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sábado, 17 de dezembro de 2011

Dialogando com o Mestre Alcino Por: Juliana Ischiara

Luis Pedro ao lado do líder maior; Virgulino Ferreira, em foto de Benjamim Abraão

Concordo com suas palavras, a historiografia nunca deu a Luis Pedro o lugar de destaque que ele fez por merecer enquanto cangaceiro, principalmente por ter pertencido ao estado maior do Cangaço. Infelizmente, boa parte dos pesquisadores não enxergou outro personagem histórico além de Lampião. Por décadas, o grande líder cangaceiro reinou absoluto na historiografia e, só há pouco tempo, foi se dando oportunidade aos demais personagens, deixando que emergissem do ostracismo em que foram lançados.

Quando falo, só há pouco tempo me refiro aos muitos anos de pesquisas acerca do cangaço em que só se soube falar sobre Lampião. Concordo que ele reinou absoluto pelos sertões nordestinos, porém, não reinou sozinho e, em nenhum momento, enfrentou o poder de polícia do Estado só. Homens e mulheres tiveram suas vidas ceifadas durante o processo, seja por cangaceiros, seja pelo Estado que, por não ter tido tempo de treinar aqueles que iria combater o bando criminoso, se valeu de indivíduos corajosos e com disponibilidade de adentrar a caatinga na caça de seus pares, pois, em ambas as facções, imperavam a coragem e o destemor, bem como a ignorância, a violência e a falta de piedade para com os sertanejos desprotegidos e relegados à própria sorte.

Como vemos, a historiografia cangaceira tomou novos rumos depois de uma safra mais recente de pesquisadores. Falo de 20 e poucos anos até os dias atuais, onde houve uma oxigenação nas pesquisas, pois, escreviam-se memórias ou, se muito, falava-se tão somente de Lampião, dando uma leve pincelada em um ou outro personagem, mas apenas como subterfúgio para se enriquecer o texto, sendo que o foco principal sempre fora o grande líder do bando criminoso. Um bom exemplo do que estou falando é “Maria Bonita”, que fora relegada ao esquecimento e ou ostracismo histórico por boa parte dos pesquisadores com mais tempo de pesquisa. Bastou que um começasse a estudá-la seriamente, investigando-a e dando a devida visibilidade que a mulher teve enquanto parte integrante do bando cangaceiro, para despertar a sanha midiática de muitos. 

 Juliana Ischiara e Alcino Alves Costa, em dia de Cariri Cangaço

Dar visibilidade e trazer à tona outros personagens é extremamente salutar, mas deve-se fazê-lo com responsabilidade. As pesquisas necessitam de novos olhares, novas investigações. Não se pode analisar um fenômeno como o cangaço pegando um personagem isolado como âmago de um grande e duradouro processo social, histórico e cultural. O que me causa certo temor em relação aos novos rumos da história, em especial ao do cangaço, é perceber que muitos tem se dedicado ao tema de forma leviana, buscando tão somente fama e sucesso. Chego até a me perguntar em que estes “ditos” pesquisadores diferem dos cangaceiros, objeto de suas pesquisas? Porque vejamos, assim como os cangaceiros, eles roubam dos interessados no tema a oportunidade de saber o que de fato ocorreu, enganando, de forma insidiosa, aqueles que estão começando a pesquisar e que ainda não tem um embasamento sedimentado o suficiente para não se deixarem enganar e, de forma contumaz, mentem, inventam e ou aumentam os fatos, seja por fama, dinheiro, notoriedade. 

Nos últimos anos foram propaladas coisas tão levianas e descabidas, que chega a ser nauseante. Senão vejamos: Ezequiel viveu até a velhice no interior piauiense; Lampião não morreu em Angico e sim numa cidade no interior de Minas, depois Lampião deixa de ser o “cabra macho” que assolava o sertão nordestino e passa a ser visto como o Clodovil das caatingas, que passava horas e horas bordando, costurando, pregando botões, fazendo barras de saias e calças e daí para tornar-se homossexual foi um pulo.

Juliana Ischiara ao lado de Lily e Paulo Moura em dia de Cariri Cangaço

Por fim ou até que enfim, chegamos à era dos descobrimentos. Agora vamos saber os porquês dos nomes, Maria, que nunca foi chamada de Bonita por Lampião ou qualquer integrante do bando e que só veio a ser chamada de Maria Bonita pela imprensa, terá revelado, agora, a versão oficial e verdadeira sobre a origem de seu nome de guerra. Já estou esperando a próxima novidade: - Lampião, enquanto bordava florzinhas e estrelas, cruzava as pernas e determinava que o chamasse de “Sabrina”.Como vemos, a vaidade e a busca desenfreada por um lugar na mídia têm sido cada vez mais exageradas. Mas enquanto batermos palmas e parabenizarmos aqueles que dizem besteiras para se promoverem, teremos muitos “Pedro Moraes” pela frente. 

Mesmo tendo sido o autor de “Lampião – mata sete”, infeliz e leviano para com a história, não o considero o cavaleiro do apocalipse, mas apenas um adorador, como muitos outros, do cavaleiro e suas insignes profecias e não ficarei surpresa se, em meio a tudo isso, surgir uma sociedade secreta...

Juliana Ischiara  
Diretora do GECC, Membra da SBEC
Conselheira Cariri Cangaço
Extraído do Cariri Cangaço

Rara Fotografia de Lampião e Seus Cabras em Queimadas na Bahia.

Por: Guilherme Machado
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Logo depois do massacre à Vila de Santo Antonio das Queimadas em 1929. A foto é em frente à Delegacia de Queimadas.


Extraído do blog: Portal do Cangaço de Serrinha
do amigo Guilherme Machado


ZÉ DO TELHADO

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Foi o famoso Zé do Telhado soldado no Regimento de Cavalaria nº 2, Lanceiros, chegando mesmo a alcançar o posto de Sargento, como há quem o afirme?
A primeira biografia do romântico bandoleiro saiu da pena do maior romântico da nossa literatura, Camilo Castelo Branco.
 
