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terça-feira, 19 de junho de 2012

Bando de Lampião promove rapto e seqüestro em Amparo do São Frascisco em Sergipe


Dez componentes do bando de Lampião invadiram Amparo no ano de 1937. Segundo os moradores mais idosos que lembram da história, os bandidos - oito homens e duas mulheres - chegaram à cidade de surpresa, durante a madrugada. O povo entrou em pânico, muita gente fugiu da cidade e se meteu nos arrozais que ficavam na beira do rio.

Conforme relatam, entre os componentes do grupo que tomou a cidade estavam Volta Seca, Boca Preta, Canário e Pancada. "Os cangaceiros chegaram aqui empurrando as pessoas e exigindo 
dinheiro de quem tinha e de quem não tinha", relembra Esmeralda Oliveira.

Depois de informar-se sobre as pessoas importantes da cidade, os cangaceiros foram à propriedade de Franklin Freire, filho de João da Cruz Freire. "Eles o pressionaram para que ele desse dinheiro, e ele disse que não tinha. Então mandaram um portador para Jundiay, a fazenda do senhor Ercílio Brito, que é hoje de João Alves Filho, para pegar dinheiro. Como os bandidos já estavam de saída, disseram que o velho iria com eles para Aquidabã. Eles afirmaram que dariam o prazo até as 18 horas daquele dia. Caso o dinheiro não chegasse, ele morreria", relembra Antonio Freire de Souza, que na época tinha 7 anos.

O sobrinho de Franklin, Adão Freire, vendo a agonia do tio, disse que iria no seu lugar. Em seguida, o portador foi para a fazenda Jundiay. Além do dinheiro, os cangaceiros também queriam levar embora uma mulher casada. "Era Sinhá Teixeira, que era muito bonita. Mas o pessoal conseguiu iludir os bandidos com conversa, enquanto ela fugia pelos fundos da casa. Um morador, que estava esperando no quintal, ajudou a atravessar o rio. Só assim eles não a raptaram", 
conta Antonio Freire.

Os bandidos resolveram ir embora. Mas antes de o dinheiro chegar e o prazo acabar, a polícia, sabendo que os cangaceiros estavam naquela área, encontrou-se com eles, já no povoado Barra Salgada, município de Aquidabã.

Houve tiroteio e um soldado foi morto. Adão Freire, que estava com os cangaceiros, teve que se esconder. "Ele entrou num paiol de algodão, pois a polícia pensava que ele também era bandido. O tiro zunia e ele gritava "eu não sou bandido, eu não sou bandido". Se saísse morria. Uma hora mandaram ele sair, foi então que um cabo o reconheceu, por isso ele não morreu", explica Antonio Freire.


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O SEXO VERDE (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

O SEXO VERDE 

Após todos esses anos de lutas pelo inevitável reconhecimento da preservação ambiental e pela ascensão de novas políticas de desenvolvimento com sustentabilidade em diversos setores, nada mais sensato que se pense também num sexo ecologicamente equilibrado, ou um sexo verde, numa expressão que está na moda.

Verdade é que atualmente, principalmente em época de Rio+20, não se fala noutra coisa que não em economia verde, em comércio verde, em desenvolvimento verde, em progresso verde, em futuro verde, na natureza mais verde ainda, e no verde verde mesmo. Ora, é mais que oportuno que se definam logo as diretrizes do sexo verde.


Mas o que seria, então, o sexo verde? Sem nenhum espanto, diria que é um mecanismo de desenvolvimento sustentável qualquer, só que tendo por prioridade garantir o uso racional do sexo, enquanto verdadeira relação sexual, como forma de garantir seu deleite para as futuras gerações. E como causa urgente, sob pena de a degradação que se alastra não deixá-lo sem qualquer utilidade num futuro bem próximo.

Já há muito tempo que se tem um uso indiscriminado do sexo. A sua utilização sem o mínimo de cuidado, de equilíbrio no manuseio e de racionalidade, vem causando graves transtornos até mesmo para aqueles que o tem para uso ocasional, ou seja, dentro da normal conduta sexual. Desse descuido com a sexualidade lastrou-se a degradação e principalmente a sensível perda na qualidade do prazer que poderia ser obtido.

