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sexta-feira, 25 de maio de 2012

PASSARINHO: UM EX-CANGACEIRO DE LAMPIÃO


"Atentos a importância de se recuperar informações que enriqueçam a história de nosso município ou de santa-cruzenses que se destacaram no cenário histórico de tempos de outrora, estamos postando esse artigo redigido pelo pesquisador Eudes Donato. Agradecemos ao querido amigo triunfense André Vasconcelos, que vez ou outra nos envia achados como este".

Marcos de Lima (Passarinho) nasceu em Santa Cruz, antes distrito de Triunfo-PE, em 22 de setembro de 1903. Começou cedo no cangaço com idade de 16 anos em 1919, ainda no comando do cangaceiro Sinhô Pereira (Lampião ainda não havia formado o seu bando).

Posteriormente, Sinhô Pereira confia entregar o comando a Lampião e vai embora para Goiás onde seus familiares tinham propriedades, isso mais ou menos por volta de 1921. Logo em seguida, são formados novos grupos de cangaceiros para dar sustentação ao grupo de Lampião.

Passarinho entra num desses grupos comandado por Cícero Costa, ou Ciço Costa (um Paraibano) que agia na região de Conceição de Piancó PB. Eles e Ciço Costa participaram do bando de Lampião em várias ocasiões. Esse seu chefe imediato era um grande conhecedor de farmácia natural, o médico do bando.

Muitas pessoas acham que Passarinho conviveu diretamente com Lampião. Não, ele teve vários encontros com o rei do cangaço, inclusive participando de alguns ataques como na propriedade de José Trajano, localizada no município de Conceição PB, com o seu chefe tomando-lhe rifle e 
dinheiro em 06 de Julho de 1921.

Existiram dois Passarinhos no cangaço, por isso que algumas publicações citam: Passarinho l e Passarinho 2, (era costume quando algum morria ou era preso, se colocar o nome de outro que estava chegando e com semelhança ao mesmo, batizar de fulano l e fulano 2, e este Passarinho é claro e evidente foi o nº l.

Nessa vida tirana, Passarinho viveu 3 anos e 7 meses no cangaço, até quando foi preso em 24 de dezembro de 1923. Foi recolhido a cadeia de *Princesa e sendo condenado pelo júri local a 29 anos e 9 meses de prisão.

Fora preso e condenado por haver assassinado naquele ano, mais precisamente no dia 17 de dezembro do corrente ano, num local chamado Caracol do município de Conceição do Piancó PB, Raimundo Nogueira a quem roubara-lhe sua roupa e algum dinheiro. Seis dias após o acontecido, o irmão de Raimundo surpreende Passarinho nas adjacências da povoação de Patos, município de Princesa.

Passarinho estava justamente com as roupas do seu irmão Raimundo, este saca de uma arma e atinge Passarinho. O seu companheiro Juriti, num vacilo de Raimundo, por trás dá-lhe uma pancada na cabeça e termina o ato dando-lhe várias facadas. Passarinho, ferido, entra na povoação gritando: - Acabam de matar um homem e me feriram também, (pra ver se enganava os soldados). Banhado de sangue dos ferimentos, recebe voz de prisão, não por obediência a lei, pois era valente, mas pelos disparos recebido.

Recebendo ameaças de morte é transferido para João Pessoa onde cumpriu 7 anos e 9 meses de prisão. Vem pra Campina Grande, depois Pocinhos (é quando conhece sua futura esposa dona Petronilha, mais conhecida por dona Pitu.

Casa-se em Campina Grande e vem morar em Areial, pois dona Pitu tinha familiares residindo aqui. Não teve filhos, mas criou um filho adotivo (Arinaldo) do qual ganhou três netos (uma mulher e dois homens).


Em Areial, viveu por mais de sessenta anos. Faleceu no dia 15 de agosto de l998, aos 95 anos, e seus restos mortais estão no cemitério local. Sua esposa dona Petronilha Maria de Araújo, nasceu no dia 23 de setembro de 1917 e faleceu em 19 de Agosto de 2004 em Areial, aos 86 anos e onze meses, e seu sepultamento também foi no cemitério local.

São vários livros e jornais que citam o nome ou fizeram manchete com o nome de Passarinho.