Camilo conheceu-o na prisão da Relação do Porto, onde ambos comungavam as instalações, a níveis distintos e por diferentes razões. O escritor ouviu-lhe as confissões eivadas de fantasiosos adornos ou então cruas e prosaicas na rudeza simples do salteador. Camilo apercebeu-se do filão literário e o seu extraordinário génio ficcionista talhou de forma credível o retrato deste  Robin dos Bosques português, e integrou-o nas suas “ Memórias de Cárcere “, publicadas em 1861. Antes de passar à narração, Camilo lamenta que o país, por demasiado humilde, não gere “salteadores de fama“, matéria prima para o folhetinesco e onde os confrades estrangeiros ganham renome nas obras de Shilher, de Hugo, e outros demais gigantes das letras. E sem se furtar a alguma crítica social, passa a narrar a história do Zé do Telhado, no seu estilo incomparável, mas, arredado de uma verdadeira pesquisa, perde-se da realidade para criar o mito.
Diz-nos Camilo que Zé do Telhado nasceu em 1816, na Aldeia de Castelães, Comarca de Penafiel, filho de um capitão de ladrões e no seio de uma família onde extorquir o alheio era actividade de raízes fundadas.
Ora Zé do Telhado, a dar fé do registo baptismal, terá nascido em 22 de Junho de 1818 (dois anos depois do que nos dá conta Camilo; dois anos que serão cobertos pelo hipotético serviço militar em Lanceiros). A dado passo, eventualmente por razões familiares, teria vindo para a capital, ou como escreve Camilo “foi o moço para Lisboa, e jurou bandeiras no segundo Regimento de Lanceiros, denominado da Rainha”. O escritor não assinala datas e a designação de Lanceiros da Rainha fora extinta em 1834, passando a RC n.º 2, Lanceiros, donde a ser verdade o militar Zé do Telhado, de seu verdadeiro nome José Teixeira, ou José Teixeira da Silva ou ainda José Teixeira de Matos, só poderia eventualmente ter assentado praça no Regimento de 1835 a 1837, ano este em que (voltamos a Camilo) terá feito parte da escolta de Saldanha durante a aventuresca revolta do Marechais.
Acontece, porém, que uma consulta por nós feita nos arquivos regimentais de 1835 a 1938, (relações nominais de efectivos, existentes no Arquivo Histórico Militar), não é referido nenhum soldado com o nome igual ou parecido com o do famoso salteador, e a referência única de um tal José da Silva não oferece verosimilhança por quanto não teve este qualquer diligência prolongada e mantinha-se ainda no regimento de 1888, altura em que Zé do Telhado teria dado baixa do serviço e casado, fixando a sua residência em Caíde do Rei, Lousada.
Afigura-se também fantástica a participação do Zé do Telhado nas correrias de Saldanha, onde teria tido o privilégio de  ter sido sucessivamente ordenança do Barão de S. Cosme (esta não vem de Camilo, mas de outro autor posterior) e do General Schwalback, Conde de Setúbal, e nessa qualidade, teria combatido em Ruivães e Chão da Feira.
Outros autores, na senda do autor de “Amor de perdição“, vão falar de Zé do Telhado, e um mesmo, Eduardo de Noronha, produz duas obras de história ficcionada sobre este herói popular: José do Telhado e José do Telhado em África. Desenha um homem pleno de virtudes a quem o destino arrasta fatalmente para a desgraça. Dá-lhe destaque como soldado de Lanceiros, escolhendo-lhe mesmo um número, o 9, e uma 1ª Companhia, só se esquecendo do Esquadrão – O Regimento tinha então 3 Esquadrões divididos em 2 Companhias. O 4º Esquadrão estava destacado em Espanha, incorporando a Divisão auxiliar.
Não se nos afigura que Zé do Telhado pudesse servir sob falso nome, para mais quando no Regimento de Lanceiros se exigia recomendação para os recrutas portugueses (o Regimento ainda tinha cerca de um quarto do efectivo estrangeiro, especialmente o 1º Esquadrão onde serviam os veteranos da Guerra Civil, sob o comando do Capitão Mello e Castro), recomendações que incluíam atestado dos párocos locais.
Quanto ao facto de ter sido Sargento, contou Zé do Telhado a Camilo que o fora durante a Patoleia, pois a insistência dos populares da sua terra, se juntara à Junta do Porto que o fizera Sargento dum Corpo de Cavalaria (a) e lhe atribuíra as funções de segurança do General Visconde de Sá da Bandeira. A dar crédito a Zé do Telhado, no combate de Valpassos, ele próprio havia salvo a vida ao glorioso maneta e este, perante tal rasgo, havia retirado do próprio peito a Comenda de Torre e Espada e colocara-a no peito do famoso bandoleiro. Acontece que a ser verdade, esta Torre e Espada não tinha qualquer valor, pois Sá da Bandeira combatia como insurrecto contra a Rainha, única entidade que podia conceder tal mercê ou delegá-la nos seus generais. De facto, na lista conhecida dos contemplados com a condecoração também não figura o nome do José Teixeira da Silva. Para mais Sá da Bandeira várias vezes Ministro da Guerra e Presidente do Governo, nunca ratificou oficialmente este pretenso acto, nem concedeu a Zé do Telhado ou seus filhos os benefícios que ele próprio criou para os detentores da condecoração. No relato dos factos mais marcantes da sua vida, Sá da Bandeira também não refere o acontecimento, muito embora dê notícia dum acontecimento passado num encontro em Coruche em 1825, quando ainda capitão era perseguido por dragões miguelistas.
É curioso notar que a sua comenda da Torre e Espada já lhe havia salvo a vida em 1832, quando durante a Procissão do Corpo de Deus em Lisboa, fez resvalar uma baionetada desferida por um guarda nacional.
Derrotada a Patoleia, Zé do Telhado conta que arrancou as divisas e regressou a casa, findando aqui a sua experiência militar, salvo quando, anos mais tarde, e á frente da sua quadrilha haver posto em fuga uma força de Caçadores 2. A ser verdade, difícil é prová-lo pois não será possível encontrar registos dos irregulares arregimentados pela Junta Setembrista do Porto.
Não é pois digna de crédito, e até prova em contrário, a real participação do mais famoso bandido português, quer como militar de Lanceiros 2, quer como Sargento de Cavalaria ou mesmo como condecorado com qualquer grau da Ordem de Torre e Espada.