Nesta perspectiva de preservação e qualificação do que ainda resta no sexo é que urge a implementação de uma mentalidade sustentável na relação sexual. Não que se preserve para o próximo, para o que está ao lado, para o vizinho, mas para aquele que convive com e na relação sexual. Ademais, preservando a moral sexual e delimitando o seu uso, logicamente que no futuro ainda se possa tirar proveito desse elemento básico e prazeroso da vida.



Conceitos próprios da sexualidade humana seriam inevitavelmente afetados dentro dessa nova perspectiva. O sexo, ou relação sexual propriamente dita, não seria mais visto simplesmente como ato de atração para a obtenção do prazer erótico, através da estimulação das zonas erógenas e consequente obtenção do orgasmo. Do mesmo modo, este alcançaria outro sentido além de ápice prazeroso.

Na ótica da sustentabilidade, preservação e conservação, e principalmente na imposição de um uso racional e gradativo do sexo, este não seria apenas uma relação sexual afoita e descompromissada. Tenderia a ser mais um desfrutar corporal, um lapidar de joia rara, uma sensível relação de prazer que não se permite perder pelo descuido ou exagero. Algo como reconhecimento tão forte de sua importância que se amoldaria mais a um néctar de rara flor em frágil recipiente, exigindo máximo zelo no seu desfrutar. Nada como apenas usar, gozar e esquecer.

No sexo verde intensifica-se o respeito e a valorização, o ter e o preservar, o instinto verdadeiro e o prazer autêntico. Não há mais espaço pra o uso deliberado do corpo, para as taras e anomalias, para as obscenidades e as luxúrias, para a prostituição desenfreada e a mundanice. Tais situações fragilizam o sexo, a relação sexual e a sua importância na sublime atratividade humana.

O sexo verde volta-se para o amor, para o encantamento, para o prazer da visão, para o prazer do encontro, para o equilíbrio na posse, para o cuidadoso deleite. Os órgãos sexuais não podem ser vistos como instrumentos de uso indiscriminados. Não se utiliza da sexualidade e da potência que lhe é própria para sair por aí devastando, destruindo, poluindo o belo com imundícies.


Verde é o sexo que se prova, sente o delicioso sabor, e ainda assim tem o máximo cuidado com a gula exacerbada. É o sexo que depois de uma relação afetiva não estará devastado nem de utilidade duvidosa; depois da colheita não perderá nutrientes para próxima semeadura; depois de se entregar ao prazer se sentirá revigorado para um novo prazer.

Neste sentido, o sexo verde não é apenas uma nova maneira de se encarar a relação sexual, e sim a exigência íntima e compartilhada de um prazer sexual com qualidade.


(*)Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Ricardo Albuquerque Lança "Iconografia do Cangaço"

Por: Manoel Severo

Lançamento

"Iconografia do Cangaço"
Organizado por Ricardo Albuquerque

L'Ô Restaurante
Dia 21 de junho; Quinta-Feira
19 horas
Av. Pessoa Anta, 217 Praia de Iracema
Fortaleza-Ce

Adolfo Meia Noite


Em 1877, quando Antonio Silvino tinha apenas 2 anos de idade, Adolfo Meia-Noite já dominava a região como cangaceiro. Ele com seus dois irmãos Manoel e Nobelino, por uma questão de honra, tiveram que se armar contra o desafeto conhecido como padre Quaresma (apelidado de padre, não se sabe por quê) - um comissário de polícia, subdelegado naquela época. A razão dessa animosidade: uma paixão amorosa.

Adolfo era o galã da vila, disputado pelas garotas da localidade e, por inveja, o subdelegado traiçoeiramente o prendeu na localidade Varas, enviando-o à Ingazeira.

Como não havia segurança nas cadeias daquela época, é colocado em um tronco. Quinze dias se passaram sem que seus familiares soubessem, porque o mesmo se achava incomunicável. Através de um conhecido foram informados que Adolfo tinha sido fichado como ladrão de cavalo e que, se não o libertassem, ele iria morrer.

