Seguidores

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Mossoró e a seca de 1877 - 05 de Maio de 2009

Por: Geraldo Maia do Nascimento


O ano de 1877 foi terrível para o sertão nordestino. É nesse ano que começa a calamidade da mais terrível das secas que flagelaram as províncias do nordeste no final do século XIX.
 

No Rio Grande do Norte, quase todas as cidades do interior foram atingidas pela intempérie. As populações abandonaram os sítios a procura das cidades. E Mossoró, no oeste potiguar, se viu, de repente, invadida por milhares de retirantes que aqui chegavam em busca da salvação, vestidos de trapos sujos, algumas crianças nuas, barrigudas e magras. “A população sertaneja, apavorada, empolgada por um terror coletivo, deslocou-se em massa para o litoral seduzida pela miragem fatal dos Socorros mandados distribuir pelo Governo Monárquico”, como nos conta o historiador Oswaldo Lamartine. Muitos não resistiram a viagem e morreram no meio do caminho; outros, os que ainda tinham força para trabalhar, prestaram serviços ao município em troca de alimentação. Foi uma fase negra na história de Mossoró. 
Naquele período, Mossoró vivia a fase áurea do seu desenvolvimento. A exemplo da maioria das cidades do interior nordestino, começou a formar a sua economia a partir das atividades agro-pastoris. Mas por estar situada em uma área privilegiada, entre duas capitais e sendo o ponto de transição entre o sertão e o litoral torna-se, já em 1857, uma espécie de empório comercial. Apesar de não situar-se no litoral, contava com um porto, o porto de Mossoró ou porto de Areia Branca, município esse que pertenceu a Mossoró até 1892, quando foi desmembrado. Com a chegada dos navios da Companhia Pernambucana de Navegação Costeira ao porto de Mossoró em 1857, através de uma subvenção concedida pelo governo provincial, o município se torna o centro de comercialização de uma área que atinge, além dos municípios vizinhos, uma parte do Ceará e também da Paraíba. Esse fato é, na visão dos historiadores mossoroenses, o primeiro marco na ascensão de Mossoró à empório comercial. A chegada dos navios fez com que comerciantes de outras praças, principalmente de Aracati/CE, viessem a se estabelecer aqui atraídos pelas oportunidades comerciais que a cidade passou a oferecer. E é esse atrativo que faz com que em 16 de novembro de 1868, o industrial suíço Johan Ulrich Graff se estabeleça em Mossoró com a famosa “Casa Graff”, alavancando o seu desenvolvimento econômico com idéias mercantilistas, associadas ao capital aqui investido. 
Mas se por um lado o crescimento do comércio atraia grandes comerciantes, por outro lado atraia também os famintos retirantes que buscavam aqui meios de sobrevivência. Em determinado período, chegou-se a registrar nada menos que 70.000 flagelados, segundo nos informa o historiador Câmara Cascudo, vindos de toda zona oeste e de estados vizinhos, na busca de meios de sobrevivência. “Era a fase cruel da seca dos dois sete, prolongando-se até 1879 e mesmo 1880 que ainda reunia grupos famintos pelas ruas da cidade”, nas palavras de Cascudo. 
Nesse período, Mossoró era governada pelo caraubense Francisco Gurgel de Oliveira. Apesar das dificuldades que teve de enfrentar para socorrer as vítimas da seca, graças aos auxílios conseguidos do governo provincial e até mesmo de particulares distantes, através da Comissão de Socorros Públicos, que era presidida pelo Dr. Manoel Hemetério, conseguiu, o Coronel Gurgel executar vários serviços nas ruas, no rio e por toda parte. 
A 4 de março de 1878 a Câmara Municipal oficia ao Presidente da Província: “A maior parte dessa gente não encontrando um teto que lhe sirva de abrigo passa os dias e as noites exposta às intempéries do tempo, ao sol e ao relento, donde resulta principalmente a espantosa mortalidade que atinge a 40 pessoas por dia”. 
Foram anos terríveis para Mossoró. A grande seca dos dois sete, como ficou conhecida, marcou profundamente a cidade.


Geraldo Maia do Nascimento
Todos os direitos reservados 
É permitida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de
comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.