Henrique Quinta-Nova
Artigo retirado do site: Lanceiro
Mais sobre o Zé do Telhado em:
Wikipédia - Por: Chinezinha
Extraído do blog: "Vestigem"

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Rarissimas Fotografias do Jovem Virgulino Ferreira da Silva Bem Antes da Guerra do Cangaço

Por: Guilherme Machado
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Raríssimas fotografias do jovem Virgulino Ferreira da Silva bem antes da Guerra do Cangaço


Virgulino Ferreira da Silva

 
Virgulino Ferreira da Silva
 
Extraído do blog:
 
Portal Do Cangaço de Serrinha Ba. Email (guilhermemachado60@hotmail.com)

Personalidades do samba comentam a morte a Joãosinho Trinta

O carnavalescco faleceu na manhã deste sábado (17)
O carnavalesco Joãosinho Trinta, que morreu nesta manhã está sendo homenageado por sambistas, diretores de escolas de samba e personalidades do Carnaval. Laíla, diretor de carnaval da Beija-Flor disse que Joãosinho é parte importante da história do carnaval. 
"Ele tinha um espírito inovador e ousado e foi peça importante para a transformação dos desfiles das escolas de samba no espetáculo que temos hoje. A Beija-Flor está profundamente consternada e tenho certeza que é o mesmo que está sentindo toda a nossa comunidade."
Joãosinho faria parte da comissão de carnaval da Beija-Flor em 2012. Segundo Laíla, o carnavalesco estava muito animado.
"Ele estava muito animado, seria o destaque principal do último carro e receberia uma grande homenagem da Beija-Flor na Marquês de Sapucaí”.
Já a acadêmicos do Viradouro, escola que ganhou o título do carnaval em 2007 com Joãosinho Trinta, vai prestar uma homenagem ao carnavalesco ainda hoje durante o ensaio da escola, segundo o presidente da agremiação, Gusttavo Clarão.
"A  Viradouro está ligada diretamente à história dele. Em 1997, fomos campeões com muitos méritos dele. O mundo do samba perde muito  e está triste. Com ele era perfeito. Com certeza vamos fazer uma homenagem. Não ensaiaremos na quadra, mas no Fluminense vamos prestar a nossa homenagem. Tudo para homenageá-lo ainda é pouco."
Não foram só os sambistas que prestaram, homenagens ao grande carnavalesco. A governadora do Maranhão Roseana Sarney também públicou sua mensagem de luto para o ilustre cidadão.
“Joãosinho Trinta elevou o nome do Maranhão com sua maestria e genialidade, transformando o Carnaval do Rio de Janeiro e do Brasil, esbanjando irreverência e criatividade. Ele será lembrado eternamente por sua capacidade de vencer desafios e traduzir em belos enredos a alegria de ser brasileiro."
O Fuxico: O site que é referência sobre famosos. Notícias apuradas, sempre em primeira mão

Hoje na História - 27 de Agosto de 2009

Por: Geraldo Maia do Nascimento

Em 27 de agosto de 1966 dava-se o falecimento do Monsenhor Luis Ferreira da Cunha Mota, mossoroense nascido a 16 de abril de 1897.
Padre Mota
Padre Mota fez seus primeiros estudos no Colégio Santa Luzia e Grupo Escolar 30 de Setembro, após o fechamento daquele educandário em 1909. Em 1911 ingressou no Colégio Santo Antonio, de Natal, tendo também freqüentado o Colégio Pernambucano. Em 1914 seguiu para Roma, ingressando no Colégio Latino-Americano. Concluído o curso eclesiástico após oito anos, formado em leis canônicas, o Padre Doutor Luiz da Mota, o Luizinho, como em família era chamado, regressa a Mossoró.
Da esquerda para a direita: Frente: Paulo Guttenberg de Noronha Costa, já falecido; Senador Dr. Francisco Duarte Filho, já falecido; o locutor Tarcísio Soares;  escritor Walter Wanderley;  Antônio Rodrigues de Carvalho, e  Lauro da Escóssia. Atrás: Canindé Queiróz,  Professor Hermógenes Nogueira da Costa, já falecido; ex-prefeito e ex-vice de Mossoró, Joaquim  Felício de Moura. Arquivo "Jornal O Mossoroense" - Emery Costa http://www2.uol.com.br/omossoroense/210107/conteudo/emery.htm
O escritor Walter Wanderley, em brilhante trabalho posteriormente enfeixado no obra GENTE DA GENTE, traça a vida do digno sacerdote durante sua atuação social, religiosa e política em nossa terra, dizendo: 
“Padre Mota chegou a Mossoró numa tarde cheia de sol. Foi recebido na Estrada de Ferro pelo povo. Enorme multidão, formando-se um extenso cortejo com foguetes e banda de música até a matriz, hoje Catedral, onde o pai, o Cel. Mota, de fraque, calça listrada, de pé virado, bengala na mão, óculos grossos, o recebeu na porta principal, abraçou-o demoradamente e, em seguida, apontou com a mão direita o altar-mor de Santa Luzia. Isso ao som do “Sacerdus Magnos” e palmas da multidão. Lá, o Padre orou e pela porta principal deixou a matriz, ainda acompanhado pelo povo e banda de musica. 
Os anos vão se passando. Em 1926, Padre Mota é nomeado Vigário da Matriz de Santa Luzia, seu grande sonho como o fora seu parente, o Vigário Antônio Joaquim Rodrigues, chefe conservador do município, Vigário Colado, deputado, inimigo político do meu bisavô Irineu Soter Caio Wanderley, Chefe Liberal”. 
Tomou parte saliente na defesa da cidade, a 13 de junho de 1927, quando a horda de Lampião tentou invadir a cidade. Nos instantes iniciais da luta, quando retornava da residência do
Cel. Rodolfo Fernandes, juntamente com o Cônego Amâncio Ramalho, uma bala do grupo assaltante quase o atingia. Em 1936 foi ocupar uma cadeira na Assembléia Legislativa do Estado. Posteriormente eleito Prefeito Constitucional de Mossoró, com posse a 7 de setembro de 1937.
Continuou no governo do município durante todo o período após o golpe de 10 de novembro, administrando Mossoró até 1945. Foi o governante de maior período administrativo no município. Construiu praças e jardins, calçou várias artérias, além de fortalecer o nosso civismo com a promoção de reuniões, concentrações, desfiles escolares em datas nacionais e nas comemorações ao 30 de Setembro. Sua administração foi das mais eficientes e honestas. Foi pároco colado da Paróquia de Santa Luzia e Vigário Capitular na renúncia de D. João Batista Portocarrero Costa. 
Mossoró teve no ilustre sacerdote uma de seus mais eficientes administradores, sendo de sua gestão a construção de maior número de praças e jardins, bem como o prolongamento do serviço de arborização e calçamento a paralelepípedos, perfuração de poços tubulares, balaustrada do rio Mossoró, além de maior sentido às festas cívicas e de regozijo social.

