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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Cariri Cangaço: Programação 2011


Folha Sertaneja - Paulo Afonso - BA
16/09/2011 - 13:52
Cariri Cangaço 2011 reúne escritores e pesquisadores de 20 a 25 de setembro
Antônio Galdino
O evento acontece de 20 a 25 de setembro no Cariri cearense
 
Os escritores e pesquisadores pauloafonsinos, João de Sousa Lima, Rubinho Lima, Luiz Rubem, Gilmar Teixeira e Voldi Ribeiro estarão participando do Cariri Cangaço 2011 que será realizado na região do Cariri Cearense, mais precisamente nos municípios de Crato, Juazeiro, Barbalha, Missão Velha, Aurora e Barro, naquele Estado nordestino, no período de 20 a 25 de setembro.
Curiosamente, o Cariri Cangaço, que está apenas no seu terceiro ano e já se configura como um dos maiores, senão o maior evento de estudos de temas sertanejos como o cangaço, nasceu depois que o seu criador, Manoel Severo, participou em Paulo Afonso, a convite de João de Souza Lima, do primeiro Seminário do Centenário de Maria Bonita, realizado pelo Departamento de Turismo da Prefeitura deste município e sob a coordenação de João de Souza Lima e Antônio Galdino, daquele Departamento.
É o próprio Manoel Severo quem diz “Em março de 2009 quando retornávamos da primeira edição do Seminário de Maria Bonita em Paulo Afonso aflorou em minha cabeça a idéia de tentar realizar em nosso estado do Ceará, mais precisamente na região do Cariri, um seminário onde pudéssemos resgatar um pouco da historiografia cangaceira na região, tão pouco conhecida pela grande maioria das pessoas. Num primeiro momento ouvia muitas indagações e provocações: "Cangaço no cariri?"Está ficando louco?” Como realizar um negócio desses aqui, sem nenhuma tradição com o tema? "Evento para endeusar bandido?”... Foi aí que alguns ingredientes acabaram se somando e o sonho acabou se tornando realidade: Determinação, perseverança, dedicação e amigos; muitos amigos, inúmeros amigos, de todos os lados e lugares, alguns antigos e outros novos, todos juntos começaram a acreditar que poderíamos fazer... e fizemos.”
Antônio Galdino Manoel Severo e Danielle com a cangaceira Aristéia no 1º Seminário Maria Bonita em Paulo Afonso
A ousadia de Severo, curador do evento desde a sua criação, como ele disse, "foram intermináveis horas, dias e meses de planejamento, preparação e entrega” deu tão certo que já no primeiro ano reuniu dezenas de escritores e grande público interessado em conhecer mais sobre esse instigante tema, o cangaço, e outros tão específicos da região nordestina.
“Agora era partir para o combate; o bom combate! Na noite de 22 de setembro de 2009, estávamos realizando a abertura do 1º Cariri Cangaço, na cidade de Crato, sob o cerimonial de meus filhos: Gabriel e Sawanna; com mais de 70 pesquisadores convidados, 19 conferências e debates e 22 visitas técnicas, em seus seis dias de realização, começava ali uma grande caminhada. Assim nasceu o Cariri Cangaço, um evento construído para todos aqueles que acreditam que nosso futuro tem estreitas ligações com nosso passado, nossas tradições e nossa história...”
A credibilidade do seu curador e da equipe que ele conseguiu reunir, assim como o alto nível dos palestrantes e ainda ou principalmente a curiosidade que temas como este ainda desperta nas pessoas (veja o sucesso da novela Cordel Encantado, mesmo não sendo muito fiel às informações...) mereceu o apoio das prefeituras e de empresários da região. As universidades, grandes colégios, câmaras de vereadores, instituições outras abriram suas portas e o Cariri Cangaço começou muito bem.
Antônio Galdino Da esq: João de Souza, Carlos Elydio, Manoel Severo e Antônio Amaury no Cariri Cangaço 2010, no Crato-CE
Em 2010, outros municípios se juntaram para apoiar o projeto. Outras dezenas de escritores e pesquisadores se deslocaram para o Cariri Cearense agora para ouvir nomes famosos na literatura sobre o cangaço como o escritor Antônio Amaury, João de Souza Lima e pesquisadores como Lemuel Rodrigues, Múcio Procópio, Geraldo Ferraz dentre muitos outros que se deslocaram de muitas regiões do Brasil para conhecer mais e discutir o tema “Coronéis, beatos e cangaceiros”, numa proposta de ampliação dos estudos para outras questões emblemáticas que ainda guardam muitos mistérios no coração deste pedaço de terra sertaneja.
