao coronel que a distância é a mesma. Ele que venha aqui.

Acabrunhados, os soldados comunicaram o fato ao coronel. E ouviram: 

– Muito bem: voltem e tragam Porfírio de qualquer jeito!

Quando os dois se aproximaram da casa de Porfírio ele já saltou de revólver em punho, na varanda. Mas tombou (numa fração de segundos) mortalmente ferido, sem ter tido tempo para algum tiro certeiro. Colocado numa rede foi levado para o quartel e depois sepultado com uma sava de tiros a que tinha direito. Abriu-se inquérito policial para apuração da ocorrência. Motivo: desacato a autoridade.

Desperto-me. Estou outra vez em Maceió. Olho para a presumível sepultura. Não consigo ir vê-la de perto. E deixo o cemitério remoendo lembranças e ainda sentindo os ventos da infância.

( * ) Luiz  Nogueira Barros  

Nascido em Pão de Açúcar a 02 de novembro de 1935. Em 1941 sua família mudou-se para Santana do Ipanema, onde permaneceu até 1950. Daí que entre próximo que será publicado, com ensaios, e contos, 30 contos retratam histórias de Santana do Ipanema. Médico, formado pela Faculdade de Medicina da UFAL, em 1963. Atualmente aposentado pelo Ministério da Saúde. Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, função de Segundo Secretário, em seguida Secretário Perpétuo em 2001. Segundo vice-presidente, diretoria de transição, após a morte do presidente, prof. Ib Gatto Falcão, da Academia Alagoas de Letras.  nogueirabarros@uol.com.br

Publicado originalmente no Jornal Gazeta de Alagoas, em 18/4/1993
Dispnivel online em  sistema3001.com.br/?p=353

As "fotos e informação complementar" foram inseridas a matéria, no sentido de enriquecê-la..

Créditos do achado e inserção das fotos para:

Ivanildo  Alves  da  Silveira

Colecionador do cangaço
Membro da SBEC e do Cariri-Cangaço
Natal/RN


lampiaoaceso.blogspot.com 

O Chôro do Gado

Por: Napoleão Tavares Neves
Jadílson Bin Laden ao lado do Mestre Napoleão Tavares Neves

O gado descia mansamente da planura araripana para as verdes pradarias do sertão, enfastiado do capim agreste da Chapada do Araripe e sedento do verde capim mimoso com que as primeiras chuvas do inverno revestiam as chapadas das fazendas dos sertões do Cariri. Os trovões já reboavam no horizonte chamando o gado para o sertão. E o gado obedece! Era aproximadamente 200 reses. A melodia dos aboios dos vaqueiros era reforçada pelo tintilar dos chocalhos das vacas paridas e amojadas. Tudo muito alegre e sonoro! Na guia do gado ia meu pai, no coice ia eu, adolescente e de cada lado dois vaqueiros evitavam que algumas reses mais ariscas se desgarrassem.

Ao atingirmos o Lambedouro do Mulungú, lugar onde o gado sempre matava a sua carência de sal, lambendo a terra salgada daquele rincão, uma cena para mim inusitada: um touro mestiço do pescoço grosso parou, deu um forte esturro como se fora um grito de guerra, levantou as patas dianteiras e ao baixá-las, retorcia com os chifres as moitas do mato verde e cavava o chão jogando a terra para traz! Instintivamente, todo o rebanho o imitava. Paramos todos! Os vaqueiros deixaram de aboiar! O vaqueiro Zé Feliz, muito místico, levou o chapéu de couro ao peito e parou também.

Esta dolente cena durou alguns segundos ou minutos.

Em seguida, o touro mestiço parou e tomando a frente do gado, começou a caminhar, seguido por todo o rebanho, mostrando que sua liderança era inconteste. Curioso, fui ver a causa de tudo aquilo e boquiaberto, vi que ao pé da moita de mato retorcida pelos chifres do touro estava a ossada de uma rês recentemente morta, ainda com pedaços de couro pregado nos ossos cuja limpeza os urubus de plantão ainda não haviam concluído.

Meus pelos estavam eriçados pela emoção daquela bucólica cena que igual jamais vira antes. A natureza tem os seus mistérios e suas lições! Jamais vira eu os humanos chorarem tão convulsivamente os seus mortos! Eu tinha 13 anos e nunca esqueci até hoje cena tão tocante.