Todos os direitos reservados 
É permitida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de
comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.
Autor:
Geraldo Maia do Nascimento

Lauro Reginaldo da Rocha - "Bangu"

Por: Geraldo Maia do Nascimento

Era o nome de guerra do mossoroense Lauro Reginaldo da Rocha na história do Partido Comunista Brasileiro.
Lauro Reginaldo da Rocha
Foi operário, sindicalista, militante político, Secretário Geral do Partido Comunista Brasileira (PCB) aos 24 anos de idade e hóspede involuntário de várias prisões, onde viveu a experiência da violência até o limite da tortura, tudo em nome de uma causa: a causa do proletariado brasileiro. Há uma frase do grande lider Martin Luther King que diz:
“O homem que não descobriu uma causa pela qual possa morrer, não merece viver!” Lauro Reginaldo da Roca (Bangu) viveu plenamente a sua causa.
Nasceu em Mossoró no dia 17 de agosto de 1908, sendo o último dos filhos de uma família numerosa e pobre. Com menos de um ano de idade, perdeu o pai vítima de uma infecção pulmonar. Estudou no Grupo Escolar 30 de Setembro, tendo como professora
D. Célina Guimarães, que vendo a dedicação do aluno, passou a utilizá-lo como auxiliar no “desarnamento” dos mais atrasados.
Em fins da primeira grande guerra mundial, deixou o Colégio 30 de setembro e passou a freqüentar a Escola Paulo de Albuquerque, da qual era professor seu irmão mais velho, Raimundo Reginaldo da Rocha. Essa mudança gerou no menino Lauro uma reviravolta completa, que influenciaria sua vida futura. O seu irmão e professor, Raimundo, era filósofo e as sua aulas e palestras fascinavam o irmão mais novo. “Nas suas aulas de educação, moral e cívica aprendi que o benefício que se presta ao próximo só tem valor quando desprovido de interesses ou segundas intenções.”  O professor Raimundo Reginaldo foi o primeiro a lançar idéias marxistas-leninistas em Mossoró e incentivas os seus irmãos a organizarem os primeiros núcleos do “partido da classe operária” em terras nordestinas. Na revolução de 1935 ele lutou de arma na mão nas ruas de Natal, ao lado de sua filha Amélia, de 16 anos de idade. Libertou todos os presos da Cadeia Pública. E após a tomada do poder, distribuiu fartamente gêneros alimentícios à população necessitada, em nome do Governo Revolucionário.


Lauro ingressou na Escola Normal de Mossoró de onde saiu professor em 1925, com apenas 17 anos de idade. Mas não foi fácil freqüentar o curso. Para se manter, teve que trabalhar muito. Pela manhã, trabalhava na fábrica de cigarros de Humberto Jovino ou na Hemetério Leite, o que lhe rendia alguns trocados para as pequenas despesas. A tarde ia à escola. Como não podia comprar livros, estudava com os colegas Raimundo Nonato, Mário Cavalcanti e Lauro da Escóssia.


Se as dificuldades da vida não influenciaram no seu desenvolvimento intelectual, o mesmo não se pode dizer do desenvolvimento físico. Tornou-se uma figura pequena, de uma fragilidade física marcante, tímida e extremamente modesta. Mesmo assim desempenhou formas diversas da luta pela sobrevivência: foi pintor de parede, agricultor, professor e tipógrafo.
Com apenas 15 anos, juntamente com seu irmão Raimundo Reginaldo, criou a primeira célula da Juventude Comunista em Mossoró, no ano de 1925. Entre os anos de 1929 a 1931, estava em Fortaleza/CE, reorganizando o Partido Comunista local.  Com 24 anos foi eleito Secretário Geral do Partido Comunista do Brasil, e como tal integrou uma comitiva que participou de um congresso em Moscou.


Pagou um preço muito alto por sua luta em prol do proletariado: prisões, torturas, a Ilha Grande, que era considerada o pior dos presídios, fome, sede, etc.  Mas nada o fez mudar de idéia. Continuou lutando, enquanto dele o Partido precisou.


Como dizia Machado de Assis, “A vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal!”
Lauro  Reginaldo da Rocha morreu no dia 04 de abril de 1991, aos 83 anos de idade, consciente de ter  dedicado a vida a uma causa justa. Viveu e lutou por um ideal, e sua luta não foi em vão.  Lauro “transcendeu sua condição individual, para, generosamente, empenhar sua vida na realização da utopia de uma sociedade justa”.

Todos os direitos reservados 
É permitida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de
comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.
Fonte:
http://www.blogdogemaia.com/