DÓI DE DOER TUDO, SEU MOÇO! (Crônica)

Por: Rangel Alves da Costa
Rangel Alves da Costa


DÓI DE DOER TUDO, SEU MOÇO!
Os mais velhos contavam, e hei de acreditar sempre na sabedoria dos tempos, que a vida pra ser vivida é mais fácil na pobreza do que no progresso. E mostravam, com exemplos que eram lições, que o mundo decorou se desenvolver, mas nunca aprendeu a prosperar.
Quem sou eu para discordar da inteligência da terra, da boca da história, do olho eternamente mirando a vida debaixo do sol, da mão calejada de carregar nas costas o peso dos dias, do pé que caminha pela mesma vereda desde que o mundo nasceu sertão. Duvido não meu irmão, sou doido não!
Desconfie do anel, não dê importância ao nome, desacredite na formação e no cargo, nem queira saber do que diz o livro nem os dados da estatística, mas por tudo na vida confie no seu Gentil. É pobre, é analfabeto, é sertanejo, mas não há no mundo quem tenha mais valia na palavra do que o homem, a não ser outro caboclo da mesma estirpe e chão.
Pois bem, o tal do Luis Gentil, caboclo de roçado de estaca, de pastagem de malhada e quintal, um dia me chamou debaixo do umbuzeiro diante de sua moradia e num proseado de compadre que se acredita me deixou lá embaixo.
Envergonhado fiquei porque jamais podia acreditar que a filosofia sertaneja não se contentava em buscar as explicações últimas nas coisas, mas sim apontar a verdade tal qual peixeira que vai cortando a urtiga até encontrar a saborosa carne. Assim, mostrando na cara o que é e o que não é, e pronto.
E me disse o homem que se não fosse inventado esse negócio de cidade grande, de comércio, de tanta gente desconhecida andando de um lado pro outro, as pessoas seriam muito mais humanas e amigueiras. Em meio ao desconhecido, as pessoas também passam a se desconhecer, os parentes se distanciam, as famílias se dissolvem, cada um vai pro seu canto e de repente todo mundo está sozinho em meio ao vazio cheio de gente.
E olhe pra porta e pra o quintal e veja quanta diferença faz. Mas falo dos quintais antigos e não dos de hoje, digo da soleira da porta de hoje e não de antigamente. Nos tempos adormecidos, seu moço, quintal era farmácia e açougue, era mercado e feira, era prato e colher, pois tinha de tudo. Tinha o mastruz, a cidreira, alecrim, hortelã, o manjericão e o boldo, e tinha muito mais.
Nesse mesmo quintal a galinha corria e ciscava solta, o pato, guiné, o peru; mais adiante, lá perto do riachinho, havia o chiqueiro dos porcos. Pelos costados da cerca se plantava a melancia e a abóbora, o maxixe e a fava. Era planta de fruta que parecia pomar, coisa muita de não se acabar: goiabeira, cajueiro, mangueira e tudo o mais. Lembro de um umbuzeiro que anoitecia sãozinho e amanhecia doido varrido de doçura que fazia espalhar pelo chão.
Agora arrepare pra porta da frente de hoje em dia. É toque-toque, seu moço, com gente de mão aberta de palmo em palmo. Homem feito, mulher e menino, tudo vivendo pelas portas a implorar qualquer de comer pra enganar a barriga. E por que isso, seu moço? Mas só pode ser porque fizeram com que a terra de nascimento abandonasse seus os filhos para acolher o progresso, com a ilusão de que a riqueza seria dividida entre todos. E deu no que deu.
Prefiro sonhar com o pingo de chuva do que me arriscar por aí. Cada história que ouço contar arrepia mais do que tanta história que vejo. E olhe que vejo tudo, vejo muito, e não sou de mentir. E vou contar uma coisa que tudo mundo pode achar que é mentira, mas não é não.
Certa vez cortaram tudo e deixaram só um pé de mandacaru verdejante onde antes era mataria. Disseram que não podiam cortar o danado porque ele simbolizava o sertão. E foram passando máquina ao redor, abrindo buraco ao redor, construindo por todo lado. Mandacaru ficou sem sol, ficou sem ar, ficou sem saber o que era mais. E um dia mandacaru morreu.
E então os homens disseram que ali, com a morte do mandacaru, estava a prova maior de que o sertão também deve morrer em nome do progresso. E foram jogando pedra, jogando brita, espalhando cimento. Só sei que dói de doer tudo, seu moço!
Poeta e cronista
e-mail: rangel_adv1@hotmail.com

O CANTO DO ACAUÃ



Autora: Marilourdes Ferraz 

O Canto do Acauã - 2011

661 pág.

Preço  R$ 200,00 Reias - Novo
Peça logo o seu. 

Este leitor, você pode confiar.