Em 2011 a expectativa parece ainda maior entre os que esperam, até com ansiedade a oportunidade do reencontro no Cariri Cangaço 2011, quando escritores e pesquisadores renomados e os estreantes, iniciantes nesse universo estarão lado a lado, discutindo questões relevantes que fizeram a história de toda a região Nordeste e fatos que mudaram o rumo desta história.
Antônio Galdino João de Souza Lima e a 2ª edição de Maria Bonita
O tema deste ano, “Da insurreição a sedição” já leva ao exercício salutar do pensar e questionar-se. E, a partir da idéia de se discutir personagens às vezes muito conhecidos apenas de uma região, abre a oportunidade, como tem acontecido desde o primeiro Cariri Cangaço, em 2009, de se levar fatos, acontecimentos e personagens para serem conhecidos, estudados num universo bem maior, toda uma região, um país, o mundo através da multiplicação desse novo conhecimento pelos próprios pesquisadores e pela mídia eletrônica, através do próprio blog – muito bom – do evento e de dezenas de outros.
Nesse ano, o Cariri Cangaço será realizado no período de 20 a 25 de setembro e a solenidade de abertura acontecerá às 19 horas do dia 20/09 no Teatro Municipal Salviana Arraes, no Crato-CE, seguida a conferência feita pela professora Salete Libório com o tema Bárbara de Alencar e a Insurreição.
Antônio Galdino Gilmar Teixeira e seu livro "Quem matou Delmiro Gouveia?"
De Paulo Afonso estarão ali, João de Sousa Lima, fazendo o lançamento da 2ª edição do seu livro Maria Bonita – a trajetória guerreira da Rainha do Cangaço; Luiz Ruben, lançando mais um livro, Lampião conquista a Bahia; Rubinho Lima, que vai lançar o seu novo livro, Regionalismo Sertanejo;  e Gilmar Teixeira que lança o seu esperado livro Quem matou Delmiro Gouveia? Outro pauloafonsino com o passaporte carimbado para o Cariri Cangaço é Voldi Ribeiro, que há anos vem pesquisando sobre o comportamento das mulheres no cangaço, mas ainda não concluiu seu livro sobre o tema. Ele estará ali apresentando um estudo que tem como título A Saga de Delmiro Gouveia, na mesma noite da sexta-feira, 23 quando Gilmar Teixeira (todos esperam isso) estará enfim revelando “Quem matou Delmiro Gouveia”, mistério que se arrasta desde 1917 quando este cearense foi assassinado na Vila da Pedra, hoje Delmiro Gouveia, em Alagoas.
Antônio Galdino Luiz Ruben e seu mais novo livro - Lampião na Bahia
Da região do São Francisco e arredores estarão também no Cariri Cangaço, Jairo Luiz (Piranhas-AL) e Alcino Costa (Poço Redondo-SE), Professor Edvaldo Nascimento e Adair Nunes (Delmiro Gouveia-AL), Kiko Monteiro (Lagarto-SE), mas vai ser muito fácil encontrar por ali João Bosco André, (Missão Velha-CE), José Cícero (Aurora-CE), Geraldo Ferraz e Paulo Moura (Recife-PE), Archimedes Marques (Aracajú), Aderbal Nogueira, Alfredo Bonessi, Barros Alves, Ângelo Osmiro e Daniel Abreu (Fortaleza-CE), Amaury Correa e Carlos Elydio (São Paulo-SP), Paulo Gastão e Kydelmir Dantas (Mossoró-RN), Professor Pereira (Cajazeiras-PB), Renato Cassimiro, Renato Dantas, Hugo Rodrigues (Juazeiro do Norte-CE) Napoleão Tavares (Barbalha-Ce), Wescley Rodrigues (Brasília-DF), Ana Lúcia Souza (Petrolina-PE), Honório de Medeiros (Natal-RN), Juliana Ischiara (Quixadá-CE), Narciso Dias e João Nóbrega (João Pessoa-PB), Souza Neto (Barro - CE), Wilson Seraine (Terezina-Pi) e muitos, muitos, muitos outros.
O Cariri Cangaço já ganhou essa projeção nacional. Gente do Sul, do Centro-Oeste e de várias regiões do Nordeste, do litoral ao interior, e de quase todos os Estados – BA, AL, SE, PE, PB, RN, PI e CE - (só faltou do Maranhão), se encontra durante cinco dias para estudar as coisas e as gentes do Nordeste.
Antônio Galdino Rubinho Lima e o Regionalismo Sertanejo
E depois desse agito de palestras, visitas e descobertas, nada como o aconchego do Hotel Pasárgada onde Severo e parceiros hospedam palestrantes e convidados. Afinal, mesmo sem serem amigos do rei (como no poema de Manoel Bandeira), o motivo de todos estarem ali tem tudo a ver com outros reis nordestinos, o do cangaço, Lampião e o do baião, Luiz Gonzaga, sempre lembrados nesses momentos.
(Veja toda a programação e muito mais nos blogs Cariri Cangaço e João de Sousa Lima)