Autor:
Geraldo Maia do Nascimento

Zé do Telhado - herói camiliano



José Teixeira da Silva, nascido em 1818 no lugar do Telhado, Castelões de Recezinhos, comarca de Penafiel, é dos salteadores mais conhecidos da história portuguesa. "Zé do Telhado", nome que saltou para além do Marão, diz o povo, roubava aos ricos para dar aos pobres. A fama, essa, não lhe valeu aos olhos da justiça nem o salvou da Cadeia da Relação no Porto, onde por fim recolheu, acusado de roubos vários, homicídio, organização de quadrilha de assaltantes e evasão tentada sem passaporte. Lá travou conhecimento com Camilo Castelo Branco, ele que, por outros motivos românticos, era na altura hóspede do local. Dessa estadia resulta "Memórias do Cárcere", onde ficam gravados os feitos do bandoleiro.
(Na foto: Camilo Castelo Branco e José Teixeira da Silva)
«Este nosso Portugal é um país em que nem pode ser-se salteador de fama, de estrondo, de feroz sublimidade.
(...)
Roubar ilustriosamente, é engenho. Saquear a ferro e fogo, é roubo.
(...)
Diz algo, no entanto, como exemplo desta lastimável anomalia, a história de José Teixeira da Silva do Telhado, o mais afamado salteador deste século.
(...)
 Seu pai era o famigerado Joaquim do Telhado, capitão de ladrões, valente com as armas e raio devastador em franceses que ele matava porque eram franceses e porque eram ladrões, posto que, na qualidade de membro da nação espoliada, o Senhor Joaquim chamasse só a si o que era de fazenda nacional. Um tio-avô de José Teixeira, chamado ele o Sodiano, já tinha sido salteador de porte e infestara o Marão durante muitos anos.»
Os tempos pediam heróis. Depois de três invasões napoleónicas, o país seguia na miséria, dividido entre lutas liberais e absolutistas, com a corte exilada num Brasil distante e os que ficaram em terra entregues à crise económica e política. Da Guerra Civil, tal como Maria da Fonte, também Zé do Telhado sai herói. Pela bravura ao lado das tropas liberais do General-Visconde de Sá da Bandeira, condecoram-no com a "Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito". Da tropa e desempregado, voltou para a mulher e cinco filhos, seguindo a vida de salteador que lhe valeu a fama. Os anos ao comando da quadrilha de bandoleiros de Custódio, o "Boca Negra" não lhe custaram enfim a forca, mas o degredo. É em Malanje, Angola, que terminou os seus dias, negociante de borracha, cera e marfim e a dar pelo nome de "Quimuêzo", o homem de barbas grandes.

Fontes:

Destino (Poesia)

Por: Rangel Alves da Costa
Rangel Alves da Costa

Destino

Te procurando meu amor
estendo os braços no horizonte
lanço meu olhar pelo mundo
te busco aqui e adiante
e o desejo se faz mais fecundo

e te vejo no voo da ventania
ouço tua voz nas folhagens
sinais motivos de tanta alegria
sumindo depois em miragens

ao te encontrar num dia
ainda que depois da eternidade
eis que o destino se confirmaria
no amor que não tem mais idade

mas se acaso o destino quiser
e a estrada trouxer o teu passo
eis o amor do homem e sua mulher
a vida sorrindo depois do abraço.

 
Rangel Alves da Costa
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com
blograngel-sertao.blogspot.com

AS BATALHAS ENTRE CLEMENTINO QUELÉ E LAMPIÃO EM 1924 SANTA CRUZ DA BAIXA VERDE - PERNAMBUCO

By Rostand Medeiros


AS BATALHAS ENTRE CLEMENTINO QUELÉ E LAMPIÃO EM 1924 SANTA CRUZ DA BAIXA VERDE - PERNAMBUCO
Em um dia de agosto de 2006, uma sexta feira, na cidade pernambucana de Santa Cruz da Baixa Verde, em Pernambuco, tive a oportunidade de conhecer um homem, nascido em 1912, que pela sua lucidez e saúde, foi como encontrar um verdadeiro tesouro da história oral do cangaço.

Seu nome era Antônio Ramos Moura, sua residência uma casa ampla no sitio Conceição e o assunto foram os dois ataques perpetrados por Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e seus cangaceiros, contra a casa do seu antigo parceiro, Clementino José Furtado, o Clementino Quelé, que após estes embates se tornou um dos mais esforçados perseguidores do "Rei do cangaço".

Antônio Ramos Moura, detalhou vários aspectos de sua vida na época e rememorou inúmeros fatos.

A Santa Cruz

O atual município de Santa Cruz da Baixa Verde está localizado na região do Sertão do Alto Pajeú, na fronteira com a Paraíba. Se encontra distante 455 quilômetros de Recife, possui um agradável clima serrano e a cidade se caracteriza por concentrar na atualidade a maior quantidade de engenhos de rapadura de Pernambuco. Já as origens do local são oriundas do antigo "sítio Brocotó. Com o passar do tempo, pelo fato da pequena urbe está no alto da Serra da Baixa Verde, o lugar passou a denominar-se Santa Cruz da Baixa Verde e pertencia administrativamente à bela cidade serrana de Triunfo.

O pai do nosso entrevistado chamava-se Miguel Moura, tinha uma pequena bodega, além de trabalhar como tropeiro, ou almocreve. Tinha uma tropa de animais e fazia a linha entre as cidades de Triunfo, Serra Talhada e Arcoverde, na época denominada Rio Branco, trazendo e levando cereais. Antônio Ramos comentou que seu pai viajava para vários locais, transportando rapaduras.

Para nosso entrevistado Clementino Quelé, era chefe de sua família, tinha como irmãos Pedro, Quintino, Antônio, José e Manuel (nezinho), todos considerados homens dispostos, valentes e que "gostavam da espingarda". Antônio Ramos comenta que na sua infância tinha um enorme respeito por aquele homem. Pouco falou com ele, mas obteve muitas informações sobre Quelé através de seu sogro Joaquim de Fonte, sobrinho do chefe da família Furtado.

Clementino é descrito como um homem forte e tez acentuadamente branca. Para o pesquisador Frederico Pernambucano de Mello (in "Guerreiros do Sol", 2004, págs. 220 a 225), Quelé era natural da ribeira do Navio, onde seguiu jovem para Alagoas, afastando-se de Pernambuco por questões de disputa familiar. No retorno a sua família vem para Triunfo, no sítio Santa Luzia. O antigo membro de volante João Gomes de Lira (in "Lampião-Memórias de um soldado de volante", 1990, págs. 123 e 124) comenta ser a Santa Luzia a morada do bravo pernambucano. Já Rodrigues de Carvalho (in "Serrote Preto " Lampião e seus sequazes", 1974, págs. 200 a 208) informa que ele morava no sítio Santa Cruz. Mas para Antônio Ramos, na época das grandes "brigadas" de Quelé contra Lampião, ele morava no sítio Conceição.

Independente desta questão consta para nosso entrevistado que Quelé e seus irmãos eram analfabetos "-De tudo". Do tipo que "-Não assinavam nem o A" e nem faziam "Garrancho" do nome. Dizia Quelé ao tio de Antônio Ramos que ele era "careta", outra denominação para seu analfabetismo. Pois quando olhava para qualquer texto escrito, franzia a testa, mostrava o rosto carregado, com uma careta, por não saber ler.

Mas se Quelé e seus irmãos não sabiam ler, sabiam atirar e muito bem.

