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sábado, 9 de abril de 2011

Sinho Pereira, uma vida de aventura!

 Por: Ivanildo Silveira

              Vejam abaixo a famosa entrevista que o cangaceiro Sinhô Pereira, chefe de Lampião, concedeu ao senhor Luiz de Lorena, na cidade de Vila Bela, atual Serra Talhada, em 1971, quando de seu retorno, 50 anos depois de sua ida para Goiás.
             Seu nome na pia batismal deve-se ao fato de ter nascido no dia de São Sebastião, 20 de Janeiro de 1896.
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Sinhô Pereira
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             SEBASTIÃO PEREIRA DA SILVA (SINHÔ PEREIRA) nasceu em Vila Bela, em meio a  uma áspera guerra entre as famílias Pereira (a sua) e Carvalho. Foi chefe de cangaceiros e das suas mãos LAMPIÃO recebeu o bando.  Sinhô Pereira foi embora para Goiás no ano de 1922 e só voltou beber das águas límpidas e saborosas do Pajeu no ano de 1971 (mês de Junho), quando veio visitar a família em Serra Talhada/PE.

            Naquela ocasião Luiz Lorena e Sá, da família Pereira , travou o seguinte diálogo com seu brioso parente, que fora no passado o braço armado do clã:
          Lorena - Qual o momento que marcou sua vida de maneira indelével?
             Sinhô - Foram tantos os momentos dramáticos no meu trajeto que seria impossível escolher um.
          
           Lorena - Qual seu dia de maior alegria?
             Sinhô - Chegar a Serra Talhada 50 anos depois e ser recebido por todos os parentes com carinho que me dispensaram, foi na verdade motivo de muita alegria.
               
                 Lorena - Qual seu dia de maior tristeza?
Sinhô Pereira sentado e Luiz Padre em pé
tokdehistoria.wordpress.com
            Sinhô - Estando eu em Lagoa Grande, distrito de Presidente Olegário/MG, recebi a notícia do falecimento de Luiz Padre, em Anápolis, Goiás. Nem ao sepultamento compareci.


              Lorena - Você tem alguma grata satisfação do seu tempo de guerrilheiro?
               Sinhô - Não. Nasci para ser cidadão, casar-se e constituir família. Fui namorado da moça mais bonita do Pajeu. 
            
             Lorena - Por que se envolveu nessa tragédia?
              Sinhô - A impunidade em Vila Bella teve seu auge em minha juventude; do assassinato de seu Né - meu irmão - nem inquérito policial foi aberto.
              
              Lorena - Você reconhece o que seus contemporâneos dizem sobre o seu espírito guerreiro e de ser você o mais valente entre esses?
             Sinhô - havia homens valentes até quase a loucura, entretanto, brigavam para matar. Na hora de morrer, até fugiam do campo de luta. Naquelas circunstâncias matar ou morrer para mim, seria a mesma coisa; daí a diferença.
          
           Lorena - Desses confrontos, qual o que você teve mais proveito?   
             Sinhô - A família Pereira (minha família) vivia atormentada em face de minhas ações. Era imperativo mudar a face da história.
          
           Lorena - Quais os fatos que mais perturbavam você?
             Sinhô - Vários. No começo tudo o que eu fazia errado dava certo.
Com o passar do tempo tudo o que eu fazia certo dava errado.
          
           Lorena - Entre estes, você poderia destacar um?
            Sinhô - Sim. A morte de João Bezerra, em Bom Nome. Na forma como eu procedi, acelerou minha decisão. O meu estado de espírito estava de tal forma desajustada que já não tinha condição de conduzir as ações do grupo que comandava.
O rei do cangaço
             Lorena - Em que circunstância Lampião apareceu em sua vida?
             Sinhô - Ele e os irmãos chegaram de Alagoas depois do assassinato do pai, dispostos a confrontar com José Saturnino, seu inimigo comum.

Não tinham condições financeiras nem experiências. Procuraram-me e participaram com muita bravura de alguns combates.

 Sinhô Pereira

               Lorena - Por que Virgolino Ferreira da Silva ganhou o apelido de Lampião?
               Sinhô - Num combate, a noite, na fazenda Quixaba, o nosso companheiro Dê Araújo comentou que a boca do rifle de Virgolino mais parecia um lampião. Eu reclamei, dizendo que munição era adquirida a duras penas. Desse episódio resultou o Lampião que aterrorizou o Nordeste.
              
               Lorena - Você não quis Lampião em sua viagem para Goiás?
              Sinhô - Ao despedir-me dele na Fazenda Preá, no município de Serrita/PE, pedi para não molestar ninguém da família Pereira. Ele prometeu e cumpriu. Não quis, entretanto, seguir viagem comigo.
 