A essa altura Adolfo não sabia qual a razão de estar preso, até que o tenente responsável por sua prisão lhe disse:
 - Você conhece Padre Quaresma?
- Sim, disse o preso.
- Pois ele mandou um presente.
Ele respondeu:
- Nada tenho a receber de um homem que me botou 
aqui sem eu merecer.
Então o tenente lhe deu vinte lapadas com uma vara de espichar couro. A partir daquele momento ele ficou sabendo por quem e por que estava preso. E veio o desejo de vingança que tanto prejuízo causou a si e à família. A partir daí a vingança prevaleceu, sendo o comissário a primeira vítima e, em conseqüencia, sua família se viu obrigada a se mudar.

Por mais de cinco anos Adolfo e seus cangaceiros dominaram o Pajeú. Não só por esse trio era formado o grupo; Oiticica - cangaceiro de destaque - que também era seu parente, tombou em combate contra os “Quicés” que moravam no sítio Tamanduá e foram testemunhas contra Adolfo, quando foi preso. Nesse combate os ‘Quicés’ perderam dois membros da família. Eram eles parentes de Praxedes José Romeu, muito valente. 
Sob o comando de Praxedes cercaram a fazenda Volta e, por não encontrarem Adolfo, assassinaram o seu irmão Pacífico, que além de criança era retardado. Daí por diante o “granadeiro” falou.

Adolfo chegou a comandar dez cangaceiros. Não se registrou nenhuma Vila ou cidade que ele não tivesse assaltado. Mas, ainda se vê no distrito de Jabitacá suas tradicionais trincheiras construídas de pedras soltas. As que mereceram mais atenção foram as da serra do Brejinho.

Sobre aos nomes dos seus cangaceiros pouco se sabe, a não ser o de “Manoel do gado”, antigo marchante; e Almeida, filho natural da serra da Colônia, assassino frio que matou um primo do sítio Extrema por uma simples rapadura.

Adolfo não estava presente e censurou essa atitude. Era Almeida de inteira confiança do chefe. Num certo dia pediu para visitar a família e quando retornou vinha “peitado” para matar Adolfo. Mas, foi mal sucedido, ganhando a morte pela infidelidade. Adolfo foi considerado a ovelha negra da família. 

Outra versão sobre Adolfo Meia-Noite - “Era considerado um homem manso e romântico. Seu grande pecado foi a paixão que tinha pela prima, filha de um rico e poderoso fazendeiro daquelas ribeiras que, não achando ser o negro merecedor da donzela, mandou prendê-lo e açoitá-lo ao tronco colonial.

Quando foi liberado do castigo, seu pai, sabendo do ocorrido, recusou-lhe a bênção porque ele não havia lavado sua honra com o sangue do tio. Na mesma noite, Adolfo esgueirou-se para dentro da casa do tio e o matou, fugindo em seguida para o vale do Rio Pinheiro.

Como havia matado pessoa influente na região, virou foragido da justiça tendo que passar o resto de sua vida a fugir da polícia, levando consigo os irmãos Manuel e ‘Sinobileiro’.

Apesar de ter se tornado cangaceiro, Meia-Noite era tido como homem justo e pacífico. Isto ficou evidenciado num episódio em que ele e seu bando prenderam o negro Periquito, que levara consigo alguns bens do seu patrão.
O bando pressionava Periquito, querendo o dinheiro que este levava, quando Adolfo colocou-se contra aquela situação, dizendo aos companheiros:
- Vocês não vêem que se ele leva dinheiro, este não lhe pertence?
E dirigindo-se ao escravo pergunta:
- Levas dinheiro contigo?
- Sim, senhor - respondeu periquito.
- Levo 500 mil réis do Sr. Paulo Barbosa.
Ao ouvir esta resposta o bando se excita, mas o cangaceiro os repele:
- Vá embora. Se precisar de alguma quantia, irei tomá-la do seu senhor, e não de você, que não é dono, pois se eu o fizer, certamente seu amo não irá acreditar na sua estória, e irá castigá-lo."