De Homem da Lei a Cangaceiro

Para Mello (op. cit.), o bravo Quelé alcançou o posto de subdelegado do seu lugar e impunha a ordem, mas igualmente angariava inimigos. O autor informa que em uma diligência Quelé matou dois ladrões de cavalo, respondeu processo e foi destituído do cargo. Em seu lugar assumiu seu irmão Pedro José Furtado, ou Pedro Quelé.

Em 1922, para livrar o valente chefe da família Furtado do processo, o líder político Aprígio Higino D"Assunção solicita deste e de seus irmãos votos na próxima campanha eleitoral em Triunfo. Diante da recusa de Quelé em apoiá-lo, Aprígio ordena que uma força policial com um oficial e quatorze praças saíssem à caça do valente.

Na tranquilidade do alpendre de sua casa, o sertanejo Antônio Ramos contou que um dia, certo morador do lugar chamado Tomé Guerra, antigo amigo de Quelé, arranjou uma encrenca com o mesmo e entendeu de matá-lo. Tomé chamou outro morador do lugar, também "chegado na espingarda", de nome Cícero Fonseca. Estes, juntos com um grupo de policiais, colocaram uma tocaia contra Clementino ás cinco da manhã, "-Para pegá-lo com as mãos".

Quelé ao perceber o ardil, pulou desviando dos tiros e respondeu ao fogo, atingindo certeiramente a cabeça de Cícero Fonseca, tendo o mesmo caído mortalmente ferido em um barreiro. Os outros membros da emboscada "botaram" em Quelé, que conseguiu fugir para sua casa. Clementino teria escapado através de um local onde havia um curral que pertencia a um cidadão conhecido como Sebastião Pedreiro e por uma área onde existia certa quantidade de cactos do tipo palma, utilizados como comida para o gado.

Mello (op. cit.) aponta que um "certo Tomé de Souza Guerra", do sítio Santana e outros homens engrossaram a força policial que perseguia Quelé. Mas Cícero Fonseca era um companheiro de Quelé, onde os dois bebiam na bodega de Sebastião Pedreiro, quando a polícia cercou o lugar e deu voz de prisão. Na versão do respeitado pesquisador, que conseguiu suas informações através do relato de Miguel Feitosa, o antigo cangaceiro Medalha, o pobre Cícero ao colocar o pé para fora da bodega foi crivado de balas. Vendo que a força policial e os paisanos não vinham para prendê-lo, mas para exterminá-lo, Quelé solicita aos gritos o apoio de amigos das proximidades, estes atenderam ao chamado e a balaceira foi grande. Diante da resistência inesperada a força policial e os paisanos batem em retirada.

Independente de qual a versão correta, todos são unânimes em afirmar que a partir deste confronto os perseguidores passam a "apertar" Quelé, sendo esta a verdadeira razão para ele e seus irmãos entrarem no cangaço junto a Lampião.

A Briga de Quelé com o Cangaceiro Meia Noite

O comerciante e almocreve Miguel Moura nutria uma boa relação com Clementino, a quem chamava de "primo". Este comentou com seu filho que a razão de sua saída do bando de Lampião foi uma briga com o valente cangaceiro "Meia Noite".

Este era alagoano, do lugar Olho D"água, atual Olho D"água do Casado, próximo a cidade de Piranhas. Seu nome verdadeiro era Antônio Augusto Correia e pelo fato de possuir a pele negra, recebeu a famosa alcunha. Para o genitor de Antônio Ramos, o negro Meia Noite foi o mais valente de todos os homens que andaram com Lampião, do tipo de gente que "-Dava medo só de olhar".

Segundo Mello (op. cit.), a razão da briga entre Quelé e Meia Noite foram dois irmãos cangaceiros chamados José e Terto Barbosa. Este último havia assassinado no Ceará o irmão de um chefe cangaceiro, tendo se refugiado com seu mano na serra do Catolé, a cerca de 30 quilômetros da cidade pernambucana de Belmonte, próximo às fronteiras do Ceará e da Paraíba.

Em uma ocasião que os cangaceiros de Lampião e Quelé se encontravam na fazenda Abóbora, pertencente ao tradicional coiteiro Marçal Diniz, chegou uma mensagem de José e Terto para seus tios Neco e Chico Barbosa, igualmente cangaceiros do bando de Lampião. O que os dois sobrinhos solicitavam aos tios era uma maneira de salvarem a pele.

Neco e Chico sabendo que o chefe cangaceiro cearense, conhecido como "Casa Velha", cujo irmão foi morto por Terto, era amigo de Lampião, acharam por bem pedir a Clementino Quelé que recebesse os dois sobrinhos. O chefe dos Furtados se sobressaía cada vez mais no cangaço junto com seus irmãos e não pôs obstáculo à entrada dos dois rapazes no seu grupo.

Quando Meia Noite soube da história se colocou totalmente contrário, pois foi amigo do homem morto por Terto Barbosa e disse que se ele viesse para o bando iria atirar nele.

O resumo da ópera foi que após Quelé tomar conhecimento da alteração de Meia Noite se coloca ao lado de Terto. Corajosamente disfere uma saraivada de impropérios contra Lampião, Meia-Noite e os outros cangaceiros. Segundo Mello (op. cit), Clementino teria dito textualmente "-Que juntassem tudo que ele brigava do mesmo jeito".

O chefe dos Furtados percebeu que após este fato, ficar ao lado de Lampião e seu bando seria o mesmo que praticar um suicídio, pois o mais famoso cangaceiro do Brasil era conhecido pelo seu rancor.

Já nosso informante Antônio Ramos transmitiu uma versão diferenciada. Na ocasião destes episódios o chefe dos Furtados estava junto com Lampião e seu bando em um esconderijo próximo a povoação de Patos, já na Paraíba, onde o problema ocorreu no momento em os tios de Terto trouxeram uma carta dos sobrinhos para Quelé e lhe contaram o problema. Quelé então teria solicitado que alguém lesse a dita mensagem em voz alta. Nisto o cangaceiro Meia Noite ouviu sobre o conteúdo da missiva e desconfiou que Quelé fosse colocar aqueles indivíduos como integrantes do bando.

Segundo o entrevistado, Meia Noite conhecia os "Barbosas", contra quem já havia brigado, era inimigo dos mesmos, principalmente de Terto. O negro alagoano ficou cismado que Quelé, ao colocar aquela turma de valentes no bando, seria um meio para Terto, dos "Barbosas da Serra do Catolé", dar fim a sua vida.