Napoleão Tavares Neves

Barbalha-Ceará

Conselheiro Cariri Cangaço
cariricangaco.blogspot.com

O Homem


“Era brabo, era malvado,
o Virgulino Lampião,
mas era por que negar,
nas fibras do coração
o mais perfeito retrato das
caatingas do sertão”.


cariricangaco.blogspot.com

AS CRÔNICAS DO CANGAÇO – 14 (ENTRE O FASCÍNIO E O TEMOR)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

AS CRÔNICAS DO CANGAÇO – 14 (ENTRE O FASCÍNIO E O TEMOR) 

Na época do cangaço, principalmente no período do reinado de Virgulino Lampião e seu bando, a vida cangaceira causava verdadeiro deslumbramento em muitos dos meninos e meninas, rapazotes e mocinhas, que viviam nas áridas e deslumbrantes terras nordestinas.

Talvez por desconhecimento da vida perigosa e quase desumana que a cangaceirada levava; encantados com as tantas histórias de valentia e destemor que ouviam dos mais velhos; deslumbrados com a estética cangaceira e seus adornos brilhentos, as riquezas reluzindo nos dedos e no entorno dos chapéus enfeitados; e inegavelmente com a sensação aventureira que tudo aquilo causava, verdade é que o cangaço era uma verdadeira paixão para muitos.

Nem imaginavam a realidade por trás dessa inocente ilusão. Nem de longe sabiam das dores e sofrimentos no cotidiano cangaceiro. O chão batido por onde pisavam era muito diferente do terreno espinhento, cheio de rastros de sangue, entremeado de labirintos, armadilhas, tocaias e emboscadas. O inimigo logo ali, à espreita, de arma em punho, pronto pra atirar. A face da morte adiante, o pio do passarinho que outra coisa não era senão um sinal de ataque.


E lá vai o cangaceiro se esquivando, se abaixando, se protegendo, contra-atacando, indo pra cima disparando fogo, vomitando a morte, destruindo o que encontrasse pela frente. E depois desandando na vereda do mundo, seguindo no passo do bando, contando no olho o que restou. E seguindo adiante, indo beber da lama avistada, indo morder o pé de preá com farinha seca, indo repousar na cama de pedra, indo sonhar sendo atacado. Levanta assustado, suado, aflito, pega a arma e só encontra a lua bonita se derramando por cima.

Ainda bem que havia essa lua bonita, uma manhã radiante de todo dia, uma paisagem encantadora para admirar quando a volante não estava por perto. Eis o momento de viver na desvalia da vida; eis o momento da reflexão diante da realidade assustadora. Mas não tem nem muito tempo pra mais nada, pois o grito de Lampião é ouvido, a ordem já é repassada, tudo será novamente, e do mesmo jeito, mais adiante e em todo lugar.

Mas que graça teria essa vida pra molecada tanto sonhar em seguir seus passos? Verdadeiramente não havia prazer algum. Os que haviam se tornado cangaceiros aos poucos foram compreendendo que o único significado de estarem ali era somente o da sobrevivência. O que talvez tenha começado como atração, desejo, curiosidade ou mesmo absoluta vontade, aos poucos ia se transformado apenas num duro fardo a ser carregado.

Por mais que a cangaceirada brincasse, dançasse, fizesse prevalecer suas vaidades, gostasse de sair da normalidade aflitiva daquela vida, verdade é que ninguém sentia prazer em ter aquele cotidiano de correrias, de enfrentamentos, de constante exposição aos perigos. Certamente que ninguém pode afirmar da felicidade encontrada dormindo nas tocas, nas grutas, nos descampados, nos esconderijos, ao lado de espinhos, bichos e dos inimigos rondando por todo lado.

Logicamente que nem todos, mas quem estava de fora, quem vivia ao largo desse mundo, fazia do imaginário uma forma de pregar o aventureirismo atraente, a vivência recheada de momentos fascinantes, como se tudo aquilo fosse uma grande e épica novela com seus heróicos personagens, cavaleiros andantes em busca do seu Graal.


