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sábado, 25 de junho de 2011

COM OSWALDO LAMARTINE

            
             No início de 2007 entrei em contato com Oswaldo Lamartine através de Dona Antonieta, dedicada funcionária do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. Buscava uma entrevista sobre a figura do cangaceiro Chico Pereira e os fatos envolvendo o assalto na Fazenda Rajada, em fevereiro de 1927, que atingiram minha família, principalmente meu bisavô, Joaquim Paulino de Medeiros.

UM VERDADEIRO INTELECTUAL

            Sinceramente, não imaginava que passaria da porta do Potengi Flat, onde ele vivia. Mas deu-se exatamente o contrário. Seu Oswaldo me recebeu muito bem, me tratou da melhor forma, não colocou nenhum empecilho para a realização da entrevista e assim ocorreu.
            Homem alto, magro, “lazarino” como diz o sertanejo, me deu a oportunidade de estar com ele em duas ocasiões, especificamente em duas manhãs. Da varanda de seu apartamento, comtemplando à distância o Rio Potengi, ele tranquilamente deitado em sua rede e eu ali perguntando, fascinado com aquela figura.
             Ele reclamava da velhice, trazia a fisionomia triste pela ausência de saúde e reclamava de sua situação. Em relação a isso comentou que havia feito uma cirurgia no cérebro que o deixou com limitações em relação à forma de receber alimentos e a sua fala. Em certo momento de nosso diálogo, sua secretária trouxe sua alimentação, que ele teve de tomar através de uma sonda. Um tanto constrangido pediu-me desculpas por aquela situação. Da minha parte lhe disse que tudo bem, era assim mesmo, de modo algum me sentia incomodado.
              Se sua voz estava agora rouca e pausada devido a operação, sua memória e a lucidez de seu pensamento, pelo menos para quem o conheceu naquele momento e naquela situação, me pareceram maravilhosos e pudemos conversar muito sobre o caso que me motivou a lhe procurar. Em relação a situação do assalto da Fazenda Rajada pelo bando de Chico Pereira ele foi muito franco.

O cangaceiro Chico Pereira

              Até mesmo assuntos que considerava delicados, envolvendo seu pai Juvenal Lamartine, ele não se negou a conversar e debater. Foi fantástico.
             Ouvindo as fitas K7, mídia antiga, mas boa e confiável, me emociono com o nosso papo. Falamos muito sobre o cangaço, de queijo de manteiga, de queijo de coalho, de onças, do açude Gargalheiras, de aviação do passado, de Jean Mermoz, de André Depecker, de Manoel Dantas, Cascudo, etc.
              Quando ele soube que eu já havia adentrado cavernas no Sertão Central e na região de Apodi e Felipe Guerra, a princípio me pareceu  que Seu Oswaldo não acreditou. Mas depois de lhe mostrar algumas fotos destes locais, sua fisionomia se tornou alegre e ouvi uma frase que jamais esquecerei; “-Quem quer saber sobre o sertão, tem de ir lá”. Falou depois que não acreditava em quem fazia trabalhos sobre o sertão estando confortavelmente instalado em uma sala com um ar-condicionado, sem realizar nenhuma viagem de campo, sem manter contato com as realidades daquele lugar, que parecia lhe trazer muitas saudades.
             Me espantei com seu Oswaldo, um verdadeiro intelectual. Pois em Natal, cidade onde não faltam “intelectuais”, daqueles que andam de queixo e nariz empinado, escrevem apenas por vaidades bestas, que só se preocupam em receber medalhas, títulos, que arrotam baboseiras, se danam a falar besteiras e que muitas vezes só produzem obras medíocres e não sabem de nada da essência do que escrevem.
              Conversar sobre o passado do nosso sertão com uma pessoa como Oswaldo Lamartine, poder ter sido tão bem recebido e dele ter tido o privilégio de beber de sua fonte é algo que me marcou bastante. Pouco tempo depois ele partiu.
             Para quem não conhece, Oswaldo Lamartine de Faria nasceu no dia 15 de novembro de 1919, em Natal, mas as raízes familiares eram da cidade seridoense de Serra Negra do Norte. Formou-se técnico em Minas Gerais. Administrou fazendas no interior em vários estados. Foi técnico do Banco do Nordeste, professor da Escola Doméstica e do Colégio Agrícola de Jundiaí.
             Entre suas obras estão: Notas sobre a pescaria de açudes no Seridó (1950), A caça nos sertões do Seridó (1961), Algumas abelhas dos sertões do Seridó (1964), Conservação de alimentos nos sertões do Seridó (1965), Vocabulário do criatório norte-rio-grandense (1966), Ferro de Ribeiras do Rio Grande do Norte (1984), Pseudônimos e iniciais potiguares (1985), Apontamento sobre a faca de Ponta( 1988), Em Alpendres da Acauã (2001) e Notas de Carregação (2001).
             É leitura obrigatória para quem quiser saber mais deste nosso sertão.

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desde que citada a fonte e o autor.


Extraído do Blog "Tok de História", do autor deste texto,
Rostand Medeiros


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Extraído do Blog: "Lampião Aceso"