Trecho extraído do livro: “Passarinho: um ex-cangaceiro de Lampião em Areial” (ainda em acabamento de autoria do pesquisador, Eudes Donato)

FONTE: 

“ICONOGRAFIA DO CANGAÇO” TRAZ REVELAÇÕES SOBRE LAMPIÃO

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São 180 fotos e mais um DVD que ajudam a entender como Lampião se tornou um mito popular nacional

A saga de Virgolino Ferreira da Silva, o conhecido Lampião (1898-1938), é talvez uma das mais importantes e conhecidas da história brasileira. Envolto em lendas e verdades, o Rei do Cangaço povoa até hoje o imaginário nacional. Mas a trajetória desse fenômeno social remonta ao século 18, quando bandos de cangaceiros passaram a se formar no Nordeste.

Segundo o escritor e jornalista Moacir Assunção, “o fato de nos lembrarmos mais de Lampião quando falamos em cangaço é porque ele e homens como Corisco, Zé Baiano, Zé Sereno e Luiz Pedro, viveram em uma época na qual já existiam veículos de comunicação de massa, como as revistas, o cinema em sua plenitude e os jornais, além de livros, já distribuídos no interior nordestino, e da rica gesta da literatura de cordel”, escreve no livro.

Além disso, podemos dizer que Lampião se beneficiou da invenção que se tornou a expressão da modernidade no começo do século 20: a fotografia. Parte desse acervo iconográfico foi organizada por Ricardo Albuquerque e está no livro Iconografia do Cangaço, que será lançado nesta terça-feira, 08, em São Paulo.

A relação de Ricardo com essas imagens não se deu por acaso. Foi seu avô, Adhemar Albuquerque, que ensinou o libanês Benjamin Abrahão (1890-1938) a fotografar e filmar na década de 1930: “Meu avô nunca foi profissional, mas gostava de fazer cinema e documentários. Gostaria ele mesmo de ter filmado e fotografado Lampião, mas trabalhava como caixa num banco e seu chefe não o liberou”, conta em entrevista por telefone. “O jeito então foi munir Benjamin Abrahão de equipamentos e encomendar o material.”

O encontro dos dois se deu em 1934, por conta da morte do Padre Cícero, de quem Abrahão tinha se tornado secretário. Adhemar Albuquerque viajou até Juazeiro para filmar o funeral e foi ali que se conheceram. A primeira tentativa foi um fracasso: “Os filmes ficaram todos velados e Abrahão os colocou na sua mochila junto com a comida. Até formiga tinha”, conta Ricardo. O jeito foi convencer Adhemar que valia a pena mais uma tentativa. E assim foi feito. Desta vez, o precursor do cinema se certificou de que não haveria erros.

O mascate libanês, cuja trajetória foi documentada no filme Baile Perfumado, se torna então quase por acaso e por interesse financeiro, o documentarista do bando do Lampião. Antes disso, porém, foi necessária uma carta do próprio Lampião autorizando a empreitada.

Quem foi Lampião

Por: Alfredo Bonessi

Quem foi Lampião

Alto, magro, moreno escuro, quase pardo, esguio, meio corcunda, ágil, saudável, resistente a fadigas, manco do pé direito por causa de bala - segundo quem lhe conheceu - por causa de calos no pé segundo declarações dele mesmo, em estado espiritual, a um programa de televisão, com belida no olho direito, um leucoma, assim era o corpo de Virgulino Ferreira, vulgo Lampião.
                

De personalidade alegre, disposto, temperamento inconstante, sujeito a crises de fúria e descontrole, místico, religioso, rezador, intuição apurada, perspicaz, agudeza de raciocínio, inteligente, líder nato, exímio atirador de armas curtas e longas, fazendeiro, domador de animais de montaria, vaqueiro campeão, amante de bebidas finas, cigarros, charutos e mulheres, excelente trabalhador em couro e tecidos, narcisista, jogador de baralho sem sorte, impiedoso, cruel, vingativo, justiceiro - falso moralista, abusou sexualmente de algumas mulheres, embora, hoje, não sabemos se eram esposas ou filhas de inimigos. – mesmo assim são fatos lamentáveis e inaceitáveis para qualquer época de uma geração.
               