Adolfo morreu na Paraíba, em confronto com a polícia.

http://www.afogadosdaingazeira.com

O cangaceiro era neto do inglês Richard Breitt, traduzido logo pela gente da terra como Ricardo Brito, (embarcadiço, que chegando ao Recife, com 11 anos, no início do século XIX, internou-se pelo interior, no lugar Volta e não mais regressou. Ligou o seu destino ao de uma sertaneja, da família Siqueira Cavalcanti, conforme informações, e, segundo outras, a uma descendente do mameluco Amorim, que provinha dos índios da serra de Jabitacá. Richard Breitt depois de muitos anos foi convidado a regressar a sua terra, Londres, para receber grande fortuna, de herança que lhe pertencia. Por amor à família tudo renunciou. Chegou a ir até o porto da capital, mas lembrando os filhos, foi tirando os troços de volta já na hora da partida). Chegou à decadência devido a um dos seus netos - o temido Adolfo Rosa Meia-Noite (filho de sua filha Riqueta com Leandro) ter se tornado cangaceiro.

Em face da tua... (Poesia)

Por: Rangel Alves da Costa(*)
Rangel Alves da Costa

Em face da tua...


... face
em face
do teu impasse
não quero
disfarce
e em face
da tua face
procuro
o desenlace
e digo
que faço
o enlace
da minha
face
decidida
a não ver
o embace
na tua
face
que destrói
o amor
que nasce.


(*)Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

A força do coronel - Documento que conferia prerrogativas especiais aos ex-integrantes da Guarda Nacional:

Por Dênis Artur Carvalho

Acima - Eis a carta-patente que pertenceu ao Cel. João Militão da Silva Barros.

Tradução:

Junta Militar do Município de Floresta, 23 de Agosto de 1937.

Honras e garantias aos oficiais da Guarda Nacional.

A lei n° 602 de 19 de setembro de 1850, conferiu aos senhores Oficiais da Guarda Nacional as mesmas honras e garantias que competem aos Oficiais do Exército e Armada Nacional (Artigo 60 e 66), tendo o Decreto n° 13.040, de dezembro de 1918, que extingue a aludida guarda, lhes assegurando, como não podia deixar de fazê-lo, tais prerrogativas, assim dispondo no número um do parágrafo 1° do artigo 22, os oficiais da Guarda Nacional continuam nos gozos de seus direitos de acordo com a lei em vigor, não podendo serem recolhidos a prezídios [sic] destinados a réus de crimes comum. Parecer n° 85 de 7 de setembro de 1936 do Supremo Tribunal Federal e Justiça Militar do Boletim diário n° 79 de 23 de setembro de 1936. (Assignado)

Antonio Luiz Cavalcante d’Albuquerque.

O major à quem foi conferido esse documento foi preso e mandado à cadeia pública do Recife pela símples acusação de acoitar cangaceiros (o que realmente aconteceu, mas quem seria o louco de expulsar 93 homens armados de seu "terreiro", vindos do combate da Tapera?).


Cel. João Militão da Silva Barros  
Pescada em Geanealogia Pernambucana

Essa famosa questão da "injustiça social e miséria" não está apenas relacionado ao coronelismo. E cangaceiro também não é o "herói" que assaltava as fazendas e distribuía os saques com os "flagelados" da seca, como muitos acreditam.

Não defendo a tese do "banditismo social" e nem puxo a toalha para nem um dos lados, mas colocar os "coronéis"  como únicos responsáveis pelo surgimento do banditismo e considerá-los pior de que estes é uma tremenda injustiça.

Sinhô Pereira era descendente de barão, membro de uma das famílias dominantes da região, muitas
vezes até chamado de "coroné" e mesmo assim era cangaceiro. Então, não combina essa questão de "os oprimidos rebeláram-se contra seus opressores".

Um abraço e desculpa as entrelinhas.