Maria Bonita: a restauração de um patrimônio público e o Museu do cangaço.

Por: João de Sousa Lima


O Museu Casa de Maria Bonita hoje é uma realidade, porém um árduo caminho foi percorrido até chegar ao conhecimento e sensibilidade das autoridades e a restauração do Patrimônio Público.



Centenas de estudantes, escritores, pesquisadores e turistas já percorreram os caminhos históricos que levam até o Museu Casa de Maria Bonita.
Quando o Museu foi realmente restaurado, o professor Juracy Marques e o pesquisador João de Sousa Lima  lançaram uma cartilha fotográfica sobre os trabalhos realizados e esse trabalho segue em parte para o conhecimento de quem estuda o cangaço ou pretende conhecer um pouco mais dessa história.
O MUSEU CASA DE MARIA BONITA 
MEMORIAL DO CANGAÇO NA MALHADA DA CAIÇARA< PAULO AFONSO-BAHIA.
AS AÇÕES REALIZADAS
Postado por: João de Sousa Lima

Diletos amigos,

Por: Geraldo Ferraz

Saudações fraternais!
Compartilho com todos a alegria de ver matéria publicada na prestigiosa revista Nordeste Vinteum, Edição de nº 25 - Ano III, agosto de 2011, onde fui destaque na página Perfil.
Aproveito a oportunidade para enviar-lhe a matéria.

Abraços afetuosos do

Geraldo Ferraz

Perfil na Revista Vinteum

Por: Capitão Alfredo Bonessi


Amigo Geraldo Ferraz
Parabéns mais uma vez. Seus amigos estão felizes  por mais esta homenagem. Você é um orgulho para todos os estudantes do  tema cangaço.  Fique certo que os estudiosos do tema e o povo nordestino o aplaudem de pé, em uníssomo, a vossa consagração e o sertão, como berço  materno, regogiza exultante em alegrias pela obra grandiosa empreitada pelo seu  ilustre filho.