Desconfiado, prudente, calculista, infiel mas respeitador das opiniões da companheira, maleável até certo ponto, principalmente em algumas decisões a ponto de alterar as ordens dadas por interferências dela, respeitado, temido, considerado, perigoso, astuto, inquisidor, julgador, musico, dançarino, corajoso, amigo, leal, acreditava nas pessoas, perfeccionista , gostava de tudo o que era bom, rico, comerciante, artífice, laborioso, habilidoso e estrategista.
               
Lampião foi um homem notável para o seu século. Não existiu até o presente momento ninguém mais do que ele, igual a ele, em mesmas circunstâncias, fazer o que ele fez em um ambiente hostil, carente de meios e desprovido de tudo, por tanto tempo assim – mais de vinte anos - acossado por centenas de volantes policiais.


A impressão que se tem pela fotografia acima, é que em 1928 – na visita a Pombal, possuía um relógio de pulso no braço esquerdo.

Não sabemos até hoje como conseguiu gravar o seu nome e o de sua mulher no interior das alianças que ambos portavam e que simbolizavam a paixão que um nutria pelo outro. Gostava de tudo que brilhava, que reluzia. Quem o avistasse pela primeira vez ficava impressionado com aquele homem impecavelmente trajado de azul, ou brim caqui, apetrechos ricamente ornamentados de variadas cores e matizes, armas luzidias nas mãos prontas para o uso, tez da cor de cuia, olhar firme, voz rouca, sons profundos que calavam fundo na mente de quem o ouvia – de repente a pessoa, em seu intimo, sentia um arrepio, um frio, um medo, um temor – sentia a impressão que estava correndo um grande perigo, e aguardava, apavorada, a qualquer momento o bote daquela fera perigosa, de punhal em riste, e com a ponta do aço duro cutucar a veia jugular na tabua do pescoço, sangrando a vítima em questão de segundos.


O pavor que os nordestinos sentiram quando estiveram frente a frente com Lampião, sentiram também os homens que outrora conviveram com pessoas diferentes e superdotadas, como por exemplo, quem esteve nas presenças de Alexandre, O Grande, Julio César, Nero e Napoleão Bonaparte. – personagens da História, grandes personalidades em suas diferentes épocas, alguns líderes excepcionais, guerreiros, vencedores, que sucumbiram pela vontade do destino, dono absoluto da vida das pessoas importantes. Quem os visse, a princípio, sentiam-se admiradas diante de tanta beleza, depois de contemplá-los por alguns instantes sentiam um respeito profundo pelo que viram, depois eram possuídas por um temor inexplicável que lhe arrebatavam a alma e que lhes causavam calafrios, palidez nas face, suor frio e tremores nas pernas.
                
Não se pode desejar que lampião nasça em outro lugar, em outro país, em classes mais abastadas. Lampião nasceu e se criou no lugar exato em que todo o homem valente deseja nascer e ser criado - uma terra de homens corajosos, valorosos, que não tem medo de nada e de ninguém. Homens acostumados a vida dura, difícil, onde só o destemido, o persistente, o audacioso, os corajosos sobrevivem, tiram raças e prosperam em cima do solo duro, pedregoso, domando o gado hostil - animais bravios - em meios a serpentes venenosas, como a cascavel e rodeado de mata espinhenta por todos os lados.
                
Quem visita o lugar onde Lampião nasceu sente a alma envolta por um romantismo inexplicável, o ar circundante é adocicado pelo aroma das flores silvestres. Ainda pode se escutar o gorgeio livre da passarada ao amanhecer e ao entardecer; pode-se sentir o cheiro natural que brota da terra estrumada; pode-se ouvir o guizo da cobra oculta; pode-se escutar ao longe o mugido do gado na invernada; pode-se imaginar o fogo aceso, panelas ferventes, chiando nas trempes, o prato de bolinhos feitos pela Dona Jacosa, sua avó, o café fumegando na caneca, e as suas mãos ágeis enfeitando o couro dos arreios, o seu semblante concentrado mas feliz pela alegria que sentia de viver e de trabalhar, o prazer de tudo e por tudo, o gosto pelo que é bom.
               
