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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Lampião na Bahia

Por: Luiz Carlos Marques Cardoso
De pé: Ezequiel, Calais, Fortaleza, Mourão e o menino Volta Seca.Sentados : Lampião, Moderno, Zé Baiano e Arvoredo.*Mariano foi omitido. Na original ele aparece esq. de Ezequiel. Até o momento não conseguimos scanear em boa resolução.

O livro do qual faço a resenha já se encontra na 6° Edição, foi escrito pelo pesquisador Oleone Coelho Fontes, esse que acabou por legar a sociedade mundial uma obra riquíssima em detalhes sobre a vida do maior bandido que o Brasil já teve. Em seus estudos entrevistou uma gama de pessoas, gente essa que teve papel singular em algum dado momento da passagem de Virgulino pelas terras da Bahia. O livro trás ainda fotografias dos integrantes do cangaço, e comentários que nos faz pensar num período de trevas aos sertanejos sofridos, tanto pela seca, a pobreza e naquela época, pela violência imputada pelo bando do facínora.
   
Lampião, ou Capitão Lampião, assim exigia que fosse chamado, por ter ele recebido do Padre Cícero essa titulação. Saía a dizer ser ele o governador dos sertões, na verdade, por mais de dois séculos foi sim de certa forma o Governador das bandas secas do Brasil. Deixou o Estado de Pernambuco ciente da perseguição que os volantes infligiam a seu debilitado bando, precisava de repouso para repor as energias e recrutar novos homens. Fez aquilo que a polícia não imaginava que seria feito, a travessia de uma margem para a outra do Rio São Francisco, aconteceu depois do meio-dia do dia 21 de agosto de 1928. 
   
Já nas terras baianas, gozava de paz, a polícia débil do Estado fazia vista grossa. Ficou a andar por cidades falando que estava na Bahia em paz, que se meteu no Cangaço por imposição da vida e se lhe tivesse condições ele largaria tudo para viver em paz. Sempre coagindo conseguia dos sertanejos o sustento do bando.
   
Após o grupo de cangaceiros passarem pela vila do Cumbe uma volante cruza em seu encalço. Numa fazendo logo adiante acontece o primeiro embate dos homens de Lampião com a polícia baiana. Na ocasião, o bando saiu vitorioso, matou um sargento e dois soldados. Aquele momento marcou o inicio das atividades perversas do banditismo na Bahia.
   
De cidade em cidade os cangaceiros iam pilhando, matando, castrando e tomando das mulheres. Teve uma ocasião em que obrigaram cinco moças a dançarem nuas. Corisco, o Diabo Louro, pegou um antigo inimigo, tinha jurado que quando tivesse o homem nas mãos esse sofreria muito antes de morrer. Corisco afirmava que fora o dito homem o responsável pela sua entrada no cangaço. Teve sociedade com ele, porém foi passado para trás. No momento do pagamento pegou a pobre presa e amarou feito bode a ser morto de cabeça para baixo, tirou o couro do homem, esse ainda em vida, sobre muitos gritos.
   
Em um conflito com os “macacos” (dessa forma os cangaceiros chamavam os policiais) Lampião perde um dos seus homens, esse fato acirrou ainda mais os embates dos volantes com os cangaceiros. Lampião após tomar uma vila prende oito macacos e um sargento. Depois de beberem muito, dançarem; o bando vai a delegacia, local onde se encontrava os soldados presos, tinha soltado os que estavam presos e encarcerados aqueles. Um por um ia sendo levado para fora e com golpes de punhal e tiro na testa tombavam ao chão. Apenas o sargento foi poupado por Lampião, conta que Virgulino fez uma aposta com uma senhora, como essa ganhou, ele pediu que ela exigisse algo, a mesma inquiriu que soltasse o sargento, o rei do cangaço como não ia contra a palavra dada, dessa forma o fez, contrariando seus ideais, pois o lema dele era matar todos os macacos que colocasse as mãos.
   
O bando de Lampião cresceu tanto que ele se viu obrigado a dividi-lo em vários subgrupos. Corisco chefiava um, fato esse que poupou da morte no encontro da volante com os cangaceiros na Gruta do Angico. Dessa forma ficou mais difícil em exterminar o cangaço. A polícia que parecia com os cangaceiros, tanto em trajes como em perversidade, fatos comprovados e contados no livro. Em cada encontro os bandoleiros obtinha vitória, eles possuíam informantes e fazendeiros a disporem de armas, além de agirem por meio de emboscadas. Conheciam a caatinga como ninguém, além de usarem técnicas para despistar, conseguia farejar macacos de longe.
   
Em um combate Lampião perde o último irmão que o acompanhara no cangaço, sobrou-se apenas um, por sinal, esse foi o único a não se meter com o cangaço. Depois desse fato, conta-se que Lampião ao ver o irmão sofrendo e sem possibilidade de vida deferiu-se um certeiro na testa, o homem aumentou sua crueldade, matava por matar, castrava. Por vingança ele matou um coronel, mas antes fez despir esse e a mulher e no lombo de animal o homem na frente, a mulher na garupa, foram levados para uma vila próxima para que o ato servisse de exemplo. O coronel foi morto a punhaladas, a esposa foi poupada a pedido dos companheiros de cangaço, todavia essa jamais recobrou a consciência.
   
Zé Baiano tinha como marca um ferro de ferrar animais, porém o usava para marcar mulheres. “J B” era as letras que continha no instrumento. Quantas não foram as moças ferradas por ele? Ferrava-se no rosto, nas pernas, nas nádegas. Carregar uma marca dessas, além da feiúra levantava muitas indagações, pois o povo sabia de quem era tais iniciais.
   