Bando de Lampião entregue por Sinhô Pereira
             

             Lorena - Depois de instalado em Goiás você convidou Lampião para ir morar naquela região?             
           Sinhô - Sim. Quintas (meu irmão) foi o portador da carta. Ele respondeu verbalmente, dizendo que não aceitava o convite para não me criar embaraços.
           
             Lorena - Você recebeu o convite de alguém para atacar Antônio da Umburana em Queixada (Mirandiba)?
             Sinhô - Não. Tudo aconteceu por minha conta e risco.
           
             Lorena - E o seu problema com Isnero Ignácio, como aconteceu?
             Sinhô - Naquele tempo chegou para se agrupar comigo o meu parente Luiz Pereira Nunes (Luiz do Triângulo) acompanhado dos primos Chiquito e Teotônio do Silveira, valente ao extremo. Depois de várias refregas, explicou-me que estavam comigo por que foram escorraçados da sua propriedade na região de Santa Rita pelo primo Isnero Ignácio. Estavam se preparando para desforra e esperava o meu apoio.
           
               Lorena - Qual foi sua reação?
              Sinhô - Ponderei que já bastavam as inimizades já existentes e que Sinharinha, mãe de Isnero, era filha de tia Donana
           
               Lorena - E Luiz do Triângulo, como reagiu?
             Sinhô - Ficou contrariado, sem aceitar minhas ponderações. Entretanto, concordou que eu fosse com Luiz Padre pedir a interferência de Antonio Inácio de Medeiros também primo de Isnero, Sr. Sebastião Inácio de Oliveira, concordou. Isnero e mãe Sinharinha foram radicais, não aceitaram qualquer forma de reconciliação, inclusive proibiram o parente Luiz do Triângulo de voltar a sua propriedade.
             
               Lorena - E daí, o que aconteceu?
             Sinhô - Foi uma estupidez o que fizemos. Ateamos fogo na Fazenda Santa Rita, deixando em cinzas o roçado, o canavial, o engenho, os currais e a casa da fazenda.
           
               Lorena - Dos oficiais da polícia militar que o combateram, qual o de maior respeito?
              Sinhô - O capitão José Caetano era um bravo. Intrépido e leal no mais duro da refrega.
           
              Lorena - Qual o combate mais dramático que você participou?
             Sinhô - Foi na Serra da Forquilha, numa semana em que estávamos repousando. Éramos doze homens, cercados num casebre, por cento e vinte policiais. Sem outra alternativa bradamos para que segurassem as armas porque iríamos para a luta de corpo-a-corpo e de corpo a punhal.
           
              Lorena - O que aconteceu?
              Sinhô - O que aconteceu? Saltamos e fugimos ilesos.
             
              Lorena - Por que a ideia de avisar aos sitiantes, nessa e em outras oportunidades, que continuariam a luta, mas, na verdade, abandonavam o refúgio?
            Sinhô - Enquanto aqueles procuravam entrincheirar-se, nós fugíamos.
          
             Lorena - Você viajou para o Planalto Central desprovido de recursos financeiros?
              Sinhô - Não. Isidoro Conrado e Né da Carnaúba financiaram a nossa viagem com dinheiro que compraríamos duzentos bois.
           
               Lorena - Em Dianópolis, onde se instalaram, tudo correu bem?
             Sinhô - Vivemos uma epopeia mais dramática do que aqui, expressar numa entrevista nem vale a pena...
          
              Lorena - Por que essa expressão! "minhas navegações" quando sabemos que navegar é próprio do oceano?
             Sinhô - Ouvíamos dizer que o mar é uma imensidão de água, e como a extensão de nossa desgraça não tinha limites, usávamos a expressão "nossas navegações".
          
             Lorena - É verdade que você anteviu a genialidade de LAMPIÃO?
            Sinhô - Dos homens que deixei em armas no Pajeu, só Virgolino podia chegar à celebridade. Os demais eram formiga sem formigueiro. Minha profecia foi cabalmente comprovada. Lampião nada aprendeu comigo. Já nasceu sabendo".
 

Sinhô Pereira faleceu numa manhã no dia 21-08-1979 , em Lagoa Grande - Estado de Minas Gerais -, deixando para trás uma vida e uma história marcadas de angústia, dores e vontade de viver feliz com sua família e amigos.

Sinhô Pereira era uma baraúna! (Luiz Lorena)

Fotos: Algumas foram cortesia do Museu do cangaço/Serra Talhada-PE e amigo SOUSA NETO.
 
Ao elaborarmos essa matéria, contamos com a colaboração dos amigos: Kiko Monteiro (Lampião aceso) ; Sousa Neto/Barro-CE, além da Prefeitura de Lagoa Grande/MG (Site) E do escritor LUIZ LORENA/Serra Talhada/PE (saudosa memória) .


Um abraço a todos
IVANILDO ALVES SILVEIRA
Colecionador do cangaço
Membro da SBEC
Natal/RN
 
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José Saturnino - fonte orkut