Quelé ao saber do fato negou. Disse a Meia Noite que "-Gostava de homem valente", que os "Barbosas" eram pessoas que ele tinha "-Para onde botar". Meia Noite comentou que sendo Terto seu inimigo, se por acaso ele trouxesse os "Barbosas" para perto do bando, "-Sabia que ia ser uma desgraça, que nóis briguemo e ficou para quando nóis se encontrar, a bala cortar". Antônio Ramos narrou que Quelé ponderou, afirmando que "-Quando o homem é valente, que pede uma proteção, eu gosto de amparar".
A discursão entre estes guerreiros foi gradativamente aumentando de tom, crescendo na ferocidade, até que os dois valentes partiram para a luta corporal. Lampião chamou seus homens rapidamente dizendo "-Acode, acode, se não estes homens se matam" e conseguiram apartar a briga.

Para o entrevistado Lampião disse a Quelé "-Que deixasse o negro Meia Noite com ele, pois parecia que ele tinha saído do inferno" e pediu a Clementino e seus irmãos para irem para o sítio Conceição.
Antônio Ramos relata que depois da discursão, Quelé aparentemente não se satisfez com o posicionamento de Lampião e reclamou. No entendimento do chefe dos Furtados, Lampião "-Teria dado mais valor a um negro do que a ele". Sentindo-se rebaixado no seu racismo tardio, Quelé abandonou a vida do cangaço e ficou marcado por Virgulino.

Os Tiroteios de Lampião Contra Quelé

Seja através de uma, ou de outra versão, o certo é que tempos depois desta desavença no seio do bando, o chefe Lampião, apoiado pelo fazendeiro Marcolino Diniz, filho do coronel Marçal, vem para Santa Cruz com o objetivo de matar Clementino e seus irmãos. Este encontro ocorreu no dia 5 de janeiro de 1924, um sábado.

Antônio Ramos informa que era um "-Meninote de doze anos", que a sua casa antiga era próxima a sua atual morada e seu pai possuía uma bodega pequena, mas bem surtida.

Era ainda de madrugada, quase amanhecendo, quando o jovem Antônio Ramos acordou com o barulho de muitas vozes de homens no oitão da sua casa. Era um grupo numeroso de cangaceiros. O garoto notou que todos vinham alegres, animados, equipados, armados e com muita munição. Muitos deles estavam embalados por aguardente e segundo suas próprias palavras, os cangaceiros pareciam estar "-Com fogo saindo pelas orelhas".

Eles pediram tudo que seu pai tivesse de comida no estabelecimento, além de mais cachaça. Este prontamente passou a servir o bando, especialmente Lampião. Os homens armados não fizeram nada com seu pai ou sua família nesta ocasião.

Antônio assistiu Lampião comendo uma rapadura com queijo e comentando alegremente com a rapaziada sobre a futura luta. Ele se apresentava animado, doido para brigar. Neste momento pronunciou uma frase que Antônio Ramos jamais esqueceu.

"-Da família de Quelé, hoje só se salva quem avoa".

O Rei do cangaço ainda afirmou que "- Hoje eu vou beber o sangue de todo mundo".
Nesta ocasião, durante o nosso encontro, o nonagenário entrevistado alterou-se, ficando visivelmente emocionado. Ele recordou que se tremeu todo, no momento que escutou estas frases do famoso bandoleiro. Comentou veementemente que viu Lampião falar exatamente da forma anteriormente descrita e narrou este fato agarrando fortemente o braço do autor, tal a emoção.

Ele descreveu Lampião como sendo moreno, alto, rosto comprido, cego de um olho, não usava óculos naquele dia e que mesmo assim enxergava bem. Pouco tempo depois o bando saiu da bodega.
A desproporção da luta que se avizinhava era enorme, pois Quelé tinha junto com ele apenas outros cinco companheiros para lhe ajudar. Para Antônio Ramos os cangaceiros seriam em torno de "-Uns cinquenta homens". Já Carvalho (op. cit.) afirma que seriam quarenta e cinco. O pesquisador Geraldo Ferraz de Sá Torres Filho (in "Pernambuco no tempo do Cangaço-Volume I", 2002, págs. 328 a 330) reproduz o "Boletim Geral nº 05", emitido pela polícia pernambucana no dia 7 de janeiro de 1924, onde consta que o número de cangaceiros era de sessenta homens.

Mas para os familiares de Antônio Ramos, naquele momento o que importava era buscar de alguma maneira se proteger dentro de casa diante do que iria acontecer e em pouco tempo "-A bala comeu". Ele e seus familiares ficaram escutando o tiroteio, mas não lembra a duração, só comentou que "-Demorou muito".

Falou que "-Quando deu fé", chegou a sua casa um rapaz da família de Quelé com cerca de 16 anos, dizendo que estava dentro de um partido de mandioca quando os cabras chegaram e comentou que "-A bala tava cortando tudo". Narrou que o rapazinho tinha escutado os gritos dos cangaceiros prometerem "-Derrubar a casa" e o pessoal da casa avisando aos gritos para os atacantes que "-Se derrubar e entrar um, nóis mata na faca".

A testemunha da batalha de 5 de janeiro de 1924 afirmou que este rapaz avisou que iria a Triunfo buscar uma volante. Nesta cidade o delegado era o tenente Malta e havia uma volante comandada pelo sargento Higino José Belarmino.

O jovem disse que seguiria através de um caminho alternativo, evitando a vereda que levava normalmente para esta cidade, pois com certeza os cangaceiros deviam ter "-Botado uma emboscada aculá na frente". O jovem deixou a casa de Ramos, seguindo em direção a serra dos Nogueiras, saindo no lugar chamado Gameleira e de lá para Triunfo.

Entretanto, para nosso entrevistado, a polícia ficou "insonando". No seu linguajar típico, ele quis dizer que os homens da lei ficaram enrolando e só foram chegar a Santa Cruz por volta das 11 horas da manhã.
Esta volante levou várias horas para percorrer os seis quilômetros entre as duas localidades. Provavelmente para os policiais, a ocorrência em Santa Cruz era um problema entre bandidos e quanto mais deles se matassem entre si, melhor. Mas diante da resistência feroz realizada por Clementino e seus companheiros, a polícia se deslocou para evitar a pecha de conivência e covardia.