Tamanha brutalidade ocorreu com a família Salina, foi uma verdadeira chacina. Lampião manda um bilhete exigindo do chefe da família uma determinada importância. Esse se aconselha na cidade e a autoridade fala para ele não ceder aos bandidos. Assim feito, Lampião ameaça dizendo que quando colocasse as mãos nele poderia considerar um homem morto. A família Salina passa a residir no povoado, porém suas posses iam sumindo, já que ficava sempre ocioso e precisava de recurso para se manter. Dado dia ele foi obrigado a ir a fazenda colher a mandioca e fazer dessa farinha. Reuniu-se com a família e alguns amigos para o trabalho, era fazer a farinha e voltar logo ao povoado. Lampião chega e cerca a propriedade, matam quase todos, deixam apenas duas moças vivas para contar o ocorrido, um rapaz que se encontrava sobre o telhado também consegue fugir. O velho Salina tem os dois olhos furado, orelhas cortadas e é castrado. Lampião coloca o homem ainda vivo no cavalo e leva para a casa de um dos filhos deste, defronte ele mata o velho, abre o peito a golpe de facão e tira o coração. Mata também o filho de Salina que saiu a porta. A brutalidade de Virgulino chegava ao estremo.
   
Volta-Seca entrou para o cangaço quando ainda era garoto. Por ter muita coragem foi levado por Lampião. Ele na chacina dos soldados chegou após o ocorrido e disse que estava desapontado, pois o chefe só havia deixado sangrar quatro macacos. Certa feita o garoto ameaçou o rei do cangaço dizendo: “Se você bater em mim eu te mato”. Com medo e aconselhado por alguns colegas foge no calar da noite. A namorada vai para a casa dos parentes, ele foge para outro povoado. Retorna para ver a moça, porém a família dela não queria o relacionamento. Volta-Seca fica pelas intermediações, acuado pela polícia os irmãos da moça armam uma emboscada e pega o garoto e o entrega as autoridades. Volta-Seca é conduzido para Salvador, onde após um ano passa a dá entrevistas e conta suas proezas do cangaço.
   
Maria Déia, popularmente conhecida por Maria Bonita, entrou para o cangaço por desejo próprio, pois odiava a mansidão da vida que levava ao lado do marido sapateiro. Certo dia um Luís Pedro foi ao povoado verificar a situação do local, parou ao escutar uma moça falar do chefe dos cangaceiros, ela dizia que largaria tudo se Lampião a quisesse. O cabra retornou ao esconderijo e falou ao chefe tudo que havia escutado. Virgulino quis conhecer a moça, já que pelas palavras do informante a danada era muito bonita. Chegou e com poucas palavras levou Maria, ao sair ainda disse ao marido sapateiro (José de Neném), que se encontrava de cabeça baixa, “Adeus Zé”. Maria Déia nasceu no povoado de Malhada do Caiçara, município de Santa Brígida. Teve alguns filhos, porém somente um conseguiu vingar, essa logo ao nascer foi entregue a um coiteiro do bando. Expedita ficou sobre guarda de dona Aurora, a esposa do vaqueiro Mamede, na fazenda Inchu. Maria Bonita faleceu ao lado de Lampião na Gruta do Angico.
   
A morte de Lampião é cercada por muitas controvérsias, um diz que ele foi envenenado, mas o enredo mais aceito é aquele divulgado pela mídia. Lampião e seu bando de cabras foram repousar na Gruta de Angico, na ocasião iria acontecer uma reunião entre os grupos. Certo é que o Rei do Cangaço já não tinha a mesma vitalidade de outrora, com a idade passando dos quarentas e levando uma vida dura: andava muito sob o sol quente do nordeste, comia muito em alguns períodos e nada em outros, sofria com o pânico de ser surpreendido pelos macacos. Pedro de Cândida foi o coiteiro que traiu Lampião, ficou conhecido como Judas de angico, fez por ter sido ameaçado pelos homens de Bezerra. Na madrugada do dia 28 de julho de 1938 quando os volantes atacaram o pouso do Rei do Cangaço e mataram onze pessoas, nove homens e duas mulheres, uma delas Maria Bonita, que segundo consta, foi degolada ainda em vida, começava ali o fim do cangaço que durou mais de duas décadas. Os policiais saquearam todos os pertences dos cangaceiros, uns chegaram a arrancar as mãos dos cadáveres para quando em casa tirarem os anéis de ouro. As cabeças foram levadas para servir de prova que o cangaço havia perdido seu principal homem, Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião. Muitos cangaceiros conseguiram fugir, Corisco ainda não tinha chegado ao local.
   
Corisco ao ver a foto contendo as cabeças chorou copiosamente junto sua companheira Dadá. Resolveu se vingar. As primeiras vítimas foram da família de Domingos Ventura, avô da esposa de João Bezerra. Chegou à casa do homem, comeu e pediu que seus cabras levasse um a um para fora, ao final foi ele com o chefe da família, esse último teve o mesmo fim dos demais, foram degolados e suas cabeças enviadas a Bezerra juntas a um bilhete: “Se o negocio é de cabeças, vou mandar em quantidade”. Em um confronto o Diabo Louro foi baleado na perna, fragilizado ele tenta refugio em outras terras, mas o caçador de cangaceiros Zé Rufino o encontra. Ferido por bala não agüenta e morre. Morreu em Brotas de Macaúbas no dia 25 de maio de 1940. Com a morte de Cristino Gomes da Silva Cleto o cangaço chegava ao seu final.
   
Aconselho a todos que leem esse magnífico livro. O leitor verá nessas páginas como foram aqueles anos no sertão, onde o Governador não era o Governador, mas um cangaceiro, homem que para uns era bom, enquanto para outros uma peste; fazia caridade ao mesmo tempo em que tomava do que era dos outros.

Por: Luiz Carlos Marques Cardoso.