Até o Cariri Cangaço 2011
 Recomendações
 Alfredo Bonessi

Depoimento básico sobre o envenenamento

O CANGACEIRO PATURI


O autor deste trabalho, nomeado apenas por vigá­rio de Tacaratu de 1942 a 1945, percorrendo aquela região toda, de Itacuruba ao vale do Ipanema, das caatingas do Navio e Moxotó às ribeirinhas cidades de Piranhas, Pão de Açúcar, Traipu e Própria, dos vastos sertões baianos, a começar de Juazeiro, passando por Curaçá, Chorrochó, Jeremoabo e Glória, ao pequeno sertão sergipano — não encontrou outra opinião senão esta: — "Lampião morreu envenenado!"

Um testemunho de máxima importância no ato supremo da Tragédia de Angico.

Suficiente por si só, caso não bastasse os outros, que urdiram o texto deste capítulo, o mais intrincado e difícil de escrever, e os vinte e um argumentos anteriores em prol do envenenamento (Adendo II).
Os cangaceiros do coito sobreviventes, distantes do local onde tombaram as vítimas, na surpresa e confusão do momento, quase nada sabem dizer.
Conseguiu o autor anotar o depoimento, abaixo fielmente tras­ladado, mediante compromisso de não comprometer o declarante. Agora, trinta anos depois, com a prescrição legal, quase tudo pode ser revelado.

Do padre Magalhães, vigário de Geremoabo, esta declaração pessoal ao autor: — "Posso afirmar ex-fide que Lampião morreu envenenado". Ex-fide, expressão jurídico-canônica ajuramentária, como se dissesse: "Juro diante de Deus", diferente do sentido jurídico-civil, que é apenas atestatório.
O mesmo pode dizer o autor a respeito do presente depoimento. As circunstâncias de ordem psicológica e sacramentai confe­rem ao depoimento valor incontestável, dir-se-ia absoluto, e in­validam o princípio jurídico do testis unius. Tão impressionante depoimento tornou-se o ponto de partida determinante do interesse das pesquisas do autor sobre Lampião.

O sono de Lampião

Lampião nunca dormia com o grupo. Desconfiado por natureza, ficava separado, sozinho. Um dos cabras de sua inteira confiança, muitas vezes escolhido na hora, chamado por ele de "sentinela-do-sono", lhe montava guarda. Perigos de fora e, pior ainda, de dentro havia, se se oferecesse fácil ocasião. Espreitavam-lhe a ambição de lhe tomar a chefia geral do cangaço, a glória de ser seu matador, o prêmio de... contos de réis oferecido por sua cabeça... Numa comunidade humana tudo pode acontecer. A vigilância teria de ser "eterna".

Aliás, o bando não dormia todo junto, não. Por ordem tática de Lampião, formavam-se grupos de dois ou três, espalhados, não longe uns dos outros. Assim, difícil o aniquilamento sob um ataque de surpresa. Em desde Maria Bonita, quando o can­gaço foi aberto às mulheres, essas normas se tornaram mais severas, principalmente quanto aos casais. Nenhuma promiscui­dade. A moral era rigorosíssima.

O começo 

Quando ele se apresentou era moço ainda, mas de cenho fechado no apardavasco da pele e com ar de espanto. No antes, porém, era "menino saído". De família humilde, mas honrada, vivendo dos roçados e de umas poucas de criações, além da vaquinha amojada com bezerrinho, e do cavalo de fazer feira. Os irmãos, antes e depois dele, não vingaram sequer um mês. Apenas lhe fazia par a irmãzinha, mais nova do que ele, então na adolescência. Um dia, desses que surgem repe­tindo a mesma história, um triste acontecido virou o juízo e a pacatez do moço. Na ocasião em que a menina se achava so­zinha em casa, veio, sorrateiro, um tarado soldado da polícia e boliu com ela, à força. Acobertado pela farda e pela justiça, nem um padrenosso teve de penitência, continuando nas suas funções e maldades. Pouco depois, o irmão vingava a honra da família, esfaqueando o miserável cujo nos braços de u'a mulher separada. Agora sim, a justiça enxergou e descobriu o crimi­noso — ele! E dos piores, porque matara uma "autoridade"! Caçado pela polícia, foi recebido por Lampião, que lhe trocou o nome por um de guerra — "PATURI", a fim de evitar persegui­ções à sua família e forjou-o cangaceiro de sua confiança.