Dênis Artur Carvalho.

lampiaoaceso.blogspot.com.br/2012/06/forca-do-coronel.html

Lampião responde ao médico de Crato, o Dr. Octacílio Macedo


Estas foram as respostas do capitão Lampião ao médico de Crato Dr. Octacílio Macedo

Perguntado a respeito de número de seus combates e de suas vítimas disse:

- Não posso dizer ao certo o número de combates em que já estive envolvido. Calculo, porém, que já tomei parte em mais de duzentos. Também não posso informar com segurança o número de vítimas que tombaram sob a pontaria adestrada e certeira de meu rifle. Entretanto, lembro-me perfeitamente que, além dos civis, já matei três oficiais de polícia, sendo um de Pernambuco e dois da Paraíba. Sargentos, cabos e soldados, é possível guardar na memória o número dos que foram levados para o outro mundo.

Perguntado se estava rico:

- Tudo quanto tenho adquirido na minha vida de bandoleiro mal tem chegado para as vultuosas despesas do meu pessoal - aquisição de armas, convindo notar que muito tenho gasto, também, com a distribuição de esmolas aos necessitados.

Perguntado como manter o grupo:

- Consigo meios para manter meu grupo pedindo recursos aos ricos e tomando à força aos usuários que miseravelmente se negam de prestar-me auxílio.

Perguntado sobre Padre Cícero, Lampião foi bem específico:

- Sempre respeitei e continuo a respeitar o Estado do Ceará, porque aqui não tenho inimigos, nunca me fizeram o mal, e além disso é o Estado do Padre Cícero.

Considerado pelos romeiros o santo do Nordeste

Como deve saber, tenho a maior veneração por esse santo sacerdote, porque é o protetor dos humildes e infelizes, e sobretudo porque há muitos anos protege minhas irmãs, que moram nesta cidade. Tem sido para elas um verdadeiro pai. Convém dizer que eu ainda não conhecia pessoalmente o padre Cícero, pois esta é a primeira vez que venho a Juazeiro.

Antônio Silvino, cangaceiro

Por: Semira Adler Vainsencher(*)


Manoel Batista de Morais nasceu no dia 2 de novembro de 1875, em Afogados da Ingazeira, uma pequena cidade situada às margens do rio Pajeú das Flores, sertão do Estado de Pernambuco. Era filho de Francisco Batista de Morais e de Balbina Pereira de Morais. Na juventude, ficou conhecido como Batistinha (ou Nezinho). Seus dois irmãos eram Zeferino e Francisco.

Batistinha possuía um tio chamado Silvino Aires Cavalcanti de Albuquerque que, após ter brigado com os partidários do General Dantas Barreto (governador de Pernambuco), decidira organizar um bando e, desde então, vivia espalhando o terror pelos sertões adentro.

Desse grupo, faziam parte: Luís Mansidão e o seu irmão, Isidoro, Chico Lima, João Duda, Antônio Piúta e, posteriormente, os seus sobrinhos Zeferino e Manoel Batista de Morais (Batistinha).

Silvino Aires vivia fugindo do cerco da polícia, mas foi preso enquanto dormia, pelo Capitão Abílio Novais, perto de Samambaia, distrito de Custódia, em Pernambuco. Com a prisão do tio e bandoleiro, Batistinha assumiu o comando do cangaço, mudou o seu primeiro nome para Antônio (não se sabe, até hoje, o motivo) e, o segundo, para Silvino, em homenagem ao familiar e ex-chefe que tanto admirava.

A partir daí, passou a ser conhecido com o nome de guerra de Antônio Silvino e apelido de "Rifle de Ouro". Um pouco antes de Lampião, ele representou o mais famoso chefe de cangaço, substituindo cangaceiros célebres tais como Jenuíno Brilhante, Adolfo Meia-Noite, Preto, Moita Brava, o tio - Silvino Aires - e o próprio pai - Francisco Batista de Morais (conhecido como Batistão).