DE CANGAÇO E CANGACEIRISMO

Por: Honório de Medeiros


O cangaço-atividade foi banditismo, mas nem todo banditismo foi cangaço-atividade. Banditismo por que em beligerância com a ordem legal de então. Banditismo por que tiveram como vítima principal o próprio povo que fornecia seus quadros. O cangaço-atividade foi banditismo de grupo. O bandido solitário não era cangaceiro – não o denominava assim a tradição nem a história.
Arquivo Tok de História
Antônio Silvino, Sinhô Pereira, Lampião foram chefes de bando. Aqui o termo “cangaço” é usado no sentido que lhe dá Luis da Câmara Cascudo : “Tomar o cangaço, viver no cangaço, andar no cangaço, debaixo do cangaço são sinônimos de bandoleiro, assaltador profissional, ladrão de mão armada, bandido.” Sentido que somente permite sua intelecção se acompanhado da outra definição que também é lavra do etnólogo e folclorista: “Para o sertanejo é o preparo, carrego, aviamento, parafernália do cangaceiro, inseparável e característica, armas, munições, bornais, bisacos com suprimentos, balas, alimentos secos, meizinhas tradicionais, uma muda de roupa, etc. ”


O cangaço-atividade foi banditismo sertanejo de grupo. Não apenas rural, termo amplo que engloba tudo quanto não litorâneo, ao qual se vinculam alguns historiadores por não conhecerem a realidade específica desta região do Nordeste brasileiro. Banditismo nordestino sertanejo de grupo – há bandidos nordestinos de grupo que não são sertanejos, e há bandidos sertanejos de grupo que não são nordestinos - que rechaça, de pronto, todos quantos não situados naquele tempo específico que vai do final do século dezenove a meados do século vinte e todos quantos não situados naquele espaço específico do Sertão nordestino compreendido entre Bahia e Ceará. Tempo específico: os bandidos de hoje não são cangaceiros por que, dentre outras, não andam com cangaço-objeto. Lugar específico: os bandidos de outras regiões não foram cangaceiros por que, dentre outras, não andaram com cangaço-objeto.
Não somente banditismo brasileiro nordestino sertanejo de grupo existente entre o final do século XIX e meados do século XX cujos integrantes usam o cangaço - essa parafernália inseparável e característica, como afirma Luís da Câmara Cascudo. Mesmo aqui ainda é preciso restringir para compreender: como disse Fenelon Almeida , “os volantes em tudo se pareciam com os cangaceiros.” Os jagunços também. Ambos usavam o cangaço-objeto. Todo cangaceiro usava cangaço-objeto, mas nem todo aquele que usava cangaço-objeto era cangaceiro. As volantes usavam o cangaço-objeto, eram nômades e atuavam com o aval do Estado, os jagunços usavam o cangaço-objeto, não eram nômades e submetiam-se aos coronéis. Mas tanto as volantes quanto os jagunços não possuíam coiteiros. O cangaço-atividade pressupõe a perseguição pelo Governo, a insubmissão, o nomadismo e o suporte dos coiteiros.
Entretanto todos os bandidos brasileiros nordestinos sertanejos de grupo existentes entre o final do século XIX e meados do século XX perseguidos pelos Governos, insubmissos, nômades, com suporte dado por coiteiros que usavam o cangaço eram cangaceiros? Não. Tomando-se como paradigma os bandos de Antônio Silvino, Sinhô Pereira, Lampião e Corisco, não. Estes no dizer de Maria Isaura Pereira de Queiroz são “grupos de homens armados liderados por um chefe, que se mantinham errantes, isto é, sem domicílio fixo, vivendo de assaltos e saques, e não se ligando permanentemente a nenhum chefe político ou chefe de grande parentela.” Ou seja: os cangaceiros viviam de assaltos e saques. Assaltos, para sintetizar, por que quem saqueia assalta. Não somente assaltos, porém. Extorsão também. E, às vezes, embora não comumente, alugando suas armas a algum Coronel. Concluindo, por fim: sobreviviam à custa do seu banditismo.
Portanto temos: cangaceiros foram bandidos brasileiros nordestinos sertanejos de grupo existentes entre o final do século XIX e meados do século XX cujos integrantes usavam o cangaço-objeto, eram perseguidos pelos governos, insubmissos, nômades, com suporte dado por coiteiros, e que viviam à custa de sua atividade criminosa.
Não por outra razão Jesuíno Brilhante jamais foi cangaceiro.

Extraído do blog do professor e pesquisador do cangaço:
Honório de Medeiros

UMA CRUZ NA BEIRA DA ESTRADA

Por: Honório de Medeiros

A cruz de aroeira, carcomida pelo tempo – teria quase oitenta anos, repousa sob uma plataforma de tijolos grosseiros que alguma alma caridosa houve por bem construir à margem da muito antiga estrada do cajueiro, que liga Limoeiro a Mossoró. Originariamente, percebe-se facilmente, a cruz estava plantada diretamente no solo calcário. Hoje inclusive existe uma pequena cavidade por trás da cruz, construída com tijolos, talvez para receber velas. Um pouco à esquerda, uma oiticica centenária zomba da fragilidade humana derramando sua sombra testemunha daquele dia fatídico. Mais além, um denso mar de algarobas, marmeleiros, juremas, mufumos, todos acinzentados pelo pó que o vento quente revolve, dá uma precisa noção do tipo de homem que é capaz de enfrenta-lo: o sertanejo!

Uma cruz na beira da estrada
Ali estava sepultado um tipo de sertanejo que já não existia mais. Pelo menos nos moldes de antigamente. Um cangaceiro. Menino de Ouro? Alagoano? Dois de Ouro? Az de Ouro? Não é provável que sejam os dois primeiros, por que há relatos de fontes primárias quanto à presença deles em episódios posteriores envolvendo o cangaço. A dúvida é: qual dos dois? Dois de Ouro ou Az de Ouro? Se obedecermos à ciência, que nos manda respeitar o testemunho de quem presenciou os fatos, a tendência é que tenha sido Dois de Ouro.
Naquele dia fatídico, fugindo a passo acelerado de Mossoró, onde perdera Colchete e Jararaca, Lampião carregava consigo, tomado por dores cruciantes, esse cangaceiro que teria sido atingido por uma bala que lhe destruíra o nariz. Lampião já parara em uma casa humilde – esse episódio é por demais conhecido – e obtivera água e sal para lavar o ferimento. Coberto de sangue, com a cabeça envolvida por um lenço sujo, o cangaceiro, entretanto, não conseguia continuar. E, à sombra da oiticica, decidiu morrer. Pediu que lhe matassem – não queria continuar. Após muita discussão um seu companheiro o executou e sepultou em cova rasa.
No entorno da sepultura há muitas pedras – calcário. São pedras milenares. Testemunharam tudo. Pudessem relatar o que viram e ouviram contariam a nós acerca daquele momento tenebroso. Saberíamos, talvez, quem de fato teria sido o cangaceiro executado a pedidos. Diriam a nós um pouco mais acerca desses homens-feras que não temiam a morte, a sede, a fome, caminhadas sem fim por sobre um chão inóspito, debaixo do sol inclemente, fendendo a braçadas a caatinga áspera. Não temiam os inimigos naturais – as volantes, os “macacos”, a resistência, quando havia, dos habitantes do Sertão a quem atacavam. Não temiam a traição permanente dos coiteiros e coronéis com os quais constituíam essa página da história do Brasil recém saído da monarquia. Não temiam nada.
Para esse cangaceiro desconhecido deixamos nossa perplexidade, algumas orações, muitas perguntas não respondidas e uma vela acesa, solitária, com a chama a teimar em sobreviver lutando contra o vento quente do Sertão.
Extraído do blog do professor e pesquisador do cangaço:
Honório de Medeiros