Toda essa vida boa, doce, tranqüila, prazeirosa, o destino ingrato retirou dos caminhos de Lampião, menos a fé em Deus e o amor puro que nutria pelos seus familiares. Mesmo nas horas mais difíceis de sua vida atribulada a paixão pela Virgem Santíssima nunca se arrefeceu de seus pensamentos ardorosos, forjados por uma fé inquebrantável – sentia um amor infinito e incompreensível pela Santa, a ponto de sempre rezar em sua homenagem, ao deitar, ao levantar, ao meio dia e as seis horas da tarde.


Lampião queria viver bem e feliz. Queria ser o melhor em tudo e por tudo, de acordo com o que Deus lhe dera. Por ser portador de qualidades inerentes a poucos seres humanos, foi invejado, odiado, perseguido, traído e levado a morte, embora tenha feito de tudo para que isso não acontecesse, pois era um amigo leal e de confiança, era muito bom para quem fosse bom para com ele – Lampião era um homem de palavra e não se apossava das coisas alheias por ser ladrão vulgar, salteador de beira de estrada, fazia o saque por necessidade de manter o bando de cangaceiros e por esse fato pedia sempre dinheiro as pessoas mais abastadas, por carta, bilhetes ou mensageiros, ou simplesmente tomava delas.
                
Lampião a frente de seus homens mantinha uma rede de informantes pagos a peso de ouro. Aliciava policiais e pessoas influentes, e quando não conseguia demover o perseguidor por bons modos, difamava-os, inventava historias cômicas sobre eles, dava-lhes apelidos depreciativos, contava piadas que fazia brotar risos na turma acampada aos redores das fogueiras, sobre esse e aquele oficial. Era temerário, mas não poderia ter negligenciado a capacidade combativa de Bezerra - o oficial que o matou- segundo Lampião, dito por ele mesmo, não tinha medo de boi brabo, quanto mais de bezerra... o descuido, esse erro de avaliação foi-lhe fatal e custou-lhe a cabeça naquela manhã de 28 de julho de 38.


Criou para si e para seu bando sinais, códigos e gírias que significavam algo entre eles, que conheciam a chave para decodificação, como por exemplo o L formado pelo indicador e o polegar da mão direita que devia ser mostrado quando se aproximavam das sentinelas do grupo. A três pancadas nos troncos das arvores - mas não eram pancadas comuns, elas tinham intensidade, ritmo e freqüência, que só os do bando sabiam executa-las.
                 
A manutenção dos esconderijos, os depósitos escondidos nos interiores dos troncos das arvores, de dinheiro, munição e armamento; a ocultação do cadáver do seus comandados, o sumiço dos rastros, a camuflagem, a dissimulação, a finda, o drible, a manobra audaciosa, o descarte dos dejetos dos acampamentos, a busca pela água e pelos alimentos, - o lampejo na mente iluminada pela escolha da decisão mais acertada, na hora certa e diante de grande perigo - fizeram o bando sobreviver por longos anos, diante de volumoso número de perseguidores, graças ao tirocínio de seu comandante, de sua visão combativa, de seu planejamento bélico, do seu sentido de direção, de seus objetivos previamente ajustados e na maioria das vezes bem sucedidos, e por esse fato granjeava a admiração e o respeito dos seus seguidores, a ponto de sempre confiarem nele e o considerarem invencível. Seu bando nunca andava a ermo, sem um roteiro estabelecido, se um objetivo, sem uma missão a cumprir. Seus deslocamentos sempre tiveram início, meio e fim.
                
Lampião morreu no tempo certo e na hora certa. Morreu no apogeu da vida e da saúde. Morreu em combate. Após o mortífero impacto da bala que lhe pos por terra, enquanto pode, enquanto tinha uma pouco de energia, tentou ficar de pé, não conseguiu, se contorceu até que o tiro final esgotou todas as possibilidades de vida. Um espírito muito forte retornava a sua morada divina.


Lampião pode ter sido o que seja, mas um dia voltará para cumprir a sua missão terrena em uma nova chance dada pelo criador. Esperamos que tenha mais sorte desta vez. Analisando a vida de grandes malfeitores podemos dizer que Lampião não teve as mesmas chances e as oportunidades de fazer o bem que tiveram Reis, Rainhas, Religiosos e Políticos da Nova Era. – pelo contrário – foram até muito pior do que ele. As centenas de pessoas que caíram pelo aço de seu punhal ou pelas balas de suas armas nem de longe se comparam aos milhões de mortes causadas pela inquisição religiosa e nos porões das masmorras ideológicas. Talvez seja por isso que Lampião mereça uma nova chance nesse mundo de pecado.