Batistinha havia entrado no cangaço com o seu irmão, Zeferino, para vingar a morte do pai, Batistão do Pajeú, que havia tombado morto em um dos combates com a polícia. Batistão era um homem provocador, um bandoleiro, bastante marcado pela polícia e autor de vários homicídios. Certa vez, ousou entrar em Afogados da Ingazeira, em um dia movimentado de feira. Daí, o chefe político local, coronel Luís Antônio Chaves Campos, contratou um matador profissional (Desidério Ramos, que, como o coronel, também era desafeto de Batistão), e este liquida o cangaceiro com um tiro de bacamarte. O corpo de Batistão permaneceu inerte, em uma rua próxima à feira. Era o ano de 1896.

Desidério, gozando da cobertura do coronel e chefe político da região, permaneceu impune e bem protegido no sertão. Jamais demonstrou possuir o menor temor de Antônio Silvino, a despeito de o cangaceiro amedrontar a todos. Sendo assim, depois de muito chorar a perda do genitor, os filhos de Batistão juraram vingar a sua morte, roubando, assaltando e matando todos aqueles que colaboraram para tal.

Algumas pessoas acreditavam, inclusive, que Antônio Silvino não possuía "maus instintos", que não cometia violências à toa, do tipo assaltar pessoas, estabelecimentos, povoados e cidades sem haver um motivo justo. Os integrantes do seu bando só se vingavam daqueles que lhes armavam emboscadas, dos que os denunciavam à polícia, das volantes que os perseguiam. Quando muito, se não agiam exatamente dentro da lei, isto era justificado, segundo eles, pela necessidade de angariar elementos básicos para a sobrevivência do bando: comida, dinheiro, roupa, armamentos.

Outras pessoas afirmavam, contudo, que Antônio Silvino vivia espalhando o terror nos municípios das Zonas da Mata e Agreste de Pernambuco, e nos sertões deste Estado e da Paraíba. Sobre os feitos e a valentia daquele cangaceiro, o cantador popular Leandro Gomes de Barros escreveu:

Onde eu estou não se rouba
Nem se fala em vida alheia,
Porque na minha justiça
Não vai ninguém pra cadeia:
Paga logo o que tem feito
Com o sangue da própria veia.
(...)

(*) Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco
Fonte: fundaj

O Cangaço longe da Armadilha do Mito

Por: José Nêumanne

Várias circunstâncias favoreceram a divulgação da imagem romântica dos cangaceiros que infestaram o sertão nordestino no início do século 20. A sobrevivência no semiárido os forçava a usar trajes apropriados para sobreviver aos garranchos, carrapichos e espinhos da caatinga e esse costume, adotado hoje pelos artistas em cena, por exemplo, os diferenciava de bandidos comuns e lhes deu uma marca visual definida. A facilidade com que fugiam dos cercos policiais, ajudados pela topologia do terreno e da vegetação do sertão e também pela corrupção, lhes propiciava uma espécie de aura que funcionava quase como uma licença para delinquir.

Esses grupos de bandoleiros surgiram numa região remota e sem lei na qual os coronéis latifundiários reinavam sem prestar contas ao Estado e em territórios sem estradas e difíceis de serem percorridos até mesmo por animais de montaria. Deslocavam-se quase sempre a pé, guiados pelo conhecimento do terreno em que pisavam, que nem sempre os agentes da lei conheciam. Moviam-se também numa cultura peculiar que lhes facilitava a ação. O semifeudalismo vigente consagrou como legítimos e corriqueiros costumes bíblicos, como a vingança, praticada conforme a lei de talião (“olho por olho, dente por dente”), que não respeitava a justiça comum. Crimes de honra, cometidos por pais que puniam com a morte mancebos atrevidos que ousavam desvirginar suas filhas donzelas, também tidos como useiros e vezeiros, serviam de pretexto para esconder a brutalidade numa região inóspita de sol inclemente, água escassa e secas periódicas.