A ARTE DE ETELÂNIO FIGUEIREDO

 
Galo no terreiro, acrílica/tela, 2006, Etelânio

Extraído do blog do professor e pesquisador do cangaço:
Honório de Medeiros

Dia da Caatinga por onde andaram vários cangaceiros famosos

CAATINGA
Caros amigos leitores nordestinos, no dia 28 de abril foi comemorado o Dia Nacional da Caatinga (instituído por decreto presidencial em 2003). Por se tratar de uma mata onde andaram vários cangaceiros famosos do Brasil, resolvir postar sobre esse bioma que ainda nos dias de hoje está esquecido pelos nossos governantes.
SÃO PEDRO CHANEL
Também foi consagrado o dia de São Chanel, padre marista e mártir francês, morto a paulada na Ilha de Fidji quando pregava a palavra de Cristo.
O que nos interessa agora é a caatinga, que na língua Tupi-Guarani significa Mata Branca, um mundo vasto do semiárido nordestino, onde andaram os cangaceiros, riquíssima biodiversidade ameaçada de extinção, tão maltratada que até o seu Dia é esquecido. No Rio Grande do Norte, então. Ou tem alguma coisa no calendário da Secretaria de Agricultura e Pecuária? Serve também para a Secretaria de Recursos Hídricos, a de Meio Ambiente. Tem alguma coisa em suas agendas? E os meninos das escolas são lembrados da Caatinga?
A revista EcoNordeste, editada pela Editora Assaré, de Fortaleza, no seu número de março - que leio agora - põe a Caatinga na capa, cobrando do Congresso a aprovação do da PEC que transforma este nosso bioma em patrimônio Nacional, juntamente com o Cerrado. Esta proposta de Emenda Constitucional se arrasta há 17 anos no Congresso. O editorial da revista também é sobre o Dia da Caatinga. Está escrito assim:
- Em 28 de abril comemoramos o Dia da Caatinga. O Bioma único, exclusivamente brasileiro, é o menos protegido do País, desconhecido como floresta e em avançado processo de destruição, a Mata Branca está no vermelho, e o mundo, ainda vai nos cobrar por isso, como escreveu um dia, o jornalista Tarik Otoch.
- De todas as terras secas do planeta, é a mais rica em biodiversidade? São 932 espécies de plantas, 138 mamíferos e 510 aves, das quais muitas endêmicas (só existem por aqui). Mas sua fauna silvestre tem 32 espécies ameaçadas de extinção.
- É uma das áreas mais vulneráveis às mudanças climáticas no Brasil e no mundo. Poderia nos fornecer muitos conhecimentos dentro do processo de adaptação ao fenômeno do aquecimento global, mas as projeções climáticas apontam para a destruição dela. Vai diminuir a frequência de chuva, os solos ficarão mais pobres e haverá grande impacto sobre a biodiversidade. O Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) de 2007 que algumas áreas serão inabitáveis.
- Uma vez, o ambientalista Mário Mantovani (SOS Mata Atlântica) disse que é na Caatinga "onde a gente está mais devendo no Brasil, continua sendo a  grande dívida social e ambiental do País". A Caatinga merece o mesmo tratamento dos demais biomas, como por exemplo, ser protegido pela Constituição.
- As vésperas de completar a maioridade, vítima da morosidade do Congresso Nacional, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 115/95) continua aguardando a boa vontade dos deputados para ver corrigido o equívoco da Constituição de 1988, que não reconheceu o Bioma como patrimônio nacional."
FONTE: TRIBUNA DO NORTE
Adquirido no blog do Neto

"ANTÔNIO SILVINO" POR: SÉRGIO DANTAS

Antônio Silvino no centro, agachado

Em narrativa linear, atenta à lógica dos fatos históricos, Sérgio Augusto de Souza Dantas nos reapresenta a um Antônio Silvino cru, recortado do contexto mítico e inserido em sua dimensão humana, sem que restasse perdido tudo quanto o tornou um dos mais interessantes personagens da trindade básica que forjou a alma sertaneja – o cangaço, o misticismo, o coronelismo.

Louve-se a felicidade na escolha do “nome” de cada capítulo bem como o excerto que o acompanha, próprio para chamar a atenção do comprador desatento, em uma homenagem ao estilo jornalístico de outrora, e a indicar um texto enxuto, leve, de parágrafos curtos e bem encadeados. Chamam a atenção episódios trazidos a lume que por si só têm dimensão histórica, como a convivência entre Antônio Silvino e Gregório Bezerra, lendário líder comunista pernambucano, sua entrevista com Graciliano Ramos, e o assalto à Usina Santa Filonila na qual morreu Feliciana na flor da idade – crime do qual o cangaceiro jamais deixou de se arrepender. Aliás, qual teria sido o desfecho do embate entre Antônio dos Santos Dias e José Tavares de Melo, este, genro, aquele, pai de Teresa Tavares de Melo, pivô da questão? Qual teria sido o fim de cada um deles?

O Antônio Silvino que emerge do ótimo texto de Sérgio Dantas é um personagem emblemático: é o retrato nítido de uma saga que nos permite identificar e compreender os nexos causais que originam certa circunstância histórica – o período do cangaço – e até mesmo ir além, na medida em que também permite identificar o viés comum a entrelaçá-los, ou seja, a questão do Poder. Basta colocar esses retratos sobre a mesa e examiná-los com olhar crítico: Antônio Silvino, Sinhô Pereira, Lampião; Coronel Zé Pereira, Coronel Isaías Arruda, Coronel Floro Bartolomeu; Pe. Cícero, Beato Zé Lourenço, Antônio Conselheiro... Tomando distância de qualquer tentativa de apreender o fenômeno a partir de uma explicação oriunda exclusivamente de fatos alusivos à posse da terra.