Alfredo Bonessi. (Foto: Manoel Severo)
                   
Estudante Pesquisador – Membro da GECC - Grupo de estudos do cangaço do Ceará e SBEC - Sociedade Brasileira de estudos do cangaço

http://lampiaoaceso.blogspot.com

CANTO DAS ALMAS (Crônica)

 Por: Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa

CANTO DAS ALMAS 
                                                         
Na noite fechada, no breu da escuridão, ouviu-se um murmúrio, um canto dolente que foi se espalhando pelos quatro lados de chão e pedra, de fogo e capim, que formavam a senzala. Logo a seguir ecoou o coro das vozes negras em cantoria para relembrar os sofrimentos e aflições de um dia.

“Chame o feitor, traga o capataz, onde está o capitão-do-mato? Quero aquele negro fugidio sangrando no mourão, gemendo no tronco; quero ver suas costas na carne viva para servir de exemplo aos que tentarem se misturar à escuridão e fugir pelos canaviais”.

Quando cai a noite de pouca lua ou a se a nuvem reina lá em cima, lá pra baixo do mercado do escravo, no mesmo porão onde os negros, ou bichos-homens, ou animais que falam, ficavam jogados até serem chamados no açoite para ver quem dava mais pela negra peça, hoje se ouve uma cantiga chorosa que dói nos ouvidos e no coração de quem a ouvir.

“Esse bicho aqui é bom, é sudanês, é banto, é da guiné, é da costa africana. Olhe os dentes brancos e sadios que carrega, tem a força de um touro e é de família escrava conhecida pelo sofrimento calado. Está assim meio triste pela viagem, pelo banto, e está assim com o corpo parecendo ferido pelos ferros que o aprisionava ao navio negreiro. Mas é negro retinto, escravo valioso. Vale muito. E se quiser levar uma negrada então o preço fica ainda melhor”.

Por dentro do mato, por entre a fileira das canas, por cima e por baixo das pedras que ainda continuam por lá, nos mourões fronteiriços, por cima da terra ainda manchada de sangue e suor, por toda vereda onde o pé negro marchou na sua lide diária, debaixo do açoite sedento, ainda hoje se ouve a música fúnebre das almas escravas que começavam a morrer ali.

“O negro safado correu no meio da noite e se embrenhou mata adentro, mas não deve ir longe não. Ele já é manco de um pé de uma ferroada recebida porque mereceu. Em nome da honra do engenho quero aquele negro rebelde de volta aqui. Chame mais três, chame quatro, cerquem por todo lugar, procurem por dentro de todas as moitas que encontrar. Assim que botar a mão naquele maldito arranque primeiro os dedos, depois corte um dedo de cada mão e deixe em carne viva por debaixo do pé direito. Depois traga ele descalço e amarrado ao cavalo, e parando de vez em quando pra dar cor no lombo preto”.

Lá pela ladeira do riacho, pertinho das pedras molhadas e amoladas que nem navalha, diante da fumaça eterna no fogão de lenha, embaixo das camas de varas, por cima do chão de capim servindo de leito, em frente e ao redor dos cacarecos que eram os pratos e os talheres, ainda se sente a presença da boca se abrindo para entoar a cantiga dos mortos, a toada de despedida, a canção do nunca mais existir.

“Pegue o arreio, pegue o chicote, pegue a ripa de prego, pegue o pau amolado, pegue a laçadeira, pegue a arma, pegue o grilhão, pegue a corrente, pegue o laço de sete nós. Abra o caminho pro tronco, abra a estrada pro mourão, abra a vereda pro cubículo das cinzas. Traga ele aqui, e traga também quem olhar piedoso. Preciso mostrar a esse revoltoso pra que serve o tronco e o açoite, a brasa e a ferroada, o gemido e a dor”.