Desse modo, ser cangaceiro era bom porque vivendo nos descampados e portais da natureza, conhecendo outras realidades sertanejas, virando a curva do estranhamente admirável. Além disso, era respeitado aonde chegava, trajava roupas bonitas e enfeitadas, reluzia ao sol com seus adornos. E principalmente porque ao lado e comandado pelo Capitão Virgulino. Ao ouvir tal nome, uma sensação estranha tomava o corpo, um mundo novo surgia na mente e o passo logo queria abrir cancela.

Essa noção de cangaço como maravilhamento, fenômeno empatizante e de identificação com as causas populares se disseminou pelos quatro cantos da região nordestina. Quase todo mundo tinha medo, grande parte da população fugia ao saber da aproximação do bando, mas ainda assim guardava extrema veneração e respeito. Tanto era assim que preferia mil vezes de repente encontrar um cangaceiro do que ser abordado por um policial da volante. As razões são mais que óbvias.

Talvez fugissem apenas por precaução, não dando chance ao azar como se dizia. E também porque assombrados com as conversas e mais conversas mentirosamente espalhadas de que o bando chegaria para matar todo mundo, não deixar uma cabeça em pé, apunhalar covardemente da criancinha ao mais velho. Neste sentido, procurando desqualificar o cangaço através da falsa imputação de crimes contra a população, é que desde aqueles tempos foi sendo criada uma imagem totalmente distorcida, irreal.

Assim, quando o povo se embrenhava nas matas ao ouvir da aproximação do bando tudo tomava uma feição de delírio coletivo, porém sem razão de ser. Um corria porque outro corria, um fechava a porta porque o outro assim fazia. Era como se grande parte da povoação fosse dormir ainda debaixo do sol porque alguém havia gritado que já era noite e fantasmas viriam amedrontar quem estivesse acordado.

E quando o bando despontava e seguia em direção à casa de quem o esperava, geralmente um coronel nordestino ou pessoa influente do lugar, os olhos começavam a sair das tocas, os passos se achegando, cada um comprovando que ali havia apenas pessoas cansadas, muitas vezes esfomeadas, que precisavam muito mais de matar a fome e a sede do que se preocupar em jogar criancinha para o alto e esperar a descida na ponta afiada do punhal.

E novamente o encantamento com o jeito de ser daqueles homens e mulheres das caatingas, suas roupas, seus adornos, suas armas, seus lenços e chapéus, suas propensões às farrices, xaxados e brincadeiras. Desses encontros, ou apenas no ouvir dizer, como magia repassada de boca em boca, é que a meninada se via despertada por uma vontade estonteante de seguir adiante junto com o bando.

Daí encontrar-se um motivo para que pais de família fugissem com os seus para as matas assim que os cangaceiros se aproximavam. Diferentemente dos filhos que se sentiam mais que atraídos pela vida aventureira dos cangaceiros, os pais tudo faziam para afastar daquelas mentes em formação esses perigosos desejos. Seria permitir um caminho sem volta, jogar ao acaso do mundo alguém com doze ou treze anos e que ainda não conhecia nada dos segredos da vida.


Mesmo assim, por mais que fizessem de tudo para evitar essa aproximação, muitas vezes as precauções se tornaram infrutíferas. Não foram poucos os rapazinhos e as mocinhas, muitos jovens mesmo, ainda meninos e meninas, que de repente já estavam fazendo parte do bando de Lampião. Muitos fugiram de suas casas, alguns por influência de outros jovens e conterrâneos cangaceiros, e ainda outros que fizeram do amor o passo para enveredar no cangaço.

Namoradores como eram, conquistadores de marca maior, contando com a fama existente e com as promessas de vida num verdadeiro reino encantado, muitos cangaceiros fizeram mocinhas caírem nas suas lábias matreiras e se tornar companheiras de sina. Quando os pais acordavam e procuravam as filhas achavam os cantos mais limpos, com um tanto de roupa levada. Por cima da cama um bilhetinho ilegível querendo dizer que havia encontrado sua razão de viver nos braços cangaceiros do bem amado.

E nenhum pai se metia a besta de entrar pelas matas e ir atrás de sua menina. Pranteava o choro da saudade enquanto sua pequena flor se fazia mulher com véu de folhagens secas e grinalda de espinhos.    

Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
http://blograngel-sertao.blogspot.com.br/2012/07/as-cronicas-do-cangaco-14-entre-o.html