É possível conjecturar se Sérgio Dantas vai aventurar-se em novos resgates ou cuidará de desbravar outras fronteiras. Sua obra tem sido, até agora, a fronteira entre um ciclo e outro no que diz respeito à literatura do cangaço. Esse ciclo por ele estudado até o momento está chegando ao fim. Já não é mais possível, até onde sabemos, ressalvada a possibilidade de documentos desconhecidos surgirem inesperadamente, prosseguir com a literatura elaborada a partir de relatos, fotos, testemunhos ou escritos, ou seja, fontes primárias. São poucos os sobreviventes e deles já se extraiu mais do que tudo. Os papéis estão virando pó, vítimas da ação inclemente do tempo e da incúria das nossas elites. Um outro ciclo está surgindo: a interpretação de todos esses dados, ou seja, uma literatura de tese, algo timidamente iniciado por Frederico Pernambucano de Mello com “Guerreiros do Sol”, através da criação do conceito de “escudo ético”.

A não ser que – e talento não lhe falta – resolva mergulhar com sua característica obstinação no jornalismo literário brindando-nos com alguma pesquisa onde sobrem indícios, mas, faltem provas – como de fato acontece nessa espécie literária - e, no entanto, seja possível povoar um texto com interrogações perturbadoras tais quais, por exemplo, as razões do estranho silêncio do Juiz e do Promotor de Mossoró em relação aos fatos que lá aconteceram em junho de 1927.

Extraído do blog do profesor e pesquisador do cangaço:
Honório de Medeiros

UM HERÓI MOSSOROENSE

Por: Honório de Medeiros

Então um preciso tiro de fuzil ecoou no final de tarde nublado do dia 13 de setembro de 1927, e, aproximadamente cem metros além, atingiu o meio-da-testa de um caboclo puxado para o negro aparamentado com a indumentária típica do cangaceiro, prostando-o na terra nua, de barriga para cima, a contemplar com olhos fixos e vazios o céu acima, ali onde a Avenida Rio Branco cruza a Rua Alfredo Fernandes, bem onde, na quina, fica a famosa Igreja de São Vicente cuja efígie, do seu nicho decenal, tudo contemplava. Era o começo do fim. No alto da casa do Prefeito Municipal - o líder que começara a epopéia, no telhado, o atirador viu quando um outro cangaceiro, de um trigueiro carregado, aproximou-se rastejando e disparando da vítima e começou a rapiná-la, retirando freneticamente, de seus bolsos, munição, dinheiro e jóias. Calmamente, mirou e aguardou. Pressentindo o perigo iminente o feroz bandoleiro ergueu o tronco elevando os olhos até o telhado fatídico da casa cuja frente fora tomada por fardos de algodão prensados. Foi apenas um momento, mas foi fatal. Outro tiro de fuzil ecoou e, no mesmo local onde seu companheiro jazia sem vida mais um cangaceiro foi atingido. O violento impacto da bala derrubara-o momentaneamente e desenhara, em seu tórax, uma rosa de sangue. Começou a debandada. Enquanto os resistentes começavam a perceber que a ameaça fora sustada e o recuo dos cangaceiros era generalizado, o atirador recolhia o fuzil e fitava a cidade no prumo que tinha a Igreja de Nossa Senhora da Conceição como limite. Olhava e pensava. Ele tinha morto um cangaceiro e ferido mortalmente outro. Não havia dúvida quanto à importância desse fato para a vitória. Mas cangaceiros são vingativos, cangaceiros são ferozes, cangaceiros são cruéis. Cangaceiros são dissimulados e não esquecem nunca, matutava ele com seus botões. Se ele aceitasse passivamente as homenagens que lhe seriam tributadas a partir daquele momento tudo poderia, no futuro, desandar no gosto amargo causado pela retaliação de algum anônimo, talvez até mesmo em algum parente, como era prática comum na vida cangaceira. Não que fosse medroso. Ao contrário. Todos quantos lhe conheciam podiam atestar sua coragem e perícia com as armas, que já ficavam lendárias. Mas era melhor precaver-se. Era melhor silenciar. Não seria o caso de negar veementemente, por que não era homem para esse tipo de extroversão. Mas ia silenciar. Não ia comentar nada. O que estava feito estava feito e era de acordo com seu temperamento reservado. Se lhe perguntassem, mudaria de assunto. Se comentassem de alguma roda da qual estivesse fazendo parte, sairia de mansinho. Guardaria a verdade consigo e a contaria apenas para alguns escolhidos, por muito e muito tempo. Até que...
Até que naquele dia banal, sozinho com seu neto de dez anos de idade, sentiu vontade de contar aquilo que nunca contara a ninguém. Era uma necessidade da alma, um anseio de perpetuar um feito honroso, um gesto de heroísmo que o mostrava tão diferente daqueles que tinham fugido em direção ao mar quando os cangaceiros ciscavam nas portas de Mossoró, um gesto que lhe orgulhava por que defendera sua família e sua cidade a um custo alto, que era o de tirar a vida de alguém. Olhou para o neto e compreendeu que ali estava o interlocutor perfeito. Não questionaria, não interromperia, não esqueceria. Guardaria a lembrança do dia e do relato. Assim sendo começou a contar-lhe todo o episódio, detalhe por detalhe. O neto apenas olhava intensamente e sentia que estava sendo transmitido, para ele, algo muito importante e que somente no futuro seria plenamente entendido. Acalmou sua inquietude de menino. Não desgrudou o olho do seu avô, aquele homem reservado e pouco propenso a confidências. No final, quando toda a história havia sido contada, compreendeu que devia guardá-la consigo, até mesmo esquecida, por muito tempo. Guardada até que...
Até que em um final de tarde tipicamente mossoroense, de muito calor, em um café, o neto aproximou-se de uma roda de estudiosos do cangaço e percebeu que discutiam a participação do seu avô na invasão da cidade pelo bando de Lampião. Uns diziam que havia sido ele o autor dos disparos. Outros negavam e apontavam nomes. Quase oitenta anos haviam passado do episódio. O neto, agora, era cinquentão. Sentiu que ali estava o momento certo para contar a história, a sua história, a história do seu avô. Aquela platéia saberia ouvi-lo e entenderia plenamente as razões do silêncio da família. Contou tudo. Fechou-se o ciclo. Dezenas de anos depois já não há mais dúvidas. O atirador postado no alto da casa de Rodolfo Fernandes, o homem que praticamente abortara a invasão lampiônica, o herói entre heróis fora MANOEL DUARTE.
Maoel Duarte
Essa é a verdade, como o sabe sua família e a contou seu neto, Carlos Duarte, jornalista, muitos anos depois, a mim, a Kidelmir Dantas e Paulo de Medeiros Gastão, estes últimos dirigentes da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço – SBEC.
É verdade, dou fé.
Extraído do blog do professor e pesquisador do cangaço:
Honório de Medeiros