Sem mentiras e sem calúnias contra o rei e a rainha do cangaço

O pedido pode ser feito por E-mail franpelima@bol.com.br
ou pelo tel. (83) 9911 8286 (TIM)- (83) 8706 2819 (OI)

Att. Professor Pereira -Cajazeiras/PB

Fontes –
A partir de informações publicadas no blog - http://lampiaoaceso.blogspot.com/

O CAVALO STAR BLACK

Por: José Mendes Pereira
João Teotônio da Silva era cearense, mas viveu em Mossoró até os seus últimos dias de vida. Chegara aqui ainda garoto, quando o seu pai, o velho Marcinho veio trabalhar na firma algodoeira “Alfredo Fernandes”.
João Teotônio cresceu no bairro da Lagoa do Mato, trabalhando como zelador de cavalos de corrida. Apesar da profissão que exercia nunca participou de vaquejadas e nem de derruba de gado nos tabuleiros. Era obcecado por cavalos, principalmente cavalo preto, Star Black, como chamava ele. Os tempos foram se passando e nunca tirou da mente de um dia ser proprietário de um bom e lustroso cavalo. Mas só queria se fosse preto, tinto. 
Já casado, morando à beira da estrada que leva até à cidade Governador Dix-sept Rosado, vivendo de uma pequena criação de gado miúdo: suíno, caprino e ovino, João Teotônio fez economia, e dois anos depois era dono do mais famoso cavalo da região. Assim que o comprou  ensinou-lhe a deitar-se, a levantar as patas dianteiras, a cumprimentar as pessoas que o assistiam, correr rodopiando, relinchar agradecendo aos que presenciavam ao espetáculo.

sobrecavalos.blogspot.com
Tinha um cuidado exagerado ao seu cavalo,  e até a água que o animal bebia era guardada em cisterna, e   antes de lhe dar de beber era passada em melhores filtros.
João Teotônio orgulhava-se quando passeava pelas ruas de Mossoró, montado no seu belo animal, recebendo os olhares dos curiosos e invejosos que
ouviam o toc, toc no calçamento causado pelas ferraduras aparafusadas nas patas do seu cavalo; Teotônio todo enfiado num uniforme de cor preta, até aparentando  o cavaleiro Star Black. Ali se sentia um dos mais admirados homens de Mossoró.  Nem o prefeito da cidade era tão importante quanto ele.
Certo dia, ao clarear, dirigiu-se até ao estábulo onde o cavalo pernoitava.
Ao chegar, encontrou a porteira aberta e o Star Black não estava lá. Desesperado com o desaparecimento do cavalo, danou-se pelos campos da pequena propriedade, mas não o encontrou. Saiu pelas fazendas vizinhas em busca de informações sobre o paradeiro do animal, mas ninguém o viu.
Os dias foram se passando e João Teotônio continuava sua luta pelos campos e fazendas para ver se recuperava o seu famoso cavalo, mas não recebera nenhuma informação. Desconfiado que se tratava de furto, e sabendo que se não fizesse algo diferente não seria tão fácil recuperá-lo, inteligente, organizou um aviso:
"Atenção moradores de Mossoró e das cidades adjacentes; sou um fazendeiro que reside na cidade de Pau dos Ferros-RN, e querendo comprar um cavalo  de cor preta, totalmente preto, gordo, bonito, famoso, que já seja acostumado a usar ferraduras, sem marcas de ferros no corpo, sem orelhas assinadas, favor comunicar a Rádio Difusora de Mossoró, localizada à Rua Alfredo Fernandes, nº 271, fone: (****), que a mesma entrará em contato comigo. Mas lembrando que só me serve com estas características.
Quero realizar um desejo da minha esposa, que no momento está querendo sair pelas ruas de Pau dos Ferros, em uma carruagem puxada por uma dupla de cavalos preto, imitando a rainha Elizabeth I. Já tenho um cavalo com estas mesmas características, por essa razão não adianta ninguém me apresentar cavalos diferentes. Compro-o com preço além do oferecido no mercado. Assinado: Paulo Galvão Filho)".
Dias depois, o suposto fazendeiro recebeu informações da rádio, que um senhor de nome Bertoldo, no Sítio Piquiri, tinha um cavalo com essas mesmas características. De imediato, João Teotônio abalou-se para o sítio indicado, na intenção de saber se era o seu cavalo.  Ao chegar, ao longe avistou o animal, e sem dúvida, aquele cavalo era o seu. E entre uma árvore e outra, foi chegando mais perto.
Virando-se para  o homem que o acompanhava, naquele momento era o dono do cavalo, disse-lhe:


tudocavalos.blogspot.com

- Senhor, aquele cavalo é meu.
- Não senhor! Aquele cavalo eu o comprei na semana passada - disse-lhe o comerciante de cavalos.
 - Justamente. Ele foi roubado na semana passada. E vou provar ao senhorque é o meu cavalo. Eu o chamo de Star Black. Vou me esconder atrás desta aroeira e vou o chamar. O senhor vai ver que ele vai ficar me procurando. Mas se esconda também - dizia o suposto fazendeiro.
Ali se esconderam entre as árvores e João Teotônio fez:

- Star Black!?
Ouvindo a voz do seu dono, o cavalo virou-se em direção a eles, e lá ficou impaciente o procurando, e talvez se perguntando: "Quem me chamou? Terá sido o meu dono? Ou eu estou sonhando?

http://genuardis.net
Voltando-se para o  comprador de cavalos, João Teotônio disse-lhe:
- Eu não sou fazendeiro, apenas me apresentei no aviso, pois eu queria recuperar o meu cavalo que já o considerava perdido. Este é a minha vida. Eu vou me aparecer e o senhor vai ver que ele vai correr em minha direção.
Quando o João Teotônio saiu detrás da árvore, o cavalo fez carreira em sua direção.

perissodactilos-mamiferos.blogspot.com
Ao chegar, relinchou, deitou-se, em seguida levantou-se e pôs as  patas para o ar, e pôs-se a furçá-lo com o nariz como se estivesse dizendo: "leva-me para casa, estou com uma saudade imensa dos meus amigos, das ovelhas, dos porcos..., preciso revê-los, aqui já apanhei, mudaram meu nome para "Pelé", aqui não conheço ninguém, sou tratado como cavalo, e em tão poucos dias nesta fazenda, me sinto socado dentro de um verdadeiro inferno. Eu já imaginava que poderia ser vendido para o abate. Nunca mais tomei um banho e tenho me alimentado muito mal. Leva-me! Leva-me para nossa residência! Lá é o meu lugar".
Satisfeito por ter achado o seu amado cavalho, Teotônio olhou com um sorriso bem aberto, perguntando ao comprador de cavalos:  
- O senhor ainda tem dúvidas que este cavalo não é  meu?
- Não. O que o cavalo fez, ficou mais do que provado que é seu! Arrei-o e o leve em sua companhia. Não tenho mais dúvida.
- Eu não quero saber a quem o senhor o comprou, dizia João Teotônio,  quero apenas levá-lo de volta para minha casa. Ele é tratado como um filho, coisa que na minha casa nunca nasceu.

Minhas simples histórias

Izaias Arruda e o Incendio da Ponte Parte I

Há anos que esta história me intrigava. Algo que nunca saíra de vez da minha cabeça. Tanto que, depois de várias investidas em vão para saber o local exato onde o incêndio ocorreu – por sorte, alguns meses atrás terminei encontrando o que procurava, isto é – a ponte do Olho d’água localizada entre o povoado de Quimami (Missão Velha) e Ingazeiras (Aurora).
 Mesa de abertura do Cariri Cangaço em Aurora no ano de 2011

Quando já me dirigia para a ponte do Jenipapeiro nos rumos do riacho dos Porcos nas proximidades de Ingazeiras, distrito de Aurora tive a sorte de parar numa bucólica residência de um agricultor. Um senhor de aproximadamente 80 anos. Cordato e hospitaleiro. Após falar-lhe do que eu estava procurando, ele de súbito, disse saber de toda a história contada-lhe um dia pelo seu genitor já falecido. E mais, que eu estava errado quanto a localização. A tal ponte não era a do jenipapeiro e sim, uma outra situada um pouco mais a frente a uma légua e meia dali. A ponte do incêndio ficava na localidade rural de Olho d’água. Aquela dica para mim foi muito mais que uma surpresa agradável. Foi um lenitivo. E assim, seguimos(eu e a minha equipe). De moto, ficou mais fácil vencermos as léguas tiranas das estradas empoeiradas. Chegamos finalmente ao local procurado. A ponte era magnífica. Exaustos mas recompensados por mais uma constatação histórica.
 
No ano passado, havia ido a Missão Velha e tendo inclusive conversado com o pesquisador Bosco Andréa acerca deste fato. Tudo estava, ainda como agora um tanto quanto nebuloso. Um mistério. De lá fui até a ponte/pontilhão das Emboscadas. Por sinal uma bela obra de arquitetura. Confiante de que havia sido ali o ambiente onde tudo ocorreu. Só em seguida é que fiquei sabendo que também não era lá. De novo estava eu desolado. E agora, diante do local exato pude constatar que se trata mesmo de uma bela ponte metálica de engenharia arrojada para os padrões da época. Logo que chegamos pude notar que bem ao lado, havia um canteiro de obras com vistas à construção da ferrovia denominada Transnordestina - obra do governo federal ainda da era Lula. Uma nova ponte estaria sendo projetada. E que será construída paralela a esta da Reffesa. Torço para que, com a suposta desativação da antiga linha, que pelo menos a histórica ponte onde todo o fato ocorreu venha a ser preservada. Posto ser ela, um patrimônio arquitetônico e histórico não somente de Aurora e Missão Velha, mas de todo o Cariri.

 
A Pesquisa de campo

Vasculhamos todo o matagal em seu entorno, assim como o leito do rio, quando pude, para minha alegria descobrir algumas peças antigas de ferro retorcido que estavam enterradas na lama, assim como cobertas pelo mato(ver foto). Tudo o que aquele senhor nos informou estava ali diante dos nossos olhos. Era a história viva e pulsante de um tempo ido, como que desafiando o olhar dos contemporâneos. O rio estava belo, mesmo que rasgado e maltratado pelas máquinas que estavam a construir a nova ferrovia. Vi muita destruição em boa parte do percurso. Uma verdadeira agressão ao rico e ao bioma da nossa caatinga como um todo. Tudo em nome de um progresso devorador que parece puder tudo. Até mesmo devastar e destruir os nossos ecossistemas e a nossa própria história.
 
Era gozado a forma como os operários da Transnordestina nos olhavam. Talvez, por não compreender o nosso propósito de pesquisa. Ficavam curiosos. Vendo-me com a minha equipe a fotografar tudo, a esquadrilhar o ambiente em suas minúcias; como a procurar algo no vazio. Descobrimos peças de metais enterradas na areia do rio. Checamos restos de antigos dormentes. Buscando assim qualquer vestígio possível daquele remoto acontecimento, passado a mais de 80 anos. Era possível ver os sinais de fogo nos pilares da velha ponte. Tudo ali parecia está realmente carregado de antigas memórias.
 
Eu olhava para aquela ponte e imaginava o velho coronel Izaías Arruda e Zé Gonçalves com todo o seu bando de jagunço em suas infindáveis estripulias. Lampião e seus comandados... Além dos grandes potentados e outras autoridades que um dia passaram por ali. Por fim, saber que por sobre aquela ponte do Salgado passou boa parte do antigo progresso do Cariri foi para mim uma sensação das mais indescritíveis. Um misto de saudade, alegria e curiosidade.

Continua...
José Cícero
http://blogdaaurorajc.blogspot.com/
http://cariricangaço.blogspot.com
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

A Biblioteca Pública Municipal - 30 de Março de 2009

Por: Geraldo Maia do Nascimento
 
Revendo velhos documentos da Administração Pública Municipal, me deparo com uma mensagem apresentada à Câmara Municipal de Mossoró pelo então Prefeito,
Sr. Jerônimo Dix-sept Rosado Maia, datada de 31 de março de 1949, referente ao seu primeiro ano de administração. Nessa mensagem, depois da apresentação de praxe, o Sr. Prefeito inicia a sua apresentação pelo que ele chamou de “Setor Cultural”, com destaque para a Biblioteca Pública Municipal. Com relação a esse assunto diz o Prefeito: 
“Um compromisso assumido com o povo, foi o de que não descuraríamos do alevantamento cultural dos mossoroenses. A Biblioteca Popular, a Biblioteca Dinâmica, não um mero depósito de livros, seria o meio mais eficiente de atender aos desejos de aprimoramento de cultura, dos que não tinham poder aquisitivo, correspondente ao preço astronômico do livro. E também de despertar tantas outras vocações, para as letras e para as ciências, vocações estioladas à falta do estímulo eficiente. De facilitar os profissionais pobre, ao que não podia comprar livros técnicos o conhecimento que possibilitaria o aperfeiçoamento do seu ofício. 
A 5 de abril de 1948, apenas cinco dias depois de empossados, criávamos pelo Decreto número quatro (4), a Biblioteca Pública de Mossoró. E nomeávamos uma Comissão Organizadora. A todos os que tem contribuído, através de um trabalho beneditino, para a Organização da Biblioteca, principalmente a José Ferreira da Silva, Francisco de Assis Silva, José Maria Gonçalves Guerra, Hugo Costa Cruz, Rafael Fernandes de Negreiros, João Damasceno da Silva Oliveira, José Romualdo de Souza, Jerônimo Vingt-un Rosado Maia e a Professora América Fernandes Rosado Maia, deixamos aqui o nosso agradecimento muito sincero. 
Cedido um salão pelo Clube Ipiranga que, em um magnífico gesto, superou antigos compromissos assumidos de tornar pública a sua Biblioteca particular, gesto que se traduziu pela doação de todo o seu patrimônio bibliotecário, um acervo superior a trezentos volumes, foram logo iniciados os seus serviços de adaptação. Ao mesmo tempo que se iniciava a catalogação dos livros, que iam sendo recebidos por doação. A cada um deles eram dadas quatro catalogações: a do livro – inventário, decimal, ficha por autor e ficha por nome do livro. Em linhas gerais, seguiram os organizadores as recomendações do Instituto Nacional do Livro, Entidade Oficial a que foi logo filiada a Biblioteca, sob o número R.M. 3357. Tem a Biblioteca recebido doações valiosas. A todos os brasileiros que nos tem dado o seu apoio, ao êxito desse empreendimento, deixamos aqui o nosso reconhecimento. E dizemos brasileiros e não só mossoroenses porque de todos os quadrantes da Pátria tem nos chegado cooperação decisiva. 
Finalmente, a 30 de Setembro de 1948, associando a maior data da História de Mossoró, esse grato acontecimento cultural, inauguramos a Biblioteca Pública de Mossoró, com 1.888 obras em 2131 volumes...” 
Essa história eu já tinha ouvido do Professor Vingt-un Rosado, que depois publicou na sua séria “Minhas Memórias da Batalha da Cultura – Livro I. O que não tem no livro é que a idéia da biblioteca partiu dele, Vingt-un Rosado, um eterno criador de bibliotecas. O mérito maior de Dix-sept Rosado foi cumpri a promessa apenas cinco dias após assumir o mandato. E quando Dix-sept diz na mensagem que agradece aos brasileiros e não só aos mossoroenses pela doação dos livros, devemos lembrar também da participação de “Dix-huit Rosado, em Natal, que bateu todas as casas mossoroenses ou de amigos da cidade pedindo livros para a nova biblioteca. Semanalmente chegavam-nos caixotes e mais caixotes e a sua campanha deve ter dado a Mossoró dois mil volumes.” 
Assim foi criada a Biblioteca Pública de Mossoró, hoje Biblioteca Municipal Ney Pontes Duarte. 
Geraldo Maia do Nascimento
Todos os direitos reservados 
É permitida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de
comunicação, eletrônico ou impresso, desde que citada a fonte e o autor.

AOS VERDADEIROS VAQUEIROS DA HISTÓRIA

Por: João de Sousa Lima

Nos últimos anos temos seguido incansavelmente, por questões mesmo do pouco tempo que nos resta, incursionado no campo da pesquisa histórica do cangaço, mundo que abrange além dos cangaceiros, soldados volantes, coiteiros, beatos, padres, missionários, sertanejos que viveram a  época em questão e dela foi parte de alguma forma.
Na realidade estamos vivenciando os últimos suspiros dos homens e mulheres que viveram essa saga. Dentro de no máximo 10 anos perderemos essa  história oral que tanto corremos atrás. Todos eles passarão, como é natural a todo vivente,  deixando seus rastros escritos no caderno dos caminhos nordestinos.
Diante de tantos registros equivocados e mal intencionados que estão surgindo, de pessoas sem o mínimo respeito com as histórias e suas verdades, loucuras tiradas unicamente dos pensamentos disformes, haverá um tempo em que contarão que Lampião entrou no Raso da Catarina pilotando um possante helicóptero equipado com bombas teleguiadas e mira a LASER. Haverá um tempo onde os absurdos contatos sobre o cangaço ultrapassarão o entendimento até mesmo da tecnologia que se fará presente no momento.  Lampião será o próprio “Júlio Verne”, com sua ficção submersa das 20 mil léguas submarinas. No futuro a história contará lampião indo à lua, travando combates com seres extraterrestres e derrubando suas máquinas que atingem a irrisória velocidade de 400.000 km em míseros 2 segundos, usando apenas uma velha “Baliadeira”.
Por hora já surgiu Lampião jogador de bola no Raso da Catarina e sendo um ótimo zagueiro, Lampião brigando na caatinga como se fosse o Tarzan  e pulando de galho em galho.
Mais recentemente Lampião tornou-se corno e homossexual, esse último impropério escrito por um juiz aposentado que por se sentir inútil no seu descanso e talvez esquecido  em sua repousante  autoridade, se deu ao capricho de difamar um homem que viveu à margem da lei, tendo por ferramenta de trabalho sua luta defendida pelo poder da arma com uma incansável estratégia de sobrevivência e que em momento algum deixou caminhos que indicassem esse comportamento.
Refletindo sobre tal afirmação e infundada situação senti pena dos homens que esse juiz  julgou em seu longo caminho de magistrado.
Aos que levam a causa com mais seriedade, aos homens valorosos e ajuizados que conheci e que resistem na árdua labuta de poder registrar a verdade dos fatos e que merecem meu respeito e as considerações das gerações vindouras, dedico meu reconhecimento e minha gratidão:
Antonio Amaury, Frederico Pernambucano  de Mello, Sabino Basseti, Ângelo Osmiro, Aderbal Nogueira, Múcio Procópio, Geraldo Ferraz, Ivanildo Silveira, Kiko Monteiro, Lívio Ferraz, Manoel Severo, Sérgio Dantas, Rubervânio Lima,  Carlos Megalle, Carlos Eduardo, Carlos Elydio, Jack De White, Wescley Nunes, Antonio Vilela, Alcino Alves Costa, Wilson Seraine, Thomas Cisne, Juliana Schiara, Ana Lúcia, Paulo Gastão, Leandro Cardoso Fernandes,  Pedro Luis,   Voldi Ribeiro, Luiz Ruben, Gilmar Teixeira, Honório de Medeiros, Jorge Robson, Narciso, Rostan Medeiros, Francisquinha, Kydelmir Dantas, Pereirinha, Nely Conceição, Raimundo Marins, Jairo, Inácio Loiola, Bosco André, Julio Schiara, Jadilson Ferraz, Paulo Moura, Zé Cícero, Archimedes Marques, Alfredo Bonessi, Cicinato Ferreira, Diana Rodrigues, Reclus, Alcivandes, Juracy  Marques, João Souto, Josué, Barros Alves, Petrúcio Luiz, Edson Barreto, Afrânio Cisne, Wolney  Oliveira, Felipe Marques, Marcos Passos, Haroldo Magno, Antonio Galdino, Lamartine Lima, Juarez Conrado, Sousa Neto, Oleone Coelho.
Como diria meu amigo Severo:
“OS VERDADEIROS VAQUEIROS DA HISTÓRIA”.
Homens que dedicaram tempo, trabalho, paciência e responsabilidade para contar um pouco do seu passado e de sua própria vida.
Obs.- desculpem se algum nome ficou de fora, avise-me que acrescentarei, porém não insistam em colocar nessa relação um tal  PEDRO MORAIS.
Uma turma boa e com boas intenções históricas.
Kiko e Ivanildo: trabalho sério e responsável
Ângelo, Narciso, João, Wescley, Ivanildo, Vilela e Thomas: Seguindo a linha do entendimento e da vercidade.
A maior reunião  de estudiosos dos temas relacionados ao Nordeste.
Jorge Robson, João e dois sobrinhos do cangaceiro Esperança.
Kiko e sua amada esposa no dia que conheceram a biografia de Maria Bonita.
Turma em pesquisa ao Raso da Catarina.
Aderbal Nogueira: Uma das referências de seriedade.
Pereira, João, Pedro Luiz, Sousa Neto e Kiko.
Reunião dos que estudam com seriedade o tema
João, Frederico, Francisco Lira e um dos diretores do IBAMA.
Seguindo os ensinamentos do decano de Poço Redondo
Marcos Passos "guiando" o barco até a Grota do Angico, com João e Felipe Marques
Os debates informais como aprendizado sempre acontecidos nas rodas de amigos.
Trabalho sério e dignificante das mãos de Severo
João e Voldi
Enviado pelo escritor e pesquisador do cangaço: João de Sousa Lima

SÓCRATES PARA TODO O SEMPRE...

Por: José Cícero
Ao saber da morte do ex-jogador Sócrates nas primeiras horas deste domingo (4 de dezembro) uma verdadeira enxurrada de lembranças se precipitou sobre minha cabeça. Pego de surpresa, por alguns instantes, fiquei desolado e triste a recordar antigas imagens como que um vídeo - tape estivesse a invadir o meu cérebro.


Foi como que eu estivesse ali, naquele exato momento a me transpor no tempo e no espaço. Vi-me nos meus quinze anos na casa do vizinho sentado no chão assistindo os memoráveis jogos do campeonato brasileiro dos anos 80. Vendo (de novo) com absoluto estranhamento aquele homem magro, quase esquelético e desajeitado, mas, de toques refinados a desfilar seu futebol arte nos gramados paulistas, depois, pelo Brasil e pelo mundo... Ao meu juízo de menino profundamente apaixonado pelo Flamengo, era (ele) talvez o único que se igualaria ao nosso galinho.


Revi mentalmente seus grandes gols. Seus momentos inesquecíveis de comemoração corintiana divididos com Palhinha e depois com Casagrande. O doutor foi sem dúvida um atleta diferenciado. Um dos melhores que já vi jogar. Que ousava desafiar os velhos padrões da época com seus passes inusitados – de calcanhar.
Anos depois vivi o sonho e, me deliciei com o doutor a fazer dupla com meu ídolo de infância: Zico. Primeiro na própria seleção brasileira. Por sinal, a melhor de todos os tempos que eu vi jogar durante a Copa do mundo de 1982 na Espanha. Oportunidade em que só fomos derrotados pelas circunstâncias do destino. Fomos campeões da elegância pela força da arte daquele time de estrelas. E o mundo foi testemunha deste fato. Que saudade do mestre Telê! Enfim, coisas, como dizem do futebol.
Antes, durante os amistosos para o mundial e na copa América, fiquei estupefato pelo futebol daquele atleta estranho, quase um alienígena, que antes de brilhar no Corinthians, apareceu no modesto Botafogo de Ribeirão Preto. Um paraense que se fez paulistano pela força estonteante do seu belo futebol. Um craque na acepção mais lídima da palavra. Quase mais um "barbudo" de sierra maestra que eu também o viu psicologicamente no livro "A ilha de Fidel", tamanho era meu entusiamos para com a sua figura altiva com a bola nos pés.
Um grande craque que não precisou da mídia-marrom e interesseira para se fazer forte e monumental como o foi a vida inteira. Um craque que não se deixou embriagar pela gana dos milhões de dólares. Tampouco, não se fez mercenário diante das tentações da fama como tem sido comum. Um atleta que amou o Brasil em todas as cores que ele defendeu. Um ídolo inteligente que respeitava a torcida, para qual dedicou boa parte da sua carreira futebolística. Um cidadão que usou seu futebol inclusive para a construção da nossa democracia, quando subiu e emprestou sua fama ao palanque das "Diretas Já". O que não era comum...
Foi ele, o chamado, artífice da democracia corintiana, cujo gesto e ação serviram de modelo e instrumento para quebrar grandes ditaduras 'timescas' pelo país afora. De modo que desde então, a cartolagem nunca mais foi a mesma... Um cara tão especial, que até agora a pouco, antes de partir para a eternidade, deixou sua crítica e seu necessária recado contra a podridão que ora está a ocorrer na CBF ante a figura do seu presidente perpétuo - Ricardo Teixeira. Um escândalo explícito e vergonhoso, que acontece sob o silêncio cúmplice, medroso e covarde de muitos e, sobretudo da imprensa nacional. Pedira Sócrates: "Novas diretas já! Diretas já para presidente da CBF”. Que o Brasil antes da Copa, possa ter ouvido o doutor...
E eu permaneci mergulhado em minhas lembranças. Revi o gol espetacular que ele marcou certa feita, num amistoso do Brasil em São Paulo contra o time do Ajax. Bem como de tantos outros que ele marcou no Corinthians e também vestindo a camisa amarelinha da nossa seleção. Das suas assistências perfeitas. Dos seus belos passes de calcanhar. Dos dribles maravilhosos. Do seu jeito especial de tocar na bola, dos seus chutes e lançamentos. Ainda, da sua forma de comemorar de braço levantado e punho cerrado. Dos seus abraços entusiasmados com o galinho de Quintino, Casagrande e Palhinha...
Lembranças da sua vinda para o meu Flamengo, após retornar da Itália, quando jogou pela Fiorentina. Da massa rubro-negra 'enfurecida' de alegria a esperá-lo no aeroporto. Assim como, da sua apresentação na Gávea ao lado de Zico que acompanhei nas tardes do antigo Globo Esporte com Léo Batista e Márcio Guedes. Enfim, boas saudades adolescentes que o nosso eterno Sócrates me proporcionou e que agora me valem pela vida inteira.
Sócrates não tinha apenas um nome de filósofo. Tinha um coração bondoso, uma cabeça inteligente e um futebol que encantava. O que certamente o fará figurar para sempre no panteon dos grandes ídolos que este país já conheceu e produziu e, que permanecerão na memória de toda uma geração. Valeu magrão! Obrigado doutor Sócrates!!!
Penso que fui um privilegiado, por ter tido a sorte de um dia ter presenciado o futebol de Sócrates, Zico, Dinamite, Falcão, Reinaldo, dentre outras... Mas, o que será dos meus filhos e desta nova geração que não terão esta verdadeira dádiva de puderam conhecer estes craques imortais? Eu não vi Pelé jogar, porém vi Zico, Dicá, Zenon, Jorge Mendonça, Sócrates...
Eles, haverão de se contentarem com a visível mediocridade de jogadores que(na atualidade) só enxergam dinheiro, baladas e fama. Encandeados demais com os holofotes de uma mídia enganadora e falsária que está a fazer uma verdadeira lavagem cerebral na mente de multidões inteira pelo Brasil e pelo mundo. Coisas criadas pela imprensa para enganar as multidões fanáticas por futebol num verdadeiro estelionado esportivo.
Que o nosso eterno Sócrates possa agora descansar em paz ao lado de Deus e de todos os grandes craques que este país já produziu e, igualmente já partiram para o 'andar de cima'. Num país de pouca memória, sempre valerá a pena recordar dos bons momentos que marcaram a boa história do nosso futebol. 
José Cícero - Secretário de Cultura
Aurora - Ceará.
LEIA MAIS EM:
WWW.seculteaurora.blogspot.com

Enviado pelo o autor: José Cícero,
Secretário de Cultura de Aurora - Ceará