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sexta-feira, 21 de outubro de 2011

DADÁ E CORISCO

Relíguia de João de Sousa Lima
Os cangaceiros do bem


Dadá e Corisco ganham nova edição de suas biografias realizadas pelo

Dr. Leandro, João de Sousa Lima, Antônio Amaury e Rubinho Lima

amigo Antonio Amaury e em dezembro será lançado um documentário sobre a vida desse famoso casal de cangaceiros.


Extraído do blog do escritor e pesquisador do cangaço, João de Sousa Lima.

As voltas que o mundo "lampiônico" dá


Voldi, mais um dos C.S.I. do cangaço

Maria já era centenária desde 2010, e não nasceu no dia internacional da Mulher. Comemorando 3 anos de atividade apresentamos o primeiro resultado de uma minuciosa pesquisa gentilmente cedida pelo seu autor nosso amigo e confrade Voldi Ribeiro na ocasião do último Cariri Cangaço.
A presente Nota Prévia tem como objetivo dar conhecimento público aos seguidores do Blog Lampião Aceso da localização e do registro do ASSENTAMENTO DO BATISMO de MARIA BONITA contendo a exata indicação das datas: de realização da cerimônia religiosa e do seu nascimento.
Resultado de pesquisa documental e oral, operada a partir de abril de 2011, quando da realização do III Seminário do Centenário de Maria Bonita, promovido pela Prefeitura de Paulo Afonso-BA e, principalmente, realização da exposição Maria Bonita em Nós, promovida pela empresa Cria Ação Comunicação e Arte Ltda., sob a curatela e criação do padre Celso Anunciação, que contou também com a nossa assessoria técnica.
Uma questão muito emblemática para todos, incluindo muitos pesquisadores e historiadores, era a exata confirmação da data de nascimento de Maria Bonita. As imprecisões começavam quando comparávamos: para Virgulino Ferreira da Silva, o capitão Lampião, se encontrou o assentamento do batismo católico e o registro civil de nascimento – é mister que se esclareça – desencontrados em datas, meses e anos. Contudo todos os estudiosos consensam ser o ano de 1898 com o do seu nascimento.
A pergunta que não calava era: por que para Maria Bonita só nos restaram imprecisões de anos ou a única indicação de data, mês e ano - 08 de março de 1911 – sem que se tenha apresentada qualquer evidência documental?

1. Os Registros Históricos do Nascimento de Maria Bonita na Voz dos Autores.

O quadro a seguir sintetiza de modo rápido as diversas indicações quanto à data de nascimento de Maria Bonita:

 

A primeira indicação da data somente foi encontrada na 9a referência, contida no livro “O Espinho do Quipá – Lampião, a História”, publicado em 1997, 87 anos após seu nascimento e, coincidentemente, 60 anos após sua morte, contudo sem prova documental. Esta constatação, portanto, é o que despertou e moveu nosso interesse em desvendar tão logo e grande mistério da historiografia do Cangaço.
Com o apoio e direta colaboração de Celso Anunciação, com o qual tivemos acesso aos registros eclesiásticos da Paróquia de São João Batista de Jeremoabo e também da Paróquia de Santo Antônio da Glória, cujos livros se encontram arquivados na Cúria Diocesana da atual Diocese de Paulo Afonso-BA.
Justiça seja feita. Com relação a Celso Anunciação, por mais insistência que tenha sido feita à co-autoria da presente Nota Prévia e do futuro livro a ser concluído em brevíssimo tempo, respeitando sua vontade não posso deixar de afirma que sem sua direta colaboração, possivelmente perderíamos a chance de encontrar o assentamento de batismo de Maria Bonita. Os livros consultados se encontram por demais comprometidos tanto na conservação quanto no factível dando físico se forem manuseados.
Também não posso suprimir a providencial orientação e anuência prévia do resultado desta pesquisa, obtida com o grande historiador e amigo pessoal Frederico Pernambucano de Mello.

2. A Missiva de 1971 ao Bispado de Bonfim

A terceira referência que faz referência ao ano do nascimento de Maria Bonita se encontra no registro do pesquisador Antônio Amaury Corrêa de Araújo, quando no ano de 1971, uma missiva foi remetida à sede do Bispado de Bonfim no estado da Bahia, endereçada ao padre Vicente O. Coutinho, referido como secretário do citado Bispado (Diocese). Esta missiva é de particular importância no presente estudo. Os termos da mesma demonstram a busca pelas informações do pesquisador referido.
Não é de se estranhar que após 40 anos, em 2011, se tenha encontrado a carta datada de 16 de março de 1971, aparentemente sem resposta daquele Bispado, com os seguintes dizeres conforme fac-símile a seguir:



Frente



Verso


É explicável o motivo pelo qual não tenha havido resposta à missiva de Antônio Amaury por parte do Bispado de Senhor do Bonfim/BA, senão vejamos: há a imprecisa indicação dos nomes próprios do pai e da mãe e de Maria Bonita. Nada de mensurar criticamente o pesquisador. Na época, é de se imaginar com os dados disponíveis, que qualquer um poderia cometer tais equívocos. Vale, no entanto a intenção positiva do pesquisador hoje já consagrado.

3. Registros das Paróquias de Santo Antônio da Glória e de São João Batista de Jeremoabo e dos Cartórios do Registro Civil de Santo Antônio da Glória e de Jeremoabo/BA.

Dado o precário estado de conservação em que se encontram os livros consultados a pesquisa, além de difícil requereu a adoção de cuidados especiais para que os registros não fossem danificados.
Os registros paroquiais consultados foram os seguintes: assentamentos de batismos do período compreendido entre os anos de 1901 a 1922 e para os assentamentos de casamentos do período compreendido entre os anos de 1907 a 1940.
Os registros cartoriais e civis consultados foram os seguintes: termos de nascimentos do período de 1902 a 1937 e para os termos de casamento do período de 1900 a 1940.

4. O assentamento de Batismo.

Nas primeiras consultas foi identificado o que veio no final da pesquisa a ser confirmado como o Assentamento de Batismo de Maria Bonita, encontrado na Paróquia de São João Batista de Jeremoabo no Livro do período de 1909 a 1915, de número 04 e na folha 30 verso, conforme se encontram a seguir a imagem em substrato da folha fotografada e a Certidão emitida em 22 de agosto de 2011:


Imagem fotografada em substrato da folha pelo autor.
Transcrição



Na consulta ficou evidenciada a utilização dos termos “filha (o) legítima (o)” somente quando compareciam à cerimônia do batismo o pai e a mãe respectivamente.
Quando ocorria de comparecer à cerimônia apenas a mãe os termos utilizados eram “filha (o) natural”. Não foi encontrado nenhum assentamento de batismo com o comparecimento somente do pai.
Estes formatos de registros nos assentamentos de batismos são comuns nos livros consultados com distintos párocos e períodos.

Imagem da certidão escaneada na íntegra.



As confirmações encontradas podem ser assim relacionadas:
a. A coincidência do nome civil da mãe, Dona Déa – Maria Joaquina da Conceição”; b. A celebração da festa religiosa anual consagrada a Nossa Senhora das Dores realizada no arruado de Santa Brígida, no mês de setembro, quando o vigário da paróquia de Santo Antônio de Jeremoabo, em período denominado “desobriga” atendia às celebrações religiosas de missas, batismos e casamentos. Confirmação obtida com entrevista realizada com Ozéas Gomes de Oliveira (irmão mais novo de Maria Bonita) e sua esposa Dona Abelízia, quando em visita realizada na sua residência na Malhada da Caiçara; c. Confirmação obtida com a Sra. Abelízia, esposa de Ozéas, da existência passada de um cidadão denominado “AGRIPINO”, morador do Sítio do Taráe, localidade vizinha à Malhada da Caiçara; d. A não identificação nos assentamentos de batismos pesquisados nas Paróquias de Santo Antônio da Glória e São João Batista de Jeremoabo, de nenhum registro que indicasse qualquer semelhança com o registro encontrado e fotografado e a certidão emitida e assinada pelo Padre José Ramos Neves; e. A não identificação dos registros civis dos termos de nascimentos dos cartórios de dos municípios de Santo Antônio da Glória-BA e Jeremoabo-BA, de nenhum registro que indicasse qualquer semelhança com o registro encontrado e fotografado e a certidão emitida e assinada pelo Padre José Ramos Neves.

5. Breve Conclusão.

Dada a evidência do Registro e da Certidão extraída e das confirmações relacionadas, bem como de se ter também encontrado o assentamento do casamento de Edvaldo Ferreira Dias e Joanna Maria d’Oliveira (irmã de Maria Bonita), realizado não na Matriz, no dia 18 de abril de 1936, pelo Vigário e Padre José Magalhães e Souza da Paróquia de São João Batista de Jeremoabo, se pode afirmar com segurança que MARIA BONITA NASCEU AOS 17 DE JANEIRO DE 1910.
As conclusões e outras possiveis novidades estarão impressas no nosso trabalho que se encontra no prelo, aproveitamos para apresentar a capa deste.


Crato, Ceará, 22 de setembro de 2011.
Voldi de Moura Ribeiro
Sociólogo e Pesquisador


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UM OUTRO PRÊMIO PELA CABEÇA DE LAMPIÃO

Por:  Rostand Medeiros
Photo

QUANDO UMA CONCEITUADA PERFUMARIA CARIOCA OFERECEU MUITO DINHEIRO PELO FIM DO “REI DO CANGAÇO”

Um oferecimento para corajosos

Quem lê e se debruça sobre o tema cangaço, certamente já teve oportunidade de visualizar um famoso anúncio onde o governo do Estado da Bahia oferecia 50 contos de réis pela captura de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, também conhecido como “O Rei do Cangaço”.


Mas aquele anúncio de captura não foi o único. Em 1932 houve outro, que oferecia o mesmo valor, cuja iniciativa partiu de uma perfumaria que tinha sede na carioquíssima Praça Tiradentes, em pleno centro do Rio de Janeiro, então Capital Federal.

Muito dinheiro

Creio que quem primeiro comentou sobre este interessante fato foi o pesquisador e escritor baiano Oleone Coelho Fontes, no seu livro “Lampião na Bahia”. Nas páginas 198 a 207 (4ª edição) desta interessante obra, o autor lista inúmeros casos de pessoas, alguns destes antigos militares, que através de jornais cariocas informavam que estavam a disposição de seguirem para o longínquo sertão, na intenção de capturar, ou matar, o mais temido bandido brasileiro. Percebemos que estas pessoas procuravam muito mais a promoção midiática, do que tentar realmente resolver o caso Lampião.

Lampião e seus homens nos seus primeiros passos
na Bahia, em foto de Alcides Fraga

Entre outras iniciativas de captura apontadas por Oleone, se encontrava uma feita por uma empresa, a Perfumaria Lopes. Esta conceituada casa comercial, inaugurada no início da década de 1920, informava através de um anúncio publicado na imprensa carioca (reproduzido no jornal soteropolitano “A Tarde”, edição de 12 de junho de 1931), que oferecia 50 contos de réis pela captura do famoso cangaceiro.
A empresa anunciava que o prêmio poderia ser conquistado por qualquer pessoa, civil ou militar, desde que provasse ter alcançado seu êxito através da apresentação de documentação autenticada por autoridade competente (Ver Fontes, O. C. Pág. 207, nota nº 272).

O jornal em que a nota foi publicada em Natal

Aparentemente a Perfumaria Lopes gostou da iniciativa, pois no ano seguinte, na mesma época, renovava a publicação do anúncio de 50 contos pela captura do “Rei do Cangaço”. Consegui encontrar este anúncio na edição de 13 de junho de 1932, do jornal natalense “A Republica”.
Mas enfim, isso era a sério? Ou seria apenas uma ação de marketing?
No meu entendimento, toda esta movimentação era puramente uma ação de propaganda. Não sei o que o operoso proprietário da empresa pensava sobre Lampião e suas ações, mas morando no distante Rio de Janeiro, certamente ele deve ter percebido que dificilmente alguém da sua região ganharia a premiação.
Mas se aparecesse um cidadão queimado do sol nordestino, trazendo a cabeça de Lampião em uma lata de querosene da marca “Jacaré”, em meio a uma grande quantidade de cal virgem para não apodrecer tão rápido, certamente o proprietário desta conceituada casa lhe pagaria, pois dinheiro não lhe faltava.

Fonte: Revista Careta, número 935, 22 de maio de 1926

A perfumaria Lopes pertencia ao Comendador José Gomes Lopes, que também era proprietário da Fábrica de Cosméticos Beija-Flor, era um imigrante português que enriqueceu no Rio de Janeiro. A sede principal da Perfumaria Lopes S. A. se situava na Praça Tiradentes, em um grande ponto comercial que ia do número 34 ao 38 e ainda possuía uma filial na Rua Uruguaiana, igualmente no Rio de Janeiro.
Mas havia sucursais por todo o Brasil e seu produtos tinham refino e qualidade.
Nas memórias de José Bento Faria Ferraz, que foi secretário particular do escritor Mário de Andrade por 11 anos, lembra que um dos mais importantes intelectuais da cultura brasileira era um homem “muito refinado”, mas tinha sérios apertos financeiros. “Apesar de sua pobreza”, como dizia José Bento, o escritor sempre solicitava que o colaborador fosse a Perfumaria Lopes, situada à Rua José Bonifácio, para comprar uma loção “para passar na careca”.
O Comendador Lopes tinha uma visão muito positiva em relação à propaganda. Vamos encontrar a sua casa comercial como o primeiro anunciante da famosa Rádio Nacional, transmitidas em ondas médias, enquanto o tradicional “Leite de Colônia” patrocinava em ondas curtas. A perfumaria foi também um dos patrocinadores do igualmente famoso “Repórter Esso”.

Fonte - paniscumovum.blogspot.com

Não encontrei mais nenhuma informação sobre esta iniciativa e o destino dos 50 contos de réis. Não tenho certeza, mas tudo indica que o sargento Bezerra, o homem que comandou os policiais que exterminaram Lampião em 1938, não foi ao Rio solicitar o prêmio.
Mas a simples existência deste tipo de anúncio em jornais de grande circulação da Capital Federal mostra o quanto a figura de Lampião era conhecido nacionalmente. Mas foi também esta fama, principalmente após a divulgação do famoso filme do libanês Benjamim Abrahão, que indubitavelmente chamou a atenção das autoridades federais do período do Estado Novo.
Os poderosos do Rio passaram a cobrar uma ação mais efetiva das autoridades estaduais nordestinas e para concretizar a derrocada deste cangaceiro. E assim foi feito.

O já conhecido anúncio de recompensa por Lampião, pertensamente oferecido pelo governo

Em Natal, a Perfumaria Lopes era representada pela firma César Comércio e Representações Ltda. Empresa criada pelo empresário Júlio César de Andrade em 07 de Março de 1932, com sede na travessa México, 85, no tradicional bairro da Ribeira.


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LAMPIÃO EM MUMBAÇA

Por: Manoel Tavares de Oliveira


No ano de 1927, quando o bando de Lampião tentou invadir e saquear a cidade de Mossoró, em sua passagem pelo Sítio Mumbaça, hoje cidade de Frutuoso Gomes, a única casa que ele entrou foi a de meus avô, José Gomes de Oliveira.

Meu avô era almocreve e estava viajando para o Cariri, quando o bando passou no lugar, e minha avó, Maria Salustiana da Cunha, (Dona Mariazinha como era chamada), não saiu de casa junto com suas 7 filhas, inclusive minha mãe, Joana Gomes de Oliveira, que já era casada na época, e seus 3 filhos pequenos, José de 7 anos, Antonio de 4 e Maria de 3 anos, talvez a única família que permaneceu em casa, pois todas as outras foram se esconder no mato com medo dos bandidos. 

Na casa de Frutuoso, se rezava a trezena de Santo Antônio, e nesta noite não foi realizado o evento, a penúltima noite de trezena, que era o dia 11 de Junho, pois todos foram esconder-se no mato. A casa de Frutuoso não foi atingida pelos bandidos, pois ficava um pouco afastada da estrada, e eles parecem que não desviavam muito por onde andavam. 

Ao entrarem na residência de José Gomes, meu avô, perguntaram: "Cadê o dono da casa?". Minha avó sem hesitar respondeu: "Está viajando".

Ao entrarem na casa, estava meu irmão mais velho, na época com 7 anos, e um deles tirou a rede do armador, derrubando-o ao chão. Tomaram um anel de ouro da minha mãe, Jona Gomes, e uns brincos de minha tia Rosa.

Quando abriram as malas, lá encontraram vários quadros com o retrato


do Padre Cícero do Juazeiro, e imediatamente um deles , possivelmente Lampião, disse: 


"Nesta casa ninguém bole". Saíram imediatamente sem ofender fisicamente as filhas de José Gomes, indo logo abaixo, cerca de uns 3 ou 4 quilômetros, no Sítio Cachoeirinha, entraram na residência do Sr. Francisco Libânio, que se encontrava fechada, pois o pessoal tinha ido se esconder com medo deles, e o bando fez o maior destroço, derrubando todos os queijos que se encontrava no jirau, cortaram todos,, e depois fizeram cocô em cima dos restos que sobrou. Verdadeira bagunça.

Aqui deixo registrado o que aconteceu na passagem de Lampião e seus facínoras, pelo Sítio Mumbaça, minha terra.

Este fato eu tenho a plena certeza que ninguém escreveu. 

Manoel Tavares de Oliveira é autor do livro:

" Estrada de Ferro Mossoró-Souza: Um Sonho, Uma Realidade, Uma Saudade". - da coleção mossoroense - série "C' - volume 1494 - Outubro de 2005

Revendo entrevista - Antonio Vilela

JORNAL DE FATO - Mossoró (RN)
Luitgarde Barros e Antonio Vilela (clique na foto para ampliar)
O professor de História e escritor pernambucano Antônio Vilela, há mais de 30 anos, estuda o cangaço e especialmente a trajetória de Lampião. Passando por Mossoró, ele fala sobre o sucesso do seu livro “O Íncrível Mundo do Cangaço” e dos preparativos para o segundo livro em elaboração abordando a mesma temática, mas com as entrevistas a cangaceiros que ainda estão vivos. Confira mais:

REVISTA DOMINGO – Como surgiu o seu interesse pelo Cangaço?
ANTÔNIO VILELA – Quando era menino eu ouvia muito as histórias de cangaço, por uma senhora que me contava muito sobre Lampião. Em 1976, eu fui estudar no ENA, um colégio adventista, e conheci uma garota de Mossoró com a qual me casei e quando pela primeira vez eu vim a Mossoró, em 1974, e visitei a antiga cadeia que já era o Museu Municipal Lauro da Escóssia, fiquei sabendo que foi ali que Jararaca havia sido preso, morrendo aqui em Mossoró. Então, a partir daí, comecei a estudar cangaço e visitar o cemitério São Sebastião. Meus estudos começaram propriamente aqui em Mossoró.

ENTÃO a sua paixão começou por aqui?
SIM. Depois ganhei o mundo estudando o cangaço. Muitas pessoas confundem e pensam que estudar o cangaço é somente Lampião e não é. Hoje estou fazendo um trabalho focalizando o cangaço no agreste pernambucano, tirando um pouco o foco de Lampião e trabalhando com outros cangaceiros que atuaram na região. Sou amigo de seis cangaceiros vivos e de sete policiais que perseguiam os cangaceiros e é muito interessante ouvir os relatos destes dois lados.

O SENHOR já visitou muitos estados e cidades por onde o cangaço passou aqui no Nordeste ouvindo estes depoimentos. O que mais lhe surpreendeu nestas visitas e nestes relatos?
O QUE mais me surpreende ainda hoje ao ouvir os cangaceiros vivos é perceber o amor e a lealdade que eles têm por Lampião. Por exemplo, eu visitei uma senhora chamada Antônia Firmina, atualmente com 106 anos, e há pouco tempo, há três anos, ela revelou o segredo que lavava a roupa de Lampião e ao revelar este segredo, só agora ela achou que havia traído Lampião. Dos cangaceiros vivos, eu tenho um vínculo de amizade com o cangaceiro “Vinte e Cinco”, o José Alves de Matos, que mora em Maceió e ele sempre destaca essa lealdade. Inclusive eu filmei um documentário com o “Vinte e Cinco” e ele me fez prometer que só iria divulgar esse material após a sua morte. Então, o que me surpreende é a lealdade, a amizade que havia entre eles. Peço a Deus muitos anos de vida a ele porque eles são fontes de informações e só vou editar quando eles partirem.

MUITO já se discutiu se Lampião foi herói ou bandido e há uma divisão entre os que estudam a vida dele. Diante dos seus estudos, qual é a sua opinião?
PARA mim, Lampião é um mito e não me interessa se ele era bandido ou herói. Naquela época, o que Lampião fazia, a polícia fazia pior que ele. Então, eu estudo Lampião como um mito, como uma conseqüência do meio, um homem que teve coragem de enfrentar os coronéis e, para se ter uma idéia, colocou governadores na palma da mão. Por exemplo, o então governador de Pernambuco, Sérgio Loreto, fez uma proposta de dividir Pernambuco em que ele governava da quebrada do Recife, Rio Branco, Arco Verde e o Lampião seria o governador do sertão do Rio Branco até o São Francisco. Por aí veja a influência desse homem. Para mim, Lampião é um mito e a história julgue se ele era um mito ou um herói.

ALGUMAS publicações ressaltam o Lampião como um grande estrategista. Você confirmou isso nos depoimentos que colheu?
LAMPIÃO era um grande estrategista! Um dos maiores estrategistas da América. Veja que ele passou aproximadamente vinte anos sendo perseguido pela polícia de sete estados e conseguia sobreviver, é porque ele tinha algo de especial. Segundo o grande perseguidor de Lampião, o Optato Gueiros, que é pernambucano de Garanhuns, “Lampião era um gênio até na arte de torturar”.

O SENHOR já lançou um livro – O Incrível Mundo do Cangaço – fruto de anos de pesquisa e agora está preparando o segundo livro. Nos fale um pouco sobre este trabalho.
EU escrevi o Incrível Mundo do Cangaço em 2007. Hoje tenho só duas cópias e vendi mais de 4 mil exemplares. É um trabalho que focaliza esse mundo do cangaço, a vida de Lampião e principalmente as incríveis curiosidades do cangaço. Esse novo trabalho que estou preparando pretende focalizar o cangaço no agreste com pessoas diferentes como os cangaceiros “Paizinho Baio”, o “Vicentão” o Vincente Gomes, que foi um dos responsáveis por uma tragédia em 1927 em Garanhuns chamado de “Hecatombe de Garanhuns”. Tem ainda a figura do Capitão Américo, que foi outra personagem, da cidade do Brejão, e que matou centenas de pessoas e sem deixar de falar nos grandes protetores de Lampião. Muitas pessoas não conhecem o trabalho do Coronel Zezé Abílio de Bom Conselho do Papacaça, nem Gerson Maranhão, Audálio Tenório e o próprio José Lucena, que é quem coloca praticamente Lampião no Cangaço, porque ele foi responsável em 1920 pela morte de José Ferreira e na década de trinta Lampião fez amizade com ele para não perseguir o Zezé Abílio, Audálio Tenório e o Gerson Maranhão. Então, esse segundo trabalho, que será intitulado “O Incrível Mundo do Cangaço - volume dois”, é um trabalho com algo especial. Tenho entrevista com vários cangaceiros vivos e com alguns já falecidos – Durvinha, que morreu ano passado, com Moreno, com Dulce, que ainda é viva em São Paulo, com Vinte Cinco, Aristéia, uma cangaceira de Paulo Afonso. Material inédito focalizando estas pessoas, perseguidores de Lampião e desconhecidos do mundo cangaço como o Tenente Caçula e o Tenente Zé Jardim, que dedicaram suas vidas a perseguir Lampião. São homens de uma grande referência para o cangaço, mas que poucos historiadores os conhecem.

ALÉM de pesquisar, como faz para se encontrar com estes personagens e colher estes depoimentos?
GERALMENTE nas férias eu faço isso e sempre aos finais de semana. Isso também porque eu moro próximo ao reduto de Lampião, a uns duzentos e poucos quilômetros. Então eu passo o final de semana à procura de cangaceiros.

QUAL a previsão de lançamento deste livro?
PLANEJO lançar este livro em 2010 por ser um trabalho minucioso, que exige tempo, cuidados. Para esse livro, eu tenho 28 fitas gravadas com esses depoimentos. Tenho que escutar e fechar uma pesquisa interessante com o Benjamim Abraão, que foi a pessoal que fez grande parte das fotos de Lampião.

TEM algum detalhe da morte dos cangaceiros na Grota do Angico que seja novidade?
TEM uma novidade. Outro ineditismo que vou tratar no livro é a história do soldado Adrião. Se você conversar com qualquer pesquisador do cangaço, vão dizer que no dia 28 de julho de 1938 morreram 11 cangaceiros na Grota do Angico. Mas não é só isso. Morreram 11 cangaceiros (Lampião, Maria Bonita e mais 9 cangaceiros) e o soldado Adrião Pedro de Souza, que morreu cumprindo o dever e não é citado por nenhum historiador. O próprio João Bezerra, lá no Angico, mandou erguer onze cruzes e esqueceu o soldado Adrião. Nós estamos trazendo esse fato e estamos fechando a minha pesquisa sobre ele porque o soldado estava cumprindo o seu dever. Fiz uma pergunta ao sargento Antônio Vieira, que estava lá no momento do Angico, e ele fala da suspeita de Adrião ter sido morto por “fogo amigo”. Antes de abordar os cangaceiros, o tenente João Bezerra tinha tido uma discussão com o soldado Adrião. E talvez os próprios amigos mataram o Adrião e poucos têm conhecimento desse fato.

O SENHOR acha que a nova geração tem se preocupado em conhecer essa parte da história do Nordeste?
TEMOS de agradecer ao trabalho muito bem feito da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC), pois os estudiosos e pesquisadores do cangaço levantaram a figura de Lampião e hoje existe um interesse muito grande, não só em Lampião, mas pelo cangaço como um todo, bem como a nossa cultura, a cultura nordestina. É preciso agradecer ao pessoal da SBEC, aos escritores brasileiros como o Antônio Amaury, Luitgarde Barros, Frederico Pernambucano, Alcino Costa, Souza Lima, Paulo Gastão, Kydelmir Dantas, Elise Jasmin, Aderbal Nogueira, Ângelo Osmiro, enfim, tantos outros que estão sempre trazendo estudos e nós não vamos de maneira alguma deixar morrer elementos da nossa cultura.

Antônio Vilela de Souza é sócio da SBEC.

Um comovente poema de Pedro Pinto Monteiro




PORQUE DEIXEI DE CANTAR

Recebi mais de um poema
Fazendo interrogação
Por que eu da profissão
Mudei de rumo e sistema
Resolverei um problema
De não poder tolerar
Muita gente a perguntar
Ansiosa pra saber
Em verso vou responder
Por que deixei de cantar.


Deixei porque a idade
já está muito avançada
A lembrança está cansada
O som menos da metade
Perdi a facilidade
Que em moço possuía
Acabou-se a energia
Da máquina de fazer verso
Hoje eu vivo submerso
Num mar de melancolia.


Minha amiga e companheira
Eu embrulhei de molambo
Pego nela por um bambo
Para tirar-lhe a poeira
Hoje não tem mais quem queira
Ir num canto me escutar
Fazer verso e gaguejar
Topar no meio e no fim
Canto feio, pouco e ruim
Será melhor não cantar.


Não foi por uma pensão
Que o governo me deu
Por que o eu do meu eu
Não me dá mais produção
Cantor sem inspiração
Tem vontade e nada faz
Eu hoje sou um dos tais
Que ninguém quer assistir
Nem o povo quer ouvir
Nem eu também posso mais.


Ando gemendo e chorando
E vendo a hora cair
O povo de mim fugir
E a canalha mangando
E eu tremendo e tombando
Sem maleta e sem sacola
Hoje estou nesta bitola
Por não ter outro recurso
Carrego a bengala a pulso
Não posso andar com a viola.


Com a matéria abatida
Eu de muito longe venho
Com este espinhoso lenho
Tombando na minha vida
Tenho a lembrança esquecida
Uma rouquice ruim
A vida quase no fim
A cabeça meio tonta
Quem for moço tome conta
Cantar não é mais pra mim.


Já pelo peso de oitenta
E uma das primaveras
Dezesseis lustros, oito eras,
E a carga me atormenta
O corpo não se sustenta
Quando anda cambaleia
Cantador de cara feia
Se eu for lhe assistir
Por isso deixei de ir
Para cantoria alheia.


Estes oitenta e um graus
Que acabei de subir
Foi só para distinguir
Quais são os bons e os maus
Por cima de pedra e paus
Tive atos de bravura
Hoje só tenho amargura
Tormento dor e cansaço
Passando de passo a passo
Por cima da sepultura.


Existe uma corriola
De sujeito vagabundo
Que anda solta no mundo
Pelintra e muito gabola
Compra logo uma viola
Da frente toda enfeitada
Só canta coisa emprestada
Mentir, fazer propaganda
Dizendo por onde anda
Que topa toda parada.


E ver em certos meios
Gente cantando iê-iê-iê
Arranjar dois LP
Tudo com versos alheios
Estou de saco cheio
De não poder tolerar
A muita gente escutar
Dizer viva e bater palma
Isso me doeu na alma
Faz eu deixar de cantar.


Fiz viagem de avião
A pé, a burro, a cavalo
De navio, outras que falo
De automóvel e caminhão
Cantando em rico salão
Muito moço, gordo e forte
Passei rampa, curva e corte
Para findar num retiro
E dar o último suspiro
Na emboscada da morte.


Corrente, fivela, argola,
Picinez, óculos, anel,
Livro, revista, papel,
Arame, bordão, viola,
Mala, maleta, sacola,
Perfume, lenço, troféu,
Roupa, sapato, chapéu,
Eu não posso conduzir
Quando for para eu subir
Na santa escada do céu.


Nunca pensei num tesouro
Que estava pra mim guardado
Quando fui condecorado
Com uma viola de ouro
O riso tornou-se um choro
O armazém em bodega
A cara cheia de prega
Ando tombando e tremendo
E as matutas dizendo:
Menino o velho te pega.


Não posso atender pedido
Que a mim fez muita gente
Porque estou velho e doente
Fraco, cansado, abatido,
De mais a mais esquecido
Sem som, sem mentalidade,
Ficou somente a vontade
Mordendo como formiga
Nunca mais vou em cantiga
Pra não morrer de saudade.


Vaquejada, apartação,
Futebol e carnaval,
Véspera de ano e Natal
De São Pedro e São João
Dança, novela e leilão
E farra em botequim
Passear em um jardim
De braço com a querida
Neste restinho de vida
Não chega mais para mim.


Por não poder mais beber
Com meus colegas de arte
Das festas não fazer parte
Perdi da vida o prazer
Estou vivendo sem viver
Na maior fragilidade
Pelo peso da idade
Prazer pra mim não existe
Vou viver num canto triste
Até a finalidade.

Dalinha Catunda

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FILHA DO NORDESTE


Sou Dalinha, sou da lida.
Sou cria do meu Sertão.
Devota de São Francisco
E de Padre Cícero Romão.

Sou rês da Macambira,
Difícil de ir ao chão.
Sou o brotar das caatingas,
Quando chove no sertão.

Sou cacimba de água doce,
Jorrando em pleno verão.
Sou o sol quente do agreste.
Sou o luar do sertão.

Minha árvore é mandacaru.
Meu peixe, curimatã.
Eu tomo com tapioca,
O meu café da manhã.

Sou uma bichinha da peste,
Meu ídolo é Lampião.
Sou filha das Ipueiras.
Sou de forró e baião.

Sou rapadura docinha,
Mas mole eu não sou não.
Sou abelha que faz mel,
Sem esquecer o ferrão.

E se alguém realmente,
Inda perguntar quem sou,
Digo sem medo de errar:
Sertaneja, Sim Senhor!

 http://cordeldesaia.blogspot.com/2011/10/cordel-de-saia-divulga-link-publicado.html

A Sedição...

Por: Aderbal Nogueira

Quando fui convidado a participar como Co-produtor da mini série "Sedição de Juazeiro" me senti lisonjeado com o convite. Porém, quando assistimos ao primeiro capítulo da série já editado no teatro do SESC em Juazeiro do Norte, foi que tive a real noção de quão grandiosa ficou a Minissérie.

Trabalho com audiovisual há mais de 20 anos e sou um cinéfilo de carteirinha. E ali pude comprovar o que sempre disse: "Santo de casa faz milagre sim". A prova estava ali na nossa frente. Sem deixar a desejar absolutamente nada às grandes produções globais ou até mesmo hollywoodianas. Com um roteiro muito bem elaborado por Jonasluis, com assessoria dos renomados Renato Cassimiro, Daniel Walker e Renato Dantas a trama estava consistente e muito bem contextualizada.

Padre Alencar Paixoto se prepara para entrar em "cena"...

Pausa nas gravações para "Floro, Conde e Cícero"

Jonasluis, de Icapuí, Ângela, Daniel Abreu e Aderbal Nogueira

Contando ainda com a primorosa direção de Daniel Abreu, que soube como ninguém dar forma e vida à Minissérie de uma maneira única e peculiar, a obra está simplesmente "MÁGICA". Além de tudo passou com louros pelo crivo dos maiores pesquisadores do Brasil que estavam presentes no 3º Cariri Cangaço e que tiveram a oportunidade de assistir e comentar as suas impressões sobre a Série. Só fica uma lamentação: essa magnífica obra era para ir coroar as salas de cinema Brasil afora, inclusive 'além mares', pois para mim a TV é pouco para uma obra tão importante do ponto de vista Histórico e, porque não dizer, cinematográfico.

Aderbal Nogueira
Documentarista e Pesquisador
Sócio da SBEC
Diretor do GECC
Conselheiro Cariri Cangaço
 

Amadurecimento e Crescimento

Por: Ivanildo Silveira
Ivanildo Silveira

Amigos Severo e Danielle, minhas saudações.

Saibam que vocês são pessoas especiais e que merecem toda nossa admiração. Fico cada ano mais feliz com o amadurecimento e crescimento do nosso Cariri Cangaço, que é construção coletiva, como você sempre fala. "Ele" já é mais seu, não mais lhes pertence, é sim da Cultura e do Povo Nordestino, especialmente do Cariri Cearense.

Este ano, em algumas oportunidades cheguei a me "arrepiar" , tamanha foram as emoções por mim  sentidas em face de momentos certeamentes inesquecíveis. A palavra chave é saudade, saudades de momentos e pessoas inesquecíveis como todos da Família Cariri Cangaço.


Abração no coração,

IVANILDO SILVEIRA
Membro da SBEC
Conselheiro do Cariri Cangaço