O relato

Eis o seu depoimento, aliás, muito cru, tomado naqueles idos de 1942, quatro anos da morte de Lampião fazendo. Foram eliminadas repetições inúteis e difressões supérfluas. O linguajar, fonético e sintático, corrigido, deixa, entretanto, transparecer, raramente entre aspas, palavras e expressões conuns no sertão.

Pausadamente e,  por vezes, angustiado assim falou:

"Naquela derradeira noite do Capitão, eu fui escolhido para sentinela-do-sono. Tarde da noite, o Capitão e Maria Bonita, que estavam nas melodias, assopraram o candeeiro para dormir. Noite fria, serenando, estiando, serenando, assim...


Quando foi de madrugada, ainda escuro, Maria Bonita saiu da barraca, acendeu o fogo para ferver água na panela de barro. Botou dentro pó de café e pequenos tacos de rapadura. Logo o Capitão apareceu, de manga de camisa, escovando os dentes, de junto de uma pedra grande defronte da barraca. Alguns cangaceiros foram se achegando, sem armas, caneco na mão, para o café ali fumaçando. Devia começar primeiro pelo Capitão, era o chefe. Ele encheu o caneco e bebeu ligeiro, sem carne assada e farinha, sem nada, puro. Adespois os outros foram fazendo o mesmo. A gente tinha de viajar logo. 

A hora do café...
De repente, o Capitão soltou o caneco no chão. Parece que sentiu gastura, porque passou a mão rodando pela barriga. Deu uns passos largos, sem prumo e caiu na rede ainda armada na barraca. Deitou só o corpo, as pernas caídas do lado de fora. Eu ajutorando Maria Bonita a juntar os troços, que a gente ia sair cedo, vi tudo. Ela se queixava de dor de cabeça e os beiços queimando. Dizia que foi adepois que 'exprementou' o café para ver se estava bom de doce, um tiquinho de nada mo­lhado e 'ponido' na palma da mão para lamber. Aí, eu avisei a Maria Bonita. Ela, deixando a bacia, correu para ver. Eu corri também. Chegou logo


Luís Pedro


e Vila Nova.

Num instante, o Capitão virou a bola do olho para riba, ficando só o branco, e abriu a boca. Uma gosma suja, com escuma, saía escorrendo do canto da boca. Luís Pedro olhou o pulso e o coração e disse: — 'Tá morto!' Chorando, ele tapou com as mãos os olhos do Capitão e apanhou o chapéu dele. Aí eu disse: — 'É veneno!' Maria Bonita, aperriada, sacudiu a cabeça dele e os ombros. E ele sem ação, morto de mesmo. Tive, na hora, o maior des­gosto de minha vida, os olhos chorando. Maria Bonita, coitadinha!, toda agitada e desesperada, gritou: — 'Virgulino morreu!' Eu gritei repetido: — 'O Capitão morreu! O Capitão morreu!'

"É aí que a história bate com Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico, do escritor


Alcindo Alves da Costa, que insiste em dizer que  lá na Grota de Angico, o ataque aos bandidos foi totalmente diferente"

Este Mergulhão não é o que morreu na Grota de Angico. Coloquei nesta postagem, só para o leitor saber que existiram dois cangaceiros no bando de Lampião com o nome Mergulhão. Este morreu em 1929.