A MORTE DE CHICO PEREIRA


Especial obséquio de Ivanildo Silveira

ADAUTO GUERRA FILHO, em “O SERIDÓ NA MEMÓRIA DE SEU POVO”; Julho de 2001; Editora: Departamento Estadual de Imprensa; Natal, Rn; P. 107:
“Apesar de ser uma história longa e complexa, não é difícil entender a razão de tanta contradição. Em primeiro lugar, levemos em consideração uma informação do livro ‘Vingança, Não’ de F. Pereira Nóbrega, o qual diz que os dois Presidentes de Província, Dr. Juvenal Lamartine, então Presidente do Rio Grande do Norte, e João Suassuna, Presidente da Paraíba, fizeram um pacto de morte no dia 18.08.1928. Isto assim se explica: O Presidente da Paraíba não queria entrar em choque com o recém-eleito Cel. João Pessoa, que dera a Chico garantia de liberdade. Então idealizou uma forma de condená-lo fora do Estado. Ele bem sabia que cangaceiro no Rio Grande do Norte tinha vida curta e, por isso, oportunamente se aproveitou do assalto à casa do Cel. Quincó para idealizar uma forma de incriminar Chico Pereira . Isto aconteceria ao induzir o bandido principal, Antônio Jerônimo, conhecido por Antônio Chofer, a dizer que Chico estava entre eles. Pessoas maliciosas vão mais além, afirmando que o assalto fora programado, tanto é que, logo após a ida de Chico para a detenção, em Natal, Antônio Chofer caiu no desinteresse da Justiça, inclusive sendo solto e ficando no anonimato.
Outro fato curioso que nos induz a pensar que o assalto foi programado é o excessivo interesse de Antônio Suassuna – o Tonho, sobrinho do Presidente da Paraíba, pela ‘liberdade’ de Chico Pereira. Ele próprio hospedou Chico em sua casa, na Fazenda Cajueiro, no município de Catolé do Rocha. Ali chegando, Chico foi alvo de sua atenção, havendo Tonho servido de mediador entre ele e João Pessoa, ao levá-lo à presença do Presidente eleito. Naquela ocasião, Tonho convenceu Chico de que, após o júri em Princesa, nada mais lhe aconteceria. Este fato, aliás, o demoveu da idéias de se retirara para Goiás.
Em Acari, Chico Pereira, sentindo o acre da traição, escreveu a Tonho, fazendo paralelos entre a cadeira e a Fazenda Cajueiro e, na doce ilusão de que um dia seria solto, dizia ao traidor que após ficar livre, não hesitaria em matá-lo.
Ainda com referência ao fato, o Sr. Abdias Pereira Dantas, numa conversa com o autor em Nazarezinho, no dia 04.01.1985, assim falou:
‘Só me queixo da morte do finado Chico, de João Suassuna. Depois que Chico morreu, ele mandou me chamar para conversar. Respondi que, com um bandido da qualidade dele, não queria conversa. Quem fez o assalto à casa do Cel. Quincó foi o sobrinho dele.’ 
Ainda para tornar mais clara a contradição da Justiça, o Pe. Francisco Pereira Nóbrega falou ao autor em João Pessoa, em 10.01.1985, que, no momento do assalto, seu pai se encontrava no município de Pombal. Ele é também dos que acreditam na hipótese do assalto ter sido programado naquele lugar.
Pelo menos uma coisa não se põe em dúvida: a morte de Chico estava programada. Isto está confirmado no depoimento de um soldado sobrevivente que reproduziu um diálogo entre Juvenal Lamartine e o Tem. Joaquim de Moura. O Presidente solicitou a presença do Tenente em seu gabinete e a ele assim se dirigiu:
- É verdade que aquele cangaceiro da Paraíba vai voltar para Acari?
- É, sim.
- Olhe! Não quero esse homem vivo.
Essa determinação, a priori, até dispensa pesquisadores de fazer exames mais apurados sobre notas de jornais diversos, tais como:
Correio de Campina – 17.12.1928. ‘Teria sido Chico Pereira vitimado mesmo de um desastre de carro? Pessoas residentes no interior do Estado (Rio Grande do Norte) põem dúvida à afirmação. O Presidente potiguar é acusado de mandar fuzilar sumariamente os sertanejos acusados.’ (Livro Vingança, Não, pág. 254).
Diário da Manhã, de Recife (PE) – 02.11.1928. ‘Chico Pereira, preso há pouco, ao ser transportado para a cidade de Acari, onde devia ser julgado, foi morto de ordem superior pelos policiais que o conduziam. Alegou-se que o carro que o conduzia capotou, verificando-se terrível desastre.’ (Livro ‘Vingança, Não’, pág. 254).”
Pág. 102:
“O Sr. José Pereira da Costa, cidadão de Ouro Branco, tabelião da cidade e curioso das histórias da região, assim detalhou o fato, em 09.07.1984:
‘Chico Pereira chegou preso a Santa Luzia na companhia do Ten. Manoel Arruda e alguns soldados. O Ten. Francisco Honorato, de Serra Negra do Norte, foi indicado para recebê-lo. Chico vinha de paletó e gravata e isso provocou censura da parte do Tenente:
- Como se conduz um bandido de paletó e gravata? Isso é um cachorro de fila.
Em seguida, com arrebates, tirou o paletó e a gravata de Chico e autorizou os soldados a lhe colocarem as algemas. O Ten. Francisco Honorato esperava que o matador de Chico fosse ele. Porém a ordem do governo veio para o Ten. Joaquim de Moura. Ele ficou revoltado."
Extraído do blog do professor e pesquisador do cagaço:
Honório de Medeiros