Nos esconderijos do mundo, nos quilombos nos escondidos das serras, nas moradias debaixo do tempo, na vida ao deus-dará, na sorte quase entregue à morte, em todos os lugares onde os negros rebeldes e fugitivos que buscavam abrigo ainda ecoam o canto sem rima, sem brilho, sem estrofe, sem verso. Apenas um gorjeio misterioso e agonizante igual ao pio lamuriento do urutau ou mãe-da-lua.

“Essa negra não pode perder tempo dando peito a menino. Fure o peito, bote pedra na boca do chorão. Coloque a tampa de ferro na sua cara, bote pimenta no peito, se não der jeito pode arrancar os dois. Jogue o menino no mato, manda a mãe cortar cana, pegue a vara da cana e amole no lombo dela. Essa negra devia ter aprendido que aqui ninguém tem o direito de ser mãe nem pai, apenas de trabalhar, trabalhar, trabalhar...”.

E o som aumenta, o canto ecoa num refrão de gemido. Tocam os atabaques, os zabumbas, as caixas. Não, isso não é toque. É lombo de negro, é lombo de negro apanhando. Mas o som aumenta, ainda ouço esse canto açoite. E é canção de negro sofrendo, é sinfonia de negro morrendo.

Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Beijo (Poesia)

Por: Rangel Alves da Costa* 

Beijo


Porque no teu lábio
beijei o mar
beijei a vida
beijei o amar
içei minha vela
a navegar
ter ainda sede
nesse singrar
beijar de novo
apaixonar
o quanto é longe
onde quero chegar
no cais do corpo
um porto seguro
desembarcar
sedento de amor
querendo beijar
me espere morena
o vento já sopra
não posso ficar
no passo das águas
destino amar.


Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE


Convite

O escritor Archimedes Marques, tem o prazer de convidar Vossa Senhoria e família, para o Coquetel de lançamento de seu livro “Lampião Contra O Mata Sete”.
Local: Sociedade Semear 
Rua Vila Cristina, 148
Aracaju - Se
Horário: 19h
Data: 02 / 06 / 2012
SINOPSE
LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE

A história nua e crua narrada com a veracidade que ela merece.

Archimedes Marque (*)
Participante do maior movimento pertinente que há no Brasil, o CARIRI CANGAÇO, evento que reúne anualmente as maiores autoridades nacionais e internacionais sobre o tema e que é realizado na cidade do Crato e região do Cariri cearense adjacente, o autor Archimedes Marques em nome da VERDADEIRA HISTÓRIA QUE FOI VILIPENDIADA com o livro “Lampião, o Mata Sete” resolveu escrever a sua contestação: LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE.

Trata-se do primeiro livro oposição dentro do assunto cangaço. LAMPIÃO CONTRA O MATA SETE, procura refutar tudo que está errado no seu livro opositor, pois essa obra é eivada de vícios do início ao fim. Todas as alegações contidas no livro “Lampião, o Mata Sete” referentes às honras sexuais de 



Lampião e Maria Bonita são levianas e sem provas algumas por menor que sejam e até mesmo desprovidas sequer de indícios de veracidades, como se a história fosse feita de insinuações vindas do nada, provindas de uma mente criativa sem apresentar fatos alguns que pelo menos deixem dúvidas quanto ao alegado.

Da citada obra contestada, de todas as aleivosias existentes ainda há muita coisa errada, tais como troca de datas, de nomes de pessoas, de fatos, de passagens, além das constantes tentativas de levar o leitor a erro. Enfim o livro “Lampião, o Mata Sete” é de PÉSSIMO GOSTO EM TODOS OS SENTIDOS, jamais é um livro histórico. Trata-se sim, de um livro FICTÍCIO além de muito mal informativo, muito mal pesquisado.


Até os dizeres do escritor Oleone Coelho Fontes que fez a introdução do livro refutado, e que por sinal escreveu o excelente livro "Lampião na Bahia", em muitas vezes se esbarram em situações totalmente adversas ao pensamento contido no livro “Lampião, o Mata Sete”, em comprovação que de tudo nessa obra há somente aleivosias improváveis.

(*) Archimedes Marques (Delegado de Policia Civil no Estado de Sergipe. Pós-Graduado em Gestão Estratégica de Segurança Publica pela Universidade Federal de Sergipe) archimedes-marques@bol.com.br