Logo  chefes de bandos se tornaram mitos que protagonizavam notícias sensacionalistas, romances de aventura e folhetos de cordel. O Cabeleira foi imortalizado no romance de Franklin Távora, de 1876. Antônio Silvino tornou-se célebre como o inglês Robin Wood, o australiano Ned Kelly e o americano Billy the Kid. O mais famoso de todos eles foi Virgolino Ferreira da Silva, pernambucano de Serra Talhada e imortalizado nos meios de comunicação e no romanceiro literário e popular como Lampião, o Rei do Cangaço. A lenda em torno de sua saga serviu a vários senhores. Na onda do banditismo social, consagrada pelo britânico Eric Hobsbawn, sociólogos marxistas o tornaram o vingador dos pobres nos latifúndios. Cangaceiros e Fanáticos, de Rui Facó, é um exemplo dessa falácia, que chegou a extremos como a tentativa de estabelecer um paralelo entre cangaceiros e guerrilheiros de Christina Matta Machado em As Táticas de Guerra dos Cangaceiros.

Frederico Pernambucano de Mello

Frederico Pernambucano de Mello, do Instituto Joaquim Nabuco, é fiel aos fatos e respeita as leis da lógica, da sensatez e da clareza. Com serenidade e competência, desafia a mitologia do cangaço social, desfazendo "verdades" inventadas por biógrafos oficiais e analistas de esquerda. Quem lê seus livros vê-se tem acesso a relato e análises de fatos e não de lendas. O pretexto de Lampião se juntar ao grupo de Sinhô Pereira, em cujo comando depois ganharia fama, era vingar-se de um inimigo malvado de sua família. Pernambucano lembra que a vingança nunca foi consumada e, no fim, o cangaceiro e os desafetos de sua grei se reconciliaram. Em Guerreiros do Sol, livro em muito boa hora reeditado pela Girafa Editora, o especialista desarma a armadilha do banditismo social, mostrando sua face violenta e nada solidária. Os cabras de Lampião roubavam em proveito próprio e nunca dividiram seu butim com os pobres.

Até tombar na gruta de Anjico, no sertão de Sergipe, o Rei do Cangaço sobreviveu graças à cumplicidade dos "coiteiros" que o abrigavam, protegiam e informavam a peso de ouro e recorrendo a estratagemas de esperteza incomum. Recebeu a patente fajuta de capitão das mãos do Padre Cícero Romão Batista, o Padim Ciço de Juazeiro do Norte, Ceará, outro mito popular sertanejo, para perseguir a Coluna Prestes, que ziguezagueava pelo sertão que seu bando percorria. Espertamente, tanto os militares rebelados quanto os rudes bandoleiros se evitavam pelas veredas do semiárido para não terem de se confrontar.

O autor mostra também como a vida aventureira, ao ar livre, enfrentando volantes das polícias estaduais, atraiu muitos jovens de famílias abastadas, que, a exemplo do que ocorre hoje, nas metrópoles do século 21, se tornavam criminosos profissionais em busca de fortuna e emoção. Este foi o caso do paraibano Chico Pereira, pai do padre, professor e escritor do mesmo nome, que escreveu um dos mais precisos e sensíveis textos sobre esse aspecto romanesco do cangaço, Vingança, não, cujo título revela a decisão da família de não fazer o que mandava o figurino da honra sertaneja: vingar a morte do ascendente morto. Em Guerreiros do Sol reluz a luz do sol do semiárido para dissipar as névoas de lenda e fantasia sobre o falso cangaço  social.

José Nêumanne
Jornalista, escritor e editorialista do Jornal da Tarde 
Fonte:

Publicado na Pág. S06 do Sabático do Estado de S. Paulo,
sábado 16 de junho de 2012)Cortesia do Envio:
Luitgarde Cavalcante Barros

Um homem Pedestinado


Este punhal, segundo os pesquisadores do cangaço Lampião fazia uso dele, principalmente para assassinar os policiais que ele capturava em combates, que segundo ele, era quem mais o perseguia. O punhal tinha aproximadamente 80 cm, e aquele infeliz que caísse em suas mãos, iria ser sangrado, enfiando-o na clavícula e caminhando em busca do coração, perfurando intestino,...

Mas algumas vezes quando ele via um policial passando sozinho, deixava-o ir embora, porque via nele um trabalhador como qualquer outro para ganhar o seu pão e alimentar seus familiares. Apenas ordenava que os seus comandados dessem uma carreirinha nele, só para amedrontá-lo, sem que o punisse pelas suas perseguições contra ele.