Mergulhão, que estava deitado no pé da caraibeira, levantou-se todo espantado e perguntou alto: — 'O Capitão morreu?' Aí eu vi logo cangaceiros cair ali, de todo jeito, para frente, para trás, para os lados, de dejunto da panela de café. Maginei comigo mesmo:    — 'O veneno era forte que era danado!'
Eu acho que algum macaco da volante emboscada, com os gritos e os mexidos no coito, passou fogo em Amoroso. Ele tinha ido ver água talvez para o Capitão banhar o rosto. E quaje igual, outro tiro, que pegou Mergulhão. Atrás veio logo uma trovoada de bala! Aquele despotismo que nem deu tempo mais de pensar! Aí era o causo de se salve quem puder, como diz o outro. Assim de surpresa, bala para todo lado e naquele cafus, como era que a gente podia tomar posição e brigar? Aí me so­quei dentro de um buraco comprido e baixo, que eu sabia.

"Angico, escrito pelo escritor:


Paulo Medeiros Gastão, também tem a sua opinião, não concordando com que contara alguns depoentes".

Ficava no pé do morro, 'próchimo' da gruta e atrás da barraca do Capitão. O buraco só dava para caber o corpo pragatado, a barriga no chão, sem poder se virar mais, muito apertado. Na frente tinha moita de mato tapando. Fiquei aí, os braços inco­modados, não tinha posição para botar eles. Mesmo querendo, eu não podia sair dali. Do lado de fora era bala por todo canto zinindo. Adespois, as pernas ficaram 'drumentes', moles, bambas só mulambo. Fiquei sem mexer. Mexia só os olhos e o baticum do coração. O resto estava morto. Vi a hora das balas me pegarem. Deixa que chegaram a açoi­tar a moita. Foi Deus e a Santíssima Virgem que me livraram. Dali de bem de riba, eu fiquei pombeando tudo pela brecha que fiz na moita. O horror era grande! As balas vinha de magote. Foi torada de bala a rede do Capitão, que caiu com todo o peso no chão. O pano da coberta da barraca avoou, ficando só as varas.
Vi Mergulhão cair. Adespois foi Maria Bonita caindo, as mãos cheias de sangue apertando a barriga. Luís Pedro deu uns tiros, mais arriou logo. Vila Nova correu. Não deu tempo de ninguém brigar. Não teve 'loita', não. Possa ser que mais algum cabra de lá de riba do riacho desse besteira de tiro, sem palpite, à-toa. A gente e o riacho todinho se acabando na bala. Não posso dizer nem o que foi. Era a confusão do inferno! Mas, não de­morou muito tempo, não. Foi ligeiro, ligeiro... coisa de meia hora.
Os macacos, qui nem urubus, deram em riba dos cangaceiros caídos, atrás do saqueio de dinheiro, ouros, jóias, outras coisas mais. Não tinham paciência de tirar os anéis dos dedos, corta­vam logo os dedos.
Sentado numa pedra, o comandante deu a ordem: — 'Cortem as cabeças dos cangaceiros!' Aí foi um alvoroço, todo o mundo gritando: — 'Cortar as cabeças!... Cortar as cabeças!...' Não sei como não morri vendo aquele horror! Parecia um bando de bicho do mato, de feras selvagens, dando gargalhadas e chaman­do toda nação de nome feio. Levantavam as cabeças dos mor­tos, segurando pelos cabelos, botavam o pescoço escanchado numa pedra — ficava uma coisa feia: a boca escancarada, os olhos arregalados! — e metiam o facão. Um macaco furando, furando, de pedacinho, com a ponta da faca no redor do pes­coço de um cabra até separar do corpo. Outro rolou o facão no pescoço e, quando puxou a cabeça, saiu a guela de dentro do corpo. Foi u'a mangação danada! Nenhuma cabeça era cor­tada de uma só vez. Davam mais de um golpe.
Vi uma coisa horrível, que nunca um cangaceiro fez e só bicho faz: os ma­cacos lamberem o sangue da folha do facão melado! A cabeça cortada era levantada pelo cabelo e mostrada, todos dando risa­da de gosto, mangando e dizendo nomes feios. Tinha cangaceiro meio vivo, mexendo os olhos e falando. Cortaram assim mesmo a cabeça deles com vida! A sangreira era medonha! Tudo mela­do: macaco, facão, pedra, chão, água, roupa, 'tudim'. Eu vi tudo, já era dia claro, de dia. Naquele meio, veio a ordem do coman­dante para acabar depressa. Ele estava sentado numa pedra, o pé amarrado, e muito zangado, acho que era de dor.