Enquanto isso a família de Quelé, literalmente "comia chumbo" e o tiroteio não dava mostras de diminuir. Antônio Ramos e seus familiares, até por razões bastante óbvias, não viram nada da refrega, apenas escutaram assustados a troca de disparos.

Nosso entrevistado comentou que nesta época morava na sua casa um primo chamado Augusto e foi este quem primeiro ouviu um tiro de fuzil. Esta arma possuía um som característico e bem diferente dos rifles Winchester, de calibre 44, ainda bastante utilizados pelos cangaceiros e pelo pessoal de Quelé. O som lhe chamou a atenção e mostrava que a polícia estava chegando, vindo pelo caminho que seguia para a pequena Santa Cruz, que nessa época era um simples arruado "-Com no máximo quatro casas".
Aparentemente a Força Policial começou a atirar com seus fuzis muito antes de chegar ao local do confronto, esperando que assim os cangaceiros debandassem. Mas segundo o nosso informante, foi nesse momento que o tiroteio ficou ainda mais forte, "-Com a fumaça cobrindo tudo" e as balas "-Zunindo por riba de casa", o que deixou os membros da sua família extremamente assustados.
Segundo Ferraz (op. cit.), no "Boletim Geral nº 05" encontramos a informação que o tiroteio morreu o irmão Pedro Quelé e Alexandre Cruz, ficando ferido Deposiano Alves Feitosa. Antônio Ramos narra que seu pai considerava Pedro Quelé como um homem valente. Na região ficou conhecido o fato que quando acabou a sua munição, este pediu garantias para sair, mas ao colocar a cabeça para fora da janela, foi impiedosamente morto.

Depois de toda uma batalha tenaz onde não tivera êxito, Virgulino Ferreira da Silva não refreou sua vontade de acabar com o atrevido Clementino Quelé.

Ferraz (op. cit.) mostra que no "Boletim Geral nº 07", da polícia pernambucana, emitido no dia 9 de janeiro de 1924, reproduz um bilhete do tenente Malta informando "Acha-se grupo de Lampião proximidade de Santa Cruz". O militar ainda comentou na missiva que contava com "89 praças" para defender Triunfo e região. Mesmo com esta força nas proximidades, seis dias depois, no dia 11 de janeiro, uma sexta-feira, Lampião e seus homens voltaram para aplicar uma segunda dose de chumbo em Quelé e seus companheiros.

Antônio Ramos recordou muito bem que em relação a este combate, percebeu que o sol já vinha saindo quando o tiroteio teve início e novamente a história se repetiu. De um lado os cangaceiros sedentos de sangue e do outro um pequeno grupo de homens se defendendo como podiam.

Segundo Lira (op. cit.), Lampião despejava todo tipo de impropérios e palavrões conhecidos contra o destemido Quelé e seu pessoal. Mas os sitiados respondiam, cantavam e assim irritavam o chefe dos cangaceiros.

Mesmo com uma força policial numerosa em Triunfo, novamente os agentes de segurança do Estado levaram outras seis longas horas para chegarem a Santa Cruz, repetindo-se o que ocorreu no domingo anterior. De toda maneira Clementino só conseguiu se safar pela chegada do destacamento policial baseado em Triunfo.

Apesar do antigo cangaceiro de Lampião sair vivo nestes combates, a família Furtado foi praticamente exterminada. Segundo Mello (op. cit.), tanto neste, como em combates futuros, morreram três irmãos, dois genros e um sobrinho. Além destes seis parentes, segundo o pesquisador, mais cinco amigos do valente Quelé pagaram com a vida e inúmeros outras pessoas ligadas a Clementino ficaram feridos.

Em relação aos confrontos de janeiro de 1924, Antônio Ramos contou que uma das casas que foi palco dos dramas ainda existia e que na época era considerado um sítio afastado da então vila. Tentamos localizar o local. Chegamos a fotografar uma residência antiga, mas reformada. Entretanto houve divergências com outros informantes, que comentaram ter sido as casas da família de Quelé derrubadas há muito tempo.

O Vingador do Sertão

Depois dos tiroteios, Quelé ficou meio perdido pela região, sendo protegido por Higino Berlarmino. Para Antônio Ramos, foi o coronel José Pereira, o chefe político da vizinha cidade paraibana de Princesa, que deu o apoio decisivo para Quelé se tornar um implacável caçador de Lampião. Por indicação de alguém que Antônio Ramos não recorda, foi sugerido ao "dono" de Princesa o nome de Quelé, para que este servisse no comando de uma volante em perseguição a Lampião e ele passa a ser conhecido como o "Sargento Quelé". Sua volante, a famosa "Coluna Pente Fino", ficou marcada na história do cangaço pela selvageria como combatia os cangaceiros e infligia o terror aos cangaceiros, aos coiteiros e, infelizmente, a inúmeros inocentes sofreram nas mãos dos homens de Quelé.

De toda maneira o "investimento" do governo da Paraíba em Quelé não foi em vão. Três anos e meio depois dos combates em Santa Cruz, no dia 14 de junho de 1927, ele e seus homens eram a primeira força policial a adentrar em Mossoró, após a fracassada tentativa de Lampião para conquistar a maior cidade do interior potiguar. Nesta ocasião consta que no currículo de combates de Quelé contra o Rei do cangaço, estavam listados vinte e um tiroteios.

Quelé morreu já idoso na Paraíba, no lugar chamado Prata, próximo a cidade de Monteiro. Segundo Antônio Ramos, ele sempre vinha visitar o sítio Conceição e a pequena Santa Cruz.

A história de Clementino Quelé e sua vingança contra Lampião se tornariam quase uma lenda no imaginário das futuras gerações dos sertanejos do Nordeste. Aparentemente um destes que se encantou com as lutas de Quelé foi Luiz Gonzaga, o "Rei do baião". Em parceria com José Marcolino, o sanfoneiro de Exu compôs a música "No Piancó", onde em um trecho diz;

"Lá viveu o Clementino
Que brigou com Lampião."

Não posso garantir que o Clementino descrito na música do grande artista pernambucano, seja o mesmo homem que perseguiu implacavelmente Lampião.
Mas houve outro?

Rostand Medeiros - rostandmedeiros@gmail.com
Fonte:
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