TERRA DE NINGUÉM

Por François Silvestre
Não há mais crimes cá no interior do Rio Grande do Norte. Liberou geral. Se não há inquérito nem julgamento não há crime. Matar não é crime. Roubar não é crime. Assaltar não é crime. A casa de mãe-joana escancarou-se. Isso vem de longe e só piora.
Os assaltos do Sábado e Domingo, repetidos todos os fins de semana, ficam sem registro de queixa.  Na delegacia da cidade um soldado solitário informa que BO só na Quarta-Feira.
Nem BO, inquérito, ou julgamento; punição? Só para o povo. Terra devastada, que lembra povoado do Oeste americano nos tempos do bang-bang. Só que nos bang-bangs daqui não tem xerife.
Em Umarizal, onde os inimigos históricos decretaram a prescrição do ódio, a paz só existe nas mumunhas políticas. O maior número de assassinatos, no Estado. Martins concorre, no item assalto.
Sabe o que é crime? Não responder ofício estúpido exigindo rampa no Forte do Reis Magos. Sabe o que é crime? Não fazer licitação para comprar passagens de cantores do finado Seis e Meia, com dia e hora certa. Sabe o que é crime? Restaurar a Cidade da Criança, sem licitação, mesmo com prova da obra realizada e do trabalho pago, com custo muito abaixo da obra licitada com empreiteira. Para cada um desses “crimes”, cinco promotores na denúncia. E não há prescrição. Para matar gente a prescrição é automática.
Uma das vítimas de assaltos do fim de semana, pois assalto aqui, no Sábado e Domingo, é como chuva em Belém, só uma questão de hora, procurou o Tenente comandante da “guarda policial” da cidade. Sabe qual foi a providência? O Tenente orientou a vítima: “Tome cuidado”.
Como tomar cuidado? Dormir no mato, como nos tempos de Lampião? Nem na delegacia alguém dormirá sossegado. Já invadiram o Fórum e levaram mais de quarenta armas, que se vinculavam a processos pendentes. Invadiram a sede da Promotoria Pública. Arrobaram os Correios. Explodiram a agência do Banco do Brasil. Não há notícia sobre inquéritos ou roteiro desses crimes. Se as autoridades são roubadas, assaltadas e invadidas; imagine os pobres inquilinos de mãe-joana. Dar parte aos “juristas”? Tem jurista aí a bater de vara.
Desarmaram a população, armam os bandidos. Assaltos todo fim de semana; e não há polícia, nem pra se dar queixa. Aqui, um dia é dos bandidos e o outro também. Vai ter policiamento ostensivo para receber os novos amigos da “paz pública” de Umarizal, com fanfarra e discurso chato. Sobre os cadáveres de crimes impunes. Só não é terra de ninguém porque foi escriturada para os bandidos.
Abandono público, com o poder e juristas banhados de óleo de peroba, onde o povo é clandestino no quintal de mãe-joana. E ainda dizem cretinamente que aqui é lugar de turismo. Só se for pra turista doido. Té mais.

Novo Jornal - 29/04/2012
Adquiri no blog do professor e pesquisador do cangaço:
 Honório de Medeiros

Dia Nacional da Mulher

 
Além do Dia Internacional da Mulher, ocorrido em 8 de março, existe essa data também destinada a apoiar as mulheres pelos justíssimos direitos iguais. Lei Nº 6.791 - 09/06/1980 Foi no dia 30 de abril que nasceu a fundadora do Conselho Nacional da Mulheres, Sra. Jerônima Mesquita. Como homenagem àquela extraordinária mulher, grande filantropa, foi escolhido o dia de seu nascimento para se comemorar o Dia Nacional da Mulher. Derrubaram-se tabus, obstáculos foram vencidos, a ocupação dos espaços foi iniciada. Graças à coragem de muitas, as mulheres conquistaram o direito ao voto, a chefia dos lares, colocação profissional, independência financeira e liberdade sexual. Apesar de válidas, essas aberturas ainda são uma gota num oceano de injustiças e preconceitos. No último século, o movimento feminista contribuiu imensamente para a efetivação das conquistas das mulheres. Embora muito tenha sido feito, as respostas às questões femininas são pouco eficazes, já que os homens ainda detêm a hegemonia em diversos setores sociais. As politicas públicas ainda devem muitos feitos à população feminina. Prova da necessidade de maior reconhecimento da mulher é a própria institucionalização de uma data-homenagem; se a sociedade efetivamente tivesse incorporado a ideia de que os dois sexos estão em pé de igualdade, não haveria necessidade de se criar um dia para lembrá-la; seria uma atitude inútil e redundante. A busca incessante por um lugar ao sol está apenas começando. As mulheres seguem às voltas com os mais variados tipos de violência: no lar, no trabalho e na sociedade. São vítimas, na maioria das vezes silenciosas e indefesas, de agressões físicas, sexuais e psicológicas de todos os tipos e intensidades. E de outras tantas formas de violência, bem mais sutis, embora não menos perversas, como a desvalorização no mercado de trabalho (recebendo salários sempre menores do que os homens que exercem as mesmas funções), as dificuldades de ascensão a postos de comando (nas empresas e na política) e a dupla jornada, entre outras tantas. Ao contrário do que se possa pensar, não é necessária uma "Guerra dos Sexos" para que o quadro de injustiças se reverta. Sem destituir-se de sua feminilidade, as mulheres podem engajar-se numa luta forte, mas não necessariamente agressiva. Provar ao mundo que não é necessário se revestir de um invólucro masculino para intimidar seus oponentes. A força feminina é suave e poderosa por si só. A história de lutas e conquistas de tantas mulheres, muitas delas mártires de seu ideal, no decorrer de quase dois séculos, leva a humanidade a iniciar um novo milênio diante da constatação de que ela buscou e conquistou seu lugar. Mais que isso, assegurou seu direito à cidadania, legitimando seu papel enquanto agente transformador.
Nosso blog parabeniza todas as mulheres brasileiras nesta data esquecida, mas especial na luta pelos seus direitos!
Fonte: http://www.quediaehoje.net/
Postado por blog do Eurico Paz

COITEIRO, O AMIGO DO REI? (Crônica)

 Por: Rangel Alves da Costa*
Rangel Alves da Costa
                             
                                                             
COITEIRO, O AMIGO DO REI? 

Nos tempos do cangaço reinando pelos sertões nordestinos, coiteiro era a denominação recebida pelo matuto que servia de ponte para o abastecimento e comunicação do bando de cangaceiros. Não houve reconhecimento maior por parte da história, mas dele muitas vezes dependia a vida e a sorte dos cangaceiros que se amoitavam nos esconderijos mais impensáveis.

Decorrente da expressão coito ou couto, significando lugar de abrigo, local de refúgio, o coiteiro passou a significar aquele que guardava o abrigo, que vigiava o refúgio, que tinha o coito ou esconderijo sob sua responsabilidade. No mesmo sentido, numa versão mais populesca, coiteiro é aquele que dá abrigo a bandidos e os protege.

Mas perante o cangaço não era sempre assim, pois o coiteiro geralmente era um humilde sertanejo que, vivendo nas proximidades do abrigo, procurava ajudar os cangaceiros nas suas necessidades e ser vigilante perante o mundo exterior, mais adiante. Assim, nem sempre era dono do lugar onde o bando buscava refúgio, mas simples mateiro, caçador ou alguém que convivia no seu cotidiano com aquelas paisagens.

Verdade é que o bando de cangaceiros também se escondeu em terreno da família do próprio coiteiro, como ocorreu na Gruta do Angico, às margens do São Francisco, no atual município de Nossa Senhora da Conceição do Poço Redondo. Como se sabe, a gruta estava localizada dentro de uma propriedade da família de Pedro de Cândido e seu irmão Durval, sendo aquele tido como o delator da localização do bando à volante comandada pelo Capitão João Bezerra.

Ademais, se a expressão coiteiro se voltasse apenas para designar aquele que dá refúgio e proteção a cangaceiro ou bandido – pois insisto que cangaceiro jamais foi bandido, ainda que a expressão bando de cangaceiros dê essa conotação, mas tão-somente rebelde contra as injustiças do seu tempo, sofrendo constante perseguição -, muitos coronéis nordestinos poderiam ser considerados coiteiros.

E coiteiros porque davam abrigo e proteção ao bando nas suas propriedades, bem como abasteciam do que necessitassem. Mesmo que os cangaceiros não ficassem na casa-grande ou seus arredores, e sim em lugares mais afastados dentro do reduto coronelista, ainda assim nenhuma volante se atrevia a botar os pés ali ou perseguir quem estivesse sob os auspícios do poderio político e econômico. E de lá saíam munidos de um tudo, desde armas a munição até vestuário e adornos de ouro.

Desse modo, delimitaram-se quem era simples coiteiro e quem era grande protetor. Aquele o homem da mata, o amigo do bando, o farejador, o que tinha olhos e ouvidos para sentir a presença do inimigo, o que não deixava faltar a carne de bode, o pano para a vestimenta, a agulha, a tesoura, a máquina de costurar. E este outro, o coronel, a quem cabia fornecer armas, proteção e dinheiro, se preciso fosse.

O verdadeiro coiteiro não só servia como elemento estratégico para o abastecimento do bando como exercia outras funções essenciais. Levava recados e bilhetes, trazia respostas e encomendas; procurava sentir a presença de inimigos na região e repassava para o chefe o pressentimento; tomava par de tudo que estava acontecendo ao redor para não permitir que o pior pudesse acontecer a qualquer momento.

Não era do bando, mas era como se fizesse parte como um tipo de correspondente de determinada região. Morando ali, conhecendo todos os caminhos, grutas e veredas, tornava-se essencial tanto para a subsistência como para sobrevivência dos cangaceiros. Daí também ser caracterizado como pessoa de extrema confiança. Seria impensável que um coiteiro revelasse a estranhos o local do esconderijo ou que falasse qualquer coisa que indicasse a presença dos cangaceiros nas redondezas.
Mas ainda assim houve traições. Quando Lampião e seu bando, no mês de julho de 1938, escolheram a Gruta do Angico para descansar um pouco das pegadas sangrentas deixadas pra trás desde o Raso da Catarina, ali se refugiaram com plena convicção de que estariam em segurança.

Ora, a gruta ficava na beira do rio mas dentro da propriedade de gente conhecida, cujos filhos Pedro de Cândido e Durval serviam como hábeis coiteiros e amigos do bando. Por isso jamais passaria pela cabeça de Lampião que Pedro de Cândido delataria, num dia de feira no outro lado do rio, em Piranhas, a sua presença ali.

Uns dizem que o jovem coiteiro foi torturado para dizer onde o bando estava. Hipótese frágil, porém, vez que se houve tortura para o conhecimento do local foi porque a volante já sabia de alguma coisa. Para outros, apenas a fraqueza de um jovem sertanejo que nem de longe imaginaria que estaria selando o destino do grande rei do cangaço, sua Maria Bonita e mais nove cangaceiros. E também o fim do cangaço.


Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

Teus sinais (Poesia)

Por: Rangel Alves da Costa
Rangel Alves da Costa

Teus sinais


Cheiro de manhã
fruta macia maçã
minha doce cortesã
abra a janela e venha
que a vida te espera
assim tão bela e bela
com tua cor e feição
princesa na cidadela
do meu coração
eternamente apaixonado
menino de flor à mão
caminhando esperançoso
seguindo na direção
da brisa com teu aroma
violeta perfumada
ramalhete entrelaçado
tanto e tão nada
para o que mereces
ser em meu ser
destino nessa estrada.



Poeta e cronista
e-mail: rac3478@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com