Eu tive dó quando um macaco levantou a cabeça de Maria Bonita, dependurada pelos cabelos compridos. O outro macaco, que tinha o facão na mão, perguntou meio espantado: — 'Inda tá viva, bandida? Cadê o dinheiro?' Ela respondeu bem fraquinho: — 'Não tenho, não'. — 'Então, lá vai...' E cortou o pescoço dela com duas 'facãozadas'. O corpo ficou batendo no chão como de galinha sangrada, e as pernas se descobrindo. Aí eles arregaçaram a saia dela para espiar o resto e começaram a bolir com as mãos, dizendo lérias. Tive tanta raiva que veio vontade de sair e avançar naqueles dois sujeitos safados, desculpe a má palavra.

Abaixo: Lampião. a direita, Luiz Pedro e a esquerda, Maria Binita

Chegou a vez do Capitão. Um macaco conheceu e disse: — 'É o peste do cego!' Danou uma coronhada de fuzil na cabeça e foi avisar o comandante. O outro ficou cortando o pescoço do Capitão em riba de uma pedra. Quando acabou, a cabeça escor­regou e rolou pela ladeira da pedra até o chão. Ele pegou ela e levou para mostrar ao comandante, que ficou cercado de ma­caco examinando e falando.
Tudo acabado, botaram as cabeças em três sacos, as bocas amarradas num pau. Sim, botaram, também, um corpo com ca­beça dentro de uma rede dependurada noutro pau. Tudo mode ser carregado, nos ombros de dois. Adespois os macacos foram se lavar nas poças mais de riba, de água limpa. Começaram a ir embora. O comandante numa cadeirinha feita dos braços de dois macacos. Levaram todo o saque. Foram su­bindo, um atrás do outro, feito formiga, pelo caminho do alto das Perdidas.
Fiquei ali deitado o dia todo. A cabeça zoava todinha, o corpo doía, quinem tinha apanhado uma pisa de cacete. Faltei cora­gem para sair dali. Eu via macaco pulando até pelos galhos mais altos dos pés-de-pau. Não tinha fome, não. Mas a sede era de matar, aperriando.
Senti uma agonia doida. Mas, esperei, esperei... O silêncio muito grande. Os passarinhos assustados não voltaram mais. Fechava os olhos e enterrava a cara no chão com medo de ver as almas daqueles defuntos aparecerem sem cabeça. Fiquei tão assombrado que sentia algumas vezes o gume do facão passar no meu pescoço. Rezei tanto a Nossa Senhora do Desterro que cheguei a suar de pingar.
Tardinha, fui saindo com medo de assombração e de tudo. Caminhava de quatro pés, não podia ficar de pé causo das per­nas feito molambo e tremendo. Eu queria ficar fora da vista daquele açougue de carne de cristão. Subindo o riacho cheguei no dependo do alto, os joelhos esfolados. Me aprumei, fui an­dando, assim cambaleando, areado, até poder sair correndo, ligeiro ou devagar, a noite inteirinha, até chegar na casa de meus pais. Tava mais morto do que vivo.
Passei aquele dia dei­tado tomando tudo o que era de meizinha que minha mãe pre­parava e me dava. Comida de panela comi bem pouquinho. De noite, já no outro dia, meu pai me levou para casa de um tio meu, viúvo, que morava sozinho, lugar mais seguro, um esqui­sito. Estou lá este tempo todim, fazendo planta, dando limpa, xaxando terra nos pés, colhendo legume e capucho de algodão. Também no cuido das criações. Sem sair pra nenhum lugar. Somente agora saí praqui causo minha mãe mandou pedir per­dão a Deus. Adespois desta conversa eu quero que seu vigário escute meus pecados na confissão e me comungue na missa".

O fim

Satisfazendo a curiosidade do leitor: Esse moço, que escapara da morte para contar a história, logo depois, feito embarcadiço de um vapor do rio São Fran­cisco, rumou para o Sul, sem documentos, de nome novamente trocado, para começar nova vida.

Nerton Macedo

Excelentes informações sobre o "cangaço"


Diz que no ano de 1929, numa das andanças pastorais, o vigário de Glória, padre Emílio Ferreira, encontrou-se num arraial com o legendário Rei do Cangaço, que fora assistir à missa.
Por notável coincidência, o padre, momentos antes de celebrar o ofício, havia recebido de presente, das mãos de um caixeiro viajante amigo, um grande mapa-plano do Brasil que media aproximadamente 1m2, forrado de algodãozinho e pregado em dois cilindros finos de madeira para enrolar, uma edição do Ministério da Viação do Rio.
Após a missa, vai Lampião cumprimentar o sacerdote. Durante animada palestra desenvolvida entre goles de café, teve uma idéia o padre. Estendeu o mapa aberto sobre a mesa e, entregando a Lampião um grosso lápis encarnado, pediu-lhe:
-    “De vez que o senhor é Rei, marque e risque sobre esse mapa o tamanho de seu grande Reino”.
 
Mapa do Reino de Lampião 

Lampião, devagar, observando as localidades, rios e montanhas, perguntando muito e auxiliado pelo padre, foi traçando. Tomando por ponto de partida, ao norte, Mossoró, no Rio Grande do Norte, desceu, em zigue-zague, até Porto  da Folha, em Sergipe. Desceu mais até Capela e daí tangenciou numa linha até a fronteira da Bahia, onde penetrou por Itapicuru, talando o Estado por Riachão do Jacuípe até Morro do Chapéu. Desceu profundamente, em ponta de lança, até Barra do Estiva e Rio de Contas, donde iniciou a subida para Remanso. Continuando para cima, atingiu Juazeiro do Norte e Caririaçu, no Ceará, depois Jaguaretama, Morada Nova e Limoeiro do Norte, donde fechou o circuito para Mossoró
Em síntese, uma imensa área de cerca de 300.000 km2! 
Entusiasmado, exclamou o padre dirigindo-se ao Rei do Cangaço:

- “Territorialmente falando, seu REINO faria inveja a muita cabeça coroada da Europa!...”

 

 Fração do bando de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, no ano de 1936, Ribeira do Capiá, no Estado de Alagoas. Quem são estes cangaceiros?...Juriti


Casa da família de Lampião no Poço Negro, Floresta, Pernambuco, erguida em 1917

 

Lampião , Moderno, Zé Baiano e Arvoredo, sentados; Mariano, Ponto-Fino, Calais, Fortaleza, Mourão e Volta- Seca.  Fazenda Jaramataia, Gararu, Sergipe, 27 de novembro de 1929.

A 15 de agosto de 1921 foi Lampião ao Poço do Negro, riacho próximo à casa de D. Jacosa, para visitas de cumprimento à avó materna, em seu aniversário natalício. Tia Jacosa, como era conhecida por seus familiares, no arrasto dos oitenta e tantos, tinha a cabeça encanecida e, desatados do cocó, fios de cabelo flocavam ao capricho da aragem matutina e doce, finos quiném algodão-seda, empoados de luz, com parença de auréola de santa...  

Quedou-se Virgulino, do lado de fora da casa e sem ainda ser notado, contemplando, por alguns instantes, aquela figura-símbolo de uma geração que alicerçou a economia doméstica sertaneja e lhe deu fama: a Mulher Rendeira! Ainda em caminho, a 21 de agosto passou Lampião em Poço do Negro com seus dois irmãos e mais dois cabras, em visita de cumprimento à avó materna, por seu aniversário natalício, a 15 de agosto (Veja descrição no quadro ao lado